Wanderlino Arruda
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Por Wanderlino Arruda - 25/3/2019 15:46:59 |
Professor Magnus Medeiros Wanderlino Arruda O grande e admirado Magnus Medeiros, companheiro dos melhores desde os nossos tempos da iniciante Faculdade de Filosofia, com aulas ainda no Colégio Imaculada, foi sempre um companheiro fiel de todos os momentos. Ele da turma de Geografia, com aulas lideradas por Dalva Dias, era sempre o melhor papo no intervalo das aulas, que começavam pontualmente às dezenove horas. Início de ensino superior, muita gente ainda não sabendo da seriedade exigida, as turmas eram enormes. No Curso de Letras, por exemplo, nós éramos sessenta e cinco, boa parte de advogados, professores, jornalistas, até o médico João Valle Maurício. Os formandos de Geografia terminaram com uma turma bem mais respeitável, porque nós das Letras, só chegamos ao final com uma turminha de sete. Com uma valorização bem vistosa para todas as escolhas, os alunos de Geografia foram os líderes na festa de formatura, principalmente por contarem com Magnus Medeiros, professor de prestígio, marca de destaque no colunismo social, excelente capacidade de redação, elogiável grau de informação, porque sempre circulando pelos segmentos mais importantes da sociedade. Sua coluna foi sempre um ponto de destaque no noticiário, principalmente pelo alto nível de conhecimento e de cultura, situação que ele soube cultivar durante todos os anos e todas as décadas, a esta altura, acredito, em torno de um meio século. Embora a boa redação ensina-nos usar o mínimo de adjetivos, nunca um bom redator, ou orador, conseguiu descrever e qualificar Magnus Medeiros sem um portentoso conjunto de complementos para destacar credibilidade, competência, inteligência, responsabilidade, elegância, capacidade de bem-querência, dignidade profissional, lealdade, ética, integridade, coleguismo, jeito bom de ser na vida. Tudo a favor de Magnus, que antes de ser jornalista, escrevia o nome com “o”, Magnos, nem sei se menos nobre que com “u”, bem mais latino. O sobrenome Medeiros, então, tem sido sempre uma garantia maior e de elogiável marca. Magnus, o grande e notável montes-clarense, nasceu na cidade vizinha de Pirapora, vindo para cá ainda criança, aqui estudando, aqui se fazendo, principalmente na Padaria Flor do Sertão, do Sr. Tota, seu avô, um bom vizinho de Godofredo Guedes e Dona Júlia, com a Rua Rui Barbosa, ainda na fase romântica das platibandas de casas e cômodos de comércio de início do século, a via pública mais caprichada e cultivada na arquitetura, principalmente depois da Rua São Francisco. Foi lá que conheci o jovem Magnos Medeiros, cantor de voz primorosa, principalmente quando cantava “New York, New York”, ou músicas Agustín Lara e Nelson Gonçalves. Foi no antigo Diário de Montes Claros, Rua Doutor Santos, o nosso maior convívio no meio de muitas notícias e do entusiasmo de Júlio de Melo Franco e de Décio Gonçalves. Importante também citar a nossa participação na Revista Encontro, ponto de união de muita gente boa da imprensa e das artes, entre elas, o saudoso Konstantin Christoff. Vivamos quantos anos viver, a vida será sempre rica quando a vivemos em benefício de muita gente, quando fazemos o que sabemos fazer, e trabalhamos com o nosso maior desejo de produzir qualidade. Tenho certeza de que não inflaciono valores nesta minha fala sobre o amigo e colega, o companheiro e o confrade Magnus Medeiros, com quem além do jornalismo, nunca deixei de participar dos movimentos de Cultura, principalmente no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, onde ele ocupa, como fundador, a Cadeira número 15, que tem como Patrono o jornalista Ataliba Machado. Gratificante destacar aqui, em final de crônica, que Magnos Denner Medeiros, uns três anos mais novo do que eu, foi juntamente comigo, dos maiores amigos de Haroldo Lívio de Oliveira, o melhor de todos nós! |
Por Wanderlino Arruda - 5/12/2017 08:13:50 |
Momentos de Luiz de Paula Wanderlino Arruda MOMENTOS, de Luiz de Paula, é amor e flor da natureza. Em Várzea da Palma, nas beiras do Guaicuí, em Montes Claros, ou em qualquer parte do mundo. Um livro realmente bom, mesmo que em leitura ligeira. Prosa e poesia de verdade, na seca ou nas chuvas. Tem quer ser, porque o autor foi batizado duas vezes, uma pelo ferreiro Bertolino, outra pelo padre da desobriga, e, por isso, virou poeta. MOMENTOS é livro desafio, trabalho em espanto de vida, aceitação de mistério. Suas páginas foram escritas em áureo e doce dealbar de músicas e de sonhos. Tudo plural: douradas iluminuras nas capas e, no interior, coloridos entre o branco e o preto, tudo bem serenado em universo de idéias. Um luxo! Como disse o próprio autor, textos e pretextos de MOMENTOS nasceram como brotos das chuvas de São Miguel, multifacetada confissão entre o sacro e profano. Todo broto de vegetação foi visto em lupa de saudades. Visíveis encanto e filosofia, memória poética e pinceladas de vida. Tudo pintura com acenos de ser em tudo fiel às origens. Escrivão de sonhos, menestrel de doces lembranças, Luiz é compositor de ritmos, sem direito a esquecimento. Que tenham registros os currais de gado, os caminhos entre veredas, os bois de cem oitavas, a arte de navegar e fazer telhas, Imortalizem-se os bandeirantes, os vaqueiros, as partes da cozinheira ladina... Imortalizem-se a grandeza das pequenas coisas e os mínimos pedaços de espaço-tempo. Que bom e agradável foi ler MOMENTOS! Que bom foi conhecer Dona Biló, assadeira de roscas, Neco Meireles, oficial abridor de cisternas, a parteira Siá Clara! Todo respeito para a professora Júlia, sessentona, de régua e taboada, todo respeito para a rezadeira Regina, sacerdotisa de benzeduras para cura de um tudo, palavras e gestos seus como que tirando doença com a mão. Carinhoso desfilar de antigas profissões, com toda a certeza de que o tempo não atravessa duas vezes o mesmo rio. MOMENTOS é o registro fiel de um maravilhoso tempo de pura ternura, trato vivencial de gente parceira de Deus. Só podia ser escrito por Luiz de Paula Ferreira, autor de Montes Claros Vovó Centenária, garimpador do ouro mais puro. Declaro-me feliz, muito feliz, e sinto-me identificado com o Vale do São Francisco, por estar manuscritando estas mal traçadas linhas numa mesinha da Estação das Docas, Belém do Pará, de onde contemplo as infindáveis águas da Amazônia e sinto uma imensa saudade das planícies e dos claros montes do Norte de Minas. Academia Montes-clarense de Letras |
Por Wanderlino Arruda - 24/11/2017 10:27:49 |
Luiz de Paula Ferreira (1968) Wanderlino Arruda Luiz de Paula é, sobretudo, um homem de sorte. Sua origem humilde tem sido um grande trunfo na sua vida, pois que desde pequeno, aprendeu a lutar. Escolas não lhe faltaram, mesmo que sob pesado fardo de sacrifícios. O trabalho foi contínuo, sem folgas, como uma grande oficina que forja poderosa vontade. Assim, a têmpera do seu caráter foi modelada na própria experiência, com um princípio filosófico adquirido no aconchego de um lar simples e genuinamente cristão. Otimista, inteligente, persuasivo, sempre acreditou em sua boa estrela. De grande versatilidade mental, excelente memória e com grande capacidade de ocupar-se de muitas coisas diferentes, sabe perceber a ocasião oportuna para agir, sem cada situação. E o entusiasmo é uma espécie de bússola aponta-lhe os motivos e as possibilidades de brilho, tornando-se capaz de sair-se bem de todas as situações difíceis e inesperadas. Vem daí, talvez, o seu sucesso na política. Tem imenso gosto pelas viagens e apreciação das novas cenas e situações diferentes. Eterno estudante, quer estar sempre impulsionado a aprender algo de novo, obter novas experiências, de conhecer mais e mais, intrigado e fascinado por tudo que é diferente. Conservador, mão hesita diante das dificuldades, sabendo descobrir bem as soluções práticas e efetivas para cada problema. Tem uma grande qualidade para os amigos e um defeito para os adversários, principalmente no campo político: sabe considerar sempre os dois lados de uma questão e tem aptidão para servir em emergências que exijam ação pronta e decisiva. Facilmente adquire amigos, não perdendo tempo com desilusões. Mais do que ninguém sabe dar certo ar romântico aos assuntos comuns de sua vida. Aí estão a sua alma de verdadeiro artista e talvez do herói que todos nós temos dentro de nós mesmos. Outro ponto interessante: Luiz de Paula é uma espécie de conservador e aventureiro, ao mesmo tempo. Ama o passado, vive o presente e não sabe como temer o futuro. Sem deixar de pensar em si mesmo, tem propósito definido pelas coordenadas do seu caráter, em trabalhar sempre de modo útil aos seus semelhantes, com uma admiração sem par pela humanidade inteira. Luiz de Paula é um homem feliz, repito. Imaginem os Senhores que aquele solteirão, conquanto a alegre, bem-humorado, bem situado, artista, menestrel da boa vida, precisava ter muita sorte para dar-se e ser dado em casamento a uma moça tão admirável como Isabel, possuidora das boas qualidades que ele tinha e de mais de um milhão de outras que ele não chega a ter. O casamento para Luiz foi ouro sobre o azul, nada melhor para construir um castelo de felicidades a um respeitável e sério trovador, um nobre medieval do nosso século. Os filhos adorados aumentaram a alegria do casal e esse andarilho motorizado, quando não está na estrada, tem de estar gozando a tranquilidade e harmonia do seu lar. E não venha dizer depois que não foi Deus que inventou a mulher! Que o amor não é a maior riqueza! Vou terminar sem fazer biografia, apenas como um psicólogo à moda da casa. Aos que pensaram que iria eu fazer um discurso político, delineando programas, lançando plataformas, aplaudindo o homem público que viver um momento positivo em sua carreira de Deputado Federal, devo ter desiludido, enganado até. Procurei traçar um retrato, surpreender o próprio homenageado, com ângulos e sua vida que ele talvez não tenha prestado ou mesmo não preste atenção. Mas antes de as Senhoras e os Senhores baterem palmas, mais por força de uma convenção social do que pelos méritos da oração, quero dizer que também entrevistei D. Isabel sobre o seu ilustre consorte. O resultado foi interessante e posso bem imaginar as suas intenções, as implicações psicológicas mais recônditas. Os Senhores e as Senhoras vão decidir se ela falou como simples cidadã, como esposa, como política, pois sempre existe e contágio, ou como simplesmente mulher. Eis a resposta: "Luiz é o único deputado que sai semanalmente de Brasília para fazer uma visita a sua base eleitoral, em Montes Claros, e eu, como sua eleitora, gosto demais disso". ( Discurso pronunciado durante as homenagens prestadas pelos amigos ao Deputado Federal Luiz de Paula Ferreira, em jantar no Automóvel Clube de Montes Claros, em 12 de setembro de 1968.) |
Por Wanderlino Arruda - 23/11/2017 10:50:21 |
Chegada a hora de despedida. Deixou-nos hoje o nosso confrade, companheiro, irmão e amigo Luiz de Paula Ferreira, seis meses depois dos cem anos bem vividos.Certeza de uma recepção bem luminosa no Mundo Maior. |
Por Wanderlino Arruda - 23/11/2016 08:36:49 |
CEMITÉRIOS DE MINAS: CULTURA E ARTE Wanderlino Arruda Em nossa última reunião mensal do IHGMC, realizada em 29 de outubro, em nossa sede no Centro Cultural, o foco das atenções foi para a palestra proferida pelo arqueólogo e historiador Fabiano Lopes de Paula, Cadeira 66, patrono José Lopes de Carvalho, com o tema "Cemitérios de Minas: cultura e arte", um lindo e proveitoso momento para muito de aprendizagem em aspectos históricos e artísticos. Com organização perfeita e uma ilustração digna de todos os elogios, tanto na apresentação de fotos em livros como na projeção dos slides, principalmente quando a nossa atenção foi chamada para o cemitério inglês da antiga Mineração de Morro Velho, em Nova Lima. Desde a edição de nossa Revista nº 11, do segundo semestre de 2013, o professor Fabiano, ilustre mestre da UFMG, nos permitiu fazer importante comparações sobre a hierarquização de espaços a partir do status social das pessoas, tanto nas cidades dos vivos como nas cidades dos mortos, os cemitérios. Assim na vida como na morte, cada criatura tem o seu lugar com ou sem escolha, valendo-se para tanto do poder de compra ou da posição de prestígio das famílias ou mesmo da conjuntura cultural. A cada um a posição que merece. Agora, a convite do nosso presidente, cel. Lázaro Francisco Sena, Fabiano Lopes de Paula, nascido no centro histórico de Montes Claros, Rua de Baixo, nome de um dos seus livros, teve todo tempo necessário para expor e responder a perguntas, em tal forma de clareza que não deixou qualquer dúvida a interessados e curiosos sobre a importância social e artística dos nossos campos santos. Para cada projeção, uma aula, para cada fotografia, a valorização como documento, melhor forma de demonstrar a arte e o reflexo que o cemitério tem na sociedade, um perfeito resgate da memória cultural, incentivador da preservação da arte tumular e dos trechos de grandes pensadores a respeito da morte. Para surpresa de muitos ou de todos, o cemitério foi apresentado por um lado bonito e não cinzento, como geralmente ele é conhecido ou imaginado. A cada projeção, Fabiano apresentou planejamentos arquitetônicos, arruamentos e setorização, desenhos, coloridos, muitos e muitos detalhes de esculturas, rostos, flores, minúcias que normalmente nos passam sem ser percebidas. Do Cemitério do Bonfim, de Belo Horizonte, importantes informações sobre os primeiros moradores da capital mineira. Do Cemitério de Nova Lima, construído e formatado pelos ingleses da antiga Mineração de Morro Velho, mais do que tudo uma harmonização de símbolos maçônicos, frutos de influências de ritos experimentados e vividos pelas lideranças do seu tempo. Não deixou de fora mostras da Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, onde Aleijadinho foi enterrado, e o Cemitério Municipal Nossa Senhora Aparecida, em Juiz de Fora, que é um dos mais bonitos do Estado. Por tudo que nos ensinou o estimado confrade Fabiano Lopes de Paula, muito tem que lhe agradecer o IHGMC, hoje com quase cem por cento de associados. Afinal, pelo raciocínio do palestrante, os jazigos são uma fonte imprescindível para melhor compreender os questionamentos, incertezas e desejos que os seres humanos têm em relação à morte e, por consequência, à vida. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 16/11/2016 15:14:55 |
TEMPO DE NASCER Wanderlino Arruda O bom da vida é que sempre houve e sempre haverá oportunidades para engrandecermos nossa visão de mundo e acrescentar saberes à nossa cultura. A cada momento uma chance de ver, ouvir e aprender a importância do bem. Sempre lindo e proveitoso o texto de Eclesiastes sobre a existência de um tempo para cada propósito: tempo de nascer, tempo de plantar, tempo de curar, tempo de construir, tempo de rir, tempo de dançar... Agora, Manoel Hygino, hoje o mais sábio montes-clarense, vem nos esclarecer muito da Maternidade Hilda Brandão, benemérita instituição de cem anos, que honra o nascer meninas e meninos em nossa ainda jovem capital de Minas. Uma chance encantadora de muito saber! O seu livro "Tempo de Nascer" é um registro importantíssimo da Santa Casa, companheira de vida e das vivências de Belo Horizonte. Mais do que bonito e primoroso no aspecto editorial, é fonte e destino de ricos registros deste o dia de São João de 1916, quase tempos de Curral del-Rei, quando era presidente do Estado o saudoso Delfim Moreira. Melhor dizendo: tempos do provedor Hugo Werneck, honra da nossa ciência nos campos da Medicina e exemplo maior na administração e na inventividade. Tudo de bom na formação de consciência para muitas gerações. Estou encantado com tudo: aspecto gráfico, desfile de fotografias, distribuição da história e das estórias, fluência de todos os significados das muitas ações que engrandecem o amor à causa da maternidade. O bom começo se torna semente e plantação de exemplo para todas as gerações, um desfile de nomes ilustres que merecem ser lembrados no agora e no sempre, registros significativos em folha solta do provedor Saulo Levindo Coelho e do superintendente Marcos Rocha Andrade. Sério e responsável em tudo que faz, Manoel Hygino sabe percorrer todos os caminhos que vão da beleza literária aos valores da análise histórica. Membro ilustre da Academia Mineira de Letras, cronista e historiador, sabe escrever e descrever, narrar e registrar fatos, marcar e fixar personagens! Uma riqueza para todos os leitores, gratificante motivo de alegria para amigos que o admiram. Larga experiência desde os tempos de Montes Claros. "Tempos de Nascer" precisa e deve ser lido por todos que gostam de conhecer nossa Minas Gerais, seu jeito peculiar de ser e de trabalhar. São textos mais do que didáticos que marcam cada momento da Maternidade Hilda Brandão, as suas dificuldades, os seus sucessos. Mais ainda: um interessante desfile de fotos que fazem parte do patrimônio cultural do Museu de História Abílio Barreto, do acervo da Fundação Hospitalar, da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia, do Hoje em Dia, do Colégio Arnaldo e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa. São imagens de agentes de saúde de todas as categorias - médicos, enfermeiro, estudantes, gente de apoio - em locais e situações que precisam ser sempre lembrados e nunca esquecidos. Sinceros parabéns ao estimado conterrâneo Manoel Hygino, sinceros parabéns à Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, principalmente à sua Maternidade Hilda Brandão. Voltando ao Eclesiastes, importante lembrar que Deus fez tudo apropriado a seu tempo, pondo no coração do homem o anseio pela eternidade. Para todos nós, pobres mortais, nada melhor que ser feliz e praticar o bem. Institutos Históricos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 11/10/2016 15:43:24 |
HELOÍSA, YEDE E RUTH, TRÊS INTELECTUAIS NA AML Wanderlino Arruda Vinte e quatro de março de 1985, solenidade no Conservatório Lorenzo Fernandez, para a Academia Montes-clarense de Letras dar posse a novas confreiras. Noite de vivas e loas a três mulheres encantadoras, legítimas representantes do ensino e das letras, da palavra falada e escrita, do magistério e do jornal, da prosa e da poesia, do discurso formal e do relato histórico. Heloísa Veloso, Yede Ribeiro e Ruth Tupinambá chegavam para viver e sonhar, progredir literariamente e acalentar emoções da amizade e do companheirismo. Foram minhas, como apresentador, as palavras que se seguem: "Heloísa dos Anjos Sarmento, mulher de grande energia vital, dedicada, estudiosa dos problemas do ensino, guerreira da educação, amada-amante do trabalho, apresentamos-lhe as boas-vindas com os olhos cheios de amor-amizade porque gostamos muito de você, muito sabemos da sua capacidade de aprender e ensinar, da sua sábia consciência de convívio, do quanto valoriza o bom entendimento. Mente ativa sempre, independente, enérgica, responsável, muito poderá fazer por nossa Academia. Sua experiência de professora, diretora, delegada do ensino, conferencista, elaboradora de projetos, redatora de assuntos técnicos, comunicadora de todas as horas, muito será útil ao desempenho de nossos trabalhos. Seu toque de arte nas letras tem o sentido prático e dinâmico de que todos nós necessitamos. Quem sabe ensinar com a maestria do seu saber muito poderá fazer pelo semelhante, agora por seus pares, companheiros do mesmo ideal." "Yede Ribeiro Christova, campeã de formação acadêmica nos campos das letras e da pedagogia, professora de muitos títulos, beletrista, poeta, fiscal do saber, orientadora de mestres e de alunos, seja bem-vinda à nossa Casa. Os que continuam a viver a saúdam com toda a força do coração. Yede Ribeiro Chistova, constantíssima no amor e no estudo, mãe e mulher do mundo das artes, sílfide dançante no vapor de luminescências de tintas e vernizes, de dicionários e tratados de teoria literária, seja bem vinda. Mestra susceptível e generosa, experiente e afeiçoada a tudo que inspira a arte, você tem todas as qualidades de líder conscienciosa, firme, equânime, jamais perdendo oportunidades de aprender e ensinar. Mulher que doma e sabe ser domada, esta Casa, agora é toda sua. Nós a recebemos de braços abertos!" "Ruth Tupinambá Graça, que beleza de mulher! Um grande e luminoso coração, cheio de sabedoria e amor. Que belo sentimento de montes-claridade! Uma saudosista apaixonada por tudo que esta terra teve ou tem de romântico, de bonito e de charmoso. Uma memória privilegiada que é um desfilar de encantos, translúcidos sonhos de mocidade a gratificar venturas, a solidificar luzes de carinhos e de amizades! Ruth, também pedagoga, também professora, também mãe, filha e irmã do saber escolar, supervisora do quando, do onde e do como instruir a juventude. Que grande historiadora, com que graça ela escreve em nossos jornais! Uma vez no Elos Clube, eu disse que cabe a ela, Ruth Tupinambá prosseguir a tarefa e o gênio de Hermes de Paula, na historiografia de Montes Claros, ela que pesquisa com amor e sabe das coisas como ninguém, ela que redige com clareza a uma suavidade de invejar! Agora, na Academia Dona Ruth, não há outro caminho a seguir, mãos à obra no rumo da História. Mon tes Claros coloca-se à sua espera, faz vênia à sua passagem. Coloquem em letras de forma o nosso passado! Esta Casa é toda sua. Esperamos à disposição, não se faça de rogada!" A Academia sempre foi um desfile de emoções, um despontar de todas as alegrias, um coroamento de êxitos buscados nos estudos e no cadinho do trabalho. Só o esforço enobrecido estende o poder do amor. Quem ensina o que aprende, aperfeiçoa o aprendizado, numa constante e bela interação que nem a morte, pode extinguir. Academias Montes-clarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 31/8/2016 09:33:11 |
A Academia Montes-clarense de Letras em 1968 Wanderlino Arruda Novas perspectivas, muita animação para que a Academia Montes-clarense de Letras seja - no real - um centro de ideias, foco de ensino e aprendizagem, mostra e amostra do muito que poderá fazer pelas Letras e pela Cultura. Finzinho de maio, dia 28, no Clube Montes Claros, foram tratados os seguintes assuntos: 1. Leitura de carta do presidente Antônio Augusto Veloso, comunicando viagem exterior, rogando ao acadêmico José Raimundo Neto assuma a presidência até o seu retorno; 2. Leitura de um ofício da Irmã Maria de Lourdes, declinando do convite para participar do quadro de membros efetivos da Academia; 3. Ficou deliberado transferir a Irmã Maria de Lourdes para o quadro de Sócios Honorários; 4. Leitura do ofício do Diretório Acadêmico Cyro dos Anjos, oferecendo a sua sala, na Fadir, para as reuniões da Academia; 5. Proposta para lançamento de um concurso de contos, com participação dos universitários da cidade. Um mês depois, os acadêmicos Olyntho Silveira e José Raimundo Neto prestaram homenagem póstuma ao jornalista Ataliba Machado, fundador de dois jornais e da Revista Montes Claros em Foco, periódico que circulou oito anos sob a sua direção. Ataliba Machado havia falecido dois dias antes, fato que repercutiu muito em toda a cidade, pois pessoa querida e admirada. Como importante iniciativa, foi instituído um prêmio destinado a um aluno de curso primário, primeiro da escola. Fixada a entrega para o dia 3 de julho, data do aniversário de Montes Claros, em reunião conjunta com o Elos Clube. Ano vai, ano vem, agora uma entusiasmada reunião na residência do casal Fina/Hermes de Paula, presidência do dr. Antônio Augusto Veloso, para entrega de certificados de outro concurso de redação para alunos do curso ginasial. Tudo muito solene e bonito, com presenças de professores e familiares. Haja emoção! A assembleia de 31 de maio, realizada na residência do casal Milene e João Vale Maurício, traz entre muitas resoluções administrativas, a eleição da Diretoria para o biênio 68/69. Presidente - José Raimundo Neto; Vice-presidente - Maria Ribeiro Pires; Secretária Geral - Yvonne Silveira; Secretário - Hélio Oscar Vale Moreira; Tesoureiro - Orlando Ferreira Lima; 2º Tesoureiro - Geraldo Avelar; Bibliotecário - Joaquim Cesário Macedo; e Orador - João Valle Maurício. Uma curiosidade: na Ata de 31 de maio, vale destacar as assinaturas de Cândido Canela, Laurinda Prates Canela, Helena Neto Alves, Alice Aquino Neto e Francolino Santos. Diz a Ata de 24 de junho que houve duas reuniões realizadas na casa do casal Fina e Hermes de Paula. A primeira do Elos Clube de Montes Claros, que tinha como presidente o acadêmico Orlando Ferreira Lima; a segunda, da Academia Montes-clarense de Letras, na presidência o dr. Antônio Augusto Veloso. Em verdade, as duas instituições - Elos e Academia - tinham ali uma só finalidade, a entrega de prêmios aos vencedores de um concurso de contos, promovido pelo Diário de Montes Claros: 1º lugar - Maria Luíza Nunes Silveira, com o conto "Marta"; e Clésio Túlio Silveira, com o conto "Gato Preto". 2º lugar - Augusto Otávio Barbosa, com o conto "Pulseira Fatídica". Menção Honrosa - José Ezequiel de Oliveira, com a crônica "João Cabecinha"; e Felipe Antônio Gabrich, autor de "A Morte de Charuto". Após a entrega dos prêmios, uma apresentação de dança e conto, programação do Elos Clube, a cargo da professora de Arte Musical, Fátima Pinheiro. Academias Montes-clarense e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 23/8/2016 09:31:43 |
SAUDADE, UM VER-NÃO-VENDO Wanderlino Arruda As palavras - independentemente do idioma, da época, ou da cultura - podem suscitar todo tipo de emoções: alegria, tristeza, pasmo, terror, nostalgia, contentamento, pesar... As palavras podem desmoralizar uma pessoa até a apatia ou espicaçá-la até o deleite, podem exaltá-la a extremos de experiência espiritual e estética. As palavras têm realmente um poder assustador. E tudo isso é muita verdade, não acredito haja alguém que duvide. As palavras têm uma força, uma resistência, um poder que suplantam quase tudo que existe no mundo. Passam exércitos, passam impérios, passam repúblicas, mas as palavras não passam. Elas são permanentes, mais firmes do que os granitos dos palácios e dos monumentos. As palavras de Sócrates, escritas por intermédio de Platão, suplantaram todos os governos gregos e todos os seus regimes, tenham sido militares ou civis. Passarão as pirâmides e a esfinge do Egito, mas as palavras do "Livro dos Mortos" não desaparecerão. Passaram todos os séculos dos poderes de Roma, suas forças de guerra, seus princípios de direito, suas artes, sua globalização, mas o seu latim clássico ou vulgar nunca passou, porque suas palavras permanecem. Deve ser por isso que nós dispomos, na Língua Portuguesa, de uma palavra que não tem igual no mundo em sentido, em significado, em força, tanto no aspecto denotativo (se isso é possível!) como no conotativo. É a palavra saudade, de origem tão obscura como o fundo dos mares portugueses, tão misteriosa como a virgindade das selvas brasileiras, ou tão cheia de calor como as terras de Angola ou Moçambique, também de linguajar lusitano. De onde veio realmente o vocábulo saudade? Do latim solitate (soledade, solidão)? Do árabe saudah? Dos arcaísmos soydade, suydade? Até Antenor Nascentes - que foi nosso melhor estudioso da etimologia - não é convincente na explicação da origem. Influência da palavra saúde, como pode parecer uma analogia fonética? Dificilmente. Não sendo possível definir a matriz de onde sai esta filha tão grata a todos nós, resta-nos apenas a satisfação e a honra de tê-la em nosso vocabulário, sem o perigo de competição por parte de qualquer língua de dentro ou de fora de nossa família latina. O francês solitude está longe de ter o mesmo significado. Mesmo do esperanto (re)sopiro e rememoro estão longe de alcançar nossa expressividade. São termos que passam a quilômetros de distância da riqueza semântica do que usamos. E o que é mesmo saudade? Um sentimento que deve existir no coração de toda criatura humana, seja ela de qualquer raça, de qualquer parte do mundo, seja pobre, seja rica. A saudade não escolhe, não discrimina, não se faz de rogada para existir. Ela vem de mansinho ou vem fortemente, chegando quando menos se espera. A saudade é amiga da solidão, companheira inseparável do amor, visita invisível da amizade, às vezes pedaço de paixão, em muitos casos suave perfume de momentos de carinho e ternura. Realmente, não é fácil definir o sentimento da saudade. E é talvez por isso que ela só exista, como palavra, na Língua Portuguesa, na mística do povo de nossa raça, principalmente no brasileiro, uma maravilhosa mistura de sangue tropical, fruto de três origens: a branca, a negra e a tupi. Saudade é dor que sufoca o coração e alegra a alma. Saudade é presença do ausente, é lembrança do bem-querer, um doce convívio com a distância, uma alegre e agradável tristeza do ver-não-vendo, do amar sem o objeto do amor... Academias Montes-clarense e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 26/7/2016 16:26:25 |
Pedaços de história da Academia Wanderlino Arruda A reunião de onze de outubro teve em sua primeira parte as homenagens ao professor José Raimundo Neto, falecido em Belo Horizonte, um dos fundadores da Academia Montes-clarense de Letras e seu segundo presidente, no biênio 1968/1969. Foi relembrada pelo presidente João Valle Maurício "os vários e expressivos aspectos da vida do homenageado, inclusive a sua dedicação à causa do ensino e à sua família, que tinha nele um amparo seguro". "José Raimundo Neto foi um dos maiores educadores de nossa terra. Intelectual de notável cultura humanista. De alma sensível, sua vida foi sempre atuante, brilhando pelo valor de sua inteligência". Vários oradores enriqueceram os elogios ao falecido confrade. Os agradecimentos foram proferidos pelo seu cunhado e confrade Corbiniano Aquino. Vinte de outubro, encontro acadêmico no Automóvel Clube. O centro das atrações foi o lançamento do livro "Maria Clara", publicado no Rio de Janeiro pela Editora Dois Irmãos, romance autobiográfico da escritora Nazinha Coutinho, prefácio do antropólogo Darcy Ribeiro. A apresentação do livro foi feita pelo dr. Mário Ribeiro Silveira, seu primo, principalmente por tratar-se em grande parte sobre sua família e ser um lado confessional das lutas de gerações. Vale uma leitura atenta da rica e encantadora ata lavrada pela secretária Felicidade Perpétua Tupinambá, síntese perfeita dos encontros e desencontros na família Francisco Ribeiro/Maria Luiza, pais adotivos da menina Nazinha, que adulta e casada com o dr. Alfredo Coutinho, prefeito de Montes Claros de 1938 a 1941, teve notável papel como mãe da historiadora Milene. Maria Luíza de Magalhães Ribeiro, casada com o Coronel Francisco Ribeiro, foi a protetora das irmãs que vieram fundar o Colégio Imaculada Conceição, cedendo por dois anos a casa para o funcionamento inicial da escola, e doadora do terreno e da construção do Orfanato Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. É o nome dela que - com justiça - deveria estar nas placas da Rua Viúva Francisco Ribeiro, que vai do centro de Montes Claros à ponte do Bairro Todos os Santos. A reunião de quatorze de novembro de 1978, realizada também no Automóvel Clube, foi dirigida pelo Venerável da Loja Deus e Liberdade, Iran Rego, e pelo presidente da Academia, João Valle Maurício. Presenças de várias autoridades. O objetivo foi o lançamento do meu livro "Tempos de Montes Claros", publicado pela Editora Leme, de Belo Horizonte. Apresentação pelo escritor João Valle Maurício e pelos maçons Georgino Jorge, Iran Rego e Humberto Plínio Ribeiro. Análise pelo acadêmico Olyntho Silveira, que destacou os aspectos históricos e literários. Academias Montes-clarense e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 20/7/2016 18:00:34 |
EMOCIONANTE A NOITE PARA CYRO DOS ANJOS Wanderlino Arruda O dia dezessete de maio foi calendário máximo em solenidades da Academia Montes-clarense de Letras, quando tudo foi preparado com muito carinho para a visita do escritor Cyro dos Anjos e de sua esposa Lilita, em atendimento a um convite quando da sua posse na Academia Brasileira de Letras. Grande o número de autoridades, luzidia comitiva de amigos e conterrâneos, de professores e estudantes, de jornalistas e admiradores, e de quase todos os acadêmicos da AML. Várias as saudações, dentre elas do escritor Orlando Ferreira Lima - em nome do prefeito Antônio Lafetá Rebello - e duas feitas em versos pelos poetas Olyntho Silveira e José Prudêncio de Macedo, sendo a de Olyntho um soneto e a do inesquecível Zé Capeta em versos próprios do sertão. A acadêmica Maria Ribeiro Pires brilhou com uma declamação de poema do seu tio Plínio Ribeiro. Importante dizer que Montes Claros, a exemplo de Caruaru, teve a honra de contar, ao mesmo tempo, com dois ilustres filhos na Academia Brasileira de Letras. Sem contar vantagens, um bom destaque para os daqui, pois muito importantes na administração e na política brasileiras: Cyro, chefe do gabinete do presidente Juscelino Kubitschek; Darcy, ministro da Casa Civil e senador da República. E por isso nunca nos faltou admiração por eles. Assim, diante de Cyro, era justo esperarmos por suas palavras. E valeu o tempo de ansiedade, porque foi bastante emocionado que ele fez seu agradecimento. Firme e sereno, afirmou que mais uma vez soube que emoções não matam. Não morreu quando da sua eleição para as Academias de Letras de Minas e do Brasil, não morreu com as homenagens da Câmara Municipal de Montes Claros e não morreu agora, com tantos gestos gentis da Academia Montes-clarense. Será porque ele era mesmo imortal? Mesmo morando em todo o tempo no Rio de Janeiro e em Brasília, cada vez mais era de Montes Claros, seu maior privilégio, pois toda a sua vivência útil à escrita literária estava por aqui, no grande interior de Minas. Disse mais: valia a pena ser acadêmico nas Academias Brasileira e Mineira, ou na Academia Montes-clarense, porque juntos e em convívio constante, os intelectuais aprendem muito mais e produzem com muito mais segurança, porque a união faz mesmo a força. À Lilita, companheira de toda a vida de Cyro, foi reservada a parte artística da noite, com uma apresentação do Coral do Conservatório Lorenzo Fernandez, regido pela professora Clarice Sarmento, um encanto de musicalidade voltada para o folclore e para a nossa cultura. Claras as mensagens, sempre dirigidas a ela. E emocionada como marido, agradeceu dizendo que a noite em Montes Claros foi a mais bonita que ela e Cyro assistiram em muitos anos de vida, aqui e alhures. Coisa de muito encanto! Academias Montes-clarense e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 14/7/2016 08:12:15 |
Wanderlino Arruda VOCÊ SABE O QUE É CUTRUVIA? Quase todos os dias para quem assiste à novela "Velho Chico", a palavra cutruvia clama pela atenção, quando pronunciada por Lucy Alves, cantora finalista da segunda temporada do "The Voice", agora atriz e intérprete de Luzia, a brava mulher de Santo dos Anjos (Domingos Montagner). Ela sempre pronuncia o vocábulo cutruvia em voz alta, olhos flamejantes, um ódio quase mortal, principalmente quando em posição de briga com a bonita Tereza (Camila Pitanga). Nem é preciso saber o que significa cutruvia para entender que se trata de coisa ruim, xingamento para valer. Outro vocábulo, mais de passados capítulos, era gitana, dito pela centenária Encarnação (Selma Egrei), em tom de ofensa quando se refere a Iolanda (Christiane Torloni), mulher do coronel Saruê (Antônio Fagundes). Também bastante diminutivo em termo de consideração, um jeito de falar com incontrolado desprezo, tom de quem quer se ver livre de uma forasteira bastante incômoda. Coisa boa é que não pode ser. Vinculada a uma época que ninguém interpreta como se de ontem ou de hoje, pois com roupas antigas de aparelhos modernos - celulares, por exemplo - "Velho Chico" tem divulgado um vocabulário bem rico em expressões pouco comuns para grande parte dos brasileiros do Centro e do Sul, acredito até para os da parte Oeste, gente lá dos lados do Pantanal ou mesmo dos rios da das beiradas da Amazônia. O próprio termo saruê, dado à família dos Sá Ribeiro, pelo menos de início precisou de tradução á língua normal. Pois bem, senhoras e senhores, qual é mesmo o significado das palavras cutruvia e gitana? São elas da língua portuguesa ou de algum dialeto misterioso, servente apenas para xingatórios? São legítimas ou fazem parte de um vocabulário próprio das corruptelas de falares do interior? Estão dicionarizadas ou tomam lugar em uma lista de espera para inclusão léxical? Gitana segundo a Wikipedia, procede de "egiptano", porque no Século XV se pensava que os gitanos procediam do Egito. Gente cigana, nômade, mesmo que se diga de origem nobre e de um passado importante em terras egípcias ou da antiga Índia. Melhor dizendo para os sentimentos de D. Encarnação, gente sem origem, forasteira indesejável como em alguns tempos atrás também eram chamados de "candangos", viajantes de paus de arara. Cutruvia, queira ou não, é uma forma modificação menos nobre da palavra "cotovia", denominação de uma ave canora sempre ligada ao voo vertical e ao corrupio sonoro, em Portugal e em outros países da Europa, nome até sagrado para os gauleses. Para não deixar dúvida quando ao sincero desejo de ofensa manifestado por Luzia contra Tereza, cutruvia é uma ave de comportamento liberal em termos de relacionamento, e que tem as seguintes traduções pejorativas no vocabulário baiano e nordestino: quenga, meretriz, rapariga, madama, messalina, rameira, decaída, cortesã, prostituta, andorinha, bagageira, biscateira, mariposa, moça-dama, bruaca, cadela, catarina, catraia, dadeira, fuampa, fulana, fadista, gança, jereba, puta, mundana, perua, perdida, piranha, vigarista amante, mulher da vida, mulher de zona, mulher perdida, mulher errada, mulher de má nota, mulher de ponta de rua, mulher pública, mulher vadia, mulher desprezível. E em termos mais nobres: mulher que se relaciona com homens comprometidos, mulher que vive com o homem de outra. Academias Montes-clarense e Maçônica de Letras do Norte de Minas. |
Por Wanderlino Arruda - 29/6/2016 08:11:40 |
CONSTRUTOR DE AMIZADE Wanderlino Arruda De todas as pessoas que tenho conhecido mais de perto, o velho João Morais, meu avô, parece ter sido o único homem a viver oitenta e muitos anos de alegria em tempo integral. Era assim como se tivesse carteira assinada numa firma de felicidade, com todos os direitos, menos o de ficar triste e de deixar de ser alegre. Era, não tenho dúvida, como um papai noel de ano inteiro, a distribuir presentes de fraternidade a todas as criaturas. Fazia ele da convivência de todos os dias um painel harmonioso e de rica sabedoria. Conheci-o desde os meus primeiros anos, em sua fazenda perto de Salinas, numa casa-sede que ficava rodeada de pomar e jardim, entre o "Ribeirão", de águas cristalinas, e a estrada principal, onde ninguém tinha direito de passar sem uma visita ainda que ligeira. Ali, cada visitante era recebido prazerosamente e, depois dos cumprimentos de praxe, levado para lavar a poeira dos rosto, tomar café-com-leite e biscoitos de tapioca e participar de uma gostosa conversa. Sabendo dividir bem as horas de trabalho nas pastagens e na lavoura, vivia animadamente para o trato com as pessoas, contando estórias, relatando casos, recriando-os com enternecedora vontade transmitir felicidade. Vovô foi, acima de tudo, um homem bom, o leme para muita gente neste mundo, que aprendeu com ele a andar no caminho certo, pois conselheiro melhor não havia naquele pequeno grande sertão entre Rio Pardo e Salinas. Era um velho forte e musculoso, vermelho como um europeu, e tinha os cabelos brancos e fartos, que lhe davam um ar de juventude bem conservada e um enorme halo de simpatia. Quando eu era pequeno, pensava que sua cabeça havia embranquecido pelo rigor do sol dos canaviais, onde trabalhou até poucos dias antes de morrer. Eu achava que ele tinha vindo aprimorar o mundo e as criaturas, num esforço de nunca parar, pois nem a doença que o acompanhou anos a fio o modificou em seus hábitos de homem feliz. Vi-o, muitas vezes, voltando à tardinha, enxada ao ombro, embornal pendurado no pescoço, sorriso de ponta a ponta, a cantarolar algumas de nossas modinhas prediletas. Todas as noites, após o jantar com toda a família - ninguém podia faltar - deitava-se numa rede amarelecida de tanto uso, e o antigo violão passava a centralizar as atenções, numa suave evocação de lembranças e saudades, que só terminava bem tarde, quando o cansaço vencia e todos iam dormir. João Morais, meu avô, nasceu bem longe, na velha Bahia, pelas bandas de Caiteté, creio, num dia de festa até da natureza. Desde rapaz, tropeiro de profissão, viveu a vida dos campos e das estradas, dormindo ao relento, comendo feijoadas com rapadura e farinha de mandioca, e respirando o sereno de todas as madrugadas. Ele mesmo contava que foi naquele tempo que conheceu uma moça morena e bonita chamada Ritinha, neta de índios, de quem, seis meses depois do primeiro encontro, ficou noivo, e com quem, um ano mais tarde, se casou. E foi vendo a casa cada vez mais cheia de filhos e netos, fazendo e refazendo festas, que viveram mais de meio século em harmonia muito perfeita. Não assisti , mas dizem que ele morreu conversando e sorrindo, como costumava fazer durante todos os dias da vida, pedindo a todos para não chorar ou sentir tristeza. Embora sertanejo e de poucas letras, foi um romancista verbal, narrador inigualável desenhista de perfeitos quadrinhos existenciais de humanismo puro e sincero. Na verdade, meu avô tinha uma experiência de vida, uma habilidade diplomática, uma riqueza de inteligência e bondade, dignas de muita admiração. Ninguém que o conheceu deixa de dizer que ele era um velho alegre e agradável, verdadeiro construtor de amizade, sempre ouvido com interesse e prazer. Academias Montes-clarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 22/6/2016 15:01:19 |
VIDA E GRATIDÃO Wanderlino Arruda É triste, muito triste, ver como o mundo se acha cheio de ansiedades, de conceitos puramente materialistas e utilitaristas. Pessoas e mais pessoas se esquecem da beleza da vida, da generosidade de outras pessoas, e se colocam como pequenos donos de um pedaço de meia-verdade, julgando-se numa independência que não existe. Esquecem-se de que a existência é um insistente ensino, uma perseverante luta pela felicidade e que só podemos ser felizes na caminhada solidária, de mãos dadas, unidos, com toda a alegria possível, com toda coragem, ou pelo menos com um pouco de sorriso em agradecimento à própria vida. De nada adianta o transbordamento das paixões, a manutenção de arestas morais, o narcisismo, a supervalorização, o pretenso domínio da inteligência ou do poder, o ódio sem direção ou mesmo direcionado. Tudo é vão, o viver é um crescimento espiritual de todo o tempo. Amar a si mesmo é valioso, mas o que é mais importante é amar o semelhante. E amar impõe sinceridade pessoal, desprendimento, uma visão clara de sonhos e realidades, um gostar, um querer bem sem limites. De nada vale o isolamento, a limitação, só a defesa do próprio interesse, a fanfarronice vazia e boba, uma falsa autoconfiança, o desprezo bulhento aos que amam a vida. De nada vale a falsa declaração de amor, sem identificação com o bem geral. É preciso desnovelar-se num esforço de melhoria geral, abrir os olhos para a paz, a paz das quatro paredes da nossa casa, a paz da nossa rua, dos nossos companheiros de jornada, a paz do mundo. Para alcançarmos a alegria, necessário é desafadigar-nos das opacas viseiras da falsa autossuficiência, triste posição da pessoa infeliz. Há ardorosos propagandistas de si mesmo que não passam do labirinto da sua própria ilusão, mas que caminham por caminhos tão estreitos e tão vulneráveis que nunca enganam a ninguém. Falam de liberdade, pregam autonomia, fomentam guerras, exterminam simpatias, direcionam-se para o fanatismo, combatem falsamente os preconceitos, mas não sabem libertar-se da cordoalha da servidão mental a que são jungidos a si mesmos. É preciso restaurar a fé nos semelhantes, semear a palavra de vida e da luz da esperança, viver com amor verdadeiro, perseverar no bem, tirar as lentes negras de diante dos olhos físicos e espirituais. Trombetear importância nunca foi medida levada a sério. A avidez de promoção pode ser atalho de caminhos, mas será sempre lodaçal de incompreensões. Não se deve morrer de orgulho, porque nem sempre a existência ajuntará o pequeno punhado de amigos que cada um tem. Eles podem espantar-se da nossa própria inconsciência. Que cada um se submeta ao currículo da aprendizagem na academia da vida, propondo valorizar todas as lições que estudam e preparam a conquista de tesouros maiores da inteligência e do sentimento. Cada período brinda-se com nova gama de experiências. É importante saber tirar proveitos do equilíbrio dos que são verdadeiramente equilibrados. É importantíssimo saber viver todos os momentos possíveis da felicidade. Na verdade, ser feliz é a nossa meta. E para ser feliz é preciso saber retribuir bem, ter gratidão. A vida não é só pedir. É muito mais agradecer! Academias Montes-clarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 15/6/2016 10:35:54 |
O CARMELO E O GRUPO LISIEUX Wanderlino Arruda Em quatro décadas, o Grupo Lisieux, fundado em 1976, recebeu e foi mantido por gente realmente ilustre, braço direito do Carmelo Maria Mãe da Igreja e Paulo VI. A primeira reunião foi realizada no Palácio Episcopal, presenças de Dom José Alves Trindade e das Irmãs Maria Margarida do Coração de Jesus, priora do Carmelo de Belo Horizonte; de Maria Angélica da Eucaristia e Ana Letícia do Coração de Jesus, além de uma dezena de mulheres arrojadas, gente boa da sociedade montes-clarense. O nome escolhido para o Grupo Lisieux foi sugerido por Ruth Mota, como homenagem à terra natal da Carmelita Santa Teresinha do Menino Jesus. Santa Teresinha de Lisieux, ou Teresa Martin, nasceu em dois de janeiro de 1873, em Alençon, Normandia, norte da França. Nome de batismo: Marie Françoise Thérése Martin. A filosofia do Grupo Lisieux é a mesma do Rotary International: "Dar de si antes de pensar em si", uma pérola de citação que merece uma reflexão mais apurada de todos que pensam e agem no bem. Com quarenta anos de trabalho e muita confraternização, o Carmelo Maria Mãe da Igreja e Paulo VI, de Montes Claros, tem em sua direção a nossa ilustre amiga e companheira Lili Brant Penido. Em nome dela, nós cumprimentamos todas as confreiras do egrégio Sodalício. A Ordem se liga, no Antigo Testamento, ao Profeta Elias, que residia numa gruta do Monte Carmelo, na Palestina. Ao longo dos séculos, este grupo de contemplativos atravessou oceanos e se estendeu pelo mundo inteiro. A finalidade do Carmelo é atrair do Céu as graças, através da oração contínua e do sacrifício material ou espiritual. As Carmelitas, em número de sete, vieram dos Carmelos de Belo Horizonte e de Três Pontas para construir a primeira comunidade montes-clarense. A Priora foi Madre Maria Angélica da Eucaristia, uma querida montes-clarense. A espiritualidade das Irmãs Carmelitas encontra em Maria Santíssima o modelo especial de oração e de trabalho. E quando em 1976 surgiu a intenção de se fundar em Montes Claros um mosteiro da Ordem Contemplativa das Carmelitas, tornou-se necessário um Grupo de Apoio que divulgasse a ideia e trabalhasse na comunidade pela concretização do Carmelo. Assim, a primeira reunião foi no dia 23 de junho, contou com o entusiasmo de Dom José Alves Trindade, tendo nele - um homem de reconhecida bondade - o incentivo natural, com a sinceridade de quem muito amava comunidade de Montes Claros. Daí a ajuda sincera às senhoras Hilda Athayde, Terezinha Gomes Pires, Neuza Athayde, Geralda, Wilma e Terezinha Reis, as primeiras a colocar o máximo de esforço na implantação. Muito importante foi contar com a ajuda e orientação do Padre Henrique Munaiz. O Grupo Lisieux conta com cerca de quarenta participantes e inúmeras simpatizantes, senhoras de várias atividades e setores. São donas de casa, mães de família, mulheres de negócios, professoras e profissionais dos mais diversos ramos, mas que sempre encontram tempo para o trabalho em favor do Carmelo e da comunidade. Além de suas reuniões de trabalho, promove palestras, tardes de reflexões, conferencias e encontros, procurando sempre o crescimento pessoal. Fazem de suas reuniões de trabalho uma convivência amena e agradável. O Carmelo de Montes Claros iniciou suas atividades no Bairro do Cintra, nas instalações da antiga Casa Paroquial, gentilmente cedida pelo padre João Machado Gomes. A pedra fundamental para a construção definitiva foi lançada em 1978, em um terreno de 15.000m2 doado por Deraldo Rodrigues Caldeira. A inauguração - com estilo moderno, linhas firmes e sóbrias, criação do arquiteto Geovanni Brito e assistência técnica de Luiz Antônio Medeiros Filho e Thales Teixeira, ocorreu em 30/10/81, estilo moderno, com linhas firmes e sóbrias, criação do arquiteto Geovanni Brito e assistência técnica de Luiz Antônio Medeiros Filho e Thales Teixeira. Toda a construção tem um princípio que rege a vida monástica e religiosa: "Ora et labora". No silêncio das celas ou nas oficinas, cada monja se debruça sobre sua tarefa diária, confeccionando cartões, pinturas, fabricando hóstias, matéria do sacrifício eucarístico. Diante de tudo que aconteceu e acontece, os sinceros parabéns ao Grupo Lisieux e a todos que dele participaram e participam. Wanderlino Arruda Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 31/5/2016 11:40:54 |
A SEMANA DA CULTURA DE 1999 Wanderlino Arruda Dezoito de outubro, salão nobre do Automóvel Clube, sessão magna para abertura da Semana da Cultura, em parceria com o Consulado de Portugal, com a Sociedade das Amigas da Cultura e Elos Clube de Montes Claros. Mesa diretora: Yvonne Silveira, presidente; Miriam Carvalho, presidente das Amigas da Cultura; Victor Hugo Marques Pina, presidente do Elos Clube; Florinda Ramos Pina, representando a cônsul Fernanda Ramos; Iara Souto, secretária de Cultura; João Carlos Sobreira, representando o prefeito municipal; Maria José Colares Moreira, presidente do Comitê Internacional para o Festival de Folclore; Clarice Sarmento, representando o Conservatório Lorenzo Fernandez. Seguiu-se uma apresentação do Coral Lorenzo Fernandez, com os títulos Carmina Burana e Aleluia. Também uma declamação da professora Thaísa Terense Martins, a leitura dialógica da Carta de Pero Vaz de Caminha pelo ator Cláudio Prates e a apresentação de mensagem da cônsul Fernanda Ramos pela professora Florinda Marques Pina. Final com trechos da ópera O Guarani, pelos professores Antônio Carlos Lima e Maria Amélia, com acompanhamento da pianista Maria Lúcia Macedo. Dezoito, vinte, 21 e 22 de outubro, no salão nobre do Centro Cultural Hermes de Paula, para mais uma etapa da III Semana da Cultura, em parceria com o Consulado de Portugal, com a Sociedade das Amigas da Cultura e Elos Clube de Montes Claros. A abertura, dia dezoito, no Automóvel Clube, teve na presidência Yvonne Silveira, cerimonial de Regina Peres, secretaria de Antônio Felix. Na mesa de honra, os representantes das entidades parceiras. A palestra sobre "Portugal e Brasil descobrindo-se há 500 anos" foi feita pelo professor Marcos Fábio Martins de Oliveira, da Unimontes. Logo depois, o jogral "Brasil", de Ronaldo de Carvalho. Vasta a programação, também com participação de Milene Coutinho Maurício, Cláudio Prates, Antônio Carlos Lima, Maria Amélia e Maria Lúcia Macedo. Cerimonial da professora Edite Bastos, da Sociedade das Amigas da Cultura. Dia vinte, no Centro Cultural Hermes de Paula, presidência do sr. Victor Hugo Marques Pina, com o tema "Portugal e Brasil descobrindo-se há 500 anos", pelo professor Marcos Fábio Martins de Oliveira. Várias apresentações: "Brasil", de Cassiano Ricardo, jogral dirigido pela professora Lygia Braga; "Cantando o Brasil e Portugal", pela professora Maristela Cardoso, acompanhamento da professora Maria Lúcia Macedo. Mestre de Cerimônia, a elista Regina Barroca Peres. Dia 21, no Automóvel Clube, na presidência a professora Miriam Carvalho, presidente das Amigas da Cultura. Lançamento do livro "Raízes e Asas", da professora Maria Lúcia Becattini Miranda, com apresentação pela acadêmica Yvonne Silveira. Poemas declamados pela professora Dóris Araújo. Canções italianas pelo professor Roberto Júnior, acompanhamento da professora Maria Luísa Correia Pires. Cerimonial de Raquel Avelar, das Amigas da Cultura. Dia 22, no Elos Clube de Montes Claros, abertura pela presidente Yvonne Silveira, da Academia Montes-clarense de Letras. Mestre de Cerimônia, o acadêmico Antônio Felix. Palestra "A Herança Cultural Portuguesa" pelo acadêmico Wanderlino Arruda. "Cantando Portugal e Brasil" pelos professores Raquel Ulhoa e Roberto Júnior. Poesias portuguesas e brasileiras pela acadêmica Zoraide Guerra David. O encerramento foi de um intenso brilho, com o Coral do Elos Clube, dirigido pela maestrina Clarice Sarmento. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 25/5/2016 08:10:46 |
UMA PARTE DA HISTÓRIA DA ACADEMIA Wanderlino Arruda Vinte e sete de novembro de 1969, sob a presidência do professor José Raimundo Neto, a décima primeira reunião da Academia na sala da Biblioteca do Clube Montes Claros. O primeiro assunto, logo depois da leitura da Ata: leitura de correspondência do dr. Simeão Ribeiro Pires, pedindo desculpas por não poder tomar posse naquele dia. Em seguida, o acadêmico Hermes de Paula apresentou os nomes sugeridos para patronos das quarenta cadeiras: Carlos Versiani, Mário Versiani Veloso, Antônio Gonçalves Chaves, Hermenegildo Chaves, João Antônio Gonçalves Chaves, Honorato José Alves, João José Alves, Camilo Filinto Prates, Hermenegildo Prates, Carlos Catão Prates, Benício Alves Prates, João de Freitas Neto, Artur Gustavo Rodrigues Vale, Eliseu Laborne Vale, Justino de Andrade Câmara, Antônio Teixeira de Carvalho, Antônio Augusto Teixeira, Ezequias Teixeira de Carvalho, Artur Lobo, Pedro Fernandes Pereira Correia, Urbino de Souza Viana, Cícero Pereira, Herculino Pereira de Sousa, Alfredo Coutinho, Geraldo Ataíde, Francisco Versiani Ataíde, José Tomás de Oliveira, Ari de Oliveira, Jair de Oliveira, Desembargador Veloso, Plínio Ribeiro dos Santos, Francisco Ribeiro dos Santos, Pedro Augusto Teixeira Guimarães, Dom João Antônio Pimenta, João Pimenta de Carvalho, José Correia Machado, João Martins da Silva Ma ia, padre Augusto Prudêncio da Silva, Honor Sarmento, Antônio Ferreira de Oliveira, Antônio Augusto Spyer, Francisco Sá, Antônio dos Anjos, Ângelo de Quadros Bittencourt. Nove de dezembro de 1968, quase atmosfera de Natal, a Academia, em convênio com o Conservatório Lorenzo Fernandez, patrocinou o lançamento do livro "Basílio", do escritor e político Oscar Dias Correa, mesma noite da sua posse como membro honorário da Academia. Ao ensejo, o grande jurista foi saudado pelo médico João Valle Maurício. A homenagem à professora Diva Correa, esposa do autor, foi proferida pela acadêmica Yvonne de Oliveira Silveira, cujo discurso sensibilizou a homenageada e a todos os acadêmicos e convidados. No final da sessão, o dr. Oscar Dias Correa, homem público de fama em toda Minas Gerais, fez o agradecimento em seu nome e no de sua esposa, dizendo que a ideia de escrever o seu livro nasceu em Montes Claros, depois da leitura de "Grotão", do dr. Maurício, e "Brejo das Almas", de Olyntho e Yvonne Silveira, as duas publicações, fonte de inspiração. Como sempre, as festividades foram concluídas com muitos cumprimentos e um coquetel temático baseado no tempo-espaço de Natal e Ano Bom. 3 Vinte e um de fevereiro, ano da graça de 1969, noite de festas para receber mais três membros importantes: professor Athos Braga - Cadeira nº 21, Patrono Pedro Augusto Teixeira Guimarães, dr. Abelardo Teixeira Nunes - Cadeira nº 22, Patrono Antônio Gonçalves Chaves, e dr. Júlio César de Melo Franco - Cadeira nº 23, Patrono Herculino Teixeira de Souza, os três saudados pelo acadêmico Joaquim Cesário dos Santos Macedo, que os considerou "três nomes de destaque na intelectualidade montes-clarense". Com estas posses, o quadro social passou a contar com vinte e um membros efetivos. Os agradecimentos foram individuais, em discursos bastante aplaudidos, pois muitos os méritos de cada um: Athos Braga, o notável professor e orador, um dos fundadores da Loja Maçônica Deus e Liberdade e do Instituto Norte Mineiro de Educação; Abelardo Teixeira Nunes, promotor de Justiça, o poeta do Piauí; Júlio de Melo Franco, o ilustre jornalista, famoso pela fome de leitura e pela inteligência privilegiada. Academias Montes-clarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 18/5/2016 09:25:17 |
A JOVEM CICERONE DOS MORRINHOS Wanderlino Arruda Quem viveu e trabalhou em Montes Claros algumas décadas atrás teve oportunidade de viver tempos de grande interesse com a chegada de pessoas que queriam conhecer a cidade e - naturalmente - ver vitrines e entrar nas lojas para alguma compra. As mercadorias eram bem diferentes das de hoje, quando eram vendidos chapéus, louças, tecidos, perfumes e até linhas e fitas. A razão dessas andanças feitas a pé era a passagem dos forasteiros que vinham do interior de São Paulo, maioria endinheirada e que queria levar presentes para familiares. O comércio era o maior da região e, como diziam, tinha de um tudo para encher as vistas e provocar alegria. Como trabalhei, por alguns anos, na Imperial e na Casa Elza, sempre soube chegar logo depois das sete, para receber a freguesia que disputava posições no balcão. Montes Claros foi sempre uma terra de curiosidades, de muita coisa para se ver, mesmo não sendo uma cidade turística. Era importante visitar o mercadão, a catedral, a igrejinha do Rosário, o colégio das irmãs, e para quem gostava de andar mais, até o Parque de Exposições, inaugurado em 1957, ano do Centenário. A partir de 1951, com todo o centro já calçado, o caminhar sem poeira era uma glória. O movimento de carros só veio acontecer depois de 1960, quando apareceram os primeiros fuscas, os gordines e daufines. Tudo era festa, um prazer imenso de andar e perambular, até quando sem destino. Os dois primeiros edifícios foram a Ciosa e a Caixa Econômica, ambos no Centro. A Ciosa, construída pelo médico Mário Ribeiro, era uma enormidade na ocupação do solo e na altura, vários andares de lojas, escritórios e apartamentos, além da galeria ligando a praça à Rua Lafetá. Na galeria, o elevador, o primeiro de Montes Claros, sucesso para todas as idades. O prédio da Caixa Econômica, foi de construção mais elaborada, arquitetos de fora, muito mais alto, acabamento mais caprichado. Comercial só o térreo, destinado à agência gerenciada por Chico Pires, tempo ainda de Maria Salomé, Dalva Medeiros e Tone Economiário. Do primeiro andar para cima só residências de classe média alta, destinadas a moradores reconhecidos pelos nomes de família ou pelas profissões de destaque. Os elevadores bem mais modernos, tinham portas automáticas. Tudo que até aqui foi dito é para chegar à história de uma menina nascida em família pobre, criada sem pai, e sustentada com dificuldade por dona Elza, misto de mulher e santa, exemplo de dedicação e carinho. Na casa, o dinheirinho modesto e controlado era só para vestir, comer e pagar o estudo, nada mais. Moravam na rua Melo Viana, pé dos Morrinhos. A jovenzinha, desde criança, era um primor de inteligência e desenvoltura, bonita, elegante e mais do que comunicativa. Na campanha eleitoral de Pedro Santos subiu ao palanque com bastante desenvoltura, pose de candidata. E como tinha boa voz, sua função foi cantar o jingle da campanha. Nome da menina: Tânia Raquel de Queiroz, hoje a querida médica, professora e deputada federal Raquel Muniz, única representante nossa no Congresso Nacional. Como amava sorvetes e cinema, e não tinha recursos, o jeito era esforçar-se para conseguir algum para a sorveteria e também para as matinês. Assim, todas as manhãs, ia para a Estação, aguardando o pessoal que chegava de trem. Como a maioria não sabia andar pelo centro, Raquel oferecia-se como cicerone. Além de levá-los aos consultórios e às lojas, vendia-lhes a oportunidade de andar de elevador, uma grande novidade. Levava-os aos prédios da Ciosa e da Caixa, cobrando pequena taxa ou trocando o serviço por uma ida à sorveteria Cristal, com direito de escolha do sabor. A atividade de guia turística da mocinha Raquel foi um excelente ensinar e aprender, preparo certo e seguro para uma futura liderança, tudo com merecimento do maior sucesso. E com a graça de Deus! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 11/4/2016 11:30:34 |
50 ANOS DA ACADEMIA MONTES-CLARENSE DE LETRAS Wanderlino Arruda A fundação da Academia Montes-clarense de Letras aconteceu em uma agradável tarde de 13 de setembro de 1966, em reunião convocada para acontecer no primeiro pavimento do Sobradão da Rua Coronel Celestino -em uma sala da Faculdade de Direito. A iniciativa foi do doutor Alfredo Marques Vianna de Goes, presidente da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, que havia chegado a Montes Claros justamente para colocar em prática a ideia de criar aqui uma instituição literária com maior amplitude, a exemplo de outras existentes em Belo Horizonte. Sempre amigo de nossa cidade, pois vizinho nascido em Curvelo, Vianna de Goes valeu-se do prestígio acadêmico e sentiu-se vitorioso pela presença de excelentes companheiros das lides de escrita e de publicações, um vistoso elenco de intelectuais montes-clarenses: professor José Raimundo Neto, dr. Antônio Augusto Veloso, dra. Maria Pires Santos, dr. João Valle Maurício, dr. Hermes Augusto de Paula, padre Joaquim Cesário dos Sa ntos Macedo, dra. Heloísa Neto de Castro, professora Dulce Sarmento, dr. Hélio Oscar Vale Moreira, dr. Avay Miranda, dr. Geraldo Avelar, dr. Francisco José Pereira e cronista Orlando Ferreira Lima. Um alinhado grupo, realmente importante nas publicações em livros e na imprensa, na oratória, no magistério, na política, em instituições sociais e de cultura, o melhor em disponibilidade naquele momento e que, naturalmente, pôde atender ao convite para o encontro. Ao todo, treze, que no final da reunião, foram considerados - ou se consideraram os fundadores. Tudo discutido, muitos detalhes aprovados, lista de presenças assinada, foram indicados para a tarefa de organização o professor José Raimundo Neto, o dr. Antônio Augusto Veloso e o dr. João Valle Maurício. Realizada a eleição para a nova diretoria, assumiu a presidência o dr. Antônio Augusto Veloso. O local para as reuniões e assembleias ficou para ser discutido na primeira oportunidade, provavelmente uma sala do Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, ou mesmo uma sala da Fafil ou da Fadir, antigo e tradicional centro de cultura da parte histórica de Montes Claros. Pouco dias depois - 26 de setembro - constou da pauta a discussão e aprovação dos Estatutos e do Regimento Interno, estabelecendo em trinta o limite de cadeiras. Quanto aos patronos, também em número de trinta, a ideia foi de que seriam os próprios acadêmicos, uma forma mais direta de se tornarem imortais. Claro que um bom assunto para ser estudado com mais calma. Quatro dias antes do final de 1966, foram empossados as professoras Yvonne de Oliveira Silveira e Sylvia dos Anjos Correia Machado, o escritor Olyntho da Silveira, o vereador Cândido Canela e o advogado José Prudêncio de Macedo. Reunião solene com autoridades e convidados, foi mais do que brilhante a saudação aos novos imortais feita pelo padre Joaquim Cesário dos Santos Macedo, notável poeta e orador, com agradecimento pela nova imortal Yvonne de Oliveira Silveira. O presidente Antônio Augusto Veloso leu os nomes dos dezoito confrades e confreiras, anunciou as doze vagas para novas admissões e comemorou a reeleição do dr. Alfredo Marques Vianna de Goes na presidência Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Nada mais houve a tratar, além do coquetel e da noite festiva. Academias Montes-clarense de Letras e Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 6/4/2016 14:42:20 |
PALMYRA SANTOS DE OLIVEIRA Wanderlino Arruda No dizer de Howard Whitman, "todos nós temos três necessidades emocionais básicas: sentirmo-nos estimados, importantes e seguros. É preciso que alguém goste de nós. Precisamos sentir que valemos alguma coisa. E precisamos sentir-nos a salvo de incertezas". Esta uma preciosa lição que aprendi em uma Seleções de setembro de 1952, pouco menos de dois anos depois da minha chegada para viver e muito conviver em Montes Claros. Tenho absoluta certeza de que foi uma página da maior importância em todos os momentos de minha vida, principalmente na observação e no acompanhamento das pessoas que realmente gostam e desfrutam desta cidade, como é o caso da escritora Palmyra Santos de Oliveira, irmã do meu amigo José Gomes e mãe de quase uma dúzia de moças e rapazes, que tanto bem têm feito a este mundo de meu Deus. D. Palmyra é árvore, é ramo, é flor e também é fruto de um tudo de bom que a vida oferece e nos pode oferecer. Gosto dela, de como é, de como se mostra, de como adm inistra cada minuto de existência. Amada-amante de todas as realidades e de todos os sonhos! O livro "MONTES CLAROS, PORTEIRINHA E OUTROS AMORES MEUS...", segundo da lavra de D. Palmyra, que você, leitor/leitora, vai ler, em seguida, é um fiel atestado do muito que ela sabe e da enormidade de bons sentimentos com que ela viveu bons tempos de Montes Claros e excelentes tempos de Porteirinha, sedes dos seus domínios de amor, de serviços à cultura e de um importante plantar de amizades e carinhos. Tudo tem sido como um abrir janelas e respirar todos os azuis dos dias e das noites de uma vida de encantos. Tudo uma luminosa saudade para colorir santas lembranças, santíssimos sentimentos que ela soube nutrir em cada olhar que teve e que provocou, em cada passo que deu ou que chamou para perto de si. Nenhum mistério, porque a realidade tem que ser bonita, tem que ser visível, à luz do sol ou ao pisca-piscar da lua e das estrelas... Que cidade agradável e gostosa era a Montes Claros dos seus tempos de menina e de menina-moça: ricos quintais, doces brinquedos na port a da rua, vizinhos alegres e bem informados, tudo um universo para aprender e ensinar, eterno palco em meio de um empolgado auditório, ninguém sabe se mais de crianças que de adultos, hoje somatório de lembranças com dezenas de nomes de pessoas e de famílias: D. Consuelo, D. Inhá, Fani Maurício, Neusa, Nivaldo e Benedito Maciel, Juca de Chichico, Natália Peixoto, Píndaro, Maria Inês, Tatá, Umbelina, Artimínia, os tios Ulisses e Ambrosino, o avô Viriato, o pai Manuel, a mãe D. Laura... História, estórias, casos e causos, muito ou tudo da mineiridade de D. Palmyra, tudo. Lindos momentos de pura amizade, evocações de sabores, evocações de saberes, sons e cores, afirmações de fé, perspectivas que só a paixão montes-clarense de início de século pode aflorar. Neste livro a autora não faz economia de amor, não deixa qualquer sentimento para depois. Tudo, tudo mesmo, é um constante hoje, um agora, uma sempiterna visão de quem sabe apreciar o mais apreciável de cada segundo vivido e amado. A Rua Doutor Veloso, o largo São Sebastião, mais tarde Praça Coronel Ribeiro, a Rua Bocaiúva, o centro da cidade, os bairros, as cercanias, as subidas e descidas, assim como as casas de comércio e as residências, cada coisa tem um valor, marca um sentimento, representa uma virtude. E as pessoas mais próximas do seu relacionamento - como a Gringa, José Galinha, Francisca, Tereza, Niqueda, Santa, Silvéria, Maria Violão, Bela, D. Josina, assim como a feira, a viagem a Bom Jes us da Lapa, os passeios, os fatos surpreendentes, até os registros de genealogia, que coisa mais interessante! O tempo não pára, mesmo que a saudade faça as coisas pararem ou as fixe para a eternidade de quem ama e, em verdade, gosta de amar. Um momento de poesia vale tanto quanto um milênio de sentires, principalmente quando esse momento é escrito e descrito por minha amiga, D. Palmyra, autora e dona deste Livro. O segredo - bem lembrou Mário Quintana - não é cuidar das borboletas, mas cuidar do jardim. Havendo jardim, muito haverá de borboletas. Importante que o valor seja dado ao que realmente importa! Devemos sair à rua ou ao mundo abertos aos caminhos e ao caminhar, sempre dispostos ao que possa acontecer - melhor dizendo - dispostos às venturas e aventuras. Penso em D. Palmyra na mesma medida que penso em Cora Coralina, porque para ambas a vida seria curta ou longa demais - e sem sentido - se não tocasse o coração das pessoas. Marcante é o colo que acolhe, o braço que envolve, a palavra que conforta, o silêncio que respeita, a alegria que contagia, a lágrima que corre, o olhar que acaricia, o desejo que sacia, o amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que realmente dá sentido à vida. É e será! E que este livro da minha companheira de Instituto Histórico, mãe do presidente Itamaury, seja um precioso presente, um importante momento de leitura para você, leitor/leitora, acredito gente boa também do meu coração! Parabéns, sempre menina-moça, PALMYRA SANTOS - Santos, Teles, Oliveira - glória de Montes Claros, magnífica glória de Porteirinha, cidade mãe dos seus filhos Irani, Itamar, Iolanda, Itajahy, Iracy, Ítalo, Ilacir, Itamaury, Isani, Ivan e Ilmar. Academias Montes-clarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 22/3/2016 10:04:50 |
EDWIRGES TEIXEIRA -A DOUTORA DU Wanderlino Arruda Para a garota que nasceu em Mato Verde, em tempo de seca, Deus concedeu, em cada um dos seus dias, páginas de vida perfeita no livro do tempo, principalmente quando chegou para trabalhar em Montes Claros, em 1939. Menina-moça, de pés descalços e vestido de chita, tudo no seu viver e conviver tem sido múltiplos quilates do melhor ouro da inteligência e da determinação. Fiel a si mesma e aos outros, à vida particular e à suas profissões, humilde, recatada, despida de orgulho, sempre soube edificar sua própria biografia sem distância entre sonhos e realidade. Tudo constância e brilho de luz, tudo! Primeira escola na cidade natal, onde também estudei - as Escolas Reunidas - muitas leituras e muitos projetos nos apontaram para cá. O desejo de progresso e a determinação de vencer nos conduziram a múltiplas experiências, conhecimento e reconhecimento do que havia de melhor em aprendizagem profissional. Fase de ascensão da cidade, Edwirges aprendeu cedo o cheiro e o trabalho de prótese nos laboratórios de famosos dentistas, entre eles os doutores Aslóquer, Plínio, José Barbosa, Sebastião e José Moreira. No balcão da Bombonière da Rua Quinze, viu, em 1942, o incêndio da Casa Luso-Brasileira e no Caixa do Bar de Clóvis, conheceu Filomeno Ribeiro, Jaime Rebello, Benjamin Rego, Candido Canela e - acredito - outros importantões como Luiz Pires, José Esteves Rodrigues, Armênio Veloso, João Souto, Niquinho Teixeira, Nelson Vianna, João Chaves, além dos doutores Honorato e João Alves, este marido de D. Tiburtina. O apelido Du veio de D. Maria, esposa de seu primeiro patrão, Daniel, porque o nome Edwirges parecia muito difícil de ser pronunciado. O namoro com Mundinho começou em 1946, mas o casamento só aconteceu em 1950, tempo em que os limites de Montes Claros iam da Santa Casa à linha do Roxo Verde e do final da Rua Bocaiúva até a Praça Itapetinga. O Alto Severo era longe, os Santos Reis era para viagem a cavalo. Já casada, morou na roça, morou em São Paulo, sempre e sempre sonhando em voltar para cá. No nascimento do primeiro filho, década de cinquenta, conheceu a Irmã Beata; em 1964, dentista prática, tempos mais do que difíceis, foi perseguida como se fosse comunista, só porque era protética. O curso de madureza - ginásio e científico - foi de setenta a setenta e dois, com orientação do doutor Alcides Loyola. Pouco depois foi para Diamantina levando a filha adolescente e morando em pensionato, até conseguir ser dona de uma república de estudantes. Graduada com louvor em 1976, seu maior problema foi comprar um consultório, só possível porque já havia venda em prestações. Na mesma profissão, formou seus filhos Raimundo e Rodolfo, sendo Raimundo o fundador da primeira Escola Superior de Odontologia do Norte de Minas, uma das melhores do país. A filha Sueli tem curso superior de Design e gosta muito do que faz. Instalado o consultório da Rua Padre Augusto, esquina com a Rua Camilo Prates, seu primeiro cliente foi o próprio senhorio, o dr. Antônio Augusto Veloso, seguido de D. Jacy Veloso, dr. Alfeu de Quadros, Osmane Barbosa e dr. Antônio Augusto Athayde, que dentre muitos e muitos outros, todos transformados em amigos. O trabalho sério e a competência da doutora Edwirges Teixeira de Freitas tem sido contínuo e continuado, muitas vezes das oito às vinte e duas horas, algo que acontece até em fins de semana, descontado só o horário da missa. No meu ponto de vista, nenhum profissional melhor neste Brasil. E que Deus permita ela continue assim ainda por alguns anos. Melhor para ela, melhor para todos nós, seus clientes e admiradores. Não muito longe de chegar aos noventa, doutora Du, agora, só trabalha até às vinte. Para ter um pouquinho de tempo para assistir ao noticiário e às novelas... Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 16/3/2016 09:52:45 |
LUIZ DE PAULA E AS VELHAS FOTOGRAFIAS Wanderlino Arruda Luiz de Paula Ferreira, homem que foi sempre ilustrado e prático, lido, corrido e curtido na vida, uma vez me disse, com um tanto de malícia no sorriso, que a única arte que não progrediu no mundo moderno foi a dos fotógrafos e retratistas. Pelo menos, no que tocou a ele, jamais viu nada de melhoria nas fotos - até mesmo nas retocadas - os quais, a bem da verdade, até têm piorado muito. Por exemplo, quando ainda estava nos dezoito, nos vinte e cinco, nos trinta anos, as fotografias que ele tirou com Serafim Facella, eram bem mais bonitas, com a pele mais lisa, os olhos mais brilhantes, os cabelos bem fartos, soltos e retintos de boa e bonita cor. A musculatura era de encantar, cada parte e tudo no lugarzinho, tudo bem proporcionado, rugas nenhumas. Já neste século, que vai bem adiantado, ele sempre teve até medo de posar, porque mesmo os melhores fotógrafos, com as melhores máquinas - digitais ou não - nada conseguem, nem mesmo uma vaga lembrança das antigas fotos cheias de charme e juventude. Uma lástima, uma involução lastimável no universo da fotografia! É isso aí, nem tudo progrediu neste mundo, vasto mundo de artistas e mortais e imortais. Acredito que a queixa de Luiz de Paula quanto aos fotógrafos deve ser a de todos nós que, mercê de Deus, passamos dos cinquenta ou dos sessenta, dos oitenta, salvação talvez de raras exceções, que não ouso dizer os nomes, para não ficar denunciando idade de ninguém, principalmente das madames minhas amigas. Mas que a fotografia não progrediu com relação a este aspecto das feições humanas, isso realmente é verdade. Os leitores mais antigos que façam um exame nos álbuns de família, uma comparação no porte, o meio-de-campo sem barrigas, a retidão na coluna, o nariz afilado? Onde estão, idosa criatura, o busto bem levantado em posição de três horas, o pescoço escultural, os cabelos sedosos e cheios, a boca sensual, cada curvinha em seu lugar? Oh! Como tudo mudou! Como os fotógrafos perderam uma técnica tão simples de iluminar a velha juventude! De fato, só a fotografia é capaz de paralisar o tempo, capturar momentos, segurar uma jovial feição enquanto ainda existe. Nada mais na vida é capaz de parar o tique-taque dos segundos ou da eternidade, solidificar minutos de uma existência, movimentos incessantes como as das chuvas e dos rios. A fotografia é um plasmar de realidade. É o que é: objetiva, concreta, verdadeira. O fotógrafo, o artista, o criador nada pode mudar, porque entre ele e o figurante existe a máquina, sempre fria, indiferente, veraz, permitindo quando muito só alguns retoques de Fotoshop ou de outros programas de imagens. O fotógrafo não pode ser como o pintor, que escolhe o tipo de tinta, escolhe a cor, trabalha mais com a imaginação do que com a realidade, um dos poucos profissionais ainda com direito a ser romântico num mundo de ilusões e desilusões como o nosso. O fotógrafo, por mais criativo que seja, sempre encontrará limites à sua ação. Mas é exatamente porque a fotografia é a prisão do tempo, que ela se torna importante, atual para cada etapa, ao mesmo caso documento e denúncia, repositório de bons motivos de muitas lembranças, quantas vezes moldura de infinitas saudades. Com que grata recordação olhamos nossos traços dos anos de infância, dos dias de adolescência, da escola, da formatura, do casamento, da lua-de-mel, de momentos de posse em alguma instituição. Como são lindas as paisagens das nossas inexperiências, dos sonhos inacabados, das gostosas torturas da paixão jovem! Como é importante o brilho de uma recordação! Tudo tão grato aos olhos do corpo e da alma! Quem quiser saber mais é só percorrer o Facebook de nossa saudosa Maria das Dores Guimarães Gomes, tão bem trabalhado pelo importante montes-clarense Wagner Gomes. Tem muita razão o meu amigo Luiz de Paula. Ele está certíssimo na birra e na zanga para com os que tiram retratos. Bem que os fotógrafos poderiam descobrir nova fonte de juventude. Mesmo que esta não espalhasse nem um pouquinho a mínima verdade! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 8/3/2016 10:20:09 |
IVAN GUEDES Wanderlino Arruda Louvemos as pessoas, em primeiro lugar, pelas obras com que beneficiam o tempo e o espaço e que beneficiam cada movimento do bom viver e da boa convivência. Consideremos, sobretudo, seus atos de fé, seus gestos de gentileza, sua atuação perante a família e os amigos. Consideremos, com o melhor da nossa consciência, os que vivem sempre para o progresso dentro e fora do trabalho. Benditos os que permitem a esperança, os que têm palavras de estímulo, os que são e que estão no caminho do bem e do socorro ao próximo. Bem-aventurados os que, mesmo nos gestos simples de cada dia, se tornam benfeitores, que têm a felicidade não como estação de chegada, mas como um modo de se movimentar para o futuro. Para estes, não existem cargas mais leves, mas sim ombros fortes e apropriados à tarefa de cada dia; não há ponto final no amor, porque o amor é vida e a felicidade é o melhor jeito de ser e de viver. Mesmo conhecendo com minúcias a vida do amigo e do meu mais considerado colega de escola, surpreendo-me com "IVAN DE SOUZA GUEDES, este grande brasileiro", livro fruto das pesquisas e da lavra literária da historiadora Zoraide Guerra David, lente e foco ao mesmo tempo de uma vida cheia de grandeza, sincero retrato de corpo inteiro para o agora e para o sempre: Ivan e família - fundamento sólido; Ivan e Montes Claros, terra dadivosa; Ivan, o empresário; Ivan e a expansão da Minas Brasil; Ivan e sua inter-relação humana e comunitária; Ivan nas comemorações especiais e nas homenagens que tem recebido; Ivan, uma referência e o reconhecimento público. Tudo de vida e ação, tudo de fé e esforço, tudo certeza no valor do trabalho, e acima de tudo, uma confiante esperança de quem sabe o que quer e a que veio. O importante não é passar pela existência, é viver! Minha confreira Zoraide foi bastante feliz em todos os registros da biografia de Ivan, o filho do alfaiate baiano e intelectual Nino de Souza Guedes e de D. Maria do Carmo, bocaiuvense da melhor estirpe, excelente mãe de família e educadora; Ivan, o marido da doutora Mercês Paixão Guedes e pai dos jovens administradores Leonardo, Lyntton José, Luciano Frederico e Leandro Ivan, tudo gente do melhor que a vida de trabalho pode oferecer, uma verdadeira equipe. Em realidade, uma biografia fértil e bem apropriada diante da riqueza de informações bastante conhecidas, sempre presenciadas por amigos e clientes desde a antiga Farmácia São José, de Juca de Chichico, onde Ivan vendia remédios durante o dia e aplicava injeções durante a noite, parte por ser balconista, parte para ganhar mais uns trocados para ajudar a família e para pagar os estudos no Colégio Diocesano e no Instituto Norte Mineiro de Educação, escolas em que fizemos o segundo grau e concluímos o curso de Contabilidade. Sempre de pé, sempre olhos nos olhos, sempre se movimentando, Ivan nunca se negou a ouvir um cliente em necessidade de um conselho ou do aviamento de uma receita médica. Atendimento nota dez, o selo do sucesso! Como deixou claro Alberto Einstein em alguns escritos, "Não podemos viver felizes, se não formos justos, sensatos e bons; e não podemos ser justos, sensatos e bons sem sermos felizes". "Evidentemente, nós existimos em primeiro lugar para as pessoas queridas, de cujo bem-estar depende a sua felicidade e a nossa; depois para todos os seres, nossos semelhantes, que não conhecemos pessoalmente, aos quais, entretanto, estamos ligados pelos laços da simpatia e fraternidade humana". Se o amor não é eterno, eterna tem que ser a capacidade de amar. Para Cora Coralina, "Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo", pois como bem disse Benjamim Franklin "A melhor coisa que você pode dar ao inimigo, é o seu perdão; ao adversário, sua tolerância; ao amigo, sua atenção; aos filhos, bons exemplos; ao pai, sua consideração; à mãe, comportamento que a faça sentir orgulhosa; a todas as pessoas, caridade; a você próprio, respeito". Inteligente, empreendedoramente fértil, determinado, consciente no ser e no agir, Ivan nunca teve um dia sem proveito de aprendizagem e da realização do bem. Sempre ao lado de Mercês e, ultimamente, dos filhos, cresceu e multiplicou ao mesmo tempo em que Montes Claros progrediu em tamanho e em qualidade. Das pequenas drogarias das ruas D. Pedro II e Camilo Prates, fincou pé na Doutor Santos com Padre Augusto e, hoje, lidera o comércio farmacêutico no centro e praticamente em quase todos os bairros da cidade, cada ponto comercial com mais recursos e mais modernidade. Viajante internacional bom observador, soube, juntamente com Mercês, e mais tarde com os filhos, fazer todas as adaptações que o seu comércio permitia e o conforto da clientela podia exigir. Bonita, admirável, material e espiritualmente encantadora a vida de Ivan, meu companheiro, meu amigo próximo em quase sessenta anos, seja na escola, seja na vida. Bem sei das quantas dificuldades teve que superar, do quanto teve que se esforçar, do quanto teve que aprender ao longo da vida. Agora, que Zoraide Guerra David grava em letras e imagens este portentoso registro, muito mais justiça será feita por quem o conhece no dia-a-dia ou por quem tiver notícia deste livro "IVAN DE SOUZA GUEDES, ESTE GRANDE BRASILEIRO". Ivan e sua família têm todos os merecimentos. E que Deus os conserve sempre e sempre! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 25/2/2016 08:06:40 |
BONS TEMPOS NOS MONTES CLAROS Wanderlino Arruda Não havia a Rua Lafetá desembocando ali na Rua Carlos Gomes. O que havia lá era só o esplendor do Alhambra, casa de mulheres grã-finas, chefiada com mão-de-ferro por Ana Reis, uma organização de dar gosto. A Rua Lafetá só foi aberta já no fim da administração do Capitão Enéas Mineiro, quando este a ligou com a Rua Visconde de Ouro Preto, que até hoje conserva o nome. Era nesse encontro de esquinas que ficava o cassino, casa de festas, de jogos, de encontros, que tinha na placa o respeitável nome de Clube Minas Gerais. Ao lado, em volta, pertinho, longe, dezenas de casas de mulheres, com janelas apinhadas de propaganda viva, contida algazarra de quem precisava acatar as exigências das famílias vizinhas. Durante o dia, certo respeito. À noite, agora sim, era hora de se divertir, podia levantar o som da música, pois tempo e horário de prazeres. Todos os homens, tendo dinheiro, estavam convidados! Foi por causa do cassino que não pude ficar morando na Pensão de D. Ismênia, na Praça de Esportes. Menino ainda, não ficava bem passar, toda hora, em frente das casas ditas de tolerância, subisse pela Rua S. Francisco, pela Carlos Gomes ou pela Altino de Freitas; pela rua Lafaiete, aí nem pensar, era lá o centro de tudo, a capital do pecado. Sabedor-mestre da situação, dr. Carlyle Teixeira, meu conselheiro, mandou-me para a Rua Afonso Pena, no beco do Padre Marcos, para a Pensão de D. Tonica, lugar de gente muito mais séria. De lá para a Loja Imperial, durante o dia, ou para o Colégio Diocesano, durante a noite, era um pulinho, e bem a salvo da malandragem ou da perdição. Assim era mais seguro, pensava ele. Engraçado é que, apesar de todo esse cuidado, por ser eu amigo de Aníbal Rego, que, por sua vez, era íntimo de Ana Reis, raro foi o dia em que eu não passava pelo Alhambra, para ouvir rádio ou escutar conversas do mulherio de luxo, não sei que tempo eu encontrava para isso. O cassino eu via de cima, da sacada, lá dentro a orquestra ou um tipo de conjunto musical dirigido por Godofredo Guedes, um mestre da clarineta, a dedilhar e soprar boleros, tangos e velhas músicas de jazz. Com dezesseis anos apenas, entrar na festa estava fora de qualquer cogitação. Este direito ficava com os rapazes mais velhos como Geraldo Borges, Geraldo Avelar, Dudu Cunha, Ildeu Gonzaga, Carlúcio Athayde, ou meninos ousados como Bebeto Prates. De todos os frequentadores das casas de mulheres, o mais importante, o maior galã, era Dudu Cunha. Grã-fino, rico, bonitão, vivia a época de ouro dos donos de caminhão. Nas noites em que ele chegava de Taiobeiras, toda a Pensão de D. Ismênia só falava nas suas aventuras, no cuidado que ele tinha com as roupas, com os sapatos, com o perfume, no demorado barbear. Os filhos de Nego do Ó, que vinham de Salinas, Gildásio Ramos, que parece, já morava em Montes Claros, todos ficavam alvoroçados para acompanhá-lo, tirando uma casquinha do seu sucesso. Era um espetáculo para todos nós, os mais novos, mais sensacional do que um episódio de seriado do Cine Coronel Ribeiro. Dizem que, com Dudu, até Nivaldo e Benedito Maciel, os donos da noite, ficavam ofuscados, Montes Claros se curvava perante Taiobeiras! Fora daí, num outro circuito de que eu só ouvia falar, as estórias corriam por conta de um rico comerciante chamado Kalil, de Ludendorff Pinto Cunha, de José de Souza Zumba, de Benjamim Moura e de jovens doutores bem conhecidos, entre eles Mário Ribeiro, João Valle Maurício e Konstantin Christoff, todos mais do que simpáticos, elegantes e bem postos na vida. O tempo do Cassino não era mesmo para todos. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 17/2/2016 10:34:53 |
AS MANHÃS AZUIS DA IRMÃ DE LOURDES Wanderlino Arruda Os anos passam e não há um só dia que eu não tenha alguma lembrança dos bons tempos de convívio com a Irmã Maria de Lourdes, uma das mais lúcidas inteligências que conheci. É que foram bem ricos os meus horários como professor de Língua Portuguesa e Literatura, além de aulas de Contabilidade no Colégio Imaculada Conceição. Dos meus mais de sessenta anos de magistério, desde que fui professor de Inglês na antiga Escola Normal, direção de Dona Taúde, os tempos do Imaculada realmente marcam saudades. Lindas, importantes e entusiasmadas alunas, a maioria amigas até hoje, bons colegas de magistério, disciplina e finura de trato de todas as irmãs, tudo sempre me representou motivo de boas lembranças, principalmente as conversas com a Irmã de Lourdes sobre cultura e costumes das gentes lusitana e brasileira, principalmente as do nosso Norte de Minas. Nunca me canso de dizer da beleza dos versos de Irmã de Lourdes nos cantos da manhã de azul! Quão saudoso é o São Francisco, seu vassalo e o rio-mar, tristeza e alegria de todas as lembranças da mocidade! Como foram e são lindas as manhãs imponderáveis, os fios de horizontes em contraste com as horas mais doces! Quanta sensação de cheiros e de cores de todas as rosas e dos arminhos dos verdes anos! Januária, Januária, há coisas mais lindas no amor? Todos os sonhos se realizam no espaço-tempo de um belo coração. Tua poesia, Irmã de Lourdes, teu `Caderno de Lembranças` é a luz mais clara da infinitude da alma, um halo da cor do céu, reflexo de águas mansas que passam numa eternidade! Teus pescadores singraram um rio de sonhos e se alimentaram de brisas de todos os mares de santa imaginação! Gostei imensamente da amorosa adjetivação do `Caderno de Lembranças`, livro de poesia dos mais coloridos substantivos, abstratos para a vida comum e concreto para o pensar da artista. Versos de angelitude e de fé, gratificantes do mais bonito poetar. No mundo, sem ser do mundo, reais no aqui e no agora, jamais abandonaram o espaço-tempo de quem soube voar no mais verde da esperança. Irmã de Lourdes foi e é namorada do azul e, queira ou não, suas personagens terão sempre o colorido das águas e do céu do São Francisco: Celeida, Celeste; Marina e até Dulce, com doce de perfume de infinito! Há nobreza nas flores, há nobreza nas pedras, haverá sempre joias para enfeitar a amizade sempre próxima da pureza do encanto. Grata aos que sabem viver pelo estudo e pelo amor, Irmã de Lourdes desfilou uma galeria de nomes de reconhecido valor: Yeda, Genoveva, Jacy, Heloísa, Luiz de Paula, Antônio Augusto Veloso, das Irmãs Guiomar e Edmunda. Irmã de Lourdes, como irmã e como professora, teve, naturalmente, um mundo bem diferente do nosso. Não tinha como não poderia ter muitas das nossas imediatas preocupações, tão naturais à guerra da vida de todo dia. Seu universo foi povoado de muito futuro, quando pensava nas outras pessoas, e de muito passado, quando pensava em si mesma. O presente nunca lhe importava quando ela via - e era bom que isso acontecesse sempre - o lado bom dos que passavam pela sua amizade e carinho. Assim, suas flores eram lírios, rosas, jasmins, miosótis, o tão grato manacá, todas vivas de transparência, exalando perfumes de amor! O cristal, o diamante, a turquesa, a esmeralda eram nuanças do verde-azul do seu rio, ou do mar de Olivença tão vivos no coração. Quando falava de rubis, não queria dizer outra coisa que o pulsar dos antecrespúsculos presentes no seu São Francisco natal. As cidades de Irmã de Lourdes acordavam a voz dos séculos e marcavam muitos sóis de primavera no texto suave da Boa Nova, na mais linda das mensagens de todos os tempos. Através dos versos, o perfume do Líbano, lembranças dos cedros; a alma do Sião, mensagem de aguadeiras e de pastores bíblicos, com orvalho de manhãs de intensa luz; o barulho juvenil de Cades, a movimentação de dançarinos e mercadores; a esperança de Jericó, lugar sagrado de encontro entre a verdade e a fé. As cidades da Irmã de Lourdes tinham o azeitonado tom de Olivença, o brilho de névoa de Friburgo e todas as sequências de matizes das mais ternas de todas as cidades do mundo: Januária e Montes Claros. * Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 11/2/2016 08:18:49 |
EVANY CAVALCANTE BRITO CALÁBRIA Wanderlino Arruda Somente a sabedoria nos coloca em situação de ver além das aparências, seja esta dos fatos, seja esta dos sonhos. Só a sabedoria nos remete direto ao significado verdadeiro de cada acontecimento, de cada nesga ou lance de vida. Somente a sabedoria nos faz ver uma legítima dimensão poética e a função quase divina de quem pensa e de quem faz o verso e o ritmo do verso, melhor dizendo, de quem é e de quem se sente poeta. Digo mais: só a minha experiência - não muito nova no campo literário - me remete à interpretação do muito bonito e encantador texto de Evany Cavalcante Brito Calábria, ao mesmo tempo história e marca de família, ao mesmo tempo estórias e causos mineiros, entreouvidos e sentidos com a marca existencial da menina, sempre linda e criativa. Leitor atento de todos os poemas deste Infância Verde, confesso que faço minha a conhecida posição de Ferreira Gullar em relação ao fazer poético e a esse universo que não conseguimos aprender no todo, porque nascido conosco no modo até mais do que pessoal. Somos seres do grafar e do laborar palavras e sentimentos. Temos o talento e a inspiração que chegam como relâmpagos e por caminhos de sonhos, tudo dividido ou multiplicado, tempo-espaço do ser, do viver e do conviver. Só ao poeta a necessidade de espanto com as coisas e com os acontecimentos, flor e fruto da motivação que leva ao poema e à poesia, algo muito mais do céu do que da terra. Em poesia o saber, o saber fazer e o querer fazer não são suficientes, porque de nada adianta a técnica quando não há inspiração e/ou marcas de sentimentos. Mesmo para seres privilegiados por Deus para entregar ao mundo a ordenação lógica das palavras, só uma vivência encantada nos permite construir - versos depois de versos - textos com cadência e musicalidade, haja ou não rimas de dentro ou de fora. Para o poeta, a epopeia ou o lirismo - querendo ou não querendo um modo diferente de lidar com ideias - um superar limites racionais, quase sempre sem o controle da razão. Sinto-me feliz e prazeroso com os muitos textos de Evany, bonitos e elegantes do começo ao fim, tudo gramaticalmente limpo e perfeito, resgate da infância que o tempo não desviou em momento algum, sempre vida bem vivida em saudades do passado e em voos de esperança e de futuro. Na ideia de D. Olga, mãe e conselheira, em Evany a poesia é um eterno querer bem, um dizer sim para todas as belezas do corpo e do espírito. Por mais que essa poesia se esquive de suas mãos, Evany fugir ou fingir não pode, porque ela inteirinha é um colorido momento de saudades, sempre e sempre uma pura alegria, cenário de sonhos, vestida e revestida de amor. Sobre isso, a própria Evany faz relembranças: "Eu tinha doze anos e uma vida inteira". Tinha e tem, digo eu, prefaciador do seu primeiro livro. Não somente de imagens e de ideias, não somente arco-íris de beleza, Evany é mulher decidida e incrivelmente organizada, sempre afeita ao trabalho de cada dia. A ela, por isso, posso atribuir em parte e com pequenas modificações, os versos de Camões que dizem não aprender somente na fantasia, sonhando, imaginando ou estudando, senão vendo, tratando e pelejando. Afinal, o mundo vitorioso está nas mãos das pessoas que têm coragem de sonhar e laborar, pessoas capazes de correr risco para viver todos os seus sonhos. Feliz de quem atravessa a vida tendo mil razões para viver. Um charmoso jogo de amor! Desejo a Evany todo o sucesso do mundo, certo de que a sua lavra poética está entre as dez mais bem aquinhoadas de nossa Montes Claros. Conscientemente hábil nos raciocínios e nos sonhos, Evany pode dizer como disse o poeta Manuel Bandeira: "Não faço poesia quando quero e sim quando ela, poesia, quer." E como Cora Coralina: "Nunca escreverei uma palavra para lamentar a vida. Meu verso é água corrente, é tronco, é fronde, é folha, é semente, é vida". Evany - ser especial - é água, fogo, brisa e vento... Telúrica ainda menina, telúrica moça, telúrica mulher. É espaço, terra e tempo... É uma trajetória do pensar e do viver com alegria, vereda fértil de amor e de carinho, uma imensa vontade de caminhar... ir e vir ao mesmo tempo! Academias Montes-clarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 14/1/2016 08:48:45 |
Corbiniano R. Aquino Wanderlino Arruda Com tristeza e, ao mesmo tempo, alegria, vi mais um amigo e companheiro, Corbiniano R. Aquino, o tão querido Corby, fazer a grande viagem de volta ao Mundo Maior, deixando-nos um tanto órfãos de sua presença e bondade, sempre consideradas agradáveis e proveitosas em todos esses anos em que estivemos juntos. Tristeza, porque, mesmo sabendo não-imortais, nunca esperamos de imediato a ausência dos que nos são caros, principalmente os mais aprumados do nosso viver e conviver. Por mais que saibamos da realidade da morte nunca a aceitamos sem queixas e saudades e, assim, toda ausência definitiva parece nunca vir no tempo certo, tem sempre um tom de antecipação. Alegria, porque nada melhor e mais gratificante do que a sensação de ver concluída uma vida e lutas e vitórias, a certeza do dever cumprido, o coroamento do êxito, a consolidação das amizades verdadeiras. Corby foi grande amigo, constante, atual, um bom irmão, colega, condiscípulo na escola do trabalho, mestre-professor sensível e determinado de todas as horas. Ele não passou pela vida simplesmente. Viveu-a no que ela tem de melhor, de mais útil, na seara do esforço incansável de cada dia, sem paradas, sem perguntar a que veio, mas com a sincera disposição de quem sabia porque estava no mundo. A boa hora para Corby era aquele tempo em que podia ser lucrativo em termos de cultura, de conforto, de progresso e evolução para todos que lhe seguiam a trajetória da romagem terrena. Nunca só viver o bem social, um conjunto de valores isolado. Um não vigoroso e efetivo ao egoísmo. O bem de Corby foi que pudesse, sem dúvida, trazer a felicidade ao maior número possível de pessoas. Viver, viver muito, mas acima de tudo, conviver! Sei que muitas pessoas só conheceram Corby como industrial e comerciante. Sei que muitas só o consideraram como líder classista, na ACI, como filantropo na Maçonaria, como orador e conferencista em entidades públicas e escolas. Alguns o conheceram como homem de fino trato, social e sociável, sério e alegre, amigo, acolhedor. Alguns o viram no cultivo da terra, vidrado em plantações, pelo colorido das flores, por tudo que o solo produz, enriquece e embeleza a vida. Mas quanto eu gostaria que os nossos contemporâneos tivessem aproveitado mais de sua inteligência como escritor e poeta, de sua habilidade como desenhista, de sua lógica contundente nos assuntos da sabedoria e do espírito! Foi ele um grande pensador, homem de cultura em todos os aspectos. Autor de um livro publicado - "ACONTECEU EM SERRA AZUL" - e outro por publicar - "ACONTECEU" dois excelentes romances, muita coisa ainda virá a lume para lhe dar um reconhecimento póstumo. Bom advogado, respeitado químico, redator consciente da gramática, espero não demorar muito o dia em que Corbiniano seja citado como um dos nossos melhores intelectuais. Na imprevista ideologia da política e dos políticos mineiros, não basta nem satisfaz só o existir, é preciso que haja recompensa. E claro que ele a merece. Ninguém perde por esperar! A justiça tarda, mas não falta. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 5/1/2016 08:16:25 |
Fernanda Ramos foi sempre busca de vida Wanderlino Arruda Segundo Aristóteles, a grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las. E conforme Edith Wharton, há duas maneiras de irradiar a luz: ser a própria fonte de brilho ou o espelho que a reflete. Grandeza, honra, luz, fonte, espelho, reflexo, um universo de palavras indicativas de valor e mérito. Em todas estas ideias e seus significados posso emoldurar a mulher corajosa e cheia de ideais, que foi D. Maria Fernanda Reis de Brito Ramos, Cônsul Honorária de Portugal no Norte de Minas, minha amiga e mestra de longo tempo em vários setores da vida. A mesma D. Fernanda que era capaz de elogiar sem rodeios ou demonstrar uma inconformidade sem indecisões. Foi para esta mulher guerreira, que fizemos uma festa espiritual em comemoração aos seus oitenta anos, mais do que bem vividos. Multiplicando os seus janeiros por meses e dias ou por horas e minutos, e pudemos sempre estar certos de que qualquer medida de sua existência veio gravada de proveitoso construir, do muito amar, de um esforço incrível para melhorar a vida e o viver. Dela mesma e de muitos. Dona Fernanda foi um dínamo sem medida de voltagem, uma criatura sem limites na busca da perfeição, exigência própria, exigência com quem estivesse à sua frente ou ao seu lado. Sempre chuva, nunca neblina, nada em D. Fernanda foi calmaria, nada. Para ela, a vida foi busca incessante do que fazer, do como agir, do assinalar exemplos, uma corrida olímpica de pistas e de pódios. Era vencer ou vencer! A Montes Claros chegou D. Fernanda, jovem esposa de Artur Loureiro Ramos, para ser grandeza do comércio e da indústria, vivência e trabalho na Casa Luso-Brasileira, centro e coração da cidade. Forte acento no caprichado falar da Universidade de Coimbra, onde a Faculdade de Engenharia lhe permitiu belíssima formação intelectual e liderança. Aqui o seu maior contato com a realidade regional e brasileira, a sua consolidação no trato de tudo e com todos. Atitudes fortes, cada atuação mais do que definida: a família, os amigos, as companheiras e os companheiros de intelectualidade, o trato social mais do que valorizado. Mínima a distância entre o ser e o atuar. Até no dia-a-dia foi moça de sorte, porque a Casa Ramos ficava exatamente na única esquina das duas ruas calçadas, a Rua Quinze e a Rua Simeão Ribeiro, quando toda inteireza urbana era vermelhidão de poeira. Dona Fernanda esteve sempre de bem com a vida. Algum descanso na Fazenda Vista Alegre, algum tempo em reuniões do Clube Montes Claros, do Automóvel Clube, da Associação Comercial e Industrial. Importante na fundação do Elos de Montes Claros, na Sociedade das Amigas da Cultura, na Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas, no Instituto Histórico e Geográfico. Importantíssimas as atividades de D. Fernanda como líder elista: conselheira, diretora, presidente internacional. Sempre presente em encontros regionais e interpaíses, principalmente em convenções. Como presidente internacional tomou várias iniciativas de elevada repercussão, valorizando grandemente o Brasil e Portugal, além de benefícios aos países irmãos de fala lusitana. Um valioso exemplo de solidariedade e amor! Três fatos marcaram definitivamente o seu prestígio: a vinda do Cônsul Sá Coutinho e esposa na fundação do Elos de Montes Claros, a homenagem que a dra. Manuela Aguiar, deputada federal em Lisboa, veio trazer-lhe pessoalmente na Sociedade das Amigas da Cultura de Minas Gerais e a sua escolha pelo governo português para o cargo de Cônsul Honorária no Norte de Minas. Quantos e quantos dirigentes do Elos Internacional vieram a Montes Claros a seu convite, por força do seu valor! Lembro-me como se fosse hoje da grande festa de inauguração do Consulado, na sua antiga residência da Avenida Cel. Prates, agora Praça Portugal. Muito difícil repetir o sucesso de D. Fernanda Ramos como o da sua presidência na ADCE, dias realmente dourados para o prestígio da instituição. Com que entusiasmo D. Fernanda planejou, construiu e manteve o Hotel Fazenda Vista Alegre, local aprazível não só para hospedagens, como também para realização de eventos. Léon Denis, o sábio pensador francês, sempre achou que não basta crer e saber. É sempre necessário viver e fazer praticar na vida princípios superiores. Nossa existência tem que ser alegre, harmoniosa, plena de bênçãos de paz e de amor, sempre e sempre despertando esperanças. Não há como negar ser o amor a realidade mais pujante, porque o amar é o grande desafio. O amor deve ser causa, meio e fim. É por isso e por muito mais que Maria Fernanda Reis de Brito Ramos, nossa querida Cônsul, Companheira e Amiga, viveu e sobreviveu em razão dos seus muitos sonhos. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 29/12/2015 10:13:03 |
CORREIO GALDINO, UM HOMEM DE FERRO Wanderlino Arruda Ser honesto é difícil... mas vale a pena; afinal, quando houve conquista, quando houve vitória sem lutas, sem determinação, sem sacrifícios? Cada um escolhe o caminho que quer trilhar... e suas consequências. Evillyn Barrueco Tendo de escolher dois códigos de ética de toda a humanidade, escolho primeiro os Dez Mandamentos, recebidos por Moisés no Monte Sinai, três no imperativo positivo (Amar a Deus sobre todas as coisas, honrar pai e mãe, guardar o descanso semanal), sete destinados a um povo ainda um tanto primitivo, com não, não, não... (Não tomar o santo nome em vão, não matar, não roubar, não levantar falso testemunho, não cobiçar as coisas alheia, entre elas a mulher do próximo). O segundo que elejo é a Prova Quádrupla, criada por Herbert J. Taylor em 1932 e adotada pelo Rotary International em 1943, amplamente divulgada pelos Rotary Clubes no mundo, e que tem como objetivo desenvolver e manter altos padrões nas relações humanas. Contempla o que pensamos, o que dizemos e o que fazemos: 1. É a VERDADE? 2. É JUSTO para todos os interessados? 3. Criará BOA VONTADE e MELHORES AMIZADES? 4. Será BENÉFICO para todos os interessados? São eternos padrões que nunca falham, seja no plano pessoal, seja o coletivo. Um tanto machista o código mosaico, o homem como centro de tudo, continua e continuará válido e perfeito para qualquer civilização, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, precisa ser adotado em nossa capital, Brasília, que JK chamava - por inspiração de D. Bosco - Cidade da Esperança. Falo de princípio de ética e de moral - uma eterna, outra conforme os costumes - para dizer do quanto me agradou e me seduziu a leitura do livro CORREIO GALDINO, UM HOMEM DE FERRO, do colega de Instituto Histórico e Geográfico, professor José Ferreira da Silva, que em tempos antanho, foi meu aluno dos bons no Curso de Letras da Fafil. Foi leitura de um fôlego só para todos os depoimentos da gente sertaneja que conheceu o estafeta Galdino e com ele conviveu. Nem posso dizer que são repetitivos, porque todas os elencos de valores pessoais e morais sobre o pai de José Ferreira e dos seus dezesseis irmãos saem diretamente das lembranças mais vivas de cada um, palavras que saíram mais do coração do que da fala ou da escrita. De modo geral, todos na mais santa simplicidade, mesmo de gente que tenta ser erudita. Como no código do Rotary, um entrelaçamento de conceitos que representam, sobretudo, a verdade, os princípios de justiça para todos os interessados, a criação de n ovas amizades, assim como o benefício para todos, inclusive para o Correio Galdino, um homem feliz, maestro de bons exemplos. São sinônimos de honradez o decoro, a probidade, a compostura, a decência, o pudor, a dignidade, qualidades e condições que Galdino sempre teve no trabalho e na criação dos filhos. Homem de praticamente nenhuma escola, foi ser sábio e didático no exemplo o tempo todo, consigo mesmo, para com os outros e para com Deus, pois religioso com base no exemplo. São sinônimos de lealdade a dedicação, o cumprimento do dever, a confiança, a retidão, a decência, a honra e a sinceridade em tempo integral. Uma pessoa leal é alguém que é fiel e dedicada, e que sempre cumpre as suas obrigações no lar e na profissão, no pensar e no agir, no ser e no ter, no viver e no conviver. E no caso de Galdino - grande figura da história de Porteirinha - um ser de intenso entusiasmo, de grande interesse pelo sabia fazer e fazia bem, um intenso prazer, uma dedicação ardente, uma paixão, uma veemência no ir e vir de cada dia, seja na estrada para Grão Mogol, seja no cabo da enxada para criar e cu idar de lavouras. Galdino, um homem sério e alegre ao mesmo tempo, bom contador de história e de estórias, principalmente para as famílias e pessoas de quem ele gostava mais. Em todas narrativas prestados por seus amigos, uma é comum, o fato de só viajar a pé e, sempre que possível à noite. Confiava mais em si mesmo, nas suas forças, na sua saúde, do que do trote dos animais estradeiros. As sandálias eram mais confiáveis do que as selas ou as cangalhas. Nos embornais, o de comer e os documentos e dinheiros do leva e traz. Em um o que é seu, noutro, a responsabilidade de entregar aos donos ou às autoridades da Comarca de Grão Mogol ou de sua cidade, a pequena Porteirinha. O professor José Ferreira da Silva, nosso Pelé dos tempos de Fafil, presta com este livro, CORREIO GALDINO, UM HOMEM DE FERRO, a mais relevante contribuição à história norte-mineira e sertaneja, aos bons costumes, às relações humanas, aos deveres de família. Mesmo trabalhando sem direitos e somente com obrigações, Galdino sempre manteve o sustento da casa e a criação dos filhos nos bons costumes, fé, bom procedimento e escola como valores fundamentais. O homem de Deus, Phillips Brooks, aconselhou aos seus fiéis: Viva de tal maneira que, se todas as pessoas forem como você e todas as vidas forem vividas como a sua, a Terra será um paraíso. Daí, o moderno Bill Gates dizer que "Antes de tentar arrumar o mundo, tente arrumar seu próprio quarto." Gente sempre presente e organizada como o Correio Galdino - ser completista na evolução - só pode dar certo. Fico imaginando nos velhos tempos de funcionário da ativa no Banco do Brasil, quando Haroldo Lívio de Oliveira, Waldir Sena Batista e eu redigíamos os pareceres finais das fichas de cadastro. Tenho absoluta certeza de que - para o cliente Galdino - diríamos tratar-se de pessoa de caráter ilibado, de alta competência no seu ramo de negócio, muito bem referido, íntegro, honesto, honrado, bom pagador, assíduo em todas as atividades e merecedor de todo crédito como pessoa física ou jurídica. Galdino, Correio Galdino, um ser inesquecível, um nome imortal. Verdadeiro exemplo de vida! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 22/12/2015 17:42:30 |
Ofícios de outrora A lembrança dos Reis Magos salinenses me levou de volta à antiga rua da Avenida, onde o Lô Latoeiro tinha sua pequena oficina, entre a casa das irmãs Galvão e a família Cardoso - parentes do Procópio Cardoso Neto. Lô tinha o lábio leporino, mas falava sem dificuldade, todos o conheciam e compravam sua arte. (...) Mesmo tendo vivido em Salinas por menos de um ano, quando moram, primeiro em uma casa ao lado da igreja, depois numa rua que fazia esquina com uma avenida, um quintal imenso, porque de fundo, vejo-me encantado com todas as descrições de Iara, que escreve melhor do que eu. O texto é legítimo e perfeito; bonito e mais do que histórico, pois real em todos os detalhes. Sempre entendi a palavra artista com o significado de quem faz, quem mesmo sendo repetitivo, se mostra sempre criativo, inventando modo de diferente de produzir com as mãos. Tanto fazer selas, rédeas, tacas de couro, loros, assim como criar figuras com biscoitos e pães sovados ou bolinhos de queijo, tudo era arte e obra de artistas. É tão sedutor o texto da artista Iara Tribuzzi, que me permitirei - mesmo que ela não me dê licença - de usá- como parte mais de importante do meu livro Dos Oitenta Anos, para demonstrar a vidinha deliciosa que tínhamos nas cidades de nossa meninice e juventude. E sei muito que ela estará de acordo comigo. Já está escrito e revisado o trecho de livro que fala de uma viagem da minha família de São João do Paraíso para Salinas, eu muito menino sentado no cabeçote da sela de Tio Abílio Morais. Um grande abraço, Iara. |
Por Wanderlino Arruda - 17/12/2015 14:22:38 |
DARCY RIBEIRO, O MULO Wanderlino Arruda O lançamento do segundo romance de Darcy Ribeiro- "O MULO"- na Academia Montesclarense de Letras, numa descontraída noite de dezembro, de um ano Século XX, foi um reencontro de alegria e de contrastes, com um amado e temido filho da terra a derramar nos ouvidos o mel e o fel de santas heresias e virtudes. Ora terno, doente de romantismo, saudoso filho de dona Fininha Silveira, ora demolidor, prenhe de força belicosa, irmão de Mário Ribeiro, ora compulsivamente criativo, primo espiritual de Konstantin Christoff. É que Darcy Ribeiro nasceu pouco adaptado ao modo e ao jeito dos mineiros, nunca afeito ao silêncio, ao retraimento, mas, ao contrário, incomodo para inteligências e sentimentos preguiçosos, bisturi ou látego auto conduzido e sempre a si mesmo proclamado. Ao contrário de Ciro dos Anjos, outro montes-clarense famoso no mundo das Letras, este sereno, machadiano, universalista, acomodado como um velho funcionário público, a curtir um silêncio invisível, Darcy Ribeiro era e afigurou-se sempre agitado, fogoso, tropicalmente brasileiro, aquecido de alma e corpo, de lufa e de luta, instintivo, felino como um condor. De inteligência selvagem, incontida, Darcy raciocinava como uma ventania de amor a tudo que era cultura. Curtido primitivamente no sol e no solo do sertão de Montes Claros, fruto teórico de ternura e de instinto, de voluptuosa ambição de mundo. Darcy foi um caldeirão efervescente de ideias como a querer viver em uma só vida todas as vidas. Mortal, teve pretensões de imortalidade e imortal se fez pelos feitos multifeitos. Bem brasileiro, latinamente apaixonado, trazia na alma o Mulo Darcy retalhos de peles de todas as cores: a cor do índio, a cor do negro, lembranças atávicas do misticismo dos celtas, aguerrida força de velhos godos, gosto de mando da alma ibérica, uma noção tão grande de espaço e de glória que só navegadores fenícios poderiam ter impregnado o sangue de marinheiros do velho Portugal. Tem mais: Darcy era lúbrico como um cristão novo, fogoso como um nômade cavaleiro árabe. Na verdade, foi um homem com a alma da raça, e não só da portuguesa, da índia e da africana, misturadas no cadinho brasileiro. E da raça humana, pois sempre portador de muitas virtudes e de muitos defeitos, um caldo bem temperado de sêmens jorrados do chuveiro eterno, não sei porque nascido em Montes Claros. O MULO é esta cidade sedenta de força humanamente parceira de Deus na distribuição da vida e da morte; divinamente sequiosa na busca de amor, criadoramente envolvente na caça do mando e do poder. Sensual, oportunista, material, religiosamente mística, faminta da novidade, sonhadora de futuro. O MULO é um pedaço de cada criatura que viva ébria da própria terra natal, homem ou mulher. O MULO tem muito de João Valle Maurício na palavra e na sutileza, muito de Konstantin no arregalo da anatomia, no desenhar das forças; muito de Crispim da Rocha no faro do homem do mato, forte e inteligente; muito de Filomeno na sede do ter e do governar; muito de Plínio Ribeiro, no misticismo, no gosto do idear, no ser e não ser da vida. O MULO é Darcy e é Mário Ribeiro, inconsequentes e perseverantes, sempre determinados. O MULO, centro de uma bem romanceada trama de Realismo e Naturalismo, barroco talvez pelos contrastes, hereditariamente marcado pelo destino, fruto do amor e do desamor, sem peias, sem origem e sem destino produto da terra e da carne, somos-isso é verdade-todos nós, pequenas grandiosas criaturas no sofrer e no gozar. E que Deus nos perdoe. Amém. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 9/12/2015 14:13:55 |
ÂNGELO SOARES NETO Wanderlino Arruda Revisito a História, muitos anos depois de escrever sobre o HOTEL CACHOEIRA DE S. FELIX, mesmo considerando o longo tempo de seu lançamento, feito pelo meu querido e saudoso amigo Ângelo Soares Neto. Faço-o, entretanto, lembrando ainda a eleição do Ângelo para a Academia Montes-clarense de Letras e sua posse festiva em uma linda noite de janeiro. É, assim, uma lembrança muito grata da leitura que fiz há mais de trinta anos, do romance escrito em Salvador pelo montes-clarense de Taiobeiras, o amado filho de D. Laura. Acrescente-se também a recordação de um interessante discurso feito no lançamento por Ubaldino Assis, tio e conselheiro do romancista, um desfilar de apontamentos entre o racional e o apaixonado, coisas de quando o Ângelo era garoto, menino de recados do Banco do Nordeste, aluno do velho Instituto do Doutor João Luiz. O tempo passa, a experiência amadurece, as visões e as realidades da paisagem de muitos pedaços de Brasil vão se fixando na memória do escritor. A imensidão de Brasília, o vertical, o horizontal, as linhas curvas da arte de Lúcio Costa e de Niemeyer, a busca da solidariedade, o mando, o asfalto, o agreste, a imensidão do planalto de Goiás, tudo fica retido. Ao lado ou como superposição, o mar, o verde mar de Iracema, a lagoa azul de Iracema, a praça do Ferreira, a Aldeota, a cajuína, o caju, a graviola, o mercado, o calor de Fortaleza e, como símbolo do Ceará, a serra do Baturité. De longe, como memória de infância, o gerais, o serrado, o frio, a garoa, os pequis de Taiobeiras. Muito de Irecê, de Itabuna, de Propriá, de Guanambi, um mundo, um mundão desta terra descoberta por Cabral. De Montes Claros, Ângelo reviveu uma gostosa vida de menino levado, parada dura no Grêmio do Instituto Norte Mineiro, curso de contabilidade, primeiras namoradas, feijão-tropeiro, torresmo, quebra-queixo, seresta, cinemas aos domingos para ver os seriados, conversas perdidas na frente da casa de Konstantin, solteirão da rua D. João Pimenta. Acredito que, além da diversão que era muita, aconteceu também muita leitura nos escritos de Cândido Canela, Olyntho e Yvonne Silveira, Nelson Viana, João Chaves, substrato que floresceu em muitas de suas ideias. Claro que a evidência maior é mesmo a da cidade do São Salvador, principalmente do Largo do Pelourinho, campo antigo de batalha de estudantes e intelectuais e até hoje de prostitutas e viciados, e de eternas batidas da polícia. De Salvador, Ângelo reviveu seus melhores anos de Banco do Nordeste e da Faculdade de Direito, mas, principalmente, da pensão-hotel-república, mundo de suas aventuras de amor e perdição. Professor de dança para americanas, guia turístico de fala francesa nos fins de semana, foi ele um jovem cidadão baiano no Farol da Barra, no Terreiro de Jesus, na Praça Castro Alves, na Avenida Sete, na grã-fina Rua Chile, para não falar das incursões do Mercado Modelo, da Feira da Água dos Meninos, nas praias de Amaralina até chegar a Itapoã. Dir-se-ia um universo de contradições do maravilhoso pagão e do místico cristão, produto da mescla cultural que só a Bahia consegue ter e reter. HOTEL CACHOEIRA DE S. FÉLIX é um livro de confissão à moda de Darcy Ribeiro, em "O Mulo". De repente, o autor se deita num divã do analista e começa a contar suas experiências, suas vivências, a vida das pessoas que passaram por sua vida. Pensa e sonha com o que foi real, dando mais forças aos temperos das comidas e no doce sabor dos beijos e abraços de corpo inteiro das namoradas ou das mulheres de encontros sem compromisso. De repente, o autor descobriu na força telúrica dos homens e mulheres rudes do campo, do casamento do indivíduo com a natureza, das paixões de baixo de cobertores domésticos ou dos lençóis enxovalhados das casas de tolerância, um universo de perfumes de mocinhas de boa família e de fêmeas de brilhantina barata, tudo numa vida mais agitada que um furacão antes de explodir. Felizmente, o autor falou também de artes, de sentimentos, de ternuras, de doces carícias, de inocência, de momentos em que um minuto vale por um milhão de séculos, onde o passageiro é a eternidade. Tudo uma fotografia verbalizada de um bonito acontecido. Há uma verdade, muito verdadeira: quando é registrada, a palavra não passa. Nunca! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 1/12/2015 11:17:54 |
MONTES CLAROS ANTIGA - FOTO 9000 Wanderlino Arruda Agora que está chegando à Foto 9000, repito que, com muita honra, escrevi o texto-legenda para a de número 7.000 do álbum de Montes Claros do século passado, mais famosa página do Facebook norte-mineiro, de Maria da Dores Guimarães Gomes, nossa querida Dorzinha, magnífico trabalho jornalístico do meu amigo e irmão Wagner Gomes. Oportunidade de ouro, excelente chance de dizer do tanto amor que todos nós montes-clarenses, de nascimento e de coração, temos pela cidade e por todos os que a construíram, vivendo em família ou dedicando-se ao trabalho do dia-a-dia em múltiplos setores e em multidão de atividades. Desde janeiro de 1951 cheguei para viver e ser de Montes Claros, quando a estrutura urbana terminava no conjunto de prédios da Santa Casa, na Vila Brasília, no fim da Rua Bocaiuva, na Padre Teixeira, no viaduto do Roxo Verde e na derradeira curva da Rua Jacaraci, onde hoje impera a Praça Itapetinga. Ir ao Santos Reis, território do meu amigo Pedro Mendonça, era vi agem a cavalo, projetada e preparada. Calçamento de paralelepípedos só em parte da Praça Doutor Carlos e nas ruas Presidente Vargas e Simeão Ribeiro, em termos de hoje do Shopping Popular à Rua Doutor Veloso, do antigo Big Bar à Cristal. O mais, poeira e vermelhidão, de tal modo que Cândido Canela, brincando, dizia que isso era bom porque dispensava o uso de toalha; depois do banho era só ficar no sol para secar e depois passar um espanador... Três centros de referências: a Matriz, a Catedral e o Mercadão com torre e relógio. Intenso comércio de atacado e varejo, as lojas mais luxuosas, a Casa Ramos, a Imperial e a Casa Alves. Bom não esquecer das Casas Pernambucanas e do Clube Montes Claros, onde mais tarde foi o Conservatório Lorenzo Fernandez. A Prefeitura e a Câmara ficavam onde é hoje o Centro Cultural Hermes de Paula, ao lado do Palácio do Bispo. A Praça da Matriz, onde JK foi recebido e entusiasmadamente carregado, era um local ótimo para cavalhadas e bate papo das comadres depois da missa. Muitos os caminhões, pouquíssimos os automóveis, bicicleta acredito menos do que dez, lembro-me das de meus colegas mais afirmados na vida: Raimundo Santana, Pai da Mata e do jovem Ivan de Souza Guedes. Jornais duas ou três vezes por semana, a Gazeta do Norte e O Jornal de Montes Claros, este fundado pouco antes da posse do Capitão Enéas no cargo de prefeito. As notícias do dia ficavam por conta da ZYD-7, Rádio Sociedade Norte de Minas. Três escolas secundárias: Colégio Imaculada Conceição, Instituto Norte Mineiro e Colégio Diocesano. Melhor orador o bispo Dom Antônio Almeida de Morais Júnior. Os outros destaques eram os jovens doutores Simeão Ribeiro Pires e João Vale Maurício. Maravilha de tempo bom, hoje depositório de muitas saudades. Salve e salve o importante trabalho do grande montes-clarense Wagner Gomes! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 21/11/2015 12:21:11 |
MOC ANTIGA - FOTO Nº 07000 Wanderlino Arruda Com muita honra, escrevo o texto-legenda para a Foto de número 7.000 do álbum de Montes Claros do século passado, mais famosa página do Facebook norte-mineiro, de Maria da Dores Guimarães Gomes, nossa querida Dorzinha, magnífico trabalho jornalístico do meu amigo e irmão Wagner Gomes. Oportunidade de ouro, excelente chance de dizer do tanto amor que todos nós montes-clarenses, de nascimento e de coração, temos pela cidade e por todos os que a construíram, vivendo em família ou dedicando-se ao trabalho do dia-a-dia em múltiplos setores e em multidão de atividades. Desde janeiro de 1951 cheguei para viver e ser de Montes Claros, quando a estrutura urbana terminava no conjunto de prédios da Santa Casa, na Vila Brasília, no fim da Rua Bocaiuva, na Padre Teixeira, no viaduto do Roxo Verde e na derradeira curva da Rua Jacaraci, onde hoje impera a Praça Itapetinga. Ir ao Santos Reis, território do meu amigo Pedro Mendonça, era viagem a cavalo, projetada e preparada. Calçamento de pa ralelepípedos só em parte da Praça Doutor Carlos e nas ruas Presidente Vargas e Simeão Ribeiro, em termos de hoje do Shopping Popular à Rua Doutor Veloso, do antigo Big Bar à Cristal. O mais, poeira e vermelhidão, de tal modo que Cândido Canela, brincando, dizia que isso era bom porque dispensava o uso de toalha; depois do banho era só ficar no sol para secar e depois passar um espanador... Três centros de referências: a Matriz, a Catedral e o Mercadão com torre e relógio. Intenso comércio de atacado e varejo, as lojas mais luxuosas, a Casa Ramos, a Imperial e a Casa Alves. Bom não esquecer das Casas Pernambucanas e do Clube Montes Claros, onde mais tarde foi o Conservatório Lorenzo Fernandez. A Prefeitura e a Câmara ficavam onde é hoje o Centro Cultural Hermes de Paula, ao lado do Palácio do Bispo. A Praça da Matriz, onde JK foi recebido e entusiasmadamente carregado, era um local ótimo para cavalhadas e bate papo das comadres depois da missa. Muitos os caminhões, pouquíssimos os automóveis, bicicleta acredito menos do que dez, lembro-me das de meus colegas mais afirmados na vida: Raimundo Santana, Pai da Mata e do jovem Ivan de Souza Guedes. Jornais duas ou três vezes por semana, a Gazeta do Norte e O Jornal de Montes Claros, este fundado pouco antes da posse do Capitão Enéas no cargo de prefeito. As notícias do dia ficavam por conta da ZYD-7, Rádio Sociedade Norte de Minas. Três escolas secundárias: Colégio Imaculada Conceição, Instituto Norte Mineiro e Colégio Diocesano. Melhor orador o bispo Dom Antônio Almeida de Morais Júnior. Os outros destaques eram os jovens doutores Simeão Ribeiro Pires e João Vale Maurício. Maravilha de tempo bom, hoje depositório de muitas saudades. Salve e salve o trabalho do grande montes-clarense Wagner Gomes! (*) Presidente da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 3/11/2015 08:17:10 |
OS SONHOS DE JÚLIO VERNE Wanderlino Arruda Os sonhos de Júlio Verne, tão lindamente vividos no fim do século dezenove, transformaram-se tão grandemente em realidade, em nosso tempo, que hoje, o escritor francês quase não é lido nem por jovens nem por adultos. Concretizada uma ideia, atendida a capacidade criativa, satisfeita a curiosidade, parte o indivíduo para novos sonhos, novas tentativas de ilusão. A inteligência e a arte são sempre muito exigentes, dinâmicas por excelência, nunca se estacionando. E é disso que é feito o progresso humano, que não pode parar, pois tudo viraria rotina até certo ponto insuportável, inconcebível para a nossa tendência evolutiva sempre para cima e para o melhor. Viver é sonhar e realizar os sonhos! Júlio Verne foi o grande idealizador das coisas do futuro, criador do preceito de que "tudo que um homem pode sonhar outro pode realizar". Concebeu a televisão antes de ser inventado o rádio, chamando-o de fonotelefoto, isto é, um aparelho que pudesse falar e mostrar imagens à distância. Imaginou o helicóptero meio século antes de o homem aprender a voar. Apresentou planos para a construção de submarinos, aeroplanos, luzes de gás néon, calçadas e escadas rolantes, ar condicionado, arranha-céus, mísseis dirigíveis, tanques de guerra, alimentação comprimida, produção de oxigênio, deslocamento de corpos no vácuo, um grande mundo, verdadeiro universo de invenções. Sem dúvida alguma, Júlio Vernes, pai da ficção científica, foi um antecipador de realidades, multifacetado vidente, iluminado intuitivo. Tive um dia a sensação de estar vivendo ao lado de Júlio Verne, de beber na fonte mais pura da água de sua vida, de sua sensibilidade científica e literária. Foi uma dessas interpretações confusas que todo mortal costuma fazer, principalmente os distraídos e viajantes do mundo da lua, uma espécie assim de insight desfocado nos segundos de um oportunismo curioso. Vagando nas proximidades do Louvre, em Paris, lá pelos idos de 1966, li uma faixa de propaganda "Júlio Verne - hoje e amanhã ", e entendi que se eu não aproveitasse na hora a oportunidade, perderia de ver uma exposição já quase prestes a terminar, isto é, no dia seguinte, que por sinal seria o de minha volta a Portugal e ao Brasil. Não pensei duas vezes e entrei, posso dizer, praticamente no automático. Era uma exposição feita pela Fiat italiana, de uma forma extraordinária, com projetos, desenhos, aparelhos, máquinas de calcular, toda a parafernália de suporte que o escritor francês usou para idealizar seus in ventos. Nada havia, porém, de marca de final da mostra quase científica. Tudo estava fresquinho, pois era a abertura ao público naquele mesmo dia. O "Hoje e Amanhã " era com relação ao presente e ao futuro de Júlio Verne e do seu melhor modo de sonhar... Poucas vezes na vida tive tão grande sensação de enormidade da inteligência de um inventor, de um cérebro criativo capaz de vencer todas as barreiras da imaginação. Poucas vezes, antes e depois, pude formular intimamente uma admiração sem limites ao otimismo, à confiança no destino lógico, à crença de um mundo melhor digno do esforço da ciência e da poesia. Para mim, Júlio Verne, naquele momento, era a síntese da fé que Deus sempre depositou no homem, no seu futuro, na sua trajetória evolutiva de criatura da inteligência divina. Júlio Verne estava ali, através de toda uma ação vivencial, de todos um universo de pesquisas, simplesmente sonhando o possível, o provável, a destinação histórica da inventiva humana. Momento inconfundível de respeito ao raciocínio livre, da valorização ao direito de pensar e de sentir... Não seria bom que voltássemos de novo, à leitura de todos os escritores de ficção, à busca de compreensão de todos os inventores do futuro? Só a realidade presente não satisfaz! Vale, vale muito a beleza e a riqueza dos sonhos! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 14/10/2015 10:15:43 |
TEMPOS DE MATO VERDE Wanderlino Arruda Depois da leitura completa dos originais do livro A Trajetória de um Vencedor, de José Luiz de Almeida - misto de cuidados e lembranças - debruço-me nas anotações como quem chega para reviver realidades e sonhos de um bom tempo de vida, juventude de venturas e aventuras, alegria de cada manhã de escola e tardes de muito banho de rio e busca de umbus na gostosa fase entre o verde e o maduro. Lembro-me, como se fosse hoje, da madrugada de 1949, início da viagem de Mato Verde para Taiobeiras, caminhão cheio de coisas de mudança, família ainda pequena, Jurandi e Vilmar os mais novos. Meu pai e minha mãe apressavam-me para terminar de escrever as marcas de saudades que eu gravava com giz na calçada, parte pelos amigos e por D. Zema, a querida professora, maior parte por deixar Pinha, a namorada loura, de olhos azuis da cor de um céu em dia sem nuvens. Eu não queria largar nada do que vivi em cinco lindos anos de existência. Tudo representava uma experiência incrível, prin cipalmente no gosto de ler, escrever e fazer discursos. Ainda bem novo, sem completar quinze, era eu autor de palavras cruzadas, bom fazedor de charadas, reconhecido por habilidade na escrita Morse, mesmo sendo o meu trabalho, no correio, feito por telefone. Era mestre na arte de engraxar, de vender biscoitos, fumo melado e pinga, e por correr de bicicleta e ganhar campeonatos em jogos de pião. Por ter aprendido muito de filosofia, história e até de política em conversas de botecos e de farmácia, considerava-me - sem favor de terceiros - um hábil intelectual, e muito pouco me prendiam as pregações do jovem Newton D`Ângeles, padre culto e admirado, mesmo sendo a religião o meu centro de interesse. Só faziam sentido as leituras que me atendessem à curiosidade e pudessem marcar um mínimo de lógica na liberdade de pensar e agir, nenhuma peia para o livre arbítrio, que eu ainda nem sabia o que era. Por muitas vezes ao entrar em conversas de adultos, fui repreendido e até censurad o, nem sempre com educação, minha ou dos concorrentes nas ideias. Toda esta conversa tem muito a ver com este livro de Jorge Luiz de Almeida, tanto nas competências e tendências, como na coragem de enfrentar a vida. Ele e eu quase no mesmo ambiente, com certeza no mesmo encanto. Mesmo com o calendário uns quinze anos depois, Mato Verde já cidade, área urbana incomparavelmente maior, muito mais recursos, mais escolas, muito mais nomes de pessoas, bem mais sobrenomes de famílias. Queiramos ou não, o viver e conviver acabam sendo uma curiosa reescrita, fatos e personagens se superpondo, ganhando as mesmas tonalidades, repetindo os mesmos gestos, desenhando mapas bem parecidos. Quando chegamos a Mato Verde em 1945, para morar ao lado da pensão de Hermes e D. Olindina, vizinhança também da família do avô de Jorge, foi um maravilhoso começo de experiências. Era um lugar mais do que tudo de valentia, começando por Arabel, Aristides e Vital, homens a quem ninguém podia negar o direito de usar um trinta e oito ou uma carabina. Todos garantido s por Levy Silva, o dono de Monte Azul. Na comemoração da vitória eleitoral do presidente Eurico Gaspar Dutra, um barulho infernal, nenhum foguete foi usado, só tirambaça de jagunços e patrões, todo mundo correndo a cavalo pelas ruas e becos, epicentro na praça, cercanias do mercado. Houve uma noite que minha mãe ficou mais do que cansada de tanto servir café com quitandas - biscoitos, bolos, broas, pão sovado, manuê - para meu pai receber as visitas de todos os importantões, que desejavam saber a que viera e o que ele iria. Meu entusiasmo maior foi conhecer o velho Januário, major da Guarda Nacional e marido de Dona Pimpa, agente do correio. Ele vestia um uniforme realmente lindo e portava uma espada, para marcar muito respeito. Com Arabel e Tide, estava Vital, que agora preciso dizer que era o valente avô de Jorge. Vital era alto, magro, cabelos revoltos, olhos de lince, sempre com um trinta e oito, que manejava com a mão canhota, tiro certeiro. Eta tempo bom! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 8/10/2015 08:51:32 |
Mensagem: Sr. Gentil pai do Alemão. Morava na rua 15, ao lado do Big Bar, em frente a loja Ramos. Nem sei se aquela casa ainda existe. Era a casa mais central da cidade. Lembrei-me do Sr.Gentil quando se falou aqui neste ´montesclaros.com´ de homens de bons corações. (...) Importantíssima a lembrança de Luiz Ortiga sobre um dos homens mais importantes da história montes-clarense. Gentil Gonzaga foi homenageado há poucos dias em uma reunião da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas, presentes várias netos, filhos de Ildeu Gonzaga. Foi Gentil, como membro do Rotary Clube, o coordenador de todos os recursos na construção do Colégio São José. Todo o trabalho rotário, com uma organização parceira, a Sociedade dos Amigos de Montes Claros, foi bancado com doações, tendo os irmãos maristas recebido prédio e terreno com tudo preparado para o funcionamento. Foram muitos os colaboradores, muitos, mas nenhum com mais participação que Gentil Gonzaga. |
Por Wanderlino Arruda - 5/10/2015 16:18:17 |
SUA MAJESTADE, NATHÉRCIO FRANÇA Wanderlino Arruda Sou dos que acreditam que a finalidade da vida é o praticar o bem, o ser feliz, o estar sempre em paz com o passado e em confiança com o futuro. Sou dos que acreditam que o melhor dia da nossa vida é o dia de hoje, a hora em que estamos vivendo. ........O bom proceder, no presente, redime as frestas que já se foram e prepara um porvir que, de alguma forma, nos garanta uma normalidade de mente e de coração, afastando possíveis e desnecessárias preocupações antecipadas. Assim, cada dia constituir-se-á de novas oportunidades de trabalho e aprendizagem, novos meios de consolidar amizades, um tempo positivo de deixarmos a marca de nossa passagem pela caminhada na Terra. E parece que não estou sozinho no meu modo de pensar e de agir. Ainda existem muitas criaturas que se preocupam na alegre busca da felicidade, na afirmação de valores afetivos, no consubstanciar das riquezas eternas do amor. Gente que, convivendo com o mundo da máquina e recebendo os impulsos da moderna eletrônica, ainda não se desvinculou de qualidades que só dizem respeito ao bem-estar da alma das pessoas e das coisas. Gente que se sente feliz com a felicidade alheia, que se emociona com a alegria, que reparte sinceramente o bem com todos os semelhantes. Conversando, em noite acadêmica, no Centro Cultural, com o Padre Aderbal Murta de Almeida, procuramos repassar antigos assuntos, reviver antigas lembranças, apontar fatos marcantes que engrandeceram o patrimônio ideológico de Montes Claros, no cognitivo e no emocional da história. Ele citou inúmeros exemplos do grandioso, da bondade e da fé, do amor de espontânea dedicação ao bem, daquele halo de luz que acompanha a escalada evolutiva de figuras que marcaram o nosso humanismo e a nossa cultura. Para resumir, ele propôs dois nomes, que, pessoalmente, consideraria os mais importantes na galeria do bem, no amar e no perdoar, na sabedoria do ser e do viver. Expôs o primeiro, destacando o trabalho do Padre Marcos e, quando eu ia interrompê-lo, tentando apontar o segundo, ele adiantou o nome que já estava na minha boca, lembrando-se clara e alegremente de Nathércio França, o nosso grande Nathércio. Olhei para Nivaldo Maciel, que conversava conosco, e vi que, pelo seu consentiment o, se demorássemos mais um pouquinho, ele teria pronunciado o mesmo nome, as mesmas palavras antes de nós. De fato, considerando o ponto de vista da capacidade do bem viver, do existir com sabedoria e majestade, do ser irmão e ser amigo, do companheirismo e da fraternidade, foi Nathércio França a maior figura da história de Montes Claros. Ninguém, ninguém mesmo, pôde deixar de admirá-lo, de sentir a elevação do seu amor, de compartilhar com justo orgulho a sua sempre visível simpatia e o apreço com que ele tratava cada momento da existência, numa fé inquebrantável que só as grandes almas sabem ter. Não estivesse a sua passagem tão perto no tempo e no espaço, creio que a nossa consideração ainda seria maior. Nathércio França foi, sem dúvida, um momento inesquecível de nossa vida, a majestade de um humanismo pleno de encantos. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 30/9/2015 17:50:36 |
MONTES CLAROS, UMA CIDADE GOSTOSA Wanderlino Arruda Montes Claros, uma cidade bonita, agradável, gostosa, muito perto do nosso coração. Uma cidade para a gente viver e amar, viver todos os dias e anos da vida, nos embalos da mocidade, na idade madura e na velhice. Montes Claros, sim, uma cidade gostosa, de muito charme, um lugar que marca sincera saudade. Se Montes Claros fosse gente, seria, por certo, uma mui querida namorada. É preciso aprender a amar Montes Claros, caminhá-la vagarosamente nas manhãs de domingo, num dia de sol bem claro, quando as cores ganham brilho da própria felicidade de ser. É preciso ver Montes Claros, senti-la, percebê-la numa noite de primavera, amena, ou com muito calor, o sentimento das ruas mesclando com as doces brisas dos barzinhos com cheiros de viva alegria, conversação amiga que ninguém mais sabe fazer acontecer do que nós mineiros. Ali estão os jovens vestidos de jeans de todas as cores, cabelos ao vento, celulares na mão, máquinas em passageiro silêncio, prosas e sonhos de amor. Quem não gosta de Montes Claros, de onde mais vai gostar? - cantou Nivaldo Maciel, cantou Adélia Miranda, cantou João Leopoldo, canta Clarice, que hoje, bem longe, deve morrer de saudades. Montes Claros de Hermes de Paula, de Dulce Sarmento; Montes Claros de todos que a veem pelo menos uma vez na existência. Querida, admirada, jamais esquecida, ontem e hoje rigor e ternura, sempre amada, uma cidade toda coração. Existe no mundo um lugar mais bonito do que a praça Doutor Chaves, numa tarde depois de chuva. Pergunte isso a Célia Machado Colares, pergunte ao meu amigo João Jorge, pergunte ao pessoal do Correio, pergunte aos que visitam a Matriz ou aos que lá ficam sentados como se estivesse no meio de muita felicidade! Passe devagarzinho pela praça Honorato Alves, em frente à Santa Casa, em frente à casa que foi de Edgar Santos, sinta que gostosura! Tudo um encanto: a brisa, o perfume, a sombra, a algaravia dos passarinhos com que Reivaldo viveu e conviveu! Vá à Praça da Estação, ao Automóvel Clube, entre na Praça de Esportes, caminhe sem pressa, veja o bonito da natureza e da juventude! Há muitos lugares belos, isso é que há: o bairro Jardim São Luiz e o bairro Todos os Santos estão cobertos de verdes dos flamboyants, das espatódeas, das bougainvilles, das acácias de intenso amarelo, quase ouro. Há lugares bonitos como a praça da Estação, a Cel. Ribeiro, a Doutor Carlos, o Parque Municipal, o sobradão dos Oliveiras, a rua estreitinha dos Versiane Maurício, Beco da Vaca. Há o coreto, há a casa de Flamarion Wanderley, aquele mundão de árvore de Yara Moura, a capela dos Morrinhos, a Catedral, lá longe as Quebradas dos saudosos Pedro Veloso e Arinha, e, bem no alto da estrada que vai para o Pentáurea, a fazendinha de Mercês e Ivan. Cidade de progresso, de poesia, de serestas, de trabalho bem proveitoso, tem na hospitalidade a maior virtude. Montes Claros repito, não é apenas uma cidade, é uma declaração de amor! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 17/9/2015 17:15:49 |
SABEDORIA DOS PROVÉRBIOS Wanderlino Arruda Começam logo depois do Salmo 150, escritos pelo pai David, homem e rei, lutador de vinda inteira. Os provérbios, com menos fôlego de tamanho, vão apenas ao capítulo 31, seguidos pelo Eclesiastes e, logo depois, pelos Cantares, também de grande beleza. Aí quem escreve é o filho Salomão, mais famoso, tanto como construtor do Templo de Jerusalém, como pela imensa sabedoria, a ponto de ser chamado o mais sábio dos homens. Gente boa, os dois, pelo que deixaram para meditação de todos os séculos, ora racionalizando, ora confeitando de mel nossa vida, mostrando que nada mais salutar do que a própria poesia. Provérbios de Salomão, filho de David, o rei de Israel: para aprender a sabedoria, e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade, para dar aos simples prudência e, aos jovens, conhecimento e bom siso; ouça o sábio e cresça em prudência; e o entendido adquira habilidade para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábios. O temor do Senhor é o princípio do saber, mas, os loucos desprezam a sabedoria e o ensino. Filho meu, ouve o ensino de teu pai, e não deixes a instrução de tua mãe. Porque serão diademas de trança para a tua cabeça, e colares para o teu pescoço. Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas. Filho meu, não te ponhas a caminho com eles, guarda das suas veredas os teus pés. Guarda as veredas do juízo e conserva o caminho dos seus santos. Então entenderás justiça, juízo e equidade, todas as boas veredas. Porquanto a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será agradável à tua alma. O bom siso te guardará e a inteligência te conservará, para te livrar do caminho do mal, e do homem que diz cousas perversas. Assim andarás pelos caminhos dos homens de bem. Porque os retos habitarão a terra, e os íntegros permanecerão nela. Feliz o homem que acha a sabedoria, e o homem que adquire conhecimento, porque, melhor é o lucro que ele dá do que o da prata, e melhor a sua renda do que o ouro mais fino. Mais precioso é do que pérolas, e tudo o que podes desejar não é comparável a ela. A alongar-se da vida está na sua mão direita, na sua esquerda riquezas e honra. Os seus caminhos são caminhos deliciosos, e todas as suas veredas de paz. É árvore da vida para os que a retêm. O Senhor com sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu os céus. Pelo seu conhecimento, os abismos se rompem, e as nuvens destilam orvalho. Filho meu, não se apartem estas cousas dos teus olhos; guarda a verdadeira sabedoria e bom siso. Academia Montes-clarense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 9/9/2015 10:11:47 |
CHICO PITOMBA Wanderlino Arruda Por ter chegado a Montes Claros em 1951, não tive a felicidade de ouvir e acompanhar o programa sertanejo dos notáveis Chico Pitomba e Mané Juca na ZYD-7, Rádio Sociedade Norte de Minas. Mas falar dos dois radialistas foi o que mais ouvi quando - com Luiz Gonzaga de Oliveira e Cerdônio Quadros - assumimos a programação da D-7 em 1955, tempo de Diretório dos Estudantes de Montes Claros. Para quem não viveu naquela época, é bom dizer que a Rádio ficava no edifício Maria Souto, Rua Quinze, ao lado da Gazeta do Norte e da Imperial, em frente às Casas Ramos e José Alves, quando quase tudo de notícias e de cultura saía dali. Agora, o escritor e historiador Dário Teixeira Cotrim passa para o relato impresso muito ou quase tudo de informação e de textos de Chico Pitomba e Mané Juca - Cândido Canela e Antônio Rodrigues - um registro definitivo de um bonito e saudoso tempo da gostosa cidade dos Montes Claros, idos de 1945, quando os programas radiofônicos atraíam muita gente e lotavam os auditórios. Ouvidos em todos os recantos do sertão norte-mineiro, eles representavam o que havia de melhor na música e na originalidade dos causos que eram contados, quase sempre tendo que repetir alguma coisa em vista dos pedidos dos muitos ouvintes, que gostavam mais deles do que de Jararaca e Ratinho, das rádios do Rio de Janeiro. Cândido Canela e Antônio Rodrigues - ou melhor Chico Pitomba e Mané Juca - eram mais autênticos, mais legítimos na representação sertaneja, até superando os mais importantes e atuais programas de TV. Nas fazendas onde existiam aparelhos de rádio, o que era raro, no dia e hora do programa de Chico Pitomba e Mané Juca, patrões e agregados se juntavam na sala da casa grande para o programa, hora também de café, biscoitos, broas e pães de ló, que completavam a festa. Dário Teixeira Cotrim, com este livro, grava um notável serviço à história de Montes Claros, resgatando valores de um passado até distante, pois da primeira metade do século passado, quando a cidade vivia poeira e escuridão, só com duas ruas calçadas e com luz de um motor que parava de funcionar antes das onze da noite. Em 1945, a cidade tinha apenas quatro escolas secundárias - o Colégio Imaculada, o Colégio Diocesano, a Escola Normal e o Instituto Norte Mineiro de Educação. A Gazeta do Norte era o único jornal, com duas edições por semana. Os sons da pacata Montes Claros vinham da fanfarra de Leonel Beirão e dos muitos alto-falantes dos bares, botecos e lojas de tecidos. Assim, um bom programa de rádio tinha realmente que marcar época, sendo, agora, seu registro através de livro um momento tão importante como daquele período de nova cultura. Dos dois radialistas, conheci somente Cândido Canela, poeta, humorista e proseador mais do que sensível, amado e admirado, acredito por todo o mundo. Grande poeta, de nome nacional, pois vencedor de concursos em outros estados, mesmo à revelia, sem ser candidato. Homem de sensibilidade, coração à flor da pele, todo o tempo voltado às atividades intelectuais, coisas de muito espírito. Cândido, mais do que montes-clarense, foi um sertanejo autêntico, amado-amante de tudo que era do povo simples e verdadeiro. Conheceu as minúcias do falar e do viver da gente norte-mineira, sua poesia, suas manias, tudo! Nada havia de oculto para ele. Era um desnudador de consciências, seja através da observação pessoal, seja por meio do diálogo franco, pois sabia aproveitar cada minuto da vida, principalmente no que se referia à natureza, sua sempre maior paixão. Leitor vidrado de Catulo da Paixão Cearense, chegava a ser melhor do que o poeta nordestino. Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e Academia Montes-clarense de Letras |
Por Wanderlino Arruda - 1/9/2015 09:14:33 |
SONHOS DE MARIA Wanderlino Arruda Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo de uma realidade (Cervantes) Em verdade, não só Cervantes falou de sonhos no sozinho e no coletivo, no pouco e no muito. Dois outros gênios da poesia e da música disseram mais. Raul Seixas: Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade; John Lennon: Em um sonho comunitário, as pessoas ou os sonhadores vão batalhar para concretizar o sonho, o plano ou o ideal, e o sonho que se sonha só, ...fica no papel, na mente no espaço perdido nunca se realiza, nunca se concretiza! Assim e por isso, Maria Mendes Ferreira, menina da Fazenda Canto, do mesmo clima do Riacho dos Machados, aqui mesmo neste poético norte Minas Gerais, sonhou sozinha, sonhou com Sidônio, sonhou os filhos. Sonhou e escreveu - com leveza de texto - prosa-poesia, poesia pura. Lindo universo de boas lembranças, marca de coloridos, a mais autêntica saudade, os seus sonhos, os SONHOS DE MARIA. Agradeço ao meu amigo, companheiro, irmão e colega Gy Reis, da Unimontes e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, o convite para este Prefácio. Gosto tanto do trabalho e das ideias de Gy Reis, confio tanto no seu talento e direito de escolhas, que nem perguntei o assunto e os porquês do livro da mineira e mineradora Maria. Aberto o livro, folheado o índice, percorrido o texto, tornei-me um encantado pela multidão de sonhos e pelo gosto das muitas realidades.Quase cem escritas de quem nasceu num lugar sagrado para os registros de mil lembranças, todas gratas ao narrar e ao versejar. Cores, sonhos, gente nova e gente velha, ilusão, vazios, vento, chuva, neblinas. Bichinhos de pelúcia, rouxinois, cigarras. Muito de cantos de sabiá, de orações, de lágrimas. Olhares, tardes, sorte, flores, música e esperança, amor, saudades. Entre o abstrato e o concreto, o singular e coletivo, Maria fala não só de Deus e do jardim da vovó: diz de devaneios, dos dias de sol e da negritude da noite, assim como fala de Los Angeles (andando por suas ruas, parecem não ter mais fim) e de Córdoba, no ponto de vista dela, muito parecida com o Brasil. O livro é verde claro, verde escuro, verde, primavera espalhando flor, jovens joelhos ajoelhando na grama molhada. Menina rica, gatinha solitária, quantas saudades doidas dentro do seu coração! Quais serão os pedaços? Quantas serão as saudades? Em algum tempo, os textos de Maria são de pureza inusitada, quase infantis: "Criança feliz quebrou o nariz / Foi pro hospital, tomou sonrisal". "Por que estou triste? Pergunto! / Os olhos respondem a chorar." "Não vês o sino tocando? / Nâo vês o povo rezando? / É para te dizer adeus." Em SONHOS DE MARIA, as horas se tornam dias e o tempo acaba indo embora, mas as palavras que dizemos e as coisas que fazemos tocam as vidas e vivem prara sempre... "Sonho, esperança saudades / Todos no mesmo destino". Ontem e hoje, aprendi ficar sozinha dentro de mim." Dentro de você mesma, Maria. Mas quando você escreve, não tenho dúvida, está dentro do mundo. No melhor das mentes e da sensibilidade de seus leitores. E que bom! Academia Montesclarense de Letras - Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 4/8/2015 15:25:35 |
BRINCANDO AOS RAIOS DO SOL Wanderlino Arruda Da terra os encantos,/das noites os prantos,/são hinos, são cantos/que sobem a Deus! Carlos Drummond de Andrade Quem sonha com poesia e vive com alma, ganha asas e alimenta brisas, voa para a esperança e toca músicas no acalanto de cada verso. Quem se sabe assim, sabe muito de real sabedoria, e sabe também que todas as palavras de Deus são, em tudo e por tudo, a mais legítima verdade. O poeta, sete vezes ao dia e na maioria do tempo, louva bondade e justiça e nelas se alegra por infinitas vivências de amor. Para mim é um prazer imenso ler e sentir Brincando aos Raios do Sol, um livro encantador de Miriam Carvalho, colega e amiga, uma das mais lúcidas inteligências com que as letras mineiras podem contracenar. Ler seus versos é ouvir boa música, trilhar caminhos de muito alento, maravilhar-se com o melhor da culta e bela poética brasileira. Felicidade maior é nele viajar em sonhos e prefaciá-lo como quem toma banhos luminosos e se energiza com salmos de muitas cores. Assim, vejo-me importante com o convite do também escrever, e muito agradeço. A leitura do texto e do intertexto de Miriam é como um saborear e um alimentar de doces eflúvios em manhãs excelsas, perfil de aleluias eternas. O livro de Miriam representa, em suas próprias letras e em mineira alma, vivências de bonito sol levantando nuvens, friozinho de ombros nus, brilho estelar de olhos poéticos, fins de madrugada, vigília inconstante, névoa refrescante de uma noite que não quer permanecer. Nele o dia tem certeza e a tarde nunca cai sozinha ou se embriaga em sombras. Para Miriam, as coisas são certas ou incertas: crescem com existência ou são esquecidas pelo tempo como se fossem querenças jogadas ao léu, enxaguadas por infinitos dias. Tomar que direção? - pergunta-nos Miriam - nossa aplaudida colega na cátedra universitária e na prosa de muita poesia. E é ela mesma que responde em Brincando aos Raios do Sol: A não ser o vento mais próximo/o que carrega a ilusão/no mesmo corpo/ou no mesmo campo ou no mesmo rio/é a alma distante/das coisas que vivem nela/reticentes e longínquas./ Um coração ungido de bênçãos/não quer deixar dobras na alma, /nos deixa à deriva do tempo,/em corpo livre, mas cativo,/quem sabe magnético e lúcido/em rotação universal do amor. A magistral poesia de Miriam Carvalho é - no arremate de mil horas e no traçar de sonhos - um jeito e um trejeito no olhar espiritual, recolhendo favos da noite em ricas ilusões com dizeres indizíveis. No seu mais íntimo versejar, "um resto de mim num retrato sem moldura, que vem engolindo mil bocas na dança nua". Em Miriam, os versos vêm modernos e firmes como sino e sonho, hora de fé em fonte e oratório de mistérios retidos. Sua poesia - que elege a própria vida - é fala e audição com mil medidas no acontecer; sua poesia é alheia serenidade, musical fluir que aponta o que nós somos, nem tão divinos, nem tão humanos. Muito importante ler Miriam com um sincero viver e o mais consciente pensar, alma para alma, alma dentro da alma, plena infinitude no conhecer Deus e saber o possível de todas as belezas da existência e do tempo divinamente humano. Vivendo e Brincando aos Raios do Sol, seja você também poeta e artífice, e fruto opimo e inteligente do melhor dos mundos. É preciso saber, saber querer, saber sonhar, porque são os sonhos que desenham as cores do nosso amar e viver. Senhor Deus da Fé da Esperança, Cáritas de todas as belezas do amor, que a tua vontade se estenda sobre tudo que Miriam pensa e escreve; deixa-a beber sempre em bondade fecunda e infinita, onde todas as lágrimas se suavizam e todas as dores se acalmam. Dá a Miriam Carvalho, Senhor, a força de ajudar o progresso, a caridade pura, a fé e a razão, a simplicidade que dela faz alma e espelho, de onde reflete a tua santa imagem. Academias Montes-clarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 28/7/2015 08:06:43 |
Aposentar-se: Realização dos Sonhos? Wanderlino Arruda Aos poucos, quando, para muitos, vem chegando ao final da carreira, é importante pensar na sempre tão sonhada situação de aposentado, fazer o exame de consciência necessário para interpretá-la compreendê-la, e/ou saboreá-la por antecipação. Parece que não existe trabalhador que não pense, não sonhe com o que chama de merecida aposentadoria, o antigo otium cum dignitate. Conheço gente que tem quatro ou cinco anos de carteira assinada e já fala nos dias futuros em que não mais terá de cumprir horário todas as manhãs, aquela vocação de quem não nasceu para as amarras do assalariado, que todo empregado sempre teve, seja humilde, seja grã-fino. De mansinho vem a ideia de interpretação, o especular se realmente a aposentadoria é mesmo um prêmio. Com certeza, não sei se o ócio não represente mais um castigo, algo de punição para modificar hábitos, desorganizar arraigados modos de vida, avacalhar o coreto do dia-a-dia dos trabalhadores e das famílias. Já imaginou, quando de uma hora para outra, não tem o que fazer? Sabe lá o que é ficar o dia todo dentro de casa, aranhando, vivendo sem pressa, desarrumando e arrumando papéis velhos, molhando jardim, passando a toda hora perto das panelas na cozinha, beliscando, comendo antes do horário? Ou, de forma diferente, tendo de viver o dia todo no Quarteirão do Povo, de pé em frente ao Café Galo ou sentado nos duros bancos, conversando as mesmas conversas, "resolvendo" eternamente os mesmos problemas que os governos nunca resolvem? Francamente, estimado(a) leitor/leitora, não sei! O conselho de quem sabe e já passou pela experiência é que o problema menor do aposentado ainda é o financeiro, o dinheirinho que é sempre menor do que o mês. Nesse até que se dá jeito, podendo ser reforçado com alguns ganhos aqui ou ali. O que precisa ser suportado com galhardia é o descompasso violento entre algumas obrigações e a ociosidade. Há de haver uma preparação espiritual para receber os acontecimentos nunca como castigo, de saber o descobrir regalias e interpretar tudo como merecido prêmio, abrir opções de lazer, visitas possíveis que não incomodem os visitados, prática de alguns esportes também possíveis e, sobretudo, a consciência do que não pode ou não deve ser feito. Em todo caso, vejamos alguns pontos positivos para os aposentados, nas palavras de um colega de muita experiência no assunto. O primeiro e mais agradável é a desobrigação dos horários muito rígidos e da responsabilidade de sentir- peça importante de uma máquina que nunca para, servidão do relógio, disciplina empresarial ou funcional, ou simplesmente administração do tempo. Depois, há os favorecimentos da liberdade do ir e vir, do alimentar-se, do dormir na hora que mais convém, do não ter pressa, de ter todos os dias como domingos e feriados, do direito de tomar sol ou esconder-se do frio. Melhor, do viajar, de chegar e sair sempre sem pedir licença. Assim é a vida. Até as coisas boas trazem problemas. Se todos nós preocupamos tanto com o muito fazer, por que esquentarmos a nossa cabeça com o dolce far niente, com o papo pro ar ou ficar de pernas pra cima? Melhor aprender a suportar a realização dos sonhos. Isso, afinal, até que é bom! Uma informação: o texto vale como conversa de quem se aposentou em 1990, com quarenta anos de carteira. Afinal, sou do tempo em que adolescente tinha mais é que trabalhar. Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 21/7/2015 08:14:12 |
ELOGIO DAS LETRAS Wanderlino Arruda Prefacios - Los griegos los hacían simples y cortos, a juzgar por ejemplo los que de Heródoto y Tucídides han llegado a nuestros días. Los latinos por su parte, tempranamente redactaban prefacios que en realidad podían luego adaptarse casi a cualquier obra. Los primeros capítulos de la Conjura de Catalina1 y de la Guerra de Jugurta2 por Salustio, son ejemplos de este género. Y tal pareciera que Cicerón también siguió esta misma idea. Prefácio, em literatura, foi sempre uma denominação dada a um texto introdutório de um livro, onde o prefaciante descreve de forma sucinta o objetivo da obra, a sua estrutura e o seu conteúdo, bem como discorre sobre o autor. O prefaciante é sempre uma pessoa conhecedora da temática da obra e do seu idealizador, normalmente um amigo ou pessoa que conta muito em consideração. Segundo o Wikipedia, "El prefacio generalmente es corto cuando el mismo se orienta y se centra a ser una advertencia, y usualmente es largo cuando también incluye prolegómenos, motivaciones profundas o casuales, antecedentes, etc." Daí, um excelente motivo para o escritor e historiador Dário Teixeira Cotrim e eu formatarmos este livro, todo ele composto de prefacios e comentarios sobre registros de experiências nossas na Literatura ou na História. Como a amizade não se busca, não se sonha e não se deseja, mas se exerce como uma virtude, Dário Cotrim e eu sempre estivemos juntos e inseparáveis no trato das pesquisas, das experiências pessoais e profissionais em muitos situações: no Banco do Brasil, no Rotary, nas academias de letras e de hidroginástica, nos Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros. São comuns entre nós o gosto pela pintura, pelas coleções de coisas e ideias, pelas viagens, pelo conhecimento e reconhecimento de tudo quanto é instituição de cultura. A nossa convivência praticamente diária é uma prova de que a gente não faz amigos, mas sempre os reconhece. Acredito até que é o desenvolvimento em cada um das melhores qualidades do outro. Como disse o filósofo Sócrates, amigo de verdade não é aquele que diz "vá em frente", mas sim aquele que diz "vamos juntos". Este pequeno livro ELOGIO DAS LETRAS foi, em verdade, intuído e organizado por Dário Cotrim, uma forma de registro do nosso convívio acadêmico com a prosa-poesia e principalmente com a aplicação das lembranças em ensaios para a história de Montes Claros e das regiões norte-mineira e sul-baiana. É uma forma de fixar nosso trabalho em favor da cultura, exercido diuturnamente, mesmo não sendo reconhecido por alguns críticos que julgam poderíamos fazer muito mais. Bons ouvintes ou surdos aos comentários, continuaremos na luta, agora e sempre, enquanto o Criador nos mantiver do lado de cá. Melhor para nós! Academias Montes-clarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 5/5/2015 10:46:20 |
VIRTUDES E ASPECTOS DO ROMANCE Wanderlino Arruda À narrativa do mundo total chamamos epopeia e damos um tom elevado. À narrativa do mundo particular num tom particular e feita a um leitor particular, chamamos romance. É o que diz Wolfgang Kayser que ainda explica estar a forma romanceada desde sempre buscando descrever áreas mais precisas num mundo de ficção, de alguma forma mais próximo do narrador e em área contida mais pela experiência do que pelo sonho, experiência de leituras, do meio social ou profissional, por viagens, pelo resumo configurativo de personagens formadas em um campo de interesse. Uma coisa é certa: o romance busca fertilmente o papel do acaso. Ele nos surpreende na tentativa de poetizar o mundo, miscigenando realidade e verossimilhança com o máximo de fantasia. Livre, solto, o autor não fica na obrigação de passar certificados de garantia, porque o mundo é seu, e desde que coerente, faz dele tudo conforme sua vontade. O que não pode é fugir ao dever da onisciência, há sempre de saber tudo! Fora do gênero e do sentido da balada, da novela, do idílio, o romance é antes de tudo uma narrativa de evento, personagem e espaço. Se um desses elementos se torna portador de maior ênfase, ressalta daí um gênero. Assim, o romance de ação, o romance de personagem e o romance de espaço. O historiador da literatura - afirma Kayser - poderá confirmar esta divisão tirada da essência das coisas. O mais fácil de entender é o romance de ação ou de acontecimentos. Como o acontecimento arranja princípio, meio e fim, toda a realização deste gênero apresenta arredondamento que não é fácil de ser alcançado pelos outros gêneros. É quando o autor, poetizando o mundo, aparecendo-se ou não com o próprio eu, vê-se como portador de acontecimentos e sensações, confidente de ódios e amores, de ambições e desprendimentos, de covardias e heroísmos, e criador de todos os tipos próprios do dinamismo da vida: o criminoso, o ladrão, o santo, o aventureiro, o mistério, o amado, o amante e o desamado. Tudo fruto de uma inteireza plasmada pelo tempo e pelo espaço. Faço estes comentários, lembrando-me com saudades do meu amigo e companheiro de Academia, Corbiniano Aquino, que conseguiu em "Aconteceu..." criar, descrever e movimentar interessante galeria de personagens, percorrendo um mosaico vivido, compósito, excêntrico, um corte longitudinal numa sociedade que oferecia e oferece cores um tanto já perdidas na vida real. A empregada doméstica, ainda hoje, pode ter prestígio de dona de casa e é colocada como convergência de todas as preocupações e todos os zelos, fonte e destino de sentimentos que ainda sobrevivem para enobrecer o nosso coração. Padre, sanfoneiro, capataz, balconista, lavadeiras, moças e rapazes, velhos e meninos, o sacristão e o vaqueiro, o jagunço e a rapariga, todos se juntando para construir um ambiente rural ou urbano, como pode acontecer também com outros profissionais, exemplos de médicos, engenheiros, arquitetos, delegados, detetives, gerentes e peritos, de modo a nos tirar mistérios e curiosidades. "Aconteceu..." trouxe-nos, no bojo, os perfumes da vida na roça, o cheiro da sala de jantar e da cozinha de casa de fazenda, beijus quentinhos, bolinhos fritos, biscoitos escaldados, leite fresco, café torrado em fogão-de-lenha e moído em pilão de jatobá, mel de abelha, feito por abelha, tigelas de farofa, galinhas e leitões assados servidos em travessas grandes. Trouxe também a escuridão das noites sem luz elétrica e sem lua e a umidade das veredas e das beiras de córregos e pântanos, marcas de virgindade que já se transforma em lembranças. Foi a fixação de costumes coloridos de vida, de vozes e atitudes, de humanas qualidades e defeitos que os poucos anos do futuro cuidarão de transformar em passado extinto. Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 29/4/2015 09:09:39 |
VALE APOSENTAR-SE? Wanderlino Arruda Aos poucos, quando, para muitos, vem chegando o final da carreira, é importante pensar na sempre tão sonhada situação de aposentado, fazer o exame de consciência necessário para interpretá-la compreendê-la, e/ou saboreá-la por antecipação. Parece que não existe trabalhador que não pense, não sonhe com o que chama de merecida aposentadoria, o antigo otium cum dignitate. Conheço gente que tem quatro ou cinco anos de carteira assinada e já fala nos dias futuros em que não mais terá de cumprir horário todas as manhãs, aquela vocação de quem não nasceu para as amarras do assalariado, que todo empregado sempre teve, seja humilde, seja grã-fino. De mansinho vem a ideia de interpretação, o especular se realmente a aposentadoria é mesmo um prêmio. Com certeza, não sei se o ócio não represente mais um castigo, algo de punição para modificar hábitos, desorganizar arraigados modos de vida, avacalhar o coreto do dia-a-dia dos trabalhadores e das famílias. Já imaginou, quando de uma hora para outra, não tem o que fazer? Sabe lá o que é ficar o dia todo dentro de casa, aranhando, vivendo sem pressa, desarrumando e arrumando papéis velhos, molhando jardim, passando a toda hora perto das panelas na cozinha, beliscando, comendo antes do horário? Ou, de forma diferente, tendo de viver o dia todo no Quarteirão do Povo, de pé em frente ao Café Galo ou sentado nos duros bancos, conversando as mesmas conversas, "resolvendo" eternamente os mesmos problemas que os governos nunca resolvem? Francamente, estimado(a) leitor/leitora, não sei! O conselho de quem sabe e já passou pela experiência é que o problema menor do aposentado ainda é o financeiro, o dinheirinho que é sempre menor do que o mês. Nesse até que se dá jeito, podendo ser reforçado com alguns ganhos aqui ou ali. O que precisa ser suportado com galhardia é o descompasso violento entre algumas obrigações e a ociosidade. Há de haver uma preparação espiritual para receber os acontecimentos nunca como castigo, de saber o descobrir regalias e interpretar tudo como merecido prêmio, abrir opções de lazer, visitas possíveis que não incomodem os visitados, prática de alguns esportes também possíveis e, sobretudo, a consciência do que não pode ou não deve ser feito. Em todo caso, vejamos alguns pontos positivos para os aposentados, nas palavras de um colega de muita experiência no assunto. O primeiro e mais agradável é a desobrigação dos horários muito rígidos e da responsabilidade de sentir- peça importante de uma máquina que nunca para, servidão do relógio, disciplina empresarial ou funcional, ou simplesmente administração do tempo. Depois, há os favorecimentos da liberdade do ir e vir, do alimentar-se, do dormir na hora que mais convém, do não ter pressa, de ter todos os dias como domingos e feriados, do direito de tomar sol ou esconder-se do frio. Melhor, do viajar, de chegar e sair sempre sem pedir licença. Assim é a vida. Até as coisas boas trazem problemas. Se todos nós preocupamos tanto com o muito fazer, por que esquentarmos a nossa cabeça com o dolce far niente, com o papo pro ar ou ficar de pernas pra cima? Melhor aprender a suportar a realização dos sonhos. Isso, afinal, até que é bom! Uma informação: o texto vale como conversa de quem se aposentou em 1990, com quarenta anos de carteira. Afinal, sou do tempo em que adolescente tinha mais é que trabalhar. Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 18/4/2015 08:51:04 |
YVONNE SILVEIRA Wanderlino Arruda Não basta crer e saber, é necessário viver a nossa crença, isto é, fazer penetrar na prática cotidiana da vida os princípios superiores que adotamos. Léon Denis Yvonne de Oliveira Silveira é de Montes Claros e veio ao mundo em 30 de dezembro de 1914, numa casona de esquina das Ruas Padre Augusto/Doutor Santos, onde agora reina o Banco Itaú. Tempo bom de infância de Cândido Canela, Mário Veloso, Waldir Bessone, Raul Peres, Ciro dos Anjos, Felicidade Tupinambá, tempo de suas amigas Walkiria Teixeira, Zuleica, Luíza Froes, Dora dos Anjos, Idoleta e Maria Maciel. Tempo de seu futuro namorado, noivo e marido Olyntho Silveira. Tem duas origens interessantes: da família Peres, de tradição montes-clarense e do sangue alemão do seu pai Antônio Ferreira de Oliveira, lourão de olhos verdes, sobrenome brasileiro, porque traduzido. Teve sete irmãos: Wilson, Lívio, Zilda, José Laércio, João Hamilton, Paulo Nilson e Nilza. Muitos tios: Alexina, Francisco, Levy, Iracy, Raul, Rubens, Zelândia e Zélia. Francisco era o famoso Cica Peres. Raul, é o doutor Raul Peres, agora chegando aos 104. Foi criada pertinho do Largo de Cima, conhecedora perfeita da Praça Doutor Carlos, ouvinte de todo o barulho de fereiros e de animais amarrados em moirões e palmeiras. Foi sempre uma alegria de menina que vivia entre canteiros de flores e hortas de alface, brincadeiras de quintal e de rua, com estórias dos mais velhos no escurecer da boquinha da noite, assentados na calçada. O tempo corria lento, marcado pela posição do sol e pelo sino do relógio da torre do mercado, um batido musical para cada meia hora e tantas e tantas pancadas coerentes com o número do mostrador; meio-dia e meia-noite, claro com doze lindas sonoridades. O que não era poeira do chão, era boniteza colorida dos pequis, dos cachos de banana, dos sacos de laranja, dos bacuparis e das pitangas, das carnes penduradas e cheirosas pingando gordura. Tudo, tudo entre a realidade e os sonhos. Agora Dona Yvonne – assim eu a sempre tratei mesmo como colega de faculdade - vive seu centenário e faz a vida se transformar em obra de arte. Sempre parecendo que saiu do banho, cabelo arrumado, perfume de mãos que oferecem flores, seu olhar é de quem ama mais do que tudo a existência. Em Yvonne Silveira, nada mais condizente que as palavras de Emmanuel construídas no sonho e concretizadas no amor: “Duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus: uma chama-se AMOR, a outra, SABEDORIA. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo -a para o Alto”. O Curso de Letras, o primeiro em nível superior em Montes Claros, teve início no Colégio Imaculada Conceição, em 1963, teve matrícula de 52 e formatura de somente sete: Yvonne, Saturnino, Hugo, Adilson, Lola, Irmã Guiomar e Wanderlino. Quando o terminamos em 1967, para sermos professores universitários em nossa própria escola, Yvonne e eu tivemos de seguir para a pós-graduação na Universidade Católica de Minas Gerais, ela na especialização em Teoria da Literatura, eu em Linguística Geral, isso além de termos de prestar exames de suficiência, ela na Universidade Federal em Belo Horizonte, eu na Federal de Juiz de Fora, porque o registro da Fafil iria demandar ainda algum tempo. Já com muita prática no ensino de Português e de Literatura, fomos na área os primeiros a preparar futuros alunos e candidatos ao vestibular. Daí, da cátedra e da titularidade de professores, vivemos entre importantes gerações de estudantes que, hoje, marcam o jornalismo, a vida social, a batalha política e cultural em várias partes deste Brasil. Fico encantado quando um aluno de Yvonne marca lembranças de suas aulas, principalmente por recordar cada minuto do entusiasmo dela, principalmente das muitas palavras de incentivo à leitura e à escrita. Como a sua estreia no magistério foi aos doze anos, ela teve no mínimo oitenta e oito de oportunidades para despertar vocações, quase um século de benfazeja prestação de serviços à cultura. Disse muito bem Charles Chaplin que a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. É preciso que a gente cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Acrescenta Fernando Pessoa que o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. E é por isso que existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Não seria exagero dizer que os dois mestres – sem conhecer Yvonne Silveira - escreveram isso tempos atrás baseados num modelo nela inspirado ou que ela inspira. Neste momento em que escrevo, ela está comemorando e ajudando a comemorar o Dia Internacional da Mulher, desfilando nobremente num escaldante sol de Verão, por vontade própria e atendendo a um convite do Rotary de Montes Claros-União. Estou quase certo de que ela estará sendo fotografada e dando uma entrevista para os repórteres da TV e apresentando ideias para a moçada dos jornais e das rádios. Voz de moça de trinta anos, com toda uma lógica no raciocínio e uma perfeita coerência de ideias. Numa rara queixa esta semana, ela me disse, por telefone, que acha que está envelhecendo, pois se vê distraída, sentindo umas tonteiras e tendo dificuldade para subir escadas. Claro que velha seria a avó dela se ainda estivesse viva. De publicação, Yvonne Silveira tem Montes Claros – Crônicas,“Cantar de Amigos - Poemas, História do Elos Clube de Montes Claros, Montes Claros de Ontem e de Hoje, e Folclore para Crianças, (em parceria com Zezé Colares) e Brejo das Almas – Contos e Crônicas, livro dela e do marido Olyntho Silveira. Foram muitos e muitos os prefácios para livros de amigos, muitas as análises literárias, muitos poemas e crônicas, muitas as peças para apresentações de teatro. Professora de tudo quanto é escola em Brejo das Almas e em Montes Claros, nunca houve na sua vida um dia de desemprego, trajetória do ensino primário até a eficiência universitária. O cargo talvez mais elevado entre os muitos que tem exercido seja o de Diretora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, nossa querida Fafil. Isso sem falar que foi professora de História das Artes no Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, ao tempo de D. Marina. Presidente da Academia Montesclarense de Letras desde 1985, nunca teve vontade de deixar o cargo, nem vai deixá-lo, dizendo-se sempre influenciada por Austregésilo de Athayde, da Academia Brasileira de Letras, e por Vivaldi Moreira, da Academia Mineira, que tiveram mandatos infinitos e existenciais. Só aos quase cem anos, ela admitiu passar o cargo para “alguém mais novo/a”, acredito uma grande conversa da boca para fora, porque de alma sempre nova, ela sempre sentiu a perpetuidade do seu mandato. Iluminar, iluminar tudo, iluminar todos, iluminar sempre, esse é o seu lema, essa a sua trajetória, esse o seu dever, o que entende por sua missão. Yvonne e Olyntho realizaram, lá pela meia idade, uma mais do que querida adoção. Receberam, com muita alegria, Ireni, Ireni Mota Carlos, que lhes deu dois netos: Maria Luíza e Pedro Vinícius. O nascimento de Maria Luíza Oliveira Silveira foi elegantemente comemorado com um soneto de Olyntho, um dos mais bonitos que ele escreveu. De Maria Luíza, curso superior de Enfermagem, casada com Leandro Pimenta Peres, nasceu o bisneto Vinícius Silveira Peres, que já anda como rapaz, dá recados e faz as honras da casa quando chega uma visita. Moram todos numa linda mansão da Rua Basílio de Paula, que liga a Vila Brasília ao Bairro Todos os Santos, desculpem-me a falta de modéstia, uma área das mais nobres. Para a época de antanho do casamento, em Brejo das Almas, Olyntho e Yvonne se uniram já bem coroas (76 anos de vida em comum), ele com 23, ela com 18. E só se casaram depois de quatro anos de namoro, porque Olyntho não lhe dava sossego, passando dia e noite de bicicleta em frente à casa de D. Cândida e Niquinho Oliveira, seu pai. Por falar em Niquinho, é bom dizer que ele, na verdade, tinha um nome de literato e de orador e dois apelidos como farmacêutico, um no Brejo, outro em Montes Claros: o normal era Niquinho Oliveira. O outro, que lhe foi posto por Joaquim Sarmento, um dos seus melhores amigos, era Niquinho Açúcar, só usado pelos mais íntimos. E por que Ninquinho Açúcar? Havia, na Camilo Prates, da Padre Augusto até a Praça Doutor Carlos, dois Niquinhos farmacêuticos: Niquinho Teixeira e Niquinho Oliveira. O Oliveira, louro e brancão, como disse antes, de olhos verdes; o Teixeira, um tanto quanto amorenado. Para distinguir melhor, Joaquim Sarmento apelidou-os de Niquinho Açúcar e Niquinho Rapadura, ficando assim bem mais clara a identificação. Yvonne e eu somos da fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Ela tem como patrono o pai farmacêutico Antônio Ferreira Oliveira e eu, o farmacêutico Antônio Augusto Teixeira, ambos fundadores do Rotary de Montes Claros em 1926, o terceiro clube rotário do Brasil. Quando não era ainda normais as viagens para outros países, Dona Yvonne fez duas aventuras na Europa. A primeira em 1981, lembro-me muito tendo de memória os comentário do seu companheiro de turismo, Lazinho Pimenta. A segunda em 1991, com um turma de amigas, um mês inteiro percorrendo Portugal, depois de participar como representante brasileira em uma Convenção do Elos, no Faro, quando D. Fernanda Ramos era presidente internacional. Sem dúvida, fizeram muito sucesso, bela apresentação do elismo brasileiro, principalmente do nosso Elos Clube de Montes Claros, que sempre esteve na vanguarda. Desejo lembrar também aqui da admissão de Dona Yvonne na Academia Montesclarense de Letras, juntamente com Simeão Ribeiro Pires, Olyntho Silveira, Cândido Canela e Sílvia dos Anjos, primeira turma convocada para se unir aos fundadores Alfredo Marques Vianna de Góes, João Valle Maurício, Joaquim Cesário dos Santos Macedo, Francisco José Pereira, Orlando Ferreira Lima, Heloísa Neto de Castro, Antônio Augusto Veloso, Maria Ribeiro Pires, Dulce Sarmento, José Raimundo Neto, Hélio Oscar Valle Moreira, Avay Miranda e Geraldo Avelar. A curiosidade é que os criadores da Academia não queriam ter patronos, privilégio que ficaria para eles mesmos, quando morressem. Foi Yvonne Silveira que os convenceu a adotar a prática normal. Neste grandioso 2014, ano de seu centenário, estaremos em constante festa, preparando e comemorando juntamente com ela todas as glórias que Deus lhe permitiu. Ana Valda Vasconcelos, representando o Elos Clube, Maristela Cardoso planejando pelos artistas, e eu, como presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, estamos nos reunindo com muitas instituições para realizarmos importantes reuniões festivas. Elos Clube, Academias de Letras, Instituto Histórico e Geográfico, Rotary, Conservatório, Fundação Marina, Ateliê Felicidade Patrocínio, Associação dos Artistas Plásticos, Automóvel Clube, Câmara Municipal e Assembleia Legislativa. As duas maiores manifestações deverão ser da Reitoria da Unimontes e da Secretaria de Cultura. O Reitor João dos Reis Canela já está preparando sua festa para o mês de maio. Clássica e renascentista, sempre antenada a cada tempo,é Yvonne Silveira conservadora ao máximo, alma de absoluta mineiridade. Intelectual tanto dormindo como acordada, será sempre um dos símbolos de Montes Claros e de Francisco Sá, seu saudoso Brejo. Ontem como hoje teve e tem uma multidão de admiradores e de amigos. Deo gratias! |
Por Wanderlino Arruda - 14/4/2015 09:40:03 |
ELOGIO DAS ELOGIO DAS LETRAS Wanderlino Arruda Prefacios - Los griegos los hacían simples y cortos, a juzgar por ejemplo los que de Heródoto y Tucídides han llegado a nuestros días. Los latinos por su parte, tempranamente redactaban prefacios que en realidad podían luego adaptarse casi a cualquier obra. Los primeros capítulos de la Conjura de Catalina1 y de la Guerra de Jugurta2 por Salustio, son ejemplos de este género. Y tal pareciera que Cicerón también siguió esta misma idea. Prefácio, em literatura, foi sempre uma denominação dada a um texto introdutório de um livro, onde o prefaciante descreve de forma sucinta o objetivo da obra, a sua estrutura e o seu conteúdo, bem como discorre sobre o autor. O prefaciante é sempre uma pessoa conhecedora da temática da obra e do seu idealizador, normalmente um amigo ou pessoa que conta muito em consideração. Segundo o Wikipedia, "El prefacio generalmente es corto cuando el mismo se orienta y se centra a ser una advertencia, y usualmente es largo cuando también incluye prolegómenos, motivaciones profundas o casuales, antecedentes, etc." Daí, um excelente motivo para o escritor e historiador Dário Teixeira Cotrim e eu formatarmos este livro, todo ele composto de prefacios e comentarios sobre registros de experiências nossas na Literatura ou na História. Como a amizade não se busca, não se sonha e não se deseja, mas se exerce como uma virtude, Dário Cotrim e eu sempre estivemos juntos e inseparáveis no trato das pesquisas, das experiências pessoais e profissionais em muitos situações: no Banco do Brasil, no Rotary, nas academias de letras e de hidroginástica, nos Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros. São comuns entre nós o gosto pela pintura, pelas coleções de coisas e ideias, pelas viagens, pelo conhecimento e reconhecimento de tudo quanto é instituição de cultura. A nossa convivência praticamente diária é uma prova de que a gente não faz amigos, mas sempre os reconhece. Acredito até que é o desenvolvimento em cada um das melhores qualidades do outro. Como disse o filósofo Sócrates, amigo de verdade não é aquele que diz "vá em frente", mas sim aquele que diz "vamos juntos". Este pequeno livro ELOGIO DAS LETRAS foi, em verdade, intuído e organizado por Dário Cotrim, uma forma de registro do nosso convívio acadêmico com a prosa-poesia e principalmente com a aplicação das lembranças em ensaios para a história de Montes Claros e das regiões norte-mineira e sul-baiana. É uma forma de fixar nosso trabalho em favor da cultura, exercido diuturnamente, mesmo não sendo reconhecido por alguns críticos que julgam poderíamos fazer muito mais. Bons ouvintes ou surdos aos comentários, continuaremos na luta, agora e sempre, enquanto o Criador nos mantiver do lado de cá. Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 7/4/2015 10:12:05 |
SUPREMO INTERESSE PELAS PALAVRAS Wanderlino Arruda Cada um tem o gosto que tem, isto é, gosta do que quer gostar, com as preferências de como melhor ocupar o tempo, viver a vida, dar vida à própria vida. Há os que apreciam fazer regime e até sabem passar fome sem ficar triste. Uns gostam de comer, comer de tudo, de ficar gordo, e às vezes até com uma gordurinha bonita, luzidia, bem distribuída de forma a ninguém botar defeito. Há os que sonham resolver os problemas do mundo, saber muito, acompanhar a vida daqui e de alhures. Saem à rua, leem jornais, frequentam o Café Galo. Há os que apreciam fazer negócios, tomar e emprestar dinheiro, comprar e vender, ver gente bem disposta e gente cansada. Muitos ficam na Praça Doutor Carlos, do lado da Rua Quinze, na descida da Doutor Santos, nos pontos de táxis, porque é nestes lugares que todos conversam e há de tudo um pouco. A vida e o viver estão aí desde quando amanhece o dia até a madrugada, para quem queria deleitar... ou sofrer um pouco... Tenho um amigo e companheiro que, bom apreciador da cultura, gosta de palavras, gosta imensamente da inventiva social que dá cobertura significativa e fonológica a tudo que existe na Terra. Admira sinceramente a capacidade que o povo - ilustrado ou não - tem de nomear as coisas, revestir as ideias, inovar, polir o pensamento, colorir a semântica do pobre, do vivente da classe média e até dos ricos. Todas as vezes que Florival Rocha Primo encontra ou descobre uma nova palavra, mais do que depressa ela vai anotada para respeitoso exame da memória ou do dicionário, para tomar posição importante no mundo de conhecimento. Daí para a frente passa a ocupar um papel principal ou coadjuvante, dependendo da importância. Primo, bem que poderia ser nomeado caçador de palavras, pescador de preciosidades linguísticas, reitor dos significados da última flor do Lácio, tão boa é sua disposição... Muito tenho aprendido com o Primo, que nunca me nega uma palavra, boa ou má, em hora nenhuma! E o mais interessante é sua alegria, quando, ao trazer-me uma curiosidade, demonstro já conhecê-la, prestando-lhe informações, porque, bem mais velho do que ele, às vezes tive oportunidade de ver primeiro. Uma palavra tem vários aspectos tanto para o Primo como para mim, ou melhor, para as nossas manias. Não é só o simples vocábulo que interessa, a palavra nuinha, pelada, sem as roupagens da sua apresentação em público ou nos recessos dos livros. Procuramos ver sua história, por onde tem andado, de onde veio, em que companhias tem vivido, se é velha ou se é nova, lusitana ou brasileira, ou se vem de outras paragens. Uma palavra para o Primo, para ser palavra de verdade, com "status", tem de trazer identidade, passaporte, Cpf, uma nobreza natural, e que não seja vulgar, porque palavra tem de ter pelo menos pedigree, como gostava de dizer meu também amigo Geraldo Lourenço. É assim a vida... Parece até que estou falando do Primo, do seu gosto de pesquisa, da sua amizade com o vocábulo, da sua curiosa mineração, para dizer que cada "doido" com sua mania... Creio que é até para dizer mais, que a minha identificação com o Primo, com Georgino Júnior, com Dário Cotrim, assim como foi com Haroldo Lívio e com Reivaldo Canela, constitui "loucuras" de vários e diferentes matizes, tem sido de valor inestimável, tão interessante que ainda não encontramos uma palavra certinha para revestir o significado desses acontecimentos. Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 31/3/2015 09:05:23 |
SONHO DE SER JORNALISTA Wanderlino Arruda Não sei bem porque, mas ser jornalista era um sonho que eu acalentava há muito tempo, bem antes de ter-me mudado para Montes Claros, nos meus adolescentes dias de Taiobeiras, tempos de convívio com tudo que um ainda quase menino poderia sonhar. Escrever para jornais e revistas, naquela época já não me parecia uma coisa totalmente impossível, tinha cheiro de realidade, com boa marca de prazo por acontecer. Na verdade, foi de lá o bom começo, nos meus primeiros exercícios de charadismo e de palavras cruzadas, quando não me limitava à passividade das decifrações, mas indo com determinação a bem mais do que isso: passei a compor charadas e a construir os primeiros desenhos e armar as primeiras batalhas de vocábulos e siglas, encaminhando-os à Revista "Libertas", que a Polícia Militar publicava em Belo Horizonte e à "Revista da Marinha", que o Ministério da Marinha editava no Rio de Janeiro. Era uma experiência e tanto, uma grande alegria ao ver textos e nome publicados e m letras de imprensa. Aníbal Rego, amigo e companheiros de estudos, um dos melhores professores que já tive, muito me incentivou, procurando valorizar meus primeiros passos nesse tipo de atividade na imprensa. Desenhar a nanquim eu sabia de alguma forma, o que eu não sabia era datilografar, que era coisa difícil em cidade de interior. Foi aí que Ageu Almeida, outro amigo, nas horas de folga da farmácia, me deu grande ajuda, ensinando-me, corrigindo e, mesmo, passando a limpo minhas primeiras produções. Foi uma boa escola, coisa de jamais me esquecer. Depois, vendo meu esforço, meu interesse, meu pai comprou uma máquina de escrever e um método simplificado de datilografia. Foi para mim, não tenho dúvida, uma fase de encantamento e alegria. Ainda me lembro de tudo como se fosse hoje: coloquei máquina e livro em cima da canastra de madeira e couro, que havia no meu quarto, bem em frente à janela para aproveitar a claridade, e passei a gastar nos exercícios resmas inteiras de papel almaço, batendo e rebatendo as quatro carreiras de teclas - dedos das duas mãos - até adquirir razoável destreza para escrever bilhetes, cartas e pequenos relatos de acontecimentos de cada dia. Foi assim que - quase datilógrafo - cheguei a Montes Claros, em janeiro de 1951, já com meio caminho andado para trabalhar em jornal. Quando o prefeito Enéas Mineiro e médico Luiz Pires fundaram "O Jornal de Montes Claros", alvoroçado, vi abrirem para mim as portas de uma nova profissão, sentindo mesmo que o grande sonho poderia transformar-se em realidade. Nada, porém, aconteceu, porque o excesso de trabalho no comércio, as tarefas no Colégio Diocesano, a leitura de pelo menos um livro por semana, as cartas para a namorada, tudo, tudo não deixava tempo para o futuro jornalista. Na faixa dos sonhos quase reais, em um querer muito, acompanhei, mais do que interessado, a primeira fase do jornal, principalmente as polêmicas entre professor Pedro Sant`Ana e o jovem médico João Valle Maurício. Depois veio a política estudantil no grêmio do Instituto Norte Mineiro, com eleições perdidas e eleições ganhas, liderança construída quase a ferro e fogo. Foi também nesse tempo que recebi de Waldir Senna a presidência do Diretório dos Estudantes, numa velha sala da rua Doutor Santos, em frente ao Hotel São José. E daí, para quem vinha de tão longe na vida estudar de favor, o novo cargo era um brilho súbito, uma quase consagração, nome diariamente no rádio e pelo menos duas vezes por semana nos jornais. Deve ter sido por isso que o professor José Márcio de Aguiar, que não era tão meu amigo como era de Haroldo Lívio, resolveu atender o pedido de Oswaldo Antunes e me mandar para o JMC. Antes, recomendou-me o máximo de respeito à gramática, cuidados no contato com o público, e mais do que isso: nunca esperar do jornalismo a riqueza de saldos bancários, porque jornalismo teria que ser sempre um sacerdócio, ou mais do que isso. Trabalhei três meses sem ver cor de dinheiro, tudo completamente de graça e até com alguma despesa saída do meu próprio bolso. Depois, o diretor destinou ao jovem e apressado repórter o diminuto salário de mil cruzeiros, sominha que nem dava para pagar um mês inteiro à pensão de D. Duca. Um bom começo. Claro, um bom começo! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 23/3/2015 10:57:03 |
AS MULHERES E SEUS SIGNOS Wanderlino Arruda Confesso que entre as minhas muitas leituras quase não posso passar sem as dos horóscopos. Por exemplo, não ponho um jornal de lado enquanto não estiver lida a coluna que fala da sorte no dia ou na semana. Não me importa se vai ou não vai acontecer coisa alguma, se devo ou não acreditar. Interessa‑me, porque acho gostosa a combinação de ideias, o tom otimista dos autores, a sensação de mistério, o número de probabilidades fantásticas. E sei que não estou só nessa empreitada, porque senão os jornais e as revistas não falavam tanto do assunto. Deve haver até muitos leitores muito mais apaixonados do que eu e do que você. Será? Conheço mais o que diz respeito aos nascidos no signo de Virgem, um povo leal e dedicado, afeito às letras, ao jornalismo, à contabilidade, a tudo que concerne a papel e que é nele escrito. Práticos, homem e mulher virginianos, são organizados e gostam de tudo certinho, arrumado como um relógio de hora certa, previsível, a ponto de sustentar uma eterna crítica deles mesmos. Quando um virginiano casa‑se com uma virginiana, fazem mais do que um casamento: fundam uma organização com características interessantíssimas, incluindo nessa organização os devaneios e as fantasias, desde que obedeçam a esquema traçado. Ponho como testemunhas disso meus bons irmãos e colegas Míriam e Dárcio, meus vizinhos de aniversário. A mulher de libra não tem nenhum critério na escolha do companheiro? Tudo o que ela quer é unir-se a alguém muito elegante, inteligente e que decida por ela, a quem ela possa dedicar-se e que satisfaça seus caprichos sofisticados. É cheia de etiquetas e está sempre comprometida com as normas sociais. A libriana sempre se preocupa com a opinião das pessoas. Já a mulher de Escorpião traz dentro de si o grito da liberdade instintiva. Inconformada, não sabe reprimir sua exuberância afetiva e sensorial, sempre cheia de empatia e intuição. De grande força de trabalho, assume tudo com garra. Outra mulher que adora a liberdade de movimentar-se é a aquariana. Para ela, o ir e vir, conforme lhe convier, é o essencial, assim como o relacionamento e a participação na vida das pessoas. Já a canceriana é uma mulher sensível, dotada de grande capacidade de emocionar-se, permeável ao meio ambiente, misto de mãe e mulher, quase nem sabendo separar essas duas funções. As leoninas são protegidas pelos deuses, segundo a mitologia, parentes do fogo e, por isso, fáceis de incendiar-se. Brilhantes, intransigentes e dominadoras, pensam como bem entendem. As mulheres de Gêmeos expressam com suas fantasias através do amor, ao contrário das taurinas, que são bastante realistas a ponto de recusar as ilusões e só ver a segurança e o que é real. Sem compromisso, variada, leve, não sei se pode haver leitura melhor do que as dos horóscopos. Pelo menos mais gostosa não há! Nem a de poesia bem feita! Academia Montesclarense de Letras e Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 20/3/2015 17:56:22 |
ESCOLA NORMAL Alberto Sena As fotos do acervo de dona Maria das Dores Guimarães Gomes postadas no Facebook têm o condão de transportar qualquer pessoa, seja cristão, sacristão, evangélico ou budista, senão o ateu também, ao tempo em que fomos igualmente felizes e tínhamos a certeza de que éramos felizes. (...) Alberto, Também tenho muitas saudades da antiga Escola Normal, principalmente na minha fase do sobradão, em 1954, quando iniciei-me no magistério aos 20 anos, ainda com cara de adolescente. D. Jane, a professora de Inglês, teve que passar uma temporada nos Estados Unidos, e eu fui o escolhido para substituí-la nas aula, acredito por mais de um semestre. Uma aventura! Alguns anos meses mais tarde, parece que D. Taúde, a diretora, gostou do meu trabalho e me convidou para dar aulas também de Português. Era um encantamento o conviver dentro e fora da escola, na Rua Coronel Celestino e no pátio interno, enorme, com todas as cores e sons do mundo, uma verdadeira algaravia. Estivemos juntos, acredito pelos idos de 1967 a 1969, curso científico, mas já no prédio novo, que vocês reivindicaram, parando as andanças do governador Magalhães Pinto, na Praça da Matriz. E que bom que o governador, homem fino e educado, sobretudo honesto, garantiu a promessa feita aos jovens e corajosos estudantes. Maravilhoso o ter saudades, Alberto! |
Por Wanderlino Arruda - 17/3/2015 16:15:58 |
COTRIM E VIRGEM DA LAPA Wanderlino Arruda Não faz muito tempo, voei - como poeta e historiador - em nuvem de romantismo para pensar e repensar um prefácio sobre Itacambira, cidade antiga e moderna tomada de paixão pelo meu estimado amigo Dário Teixeira Cotrim. Tenho certeza de que cada palavra minha foi medida e pesada, posta em tela e moldura, como contributo a um dos livros mais caprichados entre os trinta e seis que ele escreveu e publicou. Como amigo e irmão, companheiro e confrade, minha decisão não foi a de fazer acréscimos, mas de contribuir para fixar o desenho da admiração por uma cidade tão amada e admirada desde os dias de Fernão Dias Pais, seu desenhista de sonhos e real fundador. Afinal, trabalhar com Cotrim tem sido para mim um esforço normal de produzir e registrar culturas, seja no mundo das ideias, seja no mundo de construção da História. Entendo o Dário Cotrim como produtor de artes. E como bem disse Valéry, arte é o aproveitamento de coisas que transbordam e de acontecimentos que ultrapassam o viver e o fazer comuns. Arte é tão importante que não se trata de dispêndio gratuito de energia, e sim de utilização de impressões e percepções que se encontram na memória humana em estado de disponibilidade. Arte é o realizar com capricho e maestria, além do normal, algo assim como um desenho que venha fixar ou ajustar destinos e vocações, mescla de beleza e aventura. Sei que - por conceito de Kant, Spencer e do poeta Schiller - existem sempre traços marcantes entre a arte e o jogo, ocupações que encontram em si mesmas a sua própria finalidade. Assim, a poesia e a história acabam se mesclando em arte, transformando-se em encantos e seduções, caso claríssimo deste livro do historiador e poeta Dário Cotrim, enamorado por Virgem da Lapa, cidade em que a cultura se mostra mais do que significativa, presenças his tóricas do homo sapiens, homo faber, homo ludens, poiêsis como função lúdica e de valores. Uma leitura atenta deste livro de Dário Teixeira Cotrim, que faço quase com contrição e fé, leva-me a usufruir de toda memória, toda atuação e trabalho de pessoas mais do que conscientes do melhor da cidadania. Em todo o tempo um erigir e um reformar, clara invenção e criatividade que permitiram o maior êxito de uma verdadeira civilização. Construída inicialmente pelos sonhos de bandeirantes de São Paulo e do Nordeste - busca de pedras preciosas e criação de gado - Virgem da Lapa sempre se viu como exemplo de responsabilidade, imagem e reflexo do gosto pela vida em família e pela cultura, produção de bens e comércio com várias regiões. Muitas as viagens dos tropeiros em distâncias e lonjuras, envolvente a receptividade aos caixeiros e viajantes com notícias e mercadorias, tudo um luxo para olhos e corações. O livro sobre Virgem da Lapa - bem informa o historiador - é parte de um projeto antigo em virtude das suas andanças pelo Vale do Jequitinhonha, destaque para Minas Novas, Juramento, Grão Mogol, Araçuaí, Itaobim e Jequitinhonha. Há muito que ele vem admirando a beleza e o encanto do rio, sempre desejoso de escrever um pouco da sua história. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 9/3/2015 09:28:47 |
DAS POSTURAS DA CÂMARA MUNICIPAL Wanderlino Arruda Mato saudades com as muitas lembranças dos tempos de Câmara Municipal de Montes Claros nas cercanias de cinquenta anos atrás, melhor dizendo, de 1962 a 1970, quando nossa edilidade se reunia na Praça Doutor Chaves, primeiro no prédio da Prefeitura, hoje Centro Cultural, depois num sobrado ao lado do Correio, em cima de uma loja de bicicletas. Lembro-me ainda mais quando passamos para a Avenida Coronel Prates, também prédio da Prefeitura, hoje supermercado do Bretas, ao lado da mansão de Dona Fina e Hermes de Paula. Aí foi quase a maior parte dos meus bons tempos de mandato, quando o trabalho de vereador era de graça, colorido só pela vocação política, "serviços relevantes em prol da cidade e do município". O motivo do saudosismo vem da leitura atenta de um livro-pesquisa organizado por Dário e Júlia Cotrim, publicado em parceria com a Editora Millennium do meu amigo Pedrinho, com o longo título de "As Posturas da Câmara Municipal de Montes Claros de Formigas - 1858", sessenta e quatro páginas bem documentadas, sob o patrocínio do Instituto Histórico e Geográfico e dedicado à memória do "saudoso mestre e confrade Simeão Ribeiro Pires", nosso patrono. Quão belas foram as horas de leitura e releitura, de ida e de volta pelos textos, cada qual mais rico de detalhes e preciosas observações, principalmente quanto aos costumes vigentes numa cidadezinha mineira e interiorana há quase duzentos anos. Era uma sociedade voltada tanto à necessidade de trabalho pelo pão de cada dia, como em temperar a vidinha pacata com a vocação de ser feliz através da diversão e da cultura. As páginas d`As Posturas da Câmara Municipal de Montes Claros de Formigas, registro dos mais antigos preceitos municipais escritos, obrigava os munícipes a cumprirem certos deveres de ordem pública apropriados para os costumes de 1858. Uma percepção na vida social. constituídas por condições mínimas e necessárias a uma conveniente vida social com segurança, salubridade e tranquilidade, tudo pautado num consenso para um convívio pacífico e harmônico, com estabilidade das instituições e observância dos direitos individuais e coletivos. Em resumo, como viver e conviver em paz e com procedimentos voltados para o progresso daqueles tempos e do futuro. O costume de fixar as normas de postura municipal surgiu a partir do império napoleônico, e em decorrência do crescimento das cidades. Postularam-se normas cada vez mais rígidas de procedimentos de conduta dos cidadãos, do uso dos bens urbanos, e a avançar sobre a regulamentação dos padrões de higiene e salubridade das vias públicas e das construções. Um minucioso elenco de normas, pautadas, principalmente, em proibições e restrições, desde a forma de se vestir, ao consumo disciplinado de determinados alimentos. A esse conjunto de normas, regras e imposições de penalidades aos infratores, deu-se o nome, em Portugal e, por conseguinte, no Brasil, de Código de Posturas, no qual inúmeros assuntos eram tratados, entre eles o controle de animais soltos, os vendedores de ruas, a licença de comerciar, o policiamento, o regulamento do trânsito e do tráfego, o horário de funcionamento do comércio, o controle de certas atividades profissionais - mascates, farmacêuticos e den tistas, por exemplo. Também de assuntos ligados à saúde, como a vacinação, higiene pública e de certas atividades como matadouros, chiqueiros, organização dos cemitérios, proibição de despejos e lixos, licença para construir e tantos outros. Os pequenos povoados e vilas, apesar de todo o poder centralizador do governo imperial, assumia por iniciativa própria, funções importantes de governo. Em 1824, com a proclamação da independência, surge a Constituição Imperial, citando textualmente como competência das Câmaras de Vereadores: "Especialmente o exercício de suas funções municipais, formação de suas posturas policiais, aplicação de suas rendas e todas as suas particulares e úteis atribuições". As posturas municipais eram um conglomerado de normas que regulavam o comportamento dos munícipes, desde suas relações de vizinhança e cidadania, até relações de cunho trabalhista, referentes a "criados e amas de leite". Algumas vezes - dependendo do grau eram tão detalhadas que prescreviam castigos aos escravos só no interior das cadeias e não em locais abertos, evitando cenas infamantes aos olhos do povo na rua. Parabéns ao amigos e colegas Dário Teixeira Cotrim e Júlia Maria Lima Cotrim, assim como às Editoras Cotrim e Millennium, pela iniciativa de marcar um importante período da história de Montes Claros, sempre e sempre a cidade principal do Norte de Minas, ao mesmo tempo centro regional e entroncamento de todos os caminhos, escola síntese de todas as nossas artes e culturas. Claro que além das congratulações, o agradecimento maior de todos os estudiosos da história deste Norte e de toda Minas Gerais. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 26/2/2015 14:58:23 |
Milene Coutinho Maurício Wanderlino Arruda Há poucos dias, a colunista Ruth Jabbur publicou uma foto das cinco gerações que tiveram como início a escritora, museologista, pesquisadora e folclorista Milene Antonieta Coutinho Maurício, que hoje completa 85 anos de idade: fotografia dela Milene, da filha Mânia Lucia Maurício, da neta Daniella Maurício Mourão, do bisneto Pedro Ivo Mauríco Mourão e do tetraneto Bernardo Mauríco Mourão, tudo gente bonita e bem posta na vida, pois com história e estórias marcantes para quem admira e gosta de Montes Claros. Prometi a mim mesmo escrever sobre e para Milene, minha confreira da Academia Montesclarense de Letras e dos Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros, cinco longos anos atrás. Sempre esta promessa foi dívida em minha memória e nos meus compromissos de cronista voltados principalmente aos assuntos da região. Olímpia, sempre atenta, me cobrou isso já não sei quantas vezes, mas só hoje, por determinação urgente-urgentíssima do meu amigo e irmão Wagner Gomes, consigo alinhavar. E o faço com alegria, com emoção, porque de Milene sempre gostei e muita tem sido a minha admiração. Escritora de fôlego, pesquisadora do maior respeito, Milene Coutinho faz da escrita - quase como da família - o seu centro de existência. Parece que nunca teve um dia de descanso, tantas foram as suas publicações em jornais, revistas e livros. Destacam-se, por exemplo, Emboscada de Bugres, Tiburtina e a Revolução de 1930, As Mais belas Modinhas, Magnificat, Vamos Brincar de Brincar, repositórios sobre a culinária mineira e do nosso interior do Norte. Emboscada de Bugres é um importante depoimento sobre a grande e inesquecível Dona Tiburtina, marca do episódio montes-clarense de seis de fevereiro, uma joia para o conceito jornalístico de Assis Chateaubriand. As mais belas Modinhas, rico registro sobre a musicalidade brasileira, teve prefácio do governador de Minas, Francelino Pereira, e comentários sobre ninguém menos que Carlos Drumond de Andrade. Magnificat, Representações de Nossa Senhora, escrito a duas mãos com a nossa confreira Maria das Mercês Paixão Guedes, é tu do que a gente pode sonhar com a santa aura de Maria, mãe de Jesus. Vamos Brincar de Brincar contém o lado mais do que lúdico da avó, bisavó e tetravó dos mais de oitenta de alegria do viver. Filha da escritora Nazinha e do entusiasmado professor e advogado Alfredo Coutinho, prefeito de Montes Claros quando ela nasceu, esposa do médico e escritor João Valle Maurício, secretário de estado, Milene é mãe de Mânia, Nair, Vitória e Liliane, avó de nove netos, bisavó de nove bisnetos e tetravó de Bernardo Mauríco Mourão, descendente também de Mânia, Daniella e Pedro Ivo. Longa existência, bonita dimensão de uma família bem criada e de brilho merecido, gente boa, muito boa, sempre envolta em importância social, cultural e política. Nunca me canso de dizer que o romance "Maria Clara", de Nazinha Coutinho, é um dos mais marcantes da nossa literatura montes-clarense, um encanto de escrita para atenciosa leitura. Emoldurada pelos sucessos das letras e das músicas, elogiada pelo trajeto social em todas as fases da vida, Milene teve como momento importante a publicação do livro Emboscada dos Bugres, acontecimento que pode ser assinalado com um início de crônica do nosso saudoso e confrade Ângelo Soares Neto: "Não creio que o Automóvel Clube tenha tido em toda sua história uma noite como a do lançamento de Emboscada dos Bugres. E difícil, pelo menos, na ótica do modesto escriba. Sei que ali já foi palco de eventos históricos. Isto é uma verdade imutável, contudo, o de ontem, à noite, suplantou aos demais, quando foi lançado para o Brasil a obra maior de Milene Coutinho Maurício, Emboscada dos Bugres - Tiburtina e a Revolução de 1930, que lhe valeu um precioso passaporte para a história nacional." Milene Coutinho Maurício tem formação escolar bem aprimorada: magistério pelo Colégio Imaculada Conceição, Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros e Museologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 25/2/2015 08:59:30 |
Marília Pimenta Peres, linda forma de viver Wanderlino Arruda Um pensamento atribuído a Fernando Pessoa sobre o que devemos considerar na vida a cerca de gentes e coisas é que o valor delas não está no tempo que duram. Está muito mais na intensidade com que acontecem, com que aparecem, já que "existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis, pessoas incomparáveis". Suprema verdade! Assim tem sido a vida e o viver, o mundo e tudo que o compõe. Cada criatura, queira ou não, tem o seu tempo-espaço, seu horizonte, seu colorido, seus matizes em cada fração do relógio ou do calendário. Melhor dizendo, somos recebedores e emissores de belezas e do bem que pouco ou muito podemos absorver e realizar. Somos donos do nosso destino. Todo este filosofar é para dizer do quanto foi importante o tempo de vida da nossa querida amiga e confreira Marília Pimenta Peres, que nos deixou órfãos quando ela contava apenas sessenta e cinco anos de trajetória terrena. Sempre elogiada e mais do que admirada, Marília foi antena receptiva de inumeráveis dádivas que Deus permite às pessoas a quem Ele ama de verdade. Seus dons estiveram sempre no superlativo, mercê dos seus dotes de inteligência e da perfeição de sua beleza física e espiritual. Menina, moça e mulher, estudante ou professora, sua alegria se estendeu contagiante tanto a familiares como a colegas e amigos, tanto aos mais próximos como a todos, que mesmo de longe, ouviram falar dela. Tudo positivo e provocador de exemplos! Lembro-me muito bem dos quatro anos de melhor convivência nas salas de aula e nas atividades do Curso de Letras da Fafil. Sinceramente interessada em todo o currículo, dedicou-se aos estudos de português, francês e linguística, decididamente afeita às respectivas literaturas. Importante aluna, mais do que destacada e já com jeito de mestra, foi um encanto em todas as horas. Simpática à figura de sua xará, Marília de Dirceu, quanto me obrigou a estudar Tomaz Antônio Gonzaga, quanto me levou também a admirar a poesia mineira da Inconfidência! "Marília/ se tens beleza/ da Natureza é um favor/ mas se aos vindouros teu nome passa/ é só por graça do Deus do amor/ que tanto inflama a mente/ e o peito/ do teu pastor." Intelectual completa, Marília Pimenta Peres ocupou - com nota dez - todos os postos de professora, literata, palestrante, protocolo e incentivadora do conhecimento. Tudo foi feito por ela para que seus discípulos gostassem de ler e de escrever, sonhassem e vivessem o brilho das artes. Figura notável na Academia Feminina de Letras e presidente da Associação das Amigas da Cultura, todo o crédito pode ser-lhe atribuído por antigas e novas gerações. Mais que lamentar a ausência de Marília por sua ida tão cedo, agradecemos ao nosso Pai Celestial por sua permanência entre nós de quase sete décadas de encantadora e linda forma de viver! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 11/2/2015 10:12:54 |
TONINHO REBELLO, LIVRO DE IVANA E DE JORGE Wanderlino Arruda De forma mais do que direta, o Eclesiastes usa o simbolismo do capítulo três para dizer que tudo neste mundo tem o seu tempo e cada coisa tem a sua ocasião, porque para isso Deus marcou um tempo certo. Esta verdade eterna, própria e apropriada para qualquer momento, vem - agora - também aqui acontecer no dia vinte e cinco, com o lançamento do livro TONINHO REBELLO, O HOMEM E O POLÍTICO, de Ivana Rebello e Jorge Silveira, membros ilustres do Instituto Histórico e das Academias de Letras. Um acontecimento marcante para os que conheceram e para os que vão conhecer através da leitura o maior prefeito que, em oito anos, realizou em Montes Claros a melhor administração de todos os tempos. Era mais do que chegado o instante preciso para esta justiça histórica. O livro - realmente bom e muito bem escrito - fruto de duas inteligências mais do que brilhantes - Ivana, doutora em Literatura, e Jorge, destaque maior do jornalismo, tem tudo para honrar a filosofia do Eclesiastes no registro bíblico da ocasião para cada coisa. A história de vida de Toninho Rebello precisava de tempo para ser maturada - pelo menos uma geração depois - quando acontecimentos simples ou mais do que importantes na simplicidade de sua vida se tornassem registros realmente históricos. Com elementos comparativos do antes e do depois de suas administrações frente à Prefeitura de Montes Claros, nada melhor do que o destaque aparecer já neste Século XXI, com tantas gestões boas e gestões ruins no comando do município. Entre todas, algumas realmente elogiáveis, as de Toninho ainda foram as melhores e mais destacadas, porque de uma cidade provinciana, ele projetou uma reconhecida metrópole. Quem te viu e quem te vê, Montes Claros! Para Ivan Rebello, o livro TONINHO REBELLO, O HOMEM E O POLÍTICO surgiu "de uma admiração mútua: minha e do jornalista e escritor Jorge Silveira, a quem muito respeito pela coragem; pelo exercício do jornalismo seno, inteligente, e por seu zelo a Montes Claros. A ele, como grande jornalista que é, coube a parte mais densa deste livro: aquela que testemunha o político, o prefeito, o ideólogo. A mim, coube o retrato do homem de família, que, entre outras coisas, recobra lembranças de um menino comum, que corria nas ruas de Montes Claros. Sua vida pessoal não o diferencia de tantos que fizeram a história da cidade; cresceu, casou-se, teve filhos e netos. Mas também nessa vida íntima ele se pautou pela conduta íntegra e severa. Para Jorge Silveira, que conheceu muito bem apenas o Toninho Rebello administrador e político, foi muitíssimo importante juntar-se a Ivana na estrutura e produção do livro. "Convidei sua sobrinha, professora emérita e escritora, Ivana Ferrante Rebello, para compartilhar comigo estas memórias, cabendo-lhe mostrar aos leitores como foi e o que foi o Toninho pai de família, o Toninho irmão, o Toninho filho de seu Jaime, o Toninho avô, enfim, o homem em todas as suas características e princípios familiares. Acredito que juntando as memórias de Antônio Lafetá Rebello a quatro mãos, teremos um retrato bem aproximado daquele que, em quase todos os sentidos, foi e continua sendo o paradigma de alguns conceitos tão em desuso nos dias atuais como austeridade, ética, honra, honestidade, amizade, cidadania e patriotismo." Juntos e/ou separados, cada qual vendo Toninho pelo seu especial jeito de viver - do cidadão e do administrador - Jorge e Ivana realizaram o que muitos de nós que lutamos entre o jornalismo e a literatura histórica gostaríamos de fazer: grafar a verdade com toda beleza que ela pode ser sustentada, fazer justiça a quem foi e é merecedor dela. Parabéns, companheiros, amigos e confrades. Somos-lhes devedores pela muita eficiência e bonito amor a Montes Claros! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 3/2/2015 11:05:08 |
CRÔNICAS HISTÓRICAS DE MONTES CLAROS Wanderlino Arruda Depois de "Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes" publicado por Hermes de Paula em 1957, ano do centenário, já estava passando da hora de termos um livro mais completo sobre a cidade e seu entorno norte-mineiro. É verdade que muitos livros foram escritos, muitas crônicas publicadas, muito esforço despendido sobre fatos e personagens, mas quase tudo fruto de lembranças e de vivências dos nossos cronistas e historiadores. Para formar arquivos e registros históricos com maiores amplitudes, até agora só o confrade e amigo Dário Teixeira Cotrim não tem poupado esforços e investimentos, pois é dele hoje a maior e melhor biblioteca histórica de toda a nossa região. Por qualquer lugar em que ele passou nos últimos anos, nunca deixou de visitar institutos históricos e geográficos, bibliotecas públicas e arquivos de academias de letras. Até em bibliotecas de órgãos públicos, principalmente de câmaras municipais, ele tem se preocupado pesquisar e fotografar docume ntos. Excelente disposição! Estou apresentando esta minha opinião - mais do que pessoal - porque ninguém convive com Dário Cotrim ou participa do seu trabalho tanto quanto eu, já que somos companheiros em vasto universo de instituições, principalmente nos setores de literatura e história. Mesmo assim, apesar de toda a proximidade e acompanhamento, tenho a mais grata surpresa ao ler, com absoluta atenção, o seu trigésimo sétimo livro, que é CRÔNICAS HISTÓRICAS DE MONTES CLAROS E OUTRAS CRÔNICAS MAIS. Quanta riqueza de informações, quantos detalhes importantes, quanta beleza de estilo e leveza literária! Uma obra de elevado e reconhecido valor para ser guardada na memória intelectual e na memória do coração. Verdadeira joia para leitores de qualquer preferência, principalmente para os que amam com paixão esta terra tão representativa, que é Montes Claros, a cidade da arte e da cultura. Formatado pela Editora Cotrim, do próprio autor, e publicado pela Millennium, do meu amigo Pedrinho, as 156 páginas de história constituem um luxo para o nosso patrimônio de amor e de conhecimentos. Deve e precisa ser lido com urgência, com o afã de quem sabe apreciar o bem bom de Montes Claros. Lá estão Hermes de Paula, Konstantin Christoff, Dona Tiburtina, Simeão Ribeiro, João Valle Maurício, Marciano Fogueteiro, Olyntho Silveira, Adail Sarmento, Reginauro Silva, Haroldo Lívio, Ruth Tupinambá, Cyro dos Anjos, Darcy Ribeiro, Luís Carlos Novaes, Padre Dudu, Godofredo Guedes, Raymundo Colares. Lá estão Petrônio, Yara, Yvonne, Raquel, Feli, Clarice, Ivana, Zoraide, e muito mais gente amiga que Deus ainda não levou e que todos gostaríamos ficasse bem longe de levar. Neste último parágrafo, quero dizer que, entre as muitas informações, Dário Teixeira Cotrim fala da Cidade Alta e da Cidade Baixa, das ruas estreitas, das travessas, do corredor cultural, da velha matriz, da catedral, do velho mercado, dos chafarizes, dos cinemas, dos sobradões, dos tipos populares, da princesinha, filha de D. Pedro I, que morreu em Montes Claros e está enterrada perto do altar da Matriz, ao lado do fundador José Lopes de Carvalho. Da região, ele diz muitas coisas da Barra do Guaicuí, da Coluna Prestes, do Caminho Real, do canhão de guerra, que hoje é do Instituto Histórico, dos sertanistas e bandeirantes, do Frei Clemente de Adorno, de Francisco Sá, de Antônio Gonçalves de Figueira, de Jerônimo Xavier de Souza. Um lindo e importante passeio pelo nosso passado. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros. |
Por Wanderlino Arruda - 27/1/2015 09:57:37 |
REDIGIR, UMA FANTASIA NO TEMPO-ESPAÇO Wanderlino Arruda Entre todas as ciências humanas, a literatura tem um dos mais importantes papéis, e, como a pintura e a escultura, informa sobre usos e costumes de épocas, povos e regiões. O literato, como o artista plástico, obtém, de um acontecimento ou de qualquer coisa, o ângulo marcante, um prisma de visão, a denotação e a conotação que olhos normais não conseguem ver. Esse grau de sensibilidade, em todas as dimensões dos sentidos, só o artista consegue. E, por isso, torna-se diferente da sua geração e mergulha-se numa supra realidade, num mundo de emoções estéticas, criando imagens, sons e movimentos, descobrindo cores, formas e perspectivas, aflorando arrepios de dor, encantamentos de alegria e frescor de saudades. Nem sei o que seria da vida e da história, se não existissem os artistas. Hoje minhas lembranças recuam no calendário para o dia da posse de João Valle Maurício como presidente da Academia Montesclarense de Letras, mais de quarenta anos atrás. Lembro-me como se fosse agora quando falei da importância da literatura nos registros que atualizam as gerações, interpenetram sensações de tempo-espaço, mesclam e pontilham fatos, colocam o mundo em quase eternidade. Citei como exemplo um texto dele ligado à nossa região, relato de uma viagem, pela Central do Brasil, num trem-maria-fumaça, a partir do movimento alegre e comovido da antiga estação de Montes Claros. Era a história de um rapaz montes-clarense que ia assistir à festa do Senhor do Bonfim, em Bocaiúva, um dos episódios mais gratos da nossa literatura norte-mineira. O jovem, na sua primeira viagem de trem, chegou emocionado à estação, no meio de gestos, de gritos do velho Matias Peixoto, que, naquele dia, estava mais importante e altivo do que nunca, de guarda-pó e boné, mais parecendo o dono da plataforma. O rapaz viu toda aquela gente que ia viajar ou ia despedir-se. Viu os funcionários da Central, na azáfama de última hora. Viu o chefe do trem, montado na mais alta importância, soprar o apito anunciando a partida. Ouviu o maquinista dar a aceleração de saída. Viu mãos que abanavam dando adeus, de dentro e de fora dos carros. Viu choro, viu risos, viu fisionomias saudosas de fazer dó. Afobado, pulou nos degraus de dois a dois e viu o vagão cheio, cheinho de passageiros. Olhou longe, olhou perto, tudo cheio, entupido de gente. Por sorte, descobre uma poltrona vaga, ao lado de uma jovem e palpitante morena, por sinal muito bonita e elegante, um encanto e pedaço de mau caminho. Corre e toma posse do lugar, mais do que ligeiro. Sentado, acomodado, quase dono de si, olhava de lado, com rabo de olho, respira fundo, engole seco, pisca os olhos, levanta os ombros, encolhe-se todo de emoção. Quando volta ao natural, mexe-se, levanta o cotovelo, arruma-se e zás!... roça o braço da moça. Uma coisa deliciosa de formigamento gostoso, um friozinho na boca do bucho, um esquentamento nas orelhas. Tem vontade de cuspir, olha para o chão - vê que não pode - olha para a janela, e o vidro está fechado. Tenta abrir, não consegue. Força, mas não dá jeito. Mas, com o movimento, encosta de novo na morena e sente o cheirinho bom de mulher nova, e fica ainda mais pra lá de emoção. Depois de muito pelejar, o vidro desce e ele cospe lá fora, afinal, descansado, conseguindo o primeiro alívio, depois de tanto conforto e desconforto. Daí para a frente, o trem, prossegue balançando, fungando no compasso café-com-pão-manteiga-não e o escritor deixa o acontecido para a imaginação de cada leitor, inclusive da minha, que, ao mencionar o acontecido, apresento-o em nova roupagem, fantasiado, a meu modo, adaptado ao meu estilo. Pois é assim que entendo literatura, é assim que sempre procuro transferir aprendizagem aos meus alunos, ensinando a arte de escrever, pintando, desenhando caracteres, marcando episódios, acicatando lembranças. Realista ou romântico, simbolista, concretista, modernista, ninguém consegue fugir do que manda a vida e, por isso, o escritor, tem que ser ao mesmo tempo fotógrafo e pintor, músico e cinegrafista, buscando todas as nuances reais ou imaginárias de um acontecimento. Afinal, praticar literatura é mais do que tudo fantasiar. Academia Montesclarense de Letras Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 20/1/2015 10:58:34 |
IHGMC - NOSSA META É O SUCESSO Wanderlino Arruda Passou mais do que depressa o tempo de oito anos desde que fundamos o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, numa bonita noite de 27 de dezembro de 2006. Depois da diretoria de implantação de 2007, de que fui presidente, estamos no quarto mandato com foco maior no passado e muito interesse no presente, tudo fazendo para honrar a história e a geografia de Montes Claros e da região norte-mineira. Quadro social bem maior do que os das academias de letras, com cem cadeiras, temos no momento noventa confrades e confreiras, em véspera de dar posse a mais seis companheiros/as, de Montes Claros e de Grão Mogol, permanecendo apenas quatro posições vagas, ou melhor, quatro patronos aguardando os seus representantes. Reunimo-nos mensalmente no último sábado de cada mês, no salão nobre do Sobrado dos Versiani Maurício, sede da Secretaria de Cultura, cada reunião mais importante do que a outra, com elogiável e entusiasmada. Frequência. Várias vezes por ano, fazemos lançamentos de pelo menos dois livros nossos e muitos outros de autores locais e regionais. Realizamos palestras e conferências, concedemos entrevistas, publicamos artigos e crônicas semanalmente e estamos sempre presentes no noticiário dos jornais, do rádio e da televisão. É nossa missão manter a história e o conhecimento sempre presentes, à disposição de pesquisadores, dos que gostam de leitura e principalmente dos estudantes. Conhecido e reconhecido em todos os segmentos da cultura, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros publica a sua Revista em todos os semestres, sempre com circulação nacional e internacional. Cada autor fica responsável pelo custeio do seu próprio espaço, tendo por retribuição um exemplar para cada página publicada. Até agora tudo deu certo, sem falhas e com elevado nível de aprovação, principalmente pelo bom trabalho dos coordenadores e ex-presidentes Dário Teixeira Cotrim e Itamaury Teles de Oliveira, considerados ainda o elevado nível técnico das editoras Milennium, de Montes Claros, e O Lutador, de Belo Horizonte, nossas parceiras e amigas. Estamos nos esforçando para publicar, se possível ainda em 2015, no meu último ano de presidência, antes de passar a direção do Coronel Lázaro Francisco Sena, dois livros com as biografias dos cem patronos e de todos os membros do quadro associativo. Será, sem dúvida, a grande marca para imortalizar muitos nomes dos que fizeram a nossa história e dos que sobre ela gravaram lembranças escritas ou proferidas. Nossa sede e secretaria se encontram no Centro Cultural Hermes de Paula, Praça Doutor Chaves, 32, onde estará brevemente funcionando também a Biblioteca Simeão Ribeiro Pires, acervo importantíssimo que nos doado pelos familiares do nosso patrono. (Presidente) |
Por Wanderlino Arruda - 13/1/2015 17:59:13 |
PORTINARI Wanderlino Arruda Quem Sempre me falou, com maior ternura, sobre Cândido Portinari, foi o meu amigo Henrique Tondinelli Filho, companheiro, vizinho e sócio de paixão pela pintura. Meu antípoda por nascimento, pois eu do norte e ele do sul, eu do São João, ele do São Sebastião do Paraíso, Tondinelli e eu temos sido fraternalmente admiradores da filosofia e da arte. E foi assim e por isso, que o meu amigo Tondinelli, mesmo à distância, serviu-me de cicerone em uma das minhas vilegiaturas pelo interior de São Paulo, de passagem para uma temporada gaúcha. Que lindo roteiro, iniciado por Furnas, Passos, São Sebastião ainda em M. Gerais. Depois de passar pela fronteira, não muito distante, lá estavam duas pequenas e maravilhosas cidades paulistas, as bem limpinhas e românticas Batatais e Brodósqui, terras de labor e amor do grande Portinari. Em todas as suas duas, os sinais da dedicação de um dos maiores gênios da pintura brasileira. Em Batatais, na Matriz, grande parte da sua obra religiosa; em Brodósqui, terra natal, o museu Portinari e toda aquela mística de admiração pela existência e pelo trabalho do filho ilustre. Em Brodósqui, tudo e sobretudo Portinari, um misto de encantamento e de cores, vida convivida pela saudade, tradução legítima de eternos matizes de um azul muito azul, cor do amor e do agrado de reconhecido mestre. Foi em Brodósqui o contato portinariano que me levou, mais tarde, a descobrir o que deveria ter sido descoberto há muito tempo, o que deveria ter sido natural e muito natural no roteiro de um também pintor. Por mais incrível que pareça, foi lá o meu caminho para a visita à Pampulha, em Belo Horizonte, muito pouco tempo depois, para ver e rever, agora com olhos de quem sabe ver, quadros e painéis de Portinari. Foi lá, como o foi em Batatais, o meu caminho para nova visita aos painéis do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, onde o artista criou fama. De lá, uma nova caminhada ao Museu Nacional de Belas Artes também no Rio, para nova visão sobretudo do quadro Café, aquele do verso da antiga nota de cinquenta, cheio de gordos carregadores. Por tudo isso, sou muito grato ao Henrique Tondinelli Filho, como eu, montes-clarense de coração e de trabalho, como eu, um muito apaixonado por cores e perspectivas, um ávido perscrutador de galerias, feiras e exposições de artes. Usando as mesmas escalas estruturais dos parágrafos anteriores, quando falei de cidades e de estradas, posso dizer e afirmar, que o meu caminho para Portinari passou antes pelo caminho de Tondinelli. Como ninguém ama o que não conhece, e o que os olhos não veem o coração não sente, para amar Portinari é preciso conhecê-lo, para conhecê-lo bem é necessário passar por Brodósqui. De minha parte, Deo gratia!... Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 7/1/2015 11:53:41 |
HAROLDO LÍVIO, NOSSO INTELECTUAL MAIOR Wanderlino Arruda O meu texto pessoal sobre Haroldo Lívio, que nos deixou no primeiro dia de 2015, fica para depois. Agora, as opiniões de colegas e companheiros da imprensa, que também são minhas. De Paulo Narciso: Aplicado, devotado, talentoso, o menino/jovem Haroldo Lívio, logo que se mudou para Montes Claros, entrou numa biblioteca e não saiu de lá enquanto não acabou de ler o último volume. Tornou-se, é claro, o maior sábio entre nós, uma enciclopédia permanente, para qualquer consulta, ornada de generosidade, comedimento e paciência. O nosso Sócrates, no Jardim de Academus que escolheu. Por concurso, assumiu o Cartório de Imóveis de Porteirinha e acrescentou àquela cidade os traços de seu desprendimento e de sua cultura. De Luiz Ribeiro: Escritor nato, dono de um texto incomparável, com rara capacidade de ser, ao mesmo tempo simples e erudito, Haroldo sempre foi uma espécie de biblioteca ambulante, conhecedor profundo da nossa gente e da nossa história. Aprendemos muito com ele. Pra mim, particularmente, ele sempre foi uma espécie de consultor. Em qualquer dúvida ou necessidade de alguma informação sobre fatos históricos a respeito da história de Montes Claros e do Norte de Minas, era só ligar para o Haroldo Livio que respondia com gentileza e disposição. Uma grande perda para a cultura da cidade, da região e do estado. De Alberto Senna Batista: Haroldo Lívio, historiador, escritor, cronista, jornalista. Um intelectual que enriquece mais ainda o cenário celestial. De Maria Luíza Silveira Teles: Acredito que o homem tem duas asas: a asa do conhecimento e a asa do amor, que implica, também, a ética. Entretanto, poucos de nós desenvolvem, com equilíbrio, essas duas asas. Meu amigo, Haroldo Lívio, que partiu no primeiro dia do novo ano, era um homem que soube desenvolver ambas. De José Ponciano Neto: Haroldo Lívio, era pessoa das mais educadas e inteligentes que já convivi. Sem dúvida será uma das perdas mais significativas na sociedade literária do Brasil. Era completamente despojado das vaidades, nunca visava lucro como notário e muito menos como escritor, historiador e jornalista; para ele servir era um compromisso com a sociedade e com Deus. Amizade para Haroldo Lívio era tudo, sempre destacava os amigos como: Itamaury Teles, José Luiz, Wanderlino Arruda, Paulo Narciso, Ronaldo Almeida, Petrônio Brás, Yvonne Silveira, Prof. Juvenal, Lúcio Bemquerer, Alberto e Waldir Senna e muitos outros, não fazia distinção entre eles. De Itamaury Teles de Oliveira: Atencioso, afável no trato, uma enciclopédia ambulante, seguro e preciso em suas intervenções, era a nossa referência, nosso paradigma, como articulista, cronista, historiador, escritor, um operador das letras, enfim. Com memória prodigiosa, versava sobre assuntos diversificados, com fluência e humildade, sem pompa ou circunstância. Conhecia fatos e personagens da nossa história e os relatava a quem o consultava como se tivesse acabado de reler sinopse sobre o tema. Institutos Históricos e Geograficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 2/1/2015 11:10:39 |
HAROLDO, BARÃO DE GRÃO-MOGOL Wanderlino Arruda Com imensa tristeza, na hora em que Haroldo nos deixou, republico a minha crônica sobre ele, que foi um grande amigo e notável companheiro - A história é bem normal de tudo de conformidade com os cânones do comércio de nossos dias, fruto dos princípios da oferta e da procura. Negócio de toma-lá-e-dá-cá, envolvendo naturalmente valores e moedas comuns de qualquer ato comercial. Só põe romantismo numa operação dessas quem pode vê-la com olhos de poesia, com traços românticos de filosofia literária. Em tudo, não resta dúvida, mesmo nos atos de pura barganha e interesses outros, a gente consegue dar um colorido de fantasia, bem própria dos que vivem do trato das artes de das letras. É que a verdade é bem interessante, amigos. Haroldo Lívio, cidadão brasileiro, brasilminense de nascimento, montes-clarense de coração, agora assina um atestado de amor à terra de Grão Mogol. Assina e paga. Paga com toda a força que o dinheiro põe e dispõe no mundo moderno, mesmo em se tratando de coisas antigas. Haroldo Lívio - é bom dizer logo - acaba de efetuar uma transação comercial de alto coturno na cidade de Grão Mogol. Comprou e pagou e tomou posse, com registro em Cartório, mediante todas a cláusulas, inclusive a de evicção. Haroldo Lívio, ou melhor, Doutor Haroldo Lívio de Oliveira, brasileiro, advogado, casado com a socióloga, D. Maria do Carmo, é hoje senhor de um solar antigo e sensorial na cidade de Grão Mogol. Senhor legítimo de uma antiga casa, grande e imponente, construída possivelmente por mãos escravas, de paredes de pesadas pedras, escavadas com o suor do século passado. Caso de amor à primeira vista, Haroldo embeiçou-se pela nobre vivenda e sentiu-se imediatamente na pele de um poderoso grão-proprietário, dono da segurança de uma fortaleza ao mesmo tempo urbana e histórica. Viu e gostou. Gostou e comprou. Comprou e pagou. Pagou por ser o incontestável possuidor da possuída posse. A casa de Haroldo, amigos, não é uma casa comum, que a escritura diz construída de alvenaria, de simples e perecíveis tijolos. É obra granítica, com paredes de meia braça, a sustentar janelas coloniais, portas imensas, de duas bandas, com pesadíssimas traves e ferrolhos, frutos, não só da segurança mineira como da senhorial competência de suados ferreiros de antanho. A casa de Haroldo, de telhado de aroeira lavrada a golpes de enxó por mãos competentes, tem repetidas ripas de jacarandá! As paredes das salas mais nobres são revestidas com lambris e o piso é digno das passadas de um comandante-centurião. Na frente, o arquitetônico ornato de uma resistente cimalha dá o toque do poderio e da força de uma escolha consciente do construtor e mestre-de-obras, orgulho da arte de cantaria. O fundo do nobre solar, após generoso quintal de frutos opimos, divisa com as mais cristalinas águas do rio de areias brancas, leito de pedras polidas, barrancas atapetadas de grama verdinha e capim gordura. Ao longe, mas não muito distante, o perfil elegante de centenárias árvores a formar moldura com o azul de ferrugem das serras e a linha cinzenta-celeste do horizonte. Tudo uma graça, um encanto para os olhos e um prazer para o coração... Por tudo isso, pelo amor, pelo romantismo da decisão comercial, pela poesia, pelo gosto, pela nobre humildade e pela humilde nobreza de sã consciência, prevalecendo-me não sei de que autoridade, não tenho dúvida de atribuir a Haroldo Lívio, culto e intelectual senhor das Minas Gerais, o Título de Barão de Grão-Mogol. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 30/12/2014 08:39:14 |
PROFESSOR EZEQUIEL PEREIRA Wanderlino Arruda Acho que esta crônica deveria estar sendo escrita por Haroldo Lívio. Ele a faria bem melhor, com mais sabor telúrico, uma vez que ele sente muito mais de perto a força da terra de Grão Mogol, o cheiro do amor metafísico que perpassa pelas ruas tortas e pela velha praça nominada pela placa mais bonita que já vi, a placa da Praça Professor Ezequiel Pereira, bem o no centro da velha cidade. O Professor Zeca é de Grão Mogol, município cheio de pedras escuras de verde-musgo e maduras de amarelo-dourado, lugar de águas tão claras como o cristal mais claro, árvores de um verde tão intenso que faz doer-nos a vista. Nascido lá, ali tomando contato com a natureza e com o mundo, lendo e escrevendo as primeiras letras, construiu desde menino, um felicíssimo alicerce de vida feliz. Não sei quantos anos tive de convivência com o Professor Zeca, nem posso precisar bem a época dos nossos primeiros encontros, de quando eu comecei a beber na fonte inesgotável de sua sabedoria, do manancial de erudição tão maravilhoso que ele sabia muito bem guardar e expandir envolto numa sincera e natural simplicidade. Foi o Professor Zeca um dos homens mais cultos e mais humildes que pude conhecer até hoje, cultura que a gente tinha de minerar aos poucos através de perguntas, de colocação de assuntos que pudessem provocar sua vocação de ensinar, de esclarecer. Sabendo muito, por demais preciso nos seus conceitos de ciência, filosofia, religião e linguística, parece que tinha medo, ou mesmo por excesso de amor, evitava ofuscar os que sabiam menos ou quase nada. O Professor Zeca era impecável na limpeza. Limpeza física e de coração, limpeza de ideias, de vocabulário, uma limpeza alegre, descontraída, despojada de qualquer tipo de pompa ou de orgulho. Sua presença colocava as pessoas tão à vontade como se elas estivessem numa respeitosa festa de família. Era um homem de bem, de todo o bem, tudo indica, sem qualquer defeito visível ou invisível. Os que conviveram mais tempo com ele - Olímpio Abreu, Laerte e Ney David, D. Deuslira Filpi, D. Lisbela, D. Lia Rameta, João Afonso - todos diziam nunca terem notado nele qualquer faceta negativa, por mínima que pudessem imaginar. Espírita dedicado desde os treze anos, juntamente com seu famoso irmão Cícero Pereira, Professor Zeca foi estudioso da doutrina até os 84, paciente nas anotações, consciente nos conceitos, firme e sem desfalecimento até o fim. Um erudito, obediente à codificação de Kardec, firme no escrever e no proferir palestras, mestre admirado de muitas gerações. No tempo certo, realizamos uma semana de comemorações do centenário de nascimento do Professor Zeca. Foram dias de repasse de feitos grandiosos de um homem que jamais sonhou com grandezas. Professor, coletor do Estado, chefe político, guarda-livros na antiga fábrica do Cedro, foi sempre metódico e seguro nas suas decisões. Foi um dos fundadores da Fraternidade Espírita Canacy, no início do século passado, companheiro de Aristeu de Melo Franco e de Sebastião Sobreira. O Professor Zeca não estudava só em português e não podia assim fazê-lo numa época em que muitos livros importantes não haviam sido traduzidos para nossa língua. Lia diligentemente em francês, inglês, italiano, espanhol, esperanto. Eram excelentes seus conhecimentos de grego e de latim. Um intelectual exemplar. O Professor Zeca, Ezequiel Pereira, foi sempre um homem de bem! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 15/12/2014 10:05:25 |
ENTRE LINHAS, DE BIBI RIBEIRO Wanderlino Arruda El futuro pertenece a aquellos que creen en la belleza de sus sueños" - Eleanor Roosevelt - Segundo Albert Einstein, existimos em primeiro lugar para as pessoas queridas, de cujo bem-estar depende a sua e a nossa felicidade e depois para todos os seres, nossos semelhantes, principalmente aos que conhecemos, muitas vezes ligados pelos laços da simpatia e fraternidade. Em verdade, vivemos mais para os outros do que para nós mesmos, até porque é muito difícil ser alegre quando estamos isolados, sozinhos, longe de quem gostamos e amamos. Viver em grupo, participar do coletivo será sempre viver melhor, sermos mais alegres, sentir o conforto de cada momento, fazendo da própria existência uma obra de arte. O valor das coisas - bem disse Fernando Pessoa - não está no tempo que elas duram, mas sim na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Um grande conforto espiritual ler ENTRE LINHAS, primeiro livro de Bibi Ribeiro, menina dos mais lindos quinze anos, vida em efervescente magia de ideias e de letras, inteligente e deliciosa prosa-poética, tudo coloridamente enfeitado de encantos que só a juventude sabe e pode com simplicidade construir. Um sonho, ou melhor, mais do que sonho de uma menina-moça que já tem talento para fazer inveja a muita gente grande. Texto corajoso, fluente, temperado de liberdade e decisão, uma firmeza de propósito mais que admirável. A jovem escritora tem visível domínio da língua portuguesa, frases e períodos curtos, pouca adjetivação, semântica apropriada a um bom e elevado nível de cultura. A composição é fluente, rápida, decidida, com linguagem direta para nunca se perder tempo, nem de quem escreve, nem de quem lê. Dividido em textos normalmente pequenos, uma, duas ou três páginas, excelente ilustração de Victor Dumont, traços seguros e estilo bem atuais. Tendo iniciado também a escrever nos meus bons tempos de adolescência, sempre soube que a melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade de todos, ou pelo menos para a felicidade de muitos. Nunca me esqueço de que fica sempre um pouco de perfume nas mãos de quem oferece flores. E nunca me esqueci de que a juventude é só um momento, mas com uma chama que levamos no coração para sempre. Afinal, a imaginação é mais importante que o conhecimento. Então, menina-moça Bibi Ribeiro, viva o presente e caminhe decididamente para o futuro. Seus familiares, seus colegas e seus admiradores estarão sempre aplaudindo! Ao me referir a ENTRE LINHAS, no início, como o primeiro livro de Bibi Ribeiro, filha dos meus amigos Christianne Malta e Marcus Vinicius Rodrigues, Marquinho da nossa Aquacenter, onde há dezoito anos faço hidroginástica, quero dar a minha opinião de que a menina tem talento e está destinada a um bonito sucesso na arte da escrita, pois tem um jeito encantador para a Literatura, vocação para a crônica, acredito com futuro promissor para o jornalismo. Promete muito! Wanderlino Arruda Academia Montesclarense de Letras Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 10/12/2014 16:59:23 |
ROTARY CLUBE DE MONTES CLAROS - NORTE Wanderlino Arruda A primeira vez que ouvi falar do Rotary Clube de Montes Claros-Norte foi pela voz educada e amiga de Nathércio França, acredito em março de 1969, quando ele me convidou para fazer parte da lista de fundadores. Era Nathércio o encarregado, a pedido do Governador do Distrito 452, de tomar todas as providências para a organização do quadro de associados e apresentação dos documentos, assim como do levantamento das possibilidades de serviços à comunidade pelo novo clube. Trabalho difícil, suado, mas nunca impossível para o dinamismo e a capacidade diplomática de Nathércio. A confiança nele depositada pelo Rotary International seria, muito antes do tempo previsto, marcada do maior êxito, com o clube oficializado já em maio, com as primeiras reuniões no Automóvel Clube. Foi Benoni Mota o presidente, eu o vice, provisórios. Trinta e dois foram os nomes escolhidos, representantes de quase todos os campos profissionais da cidade. Lembro-me perfeitamente do zelo com que o Nathércio França ensinava aos novos companheiros toda a trajetória de trabalho que deveríamos seguir, a forma de realizar o trabalho do Rotary, as possibilidades de uma firme prestação de serviços à comunidade. O cuidado dele em semear a boa semente era tanto, sua sincera pregação de filantropia era tão grande, que muitos dos convidados preferiram afastar-se logo, nem chegando a oficializar a admissão. O Rotary Norte teria de seguir o exemplo de energia do Rotary Montes Claros, que desde 1946 era campeão de progresso em todos os setores, decididamente um dos melhores clubes do País da década de cinquenta em diante. Estava lançado um enorme compromisso, iniciada uma entusiasmada luta. Dos velhos companheiros do tempo de recebimento da Carta Constitutiva, dos muitos que trabalharam pela afirmação do clube na primeira fase, olho hoje a relação, e pouco mais posso ver que uma imensa saudade. Quanta distância o tempo tem provocado! De uns, uma eternidade: Antônio Brant Maia, Antônio Augusto Barbosa Moura, José Carlos Pereira, Gregório Balesteros, Osmar Cunha, Hélio Vieira de Brito, José Comissário Fontes, José Gomes de Oliveira, Ricardinho Francisco Tófani, Pacífico Rodrigues, Ubirajara Leite Toledo, Oswaldo Antunes, Gasparino Bicalho, muitos há um bom tempo no Mundo Maior, deixando entre nós um incomensurável vazio. De outros, que a vida ainda nos faz companheiros, inclusive em outros Rotary Clubes, uma vontade sincera de que voltem para o nosso convívio a cada semana, a cada dia de atividades, com um recomeço de alegrias. Tenho certeza de que a felicidade de ontem seria a mesma de hoje! Em 2014, no mês de maio, o Rotary Clube de Montes Claros-Norte comemorou seus quarenta e cinco anos de atuação. Foi uma maravilhosa oportunidade de relembrar, perfilando velhas histórias de Hermes de Paula, toda a tradição rotária dos Montes Claros, o mundo de trabalho realizado pelo bom companheirismo de várias gerações. Afinal, foi exatamente aqui o local de fundação do terceiro Rotary Clube brasileiro, logo depois do Rio de Janeiro e de São Paulo, num sonho, que, sem dúvida, muito deu certo. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 3/12/2014 08:48:38 |
MONTES CLAROS DE OUTUBRO DE 1940 Wanderlino Arruda Parece até uma onda de nostalgia, mas a verdade é que os leitores mais vividos gostam de quando falamos de história, algo que diz diretamente à lembrança e aos corações. Foi por causa de uma SELEÇÕES antiga que o Nathércio França deixou para mim através de D. Nina e João Leopoldo, que comecei a escrever sobre velhos escritos, comentários de tempos de antanho, como diria o cronista Haroldo Lívio. Daí a focalizar a Revista ACAIACA de 1953, foi um passo, o que também, estou certo, agradou bastante, pois muitas foram as manifestações que recebi pessoalmente e por telefone. Quando gerente do BB em Capitão Enéas, tive a grata surpresa de ser presenteado pelo meu amigo Netinho - Jacinto Silveira Neto, ex-prefeito de Capitão Enéas - com um velho exemplar, sem capa, da REVISTA MONTES CLAROS, editada pela Gazeta do Norte, dirigida pelo ainda jovem, à época, Jair Oliveira, lá pelos idos de outubro de 1940. A capa, disse-me Netinho, tinha um bonito retrato de uma menina-moça q ue durante toda a vida foi vidrada em desfile de carnaval, Nice David. É uma gostosura ler e ver as páginas publicadas em 1940, início da Segunda Guerra, mundo de início de evolução maior, prefeito de Montes Claro o famoso Doutor Santos, engenheiros de obras Joaquim José da Costa Júnior e Newton Veloso. Uma foto que apresenta os três juntos, simplesmente mostra que, naquele flagrante, era iniciada a colocação dos primeiros meios-fios da não mui central Rua D. Pedro II, via pública ainda de poucas casas. Outra fotografia apresenta a Avenida Francisco Sá, vista do alto da Catedral, jardim ainda novo, laterais quase só de lotes vagos, lá longe a estação da Central do Brasil, sem o monumento a Francisco Sá. O que vem mais de ilustração correu por conta do jovem pintor e desenhista Godofredo Guedes, que aparece num autorretrato e muitas fotografias de moças e atletas, entre os quais José Gomes de Oliveira, já famoso desportista. Tinha na camisa, pelo lado da frente, um grande algarismo SETE. Os anúncios dividiam-se em propaganda de profissionais liberais e de firmas do comércio e da iniciante indústria. Dr. Álvaro Marcílio, Praça Dr. Carlos, 40; Dr. Hermes de Paula; Dr. Raul Peres; Praça Dr. Carlos, 110; Dr. Geraldo Athayde, advogado; Rua Presidente Vargas, 129; Dr. João Gomes Leite; Dr. José Ribeiro da Glória, dentista; Dr. Tardieu Pereira, Belo Horizonte; Francisco José Guimarães, construtor; Juventino Gomes, encarregado de obras; João de Paula era usineiro em Curvelo, com exportação em alta escala de algodão em rama; José Dayrel, representante na Rua Bocaiúva, 254. Já existiam a Agência Thais, com venda de apólices a prestação, jornais e revistas; a Farmácia Central, de Aluízio F. Pinto, com preparados químicos nacionais e importados. Outros estabelecimentos que já não existem há muito tempo: A Eclética, de Tiago Veloso; a Panificadora Montes Claros, de José Regino; o Bar Líder, na Rua Quinze; Portas de Aço Ondulado, de A. de Oliveira; Serraria Montes Claros, de Capitão Enéas; a Casa Montes Claros, de Custódio Rodrigues Pinheiro, com Waldelírio Moreira (Vavá) de contramestre. José Batista da Conceição (pai de Waldyr e Alberto Sena Batista) tinha loja na Rua Lafaiete, 684 - A Bitaca - e vênia chapéus de sol e de cabeça, louças, calçados, gêneros do país, etc. Já anunciaram também a Chuva de Ouro, de Lionel Beirão de Jesus (loterias, cigarros e charutos). Alfaiataria Delly, Casa Alves, A Imperial, Casa Luso-brasileira. Tipografia Orion, Salão da Hora, Café Glória e a própria Gazeta do Norte, que tinha papelaria. Muito grato para mim o anúncio do Bazar Loureiro, de Amândio Pais Loureiro, Rua Simeão Ribeiro (bijuterias, artigos para presente, brinquedos e camisaria), porque o Amândio e eu tornamo-nos amigos quando o conheci em Lisboa, oportunidade em que me dispensou grande hospitalidade, chegando a ponto de viajar longamente para as despedidas quando da minha volta ao Brasil. Não é bom realmente lembrarmos do passado? Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 24/11/2014 08:23:32 |
O GOSTOSO DO ROMANTISMO Wanderlino Arruda Foi com grata satisfação que recebi, num fim de semana bancário, do chefe e colega José Lúcio Gomes uma revista EU SEI TUDO, de dezembro de 1923, editada na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Papel brilhante, bem impressa, algumas páginas a cores, muitas com iluminuras que fariam a alegria visual e estalar de língua de Haroldo Lívio, como se estivéssemos diante de um prato substancial e suculento. Não sei nem posso compreender do porquê e do como o antigo produz tanta atração, fica tão emocional diante do nosso gosto de cultura, desperta tanta curiosidade ainda mais do que diante do novo e do inusitado. Seria uma propensão natural de todos nós diante da linha romântica, do dèjá-vu, do rememorar dos nossos primeiros aos de vida e até de antes deles. Uma coisa é certa: o antigo nos toca profundamente em todos os sentidos. Que coisa interessante era a revista EU SEI TUDO do primeiro quartel do século passado! De quando o Rio de Janeiro ainda era cidade pequena, embora a mais importante do país, capital da República, centro da intelectualidade brasileira, sem muitos dos efeitos da Semana da Arte Moderna realizada em São Paulo. Se você quer saber, a revista ainda escrevia Espanha com "H", districto, anedocta, somno, principaes, bellas, illusão, egreja, grammatica litterária, reugmathismo, typo, bicyclette, actriz, dansa, e avião era ainda um mysterioso aeroplano, o telephone era um estranho aparelho, cinema era cinematógrafo. Os assuntos bem curiosos eram dispostos em tópicos até agradáveis como Páginas de arte, Nossa terra, A sciência ao alcance de todos, além de Novidades e Invenções, Romances, Contos e Aventuras, Percorrendo o mundo, Para recitar e Diversos. Longe de alcançar a ordem exigida pela imprensa moderna, a EU SEI TUDO era realmente um repositório de informações como uma pe rfeita caixa de surpresas. Claro que teria muito que comentar se fosse analisar toda a revista, principalmente no tópico de ciência ao alcance de todos, onde os redatores falavam do aparecimento de um assucar luminoso de nutrição para obesos, anesthesia pela respiração rápida, e de cavalos vencedores de tuberculose, além de um aparelho electrico para frisar cabelos e de como se usavam então as sombrancelhas e como os aviões poderiam provocar chuvas. Interessantes os textos sobre as Sacerdotisas de Terpsychore, as obras de arte vivas, o substancial almoço de uma serpente, a múmia conselheira, como se fazia uma bailarina, e "os mais bellos olhos de scena muda". Como eram lindos os retratos das artistas Pola Negri, Mae Murray, Betty Wrubel e Corinne Griffty! Como eram curiosos os desmontes de ruas e mais ruas no centro do Rio na abertura da avenida Rio Branco. Tudo muito adequado para a época, mas sensacional mesmo era uma bela reportagem sobre a arte de comer nos tempos de Luiz XIII, o glutão rei da França. Os artigos, se diferentes dos nossos deste século XXI, tinham o seu maneirismo, as suas etiquetas, o bom-tom elogiado pelos cronistas da época. Tinham, como não poderia deixar de ser, a maior consideração pelos costumes à mesa, dizendo até que uma boa refeição era uma das finalidades da existência humana, assunto primordial para o ser feliz. Assim, não podiam deixar de cuidar da maneira de se comportar nessa grave circunstância da vida, fosse na casa de um rico burguês, num festim real, ou mesmo na rústica casinha de um pobre coitado. Aliás, nada melhor para ilustrar aqueles costumes do que as pinturas da época, de Abraham Basse ou de von Tillborg, também publicadas pela revista. Como não tenho espaço para grandes explanações, digo apenas que o prato principal, nos salões grã-finos, era sempre o assado de carnes e que era proibida a presença de copos sobre as toalhas. Usados, sem nunca colocá-los na mesa, eram logo devolvidos aos que cuidavam do atendimento. Tanto quanto possível, a comida deveria ser engolida a seco! Cerveja gelada - imaginamos hoje - seria coisa para outro século! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 17/11/2014 09:06:05 |
JOAQUIM SOARES DE JESUS Wanderlino Arruda Valho-me da filosofia do meu companheiro Alberto Bittencourt, Governador do Rotary em Pernambuco, para afirmar que Joaquim Soares de Jesus é, sem qualquer dúvida, uma personagem-solução, que participa, com interesse, de todos os eventos, sempre disponível, motivado, companheiro e amigo. Agindo com simplicidade, Joaquim é sempre peça importante no tabuleiro de atividades e relações no seu meio ou junto das suas muitas comunidades. Como personagem-solução, integrou - desde muito moço - as mais importantes comissões de trabalho das cidades em que morou e dos seus entornos geográficos, seja fazendo, seja ajudando a fazer. Como personagem-solução, esteve, dia e noite, interessado nos resultados sociais e culturais. Quando houve problemas, não perdeu tempo e interesse, e sempre se concentrou em resolvê-los. Grande Joaquim! Não é este Prefácio a minha primeira participação no livro MINHA HISTÓRIA, MINHA VIDA. Já nos primeiros rascunhos, nos primeiros gestos de alinhavar escritos, Joaquim procurou ouvir os conselhos deste seu amigo, pelos muitos anos mais vividos, um pouco mais de experiência. Talvez mais do que isto, por ser mais do que conterrâneos nas andanças, nos estudos e no trabalho por este Norte de Minas, além das participações em múltiplas instituições que moldaram e ainda moldam nosso caráter. Acredito que nunca faltei com o incentivo e o louvor para que fosse materializado o seu sonho e o seu desejo, formadores de exemplo e cidadania. Juntos no ontem, junto no hoje, espero ainda muito mais juntos no amanhã. Se pudéssemos ter ainda mais consciência do quanto nossa romagem terrena é passageira, talvez pensássemos mais um pouco antes de postergarmos oportunidades de sermos mais felizes e de fazermos outras pessoas tão felizes como nós, ou ainda muito mais. Queiramos ou não, sentimos saudade de certos momentos da nossa vida e de certos momentos de muitas pessoas que passaram por ela. A verdade é que, a longo prazo, moldamos nossas vidas e moldamos a nós mesmos em processos que nunca terminam. Creio até que é por isso que nunca devemos aprisionar nossos dons, nossos modos de ser, pois pequenos ou grandes sempre são válidos para outras pessoas que nos fazem de espelhos. Alguém em algum lugar tem fome de seguir bons exemplos. Desculpe-me o leitor, mas é preciso dizer que até humildade tem que ter limites. Que não fiquem escondidos nem os pequenos nem os grandes amores, nem as pequenas nem as grandes amizades. Foi Madre Tereza de Calcutá que disse: "Não pense que o amor, p ara ser genuíno, tenha que ser extraordinário. O que é preciso é amarmos sem nos cansarmos de fazê-lo". Foi Vinicius de Morais que escreveu: "Eu poderia suportar, embora não sem dor que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos". Espero que o livro MINHA HISTÓRIA, MINHA VIDA seja um alento de entusiasmo e de muito interesse para todos que o lerem. Um perfeito exemplo de grandeza para a vida do aprender e do trabalhar, para fixar boas razões do quanto vale a prática do bem em todas as etapas desta viagem que Deus nos concede realizar por aqui. Como ninguém pode exigir amor de ninguém, podemos apenas dar boas razões para que gostem de nós. Sejam constantes, pois, as nossas ações para melhorar o mundo e as pessoas, pois embora pequenos, somos parte importante da criação. Assim, nada mais importante do que a solidariedade. Chico Xavier nos ensinou que o Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros. Daí o sucesso de Joaquim! Parabéns, querido Amigo e Irmão Joaquim Soares de Jesus. O seu livro marcará época, servirá de exemplo, constituirá leitura proveitosa e agradável. Alegrará os seus filhos e netos, alegrará muito e muito os seus admiradores, os que acompanham você em muitas etapas da sua vida. Artista principal da peça, esteja certo que nunca estará sozinho no palco, pois seus exemplos foram sempre dignos de acompanhamento. E quem não estiver no alto, no meio do cenário, estará num entusiástico auditório, de pé e à ordem para sempre aplaudi-lo. Você nos ensina a olhar para fora e sonharmos, e a olharmos para dentro e despertarmo-nos. Você é personagem perfeita do que escreveu Fernando Pessoa, os supra Camões da Língua Portuguesa: "O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis" Que o Grande Arquiteto do Universo o proteja muito, nos proteja sempre! Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 10/11/2014 08:27:12 |
FAFIL, MAIS DE MEIO SÉCULO Wanderlino Arruda Creio que o grande laboratório de ideias a usina dos sonhos tenha sido mesmo as salas de aulas da Universidade Federal de Minas Gerais, onde moças montes-clarenses terminavam diferentes cursos, tão distantes uns dos outros que iam da História à Pedagogia, das Letras à Matemática, da Geografia às Ciências Sociais. Diplomatas, portadoras de muito saber e incentivo de antigos professores da capital, Isabel Rebelo de Paula, as irmãs Baby e Mary Figueiredo, Sônia Quadros Lopes, Florinda Ramos Marques, Dalva Santiago de Paula, ansiosamente, se uniram a outros idealistas, e o resultado foi o nascimento da Fafil - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas aqui em Montes Claros. Verdade é que não houve oposição ao seu trabalho e até não faltou crédito ou aquele sempre necessário voto de confiança. Todo mundo acreditou nelas, com o Colégio Imaculada Conceição cedendo espaço físico e moral, a Fundação Educacional Luiz de Paula fornecendo recursos e entusiasmo, professores como Jorge Ponciano Ribeiro, dando logo a sua quota de serviços. Foi uma beleza o começo, um sucesso o primeiro cursinho de Montes Claros. Lembro-me bem, da primeira aula de francês que tivemos com a professora Baby Figueiredo, com texto solto, impresso fora de livro, uma novidade! Lembro-me do Adélia Miranda elaborando, como secretária, os primeiros relatórios, apertando os primeiros alunos retardatários para não atrasarem no pagamento das mensalidades ou início das aulas. Era uma experiência interessantíssima com passagens de se emocionar! Era tanta sabedoria nova, um conhecimento tão organizado, uma perspectiva de aprendizagem tão grande, que problemas apareciam a toda hora, todos querendo aproveitar de tudo, sorver de vez todo um alimento que por não existir antes, estava sendo negado a quem muito o desejava. Acontecia então o troca-troca de salas, uma espécie de mineração de assuntos, um descobrir quem era o melhor professor um abeberar de toda uma nova filosofia de vida. Não posso contar tudo sobre as aulas de nossos cursos, nos primeiros dias do semestre, porque os acontecimentos vinham aos borbotões, quase sufocando a curiosidade, até confundindo as cabeças. Era como se fosse um vasto ciclo de conferências de palestras, um eterno comício. Hamilton Lopes, calouro, ensaiava os primeiros passos da política estudantil, João Valle Maurício, José Nunes Mourão, Hélio Vale Moreira, Mauro Machado Borges, alunos mais vividos, mostravam uma compenetração pouco natural de estudantes. Yvonne Silveira, esta numa santa vaidade de literata, se desmanchava em sorrisos e sutilezas numa alegria quase infantil. Tudo foi uma longa festa intelectual, uma corrida de muita sede à fonte, todos considerando um grande privilégio, uma oportunidade a mais de vencer na vida, em campos profissionais já longamente seguidos. Pela primeira vez, vimos professorinhas ensinando para ver elenco de construtores do futuro! Olhado de longe, cinquenta e um anos depois, quase uma loucura. Mas que maravilhosa loucura! Que o diga Isabel Rebelo de Paula, a primeira diretora. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 3/11/2014 09:41:41 |
OUTRAS VEZES EM LISBOA Wanderlino Arruda Nova crônica sobre a viagem a Portugal com a mesma alegria de quase meio século atrás, tudo mais do que gratificante. Agora como dantes, as palavras de carinho recebidas em casa, nas reuniões, nas visitas feitas e recebidas, de muitos e muitos dos amigos. Quando um assunto versa sobre alguma coisa de mais pessoal, fala mais ao coração, transubstancia sentimentos, vale pela carga ou sobrecarga de afetividade, diz o que muitos ou todos gostariam de dizer. Momentos de felicidade agradam e sensibilizam, graças a Deus! E o mundo está precisando muito de vibrações mais positivas, de alegria, de amizade sincera e franca. Assim, dou-me por satisfeito e volto ao assunto, o que estava mesmo nos meus planos ao falar das novas andanças pela pátria-mãe. É possível que a parte maior da felicidade em Lisboa e grande parte de Portugal tenha sido pela companhia de dos queridos anfitriões Eusa Rego e Antônio Salgado e de Olímpia, Rízzia, Jonathan e Andrew, gente do coração, companheiros de viagem, que engrandecem o ato de viver. Nunca me esqueço da primeira viagem por lá, principalmente de Dulce Sarmento e Antônio Ramos, hoje amigos no plano das saudades. Que bons colegas e quanta jovial sinceridade naqueles dois! Como amavam a vida! Fazia gosto vê-los quedados diante da beleza, emudecidos de emoção diante do bem. Antônio Ramos era homem de conhecer o que havia de melhor no mundo e por isso, era viajante incansável ao lado de D. Flora, sua mulher. Dulce Sarmento, a arte personificada, uma fé que beirava à santidade, tinha na balança do belo a leveza dos anjos! Foi assim, no passado e agora, no meio de grupos admiráveis que vi Lisboa, Sintra, Cascais, Coimbra, Setúbal, Alcobaça, Almada, Fátima, Queluz, Santarém, Batalha, cidades que mais encantam os brasileiros e conosco se encantam também. Não posso calcular em quanto a modernidade política tenha modificado a capital e o povo da nação portuguesa, depois da descolonização da África da volta dos retornados e do surto econômico da União Europeia. Mas, por mais que tudo isso tenha feito, acredito que Portugal ainda é um país tradicional, bonito e charmoso para nunca se esquecer! Por lá, passei também duas vezes sozinho, solitário, ruminando emoções no Castelo de São João, nas ruas estreitas de Afama, nas margens do Tejo, na Estufa Fria, às margens da Avenida da Liberdade e até no barulho das Praças do Comércio e dos Restauradores. É preciso tempo e coração para descobrir, conhecer Lisboa, eterna menina e moça, linda e encantadora. Como é gostoso ouvir os falares do povo, principalmente os mais novos, os que, namorando, falam com a melodia do amor! Como é bonito o idioma português falado nas tascas, onde os bebedores ainda não bêbados soltam a língua com a musicalidade que só os libertos pelo torpor do vinho conseguem! Tudo é bonito quando estamos felizes: o barulho das crianças, o anúncio dos vendedores, a algazarra dos desocupados! Sons, cores, movimentos, gestos, tudo é alegria! É preciso saber viver cada momento, tirar da vida os encantos que a vida tem, agradecer a Deus cada minuto bom que a existência nos oferece, nos proporciona, nos permite. Merecedores ou não, é gratificante aproveitarmos, fruirmos cada instante feliz. Não importa onde nem quando. E se for em Portugal ou somente a Lisboa, então nem é preciso pensar: a realidade é mais do que o sonho... Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 27/10/2014 08:19:24 |
OS SONHOS DE JÚLIO VERNE Wanderlino Arruda Os sonhos de Júlio Verne, tão lindamente vividos no fim do século dezenove, transformaram-se tão grandemente em realidade, em nosso tempo, que hoje, o escritor francês quase não é lido nem por jovens nem por adultos. Concretizada uma ideia, atendida a capacidade criativa, satisfeita a curiosidade, parte o indivíduo para novos sonhos, novas tentativas de ilusão. A inteligência e a arte são sempre muito exigentes, dinâmicas por excelência, nunca se estacionando. E é disso que é feito o progresso humano, que não pode parar, pois tudo viraria rotina insuportável, inconcebível para a nossa tendência evolutiva sempre para cima e para o melhor. Viver é sonhar e realizar os sonhos! Júlio Verne foi o grande idealizador das coisas do futuro, criador do preceito de que "tudo que um homem pode sonhar outro pode realizar". Concebeu a televisão antes de ser inventado o rádio, chamando-o de fonotelefoto, isto é, um aparelho que pudesse falar e mostrar imagens à distância. Imaginou o helicóptero meio século antes de o homem aprender a voar. Apresentou planos para a construção de submarinos, aeroplanos, luzes de gás néon, calçadas e escadas rolantes, ar condicionado, arranha-céus, mísseis dirigíveis, tanques de guerra, alimentação comprimida, produção de oxigênio, deslocamento de corpos no vácuo, um verdadeiro mundo de invenções. Sem dúvida alguma, o pai da ficção científica, um antecipador de realidades, um vidente, um intuitivo. Tive um dia a sensação de estar vivendo ao lado de Júlio Verne, de beber na fonte mais pura da água de sua vida, de sua sensibilidade científica e literária. Foi uma dessas interpretações confusas que todo mortal costuma fazer, principalmente os distraídos e viajantes do mundo da lua, uma espécie assim de insight desfocado nos segundos de um oportunismo curioso. Vagando nas proximidades do Louvre, em Paris, lá pelos idos de 1966, li uma faixa de propaganda "Júlio Verne - hoje e amanhã ", e entendi que se eu não aproveitasse na hora a oportunidade, perderia de ver uma exposição já quase prestes a terminar, isto é, no dia seguinte, que por sinal seria o de minha volta ao Brasil. Não pensei duas vezes e entrei, posso dizer, praticamente no automático. Era uma exposição feita pela Fiat italiana, de uma forma extraordinária, com projetos, desenhos, aparelhos, máquinas de calcular, toda a parafernália de suporte que o escritor francês usou para idealizar seus inventos. Na da havia, porém, de marca de final da mostra quase científica. Tudo estava fresquinho, pois era a abertura ao público naquele mesmo dia. O "Hoje e Amanhã " era com relação ao presente e ao futuro de Júlio Verne e do seu melhor modo de sonhar... Poucas vezes na vida tive tão grande sensação de enormidade da inteligência de um inventor, de um cérebro criativo capaz de vencer todas as barreiras da imaginação. Poucas vezes, antes e depois, pude formular intimamente uma admiração sem limites ao otimismo, à confiança no destino lógico, à crença de um mundo melhor digno do esforço da ciência e da poesia. Para mim, Júlio Verne, naquele momento, era a síntese da fé que Deus sempre depositou no homem, no seu futuro, na sua trajetória evolutiva de criatura da inteligência divina. Júlio Verne estava ali, através de toda uma ação vivencial, de todos um universo de pesquisas, simplesmente sonhando o possível, o provável, a destinação histórica da inventiva humana. Momento inconfundível de respeito ao raciocínio livre, da valorização ao direito de pensar e de sentir... Não seria bom que voltássemos de novo, à leitura de todos os escritores de ficção, à busca de compreensão de todos os inventores do futuro? Só a realidade presente não satisfaz! Vale, vale muito a beleza e a riqueza dos sonhos! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 14/10/2014 08:14:09 |
NOMES DE CIDADES Wanderlino Arruda Há algum tempo, Avay Miranda, companheiro da Academia Montesclarense de Letras, ao publicar seu primeiro livro, fez como acréscimo a inclusão de uma monografia explicativa sobre a história e o nome da cidade de Taiobeiras. Isso porque muita gente fica curiosa diante das denominações, entre o bonito e o extravagante que usamos para indicações histórico-geográficas. Também o saudoso Wilson Cunha fez toda uma campanha plebiscitária para mudar o nome de Porteirinha, em busca de um mais charmoso, evitando ação de trocadilhistas que teimavam trocar o "t" por um "q", coisa tão dolorosa para porteirinhenses famosos como Palmyra Oliveira e Itamaury Teles. Se outros escritores ou outros prefeitos também ficarem preocupados com os toponímicos de suas cidades, acredito que as listagens geográficas deste Brasil ficariam todas de instalações trocadas, tal a variedade de nomes interessantes e gozados da nossa nomenclatura patrícia, em todos os estados da nação brasileira. São nomes interessantíssimos, alguns até tendo radicais ou sílabas bem próximos ao nome de Montes Claros, como Girau de Ponciano (AL), Bituruna (PR) e Tomar do Giru (SE), Carmo do Rio Claro e Rio Claro (SP), Monte Carmelo, Monte Verde e Mato Verde (MG), Claro de Poções aqui pertinho, assim como Monte Claro, em Goiás. Com adjetivação quase como a nossa, existem Céu Azul (PR), Auriflama (SP), Espera Feliz (MG), Lagoa Dourada (MG), Monte Santo (BA). Veja que gostosura estas denominações: Brejo da Madre-de-Deus (PE), Governador Dix-Sept Rosado (RN), Oliveira dos Brejinhos (BA), Querência do Norte (PR), Catolé do Rocha (PB), Cruz das Almas (BA), Conceição do Coité (BA), Livramento de N. Senhora (BA), Meleiro (SC), Olho d`água das Cunhas (MA), Oriximiná (PA), Riachão de Jacuípe (BA), Limoeiro de Anadia (AL), Jardim de Seridó (RN), Ilha Solteira (SP), Itaquacetuba (SP), Paragominas (PA), Fronteira de três estados e Chapada dos Guimarães (MT), centro geográfico da América do Sul. Há cidades com nomes bíblicos como Belém (PA), Cafarnaum (BA), Galileia (MG), Monte Sião (MG). Há cidades com nomes estranhos como Exu (PE), Encruzilhada (RS), Cururupu (MA), Pindamonhangaba (SP), Quixeramobim (CE), Orobó (PE), Pariquera Açu (PA), Piaçabuçu (AL), Perquirituba (PB), Porciúncula (RJ). Há Quebrângulo (AL), terra de Graciliano Ramos, Buerarema (BA), quase harmônima antiga de Capitão Enéas, Pomerode (SC), onde quase só se fala o italiano, e nas horas vagas o alemão. O mais engraçado é o de Não-me-toque (RS), o mais bonito, Encantado (RS), assim como o de Bela Vista do Paraíso (PR). Estranho é Afogados da Ingazeira (PE). Lindo o de Saudades (SC). Um capítulo à parte são as cidades com nomes de santos e de santas, ou ligação com eles. Santa Cecília do Pavão (PR), Santa Cruz de Monte Castelo (PE), Santa Rita do Passa Quatro (MG), Santana do Cariri (CE), São Domingos do Capim (PA), São Gonçalo do Amarante, (RN e CE), São João do Oriente (MG), São Sebastião do Grama (SP), São Valentim (RS), Santo Antônio da Patrulha (RS), São Gabriel de Cachoeiro (AM), três de São José do Cerrito (SC), do Mipubu (RN), de Piranhas (PB), além de um São José dos Quatro Marcos (MT). Há muitos outros, muitos e muitos, mas - para terminar - porque o espaço está acabando, as cidades de Passa Tempo (MG), Curimatá (PI), São Desidério (BA) e uma triste Janiópolis, em São Paulo. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 6/10/2014 15:14:09 |
O BODE DE FELISBERTO Wanderlino Arruda A estória do bode desta crônica aconteceu na pequena São Gonçalo do Rio Preto (exatamente o lugar que tinha antes, o nome do meu amigo Felisberto Caldeira), lá pertinho de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. É a estória de um bode de boa raça, escolhido a dedo, comprado caro e ficou famoso por acontecimentos que eu conto, da mesma forma que ouvi e entendi de colegas do Fundec, uma da maravilha do Banco do Brasil. Nada tiro, nada acrescento, pois, não quero ganhar ou perder. Vai tudo pelo preço de custo! Começou tudo durante a etapa de estudos de um projeto de caprinocultura, quando os fundequeiros tiveram, parece, o maior entusiasmo do mundo, diante de uma população realmente motivada. Estava toda a gente à espera de um milagre; já que o Fundec é um transformador de pobreza e miséria em filão de ouro da área social, unindo pessoas isoladas em povo organizado. Algo como o Banco do Brasil construindo uma nova sociedade, a exemplo do que sempre fez desde os tempos de D. João VI. Feitos os planos, o povo proclamou que queria uma bodicultura comunitária, muitas e muitas cabras num rebanho de bode chefe da melhor raça, para fazer inveja até ás regiões ricas. A palavra de ordem era a melhor e a ampliação imediata do lote caprino, com Fundec em máximo de discussões, que democracia é bom e todo mundo gosta. Tudo resolvido, dinheiro nas contas, centenas de cabras já nos capris, a luta desliza para as expectativas da chegada do bode, cada capricultor pensando num bodão mais raçudo, mais bonito e mais forte. Não se falava noutra coisa, nem de dia, nem de noite. A palavra chave era BODE. E do melhor! Todo mundo alvoroçado, aquele mundão de cabras e mais cabras, e nada de o bode chegar. Onde estaria o grande reprodutor para fazer urgentemente crescer o rebanho? "Queremos o nosso bode" - diziam todos. "Queremos o nosso bode" - deviam estar também dizendo todas as cabras. De quem era o maior interesse? Do povo ou das cabras solteiras? Grande esperança. Um danando frenesi! Era setembro, quando o bode chegou. Bonitão, grandão, tudo indicava um bodão macho, machão, aquele monstro de fazer inveja a expositor rico. Chegaram também com ele as festas. Chegaram as horárias na praça principal, com até discursos. Todos queriam vê-lo, uma admiração sem igual. Tudo indicava ser um grande reprodutor. Mas como seria ele na hora do serviço, quando tivesse de assinar o ponto? E o tempo foi passando em brancas nuvens. Passaram manhãs, passaram tardes. Lá se foram dias e semanas. Mas, em lugar, de entusiasmo, do interesse, do orgulho local e regional, só apareceu desilusão. Para dizer a verdade, o bodão não queria nada. Nada mesmo! Vivia na mais indiferente solidão, recuado, cabras roçando nele, cabras cheirando, cabras lambendo, cabras fazendo mé-mé, e nada! Um desencanto! Uma terrível falha de desempenho, nada de esquentar o motor nem um tênue desejo de ver bodinho novo nascendo. Terrível situação, tristeza dos donos, tristeza do FUNDEC, tristeza mai s ainda das cabras. Principalmente delas! Estava, é claro, em jogo o brio da comunidade. E o grito de guerra já era por nova aquisição. Ou por um remanejamento honroso. "Vamos trocar esse molenga". "Vamos comprar um bode de verdade". "Esse bicho não vale é nada". Que lástima. Porém - e sempre existe um porém - o desespero não seria eterno. Eis que tudo se transforma, e nada se perde. Uma notícia corre tão depressa como um furacão. Há no ar um alvoroço, uma alegria sem medida, sorrisos com todos os dentes. Afinal, todas, todas as cabras apareceram prenhas, mais nenhuma solteira ou desamparada. Um sucesso! O único problema é que até hoje ninguém sabe quando o bode mudou. Ninguém soube, ninguém viu. As cabras eram todas mineiras: trabalharam com bodão em silêncio... Academia Montesclarense de Letras |
Por Wanderlino Arruda - 29/9/2014 08:20:06 |
QUANDO CHIQUINHO SUMIU Wanderlino Arruda No dia de novembro em que Chiquinho sumiu eu não estava em Brasília. Viajara semanas antes e nem vira o bichinho nem na chegada nem na saída numa permanência de muito tempo. Hospedado no St. Paul Hotel, nem uma vez fui à 703 Sul, não sei se por comodismo ou ingratidão, embora lá estivessem muitos dos meus colegas e amigos e também o Chiquinho. Foi uma pena. Agora que o Chiquinho desapareceu é que eu vejo a perda, a dor de uma ausência mesmo não deliberada. Perto de lá, passei apenas duas vezes: uma à noite, indo à casa do Nelson Pereira de Souza, presidente brasileiro do Esperanto, e outra, numa manhã de domingo, num passeio circular pela cidade para uma visita à Walkíria e Nabiran. Mas à casa da Concessa e do Chiquinho, eu não fui. Soube do sumiço do Chiquinho por notícia do colega Geraldo Eustáquio, que lá ficou hospedado durante um mês por sugestão minha. Ele contou-me do choro da Concessa, da angústia dos hóspedes, da tristeza da Neide, da sensação de perda de todos, na hora do café, na hora do jantar, e, principalmente, na hora da televisão, quando era mais firme a lembrança do Chiquinho deitado na almofada de fina seda, entusiasmado com os programas da Globo da viúva Porcina. Eustáquio contou-me ainda que a Concessa ficou intolerável, nervosa, cheia de queixume, longe da gentileza normal de que ela é a maior portadora do mundo. Acabou até a alegria da casa e houve até reclamações! Também triste, mesmo longo do epicentro da tragédia, não aguento ficar sozinho com a notícia, e telefono incontinenti para o Recife e falo do acontecimento com o meu grande amigo Tiago Marcos, ainda mais amigo da Concessa do que eu, pois quase conterrâneo, ela do Rio Grande do Norte, ele de Jaboatão, em Pernambuco. Tiago diz-me que nem pode acreditar, deve haver um engano, o Chiquinho deve estar esperando a hora de voltar! Falo-lhe do desespero da Concessa, de que fui informado, e ele me promete que logo estaremos em Brasília para ajudar a amiga. Se eu quiser, posso até esperá-lo no Aeroporto, no domingo, à tardinha. Vamos chegar juntos à 703, Bloco J, como já fizemos de outras vezes em que trabalhamos em tarefas de treinamento de colegas do Banco do Brasil. Tiago sempre foi um dos maiores admiradores de Chiquinho, e com ele sabia até conversar... Quando telefono para Concessa para confirmar a reserva do apartamento em que vou ficar, e apresentar os meus sentimentos pela ausência do Chiquinho, ela me diz que o Tiago já chamara para ela e dera conta dos dois recados, para ele a para mim. A presença telefônica dos dois amigos, parece, minorara um pouco o seu sofrimento e só Deus sabe quanto é importante a solidariedade! Narrou todos os acontecimentos, dizendo que, no dia do desaparecimento do Chiquinho, ela e muita gente vasculharam com malha fina nada menos de nove quadras, da 903 até a 505. Mais fizera se não fora para tão longo amor tão curto o dia! Não vejo a hora de telefonar para dar a notícia ao Jorge, ao Kalunga e ao Moacir, no Rio Grande do Sul, à Ivone, à Mitsu, ao Hiroshi, em São Paulo; ao Geraldo, em Teófilo Otoni, e, quem sabe, a mais alguém neste grande Brasil que do Chiquinho sempre gostara. Esqueci-me de dizer que Chiquinho é - ou era - o gato mais querido da minha amiga Concessa! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 22/9/2014 08:37:25 |
JOÃO CHAVES Wanderlino Arruda Não acredito que alguém tenha conhecido João Chaves para mais cedo ou mais tarde vir a esquece-lo. João Chaves não era um homem comum, desses que passam despercebidos num dia de feira no mercado, numa passagem pela rua, ou mesmo no longo espaço da vida. Não nasceu ou viveu para permanecer oculto ou não observado hora nenhuma. Não tinha vocação de anonimato nem o sensabor das existências simples. Mesmo não querendo impor-se, parecer, muitas vezes até com certa dose de timidez, não tinha como deixar de ser o centro das atenções em qualquer lugar onde estivesse. Tinha figura, tinha voz, tinha um quê de dureza e de poesia mescladas por um temperamento quase irônico e sagaz. Era uma pessoa constante e sempre presente. Conheci-o, ele já na casa dos sessenta, sentado próximo ao balcão da farmácia de Mário Veloso, numa roda de amigos, ali mesmo na esquina das ruas Padre Augusto e Camilo Prates, onde o bate-papo ia do político e do literário até o familiar. Não eram, como se podia ver, reuniões tão simples em que um ou outro freguês afoito ou intrometido pudesse entrar, procurar um dedo de prosa ou dar uma informação... Era um verdadeiro encontro de barões, gente bem posta na vida, intelectuais, comerciantes de prestígio, profissionais liberais, fazendeiros de muitas leituras, e gente nova ninguém. Mulheres, só de "boas tardes" e "bons dias", "recomendações à família", quando muito... Círculo fechado, só de notícias importantes, assuntos graves, ideias reverenciadas com o domínio do perfeito saber... Vi João Chaves muitas vezes quando ele, mais popular, sentava-se com outros amigos nos bancos da praça Doutor Carlos, em frente à Farmácia Americana ou da loja de Cica Peres, bem embaixo dos flamboyants. Era quando a prosa, os sorrisos ou mesmo os gracejos sobre assuntos do cotidiano nunca impediam que olhares discretos pousassem nas belezas virgens de muitas estudantes que por ali passavam, indo ou vindo dos colégios, ou subindo para o Instituto. De quebra, ainda havia o eterno feminino de belas senhoras das compras na Imperial, na Casa Alves, nas Pernambucanas, para quem olhares furtivos, de soslaio admiração, jamais poderiam faltar. Eram horas de alegrias na vida de João Chaves e de seus amigos. Mas, de todas as lembranças que tenho de João Chaves, a mais marcante é a do homem estudioso do Direito, do devorador dos códigos, do jurista brilhante, terror dos adversários forenses. Encontrei-o várias vezes rodeado de livros, grossos volumes encadernados e velhos pelo manuseio, arrumados, atirados de lado, abertos nas mesas, nas cadeiras e até nos pés da cama ou do lado do travesseiro. Sua biblioteca era a casa inteira da sala de visitas ao quarto de dormir. Colega de Lola, na Fafil, via João Chaves nem sempre com cara de amigo, mas com discreta atenção, homem educado que era. Deve ter morrido num momento de atenciosa leitura, mesmo que não tivesse um livro diante das vistas. Foi sempre um intelectual consciente. Um momento gratificante na vida de Montes Claros. Um tipo inesquecível, como se personagem de uma velha Seleções do Reader`s Digest! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 16/9/2014 09:10:57 |
HÁ CEM ANOS, NASCEU YVONNE SILVEIRA Wanderlino Arruda Yvonne de Oliveira Silveira nasceu em Montes Claros em 30 de dezembro de 1914. Filha de Cândida Peres e do farmacêutico, intelectual e rotariano Antônio Ferreira de Oliveira. Graduada em Letras pela antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, tem pós-graduação em Teoria Literária pela Universidade Católica de Minas Gerais. Regente de classe e professora de Educação Física por dez anos, casou-se com o fazendeiro Olyntho Alves da Silveira, poeta, cronista, escritor e historiador. Dedicada às letras desde a adolescência, Yvonne sempre colaborou com os jornais de Montes Claros e de Belo Horizonte, publicando excelentes textos. Participou de várias e importantes antologias. Escreveu vários livros. Em parceria com o marido, BREJO DAS ALMAS-CRÔNICAS E HISTÓRIAS; em parceria com Zezé Colares, MONTES CLAROS DE ONTEM E DE HOJE e FOLCLORE PARA CRIANÇAS. Além destas parcerias, Yvonne escreveu CANTAR DE AMIGA e MONTES CLAROS - CRÔNICAS, este organizado por Osmar Pereira Oliva, Editora Unimontes. Tem ativa participação na Comissão Mineira de Folclore. Eleita presidente da Academia Montesclarense de Letras há 29 anos, continua no cargo, segundo ela mesma, vitalício. Foi fundadora da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e participa do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco. Foi fundadora e primeira presidente da Associação Amigas da Cultura. É sócia honorária do Rotary Clube de Montes Claros-Sul e do Elos Clube de Montes Claros. Professora emérita da Unimontes -Universidade Estadual de Montes Claros. Inteligente, estudiosa, muito prestativa, sempre atendeu a pedidos de colegas e amigos para revisão e prefácios de livros. Aluna do Conservatório Estadual de Música Lorenzo, foi-lhe concedido o título de Honra ao Mérito pela grande e continuada contribuição. O Curso de Letras feito por Yvonne, o primeiro em nível superior em Montes Claros, início no Colégio Imaculada Conceição, em 1963, teve matrícula de 52 e formatura de somente sete: Yvonne, Saturnino, Hugo, Adilson, Lola, Irmã Guiomar e Wanderlino. Quando o terminamos em 1967, para sermos professores universitários em nossa própria escola, Yvonne e eu tivemos de seguir para a pós-graduação na Universidade Católica de Minas Gerais, ela na especialização em Teoria da Literatura, eu em Linguística Geral, isso além de termos de prestar exames de suficiência, ela na Universidade Federal em Belo Horizonte, eu na Federal de Juiz de Fora, porque o registro da Fafil iria demandar ainda algum tempo. Já com muita prática no ensino de Português e de Literatura, fomos na área os primeiros a preparar futuros alunos e candidatos ao vestibular. Daí, da cátedra e da titularidade de professores, vivemos entre importantes gerações de estudantes que, hoje, marcam o jornalismo, a vida soc ial, a batalha política e cultural em várias partes deste Brasil. Como sua estreia no magistério foi aos doze anos, Yvonne teve multiplicadas oportunidades para despertar vocações, quase um século de benfazeja prestação de serviços à cultura. Fico encantado quando um aluno de Yvonne marca lembranças de suas aulas, principalmente por recordar cada minuto do entusiasmo dela, principalmente das muitas palavras de incentivo à leitura e à escrita. Na sublime idade de cem anos a que chegou, está presente em todas as solenidades e outros atos a que é convidada, sempre no centro da mesa de honra. Yvonne de Oliveira Silveira é Cidadã Benemérita de Montes Claros desde em 1985. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 8/9/2014 11:15:43 |
MEU AMIGO DUCHO Wanderlino Arruda Poderia demorar o tempo que demorasse, mas a esta crônica, depois de longo período de ausência, teria de ser publicada. Escrevo sobre o meu amigo Ducho, pai de Glacira e Thaís, de Lúcia e Fátima, de Tarcísio e Expedito, de Tiãozinho e Raimundo, pai de Miguel e marido de Dona Geralda. Claro que esta crônica era para ser escrita, há muito tempo, por ocasião das homenagens que lhe foram prestadas por alunos e professores do Conservatório Lorenzo Fernandez. Deveria fazer parte do momento vivo de amor e admiração, na festa cantada em prosa e verso numa noite de maior alegria para os amigos de Sebastião Ducho, mestre da arte de ser feliz. Passado o momento, não passou a ocasião. Eis-me aqui falando dele. Realmente, para falar de Ducho não precisa de pressa. Ele foi o homem de calma constante, de boa disposição íntima, de alegria bem comportada, de sorriso sério, um desfilar vivencial de completa felicidade. Homem lúcido, realista, racional e equilibradamente místico, foi um filósofo elegante e de bom trato, sempre portador de uma palavra amiga, sem qualquer sina de ostentação. Ducho foi um homem, sobretudo, interessante, sóbrio e limpo, parece estar sempre saindo do banho; amigo de todos. Era equidistante, não se apegava nem se afastava de ninguém; um quase silencioso e respeitado companheiro, pois falava comedido como um velho marinheiro, voz suave de um vitorioso embaixador. Não creio que Ducho guardasse no coração qualquer traço de ressentimento; pois seu olhar sempre foi de completa paz, um misto de Sócrates e de Gandhi, parece conhecedor dos mistérios de Eleusis, um tipo de viajante feliz do Nirvana, com passagem pela Terra. Falando com Ducho, certa vez, sobre religião, perscrutando profundamente seu pensamento, perguntei-lhe sobre seu conhecimento espírita e até aonde ia sua convicção nos postulados da codificação de Kardec, tal sua harmonia de ideias, um tanto de Buda e muito Krishnamurti. Ele sorriu com o mais amistoso dos sorrisos e, sem qualquer atitude crítica, disse-me que era um fiel respeitador de todas as opiniões religiosas, mas que, por questão até de lógica, procurava situar-se sempre acima delas, jamais as tocando diretamente. Para se viver bem com todas, respeitava-as e aproveitava de cada uma o melhor. Era preciso sobre pairar do alto, não se envolver não tomar partido, ler de tudo, e retirar a essência como aconselhou o sábio divulgador do cristianismo, Paulo de Tarso. Aí está o segredo obtido das suas observações e de muita leitura, sempre foi homem de fé, trilhando os múltiplos caminhos que nos conduzem a Deus. Para Ducho, o purgatório, que o homem quase sempre construiu, poderia ser transformado em céu, se o estado geral das consciências fosse melhor, se houvesse menos ambição, menos pressa, esse eterno jogo em busca do poder e da riqueza. Cada criatura deve legislar o próprio bem com a busca do equilíbrio, da tolerância, confiando na sabedoria divina, cuidando de não se ferir e não ofender os companheiros de romagem da vida. A felicidade pode ser encontrada, e ele sempre a encontrou. Afinal se não fosse assim, como teria estado diante dos seus milhares de amigos?... Vivendo os bons noventa anos, saúde perfeita, prática diária de longas caminhadas, Ducho, comerciante e artista, intelectual e exemplo de companheirismo, foi o melhor exemplo de companheirismo, o melhor exemplo vivo da soberania e da sóbria distinção do sertanejo dos Montes Claros. Um maravilhoso exemplo, que a própria vida agradece e aplaude! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 3/9/2014 08:41:23 |
MEDITAÇÃO Wanderlino Arruda É sempre possível termos, durante o dia ou durante a noite, uma pequena meia hora de meditação, aquele necessário momento de examinar nossa consciência, de fazer nossas contas espirituais. Por mais atribulada seja nossa vida, nosso horário de trabalho, as necessidades de diversão, os atropelos naturais, é preciso ter um momento de recolhimento íntimo, uma viagem ao mundo do ser e do não-ser, das realidades não concretas, uma mistura de ordem lógica e de fantasia. Uma parada para pensar é sempre muito útil. Um refazimento de ideias e de energias dá novo alento a cada período futuro, garantindo-nos uma vida melhor, mais assumida, mais certa do que é correto e do está ficando errado ou que precisa de conserto. Tenhamos uma ideia exata do nosso papel no palco da vida, pois, querendo ou não querendo, todos somos artistas de dramas e comédias a que a existência nos conduz, nem sempre marcados pela nossa vontade. Qual está sendo o nosso desempenho? Estamos fazendo o melhor que podemos? Estamos seguindo fielmente o texto, ou estamos improvisando por instinto? De uma coisa podemos estar certos: a meditação, um parar para pensar e repensar ajuda muito. O trabalho é mais perfeito quando dá maior organização. Se organizarmos a nossa casa, o nosso local de trabalho, se organizarmos as nossas horas de lazer, organizemos também a vida mental, o prisma espiritual de cada momento. Só assim evitaremos o perigo cada vez maior do estresse, a causa principal de quase todos os problemas humanos. Aprendamos a viver e conviver cada minuto de nossa vida. Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 4/8/2014 08:22:10 |
LÍNGUA OU DIALETO? Desculpe-me o leitor se volto ao assunto da língua portuguesa no Brasil, continuando a alinhavar argumentos postos no tabuleiro das discussões, tão ao meu agrado, como estudioso e amante desta última flor do Lácio inculta e bela. Tema que sempre me permitiu saudosas referências ao trabalho universitário de vinte e dois anos na Unimontes, no geral de interesse para a formação da cultura lusíada-americana, sei que a língua é a formadora da arquitetura do sistema principal de comunicação e tem como argamassa o material mais duro e resistente do mundo: a palavra. Estudar a linguagem e a metalinguagem foi sempre um excelente trabalho e passatempo proveitoso de gente séria, realmente interessada no que há de mais sagrado e marcante da personalidade humana, pois é do logos que vem todo o saber. Um motivo, entretanto, surge interessante e dinâmico para a subida de mais um degrau, quando o competente jornalista e crítico literário Hélio C. Teixeira, que muito honrou em colunas de jornais, e muito nos transmitiu da sua competência, teceu comentários e evocou melhores argumentos sobre a realidade do estilo brasileiro da língua portuguesa. Confesso que foi exatamente o culto jornalista que, de modo direto, levou-me a examinar mais uma vez a documentação polêmica sobre a nossa realidade linguística e dialetal. Sei, por experiência própria, em muitos anos no convívio da disciplina, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, através de pesquisas dos alunos e mesmo das minhas como professor, que as diferenças constituem mais um estilo brasileiro que um divórcio formador de duas línguas, pois ninguém, até hoje, de sã consciência, deve ter pensado em criar um dicionário bilíngue entre Brasil e Portugal. Como bem disse o estudioso Hélio C. Teixeira, "jamais haverá no Brasil, uma língua inteiramente emancipada do idioma lusitano". Primeiro, porque uma língua dispõe de um fortíssimo esquema de analogias, rigorosamente obedecido, onde cada falante pode gerar ou transformar frases, criá-las ou recriá-las, mas jamais fugir, impune, à estrutura do sistema. Pode, é verdade, e isso até é bom, fazer substituições nos eixos do paradigma ou do sintagma, mas, nunca, nunca mesmo, quebrar ou tentar quebrar o mecanismo das funções que cada elemento exerce. Foi, por esse motivo, que o árabe, estruturalmente bem diverso do português, apesar do domínio de mais de sete séculos na Península Ibérica, deixou apenas cerca de setecentas palavras, menos de uma por ano, mas por mais incrível que pareça, nenhuma frase. Aí estão, de testemunhas, as palavras oxalá e salamaleque, que eram frases na língua árabe e não conseguiram resistir como tais no português. Por que, então, tantas discussões? É porque motivos deve haver, pois, onde há fumaça, há fogo. Ninguém perderia tempo, se não encontrasse um alicerce onde se afirmar para emitir argumentos. Pena não dispormos, até hoje, senão de uns poucos mapas linguísticos além dos levantados na Bahia, no Rio, em Minas Gerais e, me parece, apenas um em Trás-os-Montes. Se houvesse maior material científico, tudo seria mais compensador. Espero com ansiedade, o Mapa dos falares da Paraíba, em que se encontrou empenhada de corpo e alma a minha amiga e professora Socorro Aragão, Presidente do Círculo de Linguística do Nordeste, de cujo trabalho me inteirei, recentemente, quando de minha visita à sua Universidade, em viagem por João Pessoa. Sempre fui agradecido ao amigo Hélio C. Teixeira por suas bondosas referências o meu trabalho, sempre tido por ele como fruto do amor à lusitanidade. Não sei, contudo, se é bom despertar paixões em quem pode morrer de amor. Olhe que nossa língua - aqui brasileira - já não é tão desconhecida e obscura, mas ainda de alto clangor, do tom e silvo da procela, fruto da saudade e da ternura... Foi o que falou Bilac. Falou e disse... Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas. |
Por Wanderlino Arruda - 28/7/2014 08:25:05 |
A VIDA É MUITO MAIS AGRADECER Wanderlino Arruda É triste, muito triste, ver como o mundo se acha cheio de ansiedades, de conceitos puramente materialistas e utilitaristas. Pessoas e mais pessoas se esquecem da beleza da vida, da generosidade de outras pessoas, e se colocam como pequenos donos de um pedaço de meia-verdade, julgando-se numa independência que não existe. Esquecem-se de que a existência é um insistente ensino, uma perseverante luta pela felicidade e que só podemos ser felizes na caminhada solidária, de mãos dadas, unidos, com toda a alegria possível, com toda coragem, ou pelo menos com um pouco de sorriso em agradecimento à própria vida. De nada adianta o transbordamento das paixões, a manutenção de arestas morais, o narcisista, a supervalorização, a pretensão de domínio da inteligência ou do poder, o ódio sem direção ou direcionado. Tudo é vão, porque o viver é um crescimento espiritual de todo o tempo. Amar a si mesmo é importante, mas é preciso amar também o semelhante. E amar impõe sinceridade pessoal, desprendimento, uma visão clara de sonhos e realidades, um gostar do outro, um querer bem sem limites. De nada vale o isolamento, a limitação, só a defesa do próprio interesse, a fanfarronice vazia e boba, uma falsa autoconfiança, o desprezo bulhento aos que amam a vida. De nada vale a falsa declaração de amor, sem identificação com o bem geral. É preciso desnovelar-se num esforço de melhoria geral, abrir os olhos para a paz, a paz das quatro paredes da nossa casa, a paz da nossa rua, dos nossos companheiros de jornada, a paz do mundo. Para alcançarmos a alegria, necessário é desafadigar-nos das opacas viseiras da falsa autossuficiência, triste posição da pessoa infeliz. Há ardorosos propagandistas de si mesmo que não passam do labirinto da sua própria ilusão, mas que caminham por caminhos tão estreitos e tão vulneráveis que nunca enganam a ninguém. Falam de liberdade, pregam autonomia, fomentam guerras, exterminam simpatias, direcionam-se para o fanatismo, combatem falsamente os preconceitos, mas não sabem libertar-se da cordoalha da servidão mental a que são jungidos por si mesmos. É preciso restaurar a fé nos semelhantes, semear a palavra de vida na luz da esperança, viver com amor verdadeiro, perseverar no bem, tirar as lentes negras de diante dos olhos físicos e espirituais. Trombetear importância nunca foi medida levada a sério, a avidez de promoção pode ser atalho de caminhos, mas será sempre lodaçal de incompreensões. Não se deve morrer de orgulho, porque nem sempre a existência ajuntará o pequeno punhado de amigos que cada um tem. Eles podem espantar-se da nossa própria inconsciência. Que cada um submeta-se ao currículo da aprendizagem na academia da vida, propondo valorizar todas as lições que estudam e preparam a conquista de tesouros maiores da inteligência e do sentimento. Cada período brinda-se com nova gama de experiências. É importante saber tirar proveitos do equilíbrio dos que são verdadeiramente equilibrados. É importantíssimo saber viver todos os momentos possíveis da felicidade. Na verdade, ser feliz é a nossa meta. E para ser feliz é preciso saber bem retribuir, ter gratidão. A vida não é só pedir. É muito mais agradecer! Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 22/7/2014 08:56:56 |
DA CRÔNICA E DO CRONISTA Wanderlino Arruda Há coisas na vida de que não são ganhadores os que se levantam tarde, os que não têm coragem de acordar junto com os passarinhos, ao som dos primeiros cantos ou das primeiras trinadas. Quero dizer aqueles que só abrem os olhos e os ouvidos depois das sete ou das oito. Claro que perdem um pouco do melhor, da boa disposição física e mental, da própria alegria do amanhecer. Falei uma vez das empregadas que vão à padaria, dos pedreiros e serventes que vão ao trabalho de moto ou de bicicleta, das respeitáveis senhoras que vão às missas, dos passantes apressados que fazem caminhadas ou iniciam viagens. Outros valores ainda podem ser arrolados e entre eles a cor da luz do sol nascente, o vento brando e gostoso, o orvalho dos jardins, a própria existência humana que, de manhã, é mais interessante. Mas o que quero mesmo dizer é dos programas educativos que as TVs vêm fazendo, entre elas a Fundação Roberto Marinho, todas as manhãs, de segunda a sexta, durante meia hora, antes dos programas matinais, também bastante diretos e instrutivos. Falo das aulas destinadas aos alunos do segundo grau, de diversas matérias, um primor de didática, tudo preparado por gente que sabe onde está e anda o nariz. Um dinamismo que dá gosto! Cores, movimentos, sons, repetições bem feitas que não permitem ao espectador deixar de aprender. Neste ponto, a televisão tem seu melhor papel, a utilidade pública que lava todos os pecados dos horários enlatados e alienantes. Geografia, Matemática, História, Ciências, Educação, Língua Portuguesa, Literatura, excelente elenco de conhecimentos. De Literatura, por exemplo, a TV apresenta o que há de mais prático e convincente. Costumo até dizer aos meus companheiros de café, que saem depressa para o trabalho ou para o colégio, que uma aula preparada para o vídeo vale por algumas que um sofrido professor prepara para o esforço ao vivo, pois nunca seus recursos poderão comparar aos de que a televisão dispõe. Livros e autores, paisagens e costumes, sentimentos e gestos, tudo no melhor colorido, passa como um desfile maravilhoso em roupa de gala e luxo, prazerosamente limpinho e enxuto. Atores e declamadores profissionais, bem ensaiados, não deixam os textos em prejuízo de uma vírgula sequer. Ainda há pouco, o que passou sobre a experiência de Rubem Braga no jornalismo e na crônica não tem similar. Seu famoso escrito de muitos anos atrás - uma carta ao prefeito do Rio de Janeiro - foi uma delícia, o que até hoje pude ver de melhor em metodologia de redação. Alguns minutos que valem por uma vida de estudos. Como a apresentação do Rio de Janeiro, formou um cenário inimitável para a ordem da escrita! A beleza, a pressa, a violência, o romantismo e a malícia do carioca deram a Rubem Braga as condições de deslizar no texto como quem mergulha ou nada em águas translúcidas, sem esconder qualquer mistério. Sendo viva, a crônica tem de espelhar a realidade, o cotidiano, aquele ângulo de visão que o leitor sempre acha que poderia ter sido escrito por ele mesmo. Uma espécie de ponto de vista comum, feito naturalmente com arte e bom gosto, como fez Rubem Braga a vida inteira! Assim, dois convites ao leitor/leitora: levantar cedo, observar e... quem sabe, sonhar ou redigir também o mais alegre do nosso viver! Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 14/7/2014 09:51:44 |
APRENDENDO ETIQUETA Wanderlino Arruda Confesso que sou leitor vidrado em regras de etiqueta. Não perco uma linha do que se fala de educação e do bem-viver social, de como tratar as pessoas, de como buscar uma convivência pacífica e polida com os nossos semelhantes, principalmente quando pelo menos um mínimo de elegância é exigido. Leio tudo. Seguir, obedecer às regras, fazer do bom trato uma linha de vida é difícil, exige muita observação e muito esforço, mas é sempre possível se a gente for incorporando à cultura pequenos e grandes conhecimentos nesse setor. Em verdade, cautela e cuidados sociais não fazem mal a ninguém. Claro que a educação ou a finesse em sociedade, e por sociedade entender-se todo o relacionamento humano em qualquer parte, merece vasta gama de obediências, uma forma natural de agir, o saber como, quando e onde tomar atitudes. É preciso saber quem convidar, presentear, receber, desculpar-se. É preciso saber vestir-se, dar festas, ir a festas, sair com colegas e pessoas amigas, ir à rua, a um restaurante, a um barzinho, a um lugar da moda. Também é preciso saber conversar ou escrever um bilhete, uma carta ou simples recado sempre que isso for necessário, seja hora triste, seja hora alegre, nossas ou das criaturas com quem vivemos, de quem gostamos. É preciso saber o melhor comportamento no trabalho, nos encontros, nos esportes, em toda e qualquer oportunidade. Falando nestas coisas, lembro-me com saudades de uma experiência que tive em 1979 bem no século passado, no Rio de Janeiro, período em que ministrava um curso de Linguística para administradores do Banco do Brasil. Sempre que chegava do almoço, via no elevador, nos corredores e na entrada do auditório do Centro de Treinamento um vasto mundo de mulheres elegantes e bonitas, lindas-lindas, cada uma mais educada do que a outra. Num local em que a grande maioria era sempre de homens, aquela quantidade de belezas no mínimo parecia curioso, logo não tardando as explicações: estava sendo realizado ali um curso de etiqueta com uma professora da Socila, contratada pelo Banco para treinamento das secretárias de alta direção. Era isso a razão do belo visual e de toda finura do trato. Reunião de alta importância, reunião de gente fina, o que é outra coisa. Time de primeira linha, mesma professora que treinava as equipes internacionais da Varig. Dispondo da metade do tempo, pois só lecionava pela manhã, por um caminhão de razões, não tive outro jeito senão pedir ao chefe Dalton, que por sua vez pediu à elegante professora, para que eu fosse aceito como ouvinte e fiel observador de todas as lições. Imagine, minha senhora, que situação! Um homem só no meio de quarenta mulheres mais do que civilizadas. Mesmo pegando o bonde já em meio de caminho, não houve alternativa, tive que aprender tudo ou quase tudo. É que nas discussões sobre o papel da mulher, nunca pude deixar de representar o papel do homem, estabelecer o contraste de posições. Por mais educação que houvesse, foi briga de nunca acabar: "machista chauvinista, representante da tradicional família mineira, bandido!" Foi um sucesso de aprendizagem. E como! Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 7/7/2014 17:59:42 |
AINDA JOÃO MURÇA Wanderlino Arruda Murça mudou-se para Janaúba em 1959, vivendo lá 9 anos, até quando veio para Montes Claros, em 1967, já aposentado. Lá em Janaúba, sua política era a do PSP, partido populista de Ademar de Barros. Por aquelas bandas, também foi comerciante e delegado de Polícia, além de fazendeiro. Deixou de trabalhar duro mesmo foi em 1960, quando o antigo IAPC o colocou na vida boa, de quem não tem compromissos com horários. Em Montes Claros, como em Janaúba e Grão Mogol, viveu sempre no centro da cidade, pois, foi sempre metido a grã-fino! E o Murça maçom? Aos 7 ou 8 anos, conheceu o antigo salão da "Aurora do Progresso", loja de 92 associados em Grão Mogol. Era um terror até pensar em Maçonaria. As piedosas Filhas de Maria sentiam até arrepios só em ouvir falar do bode preto! Cruz credo, como podiam aqueles homens importantes e ricos mexerem com uma coisa perigosa destas? Tinham medo, mas, respeitavam. A Aurora do Progresso era uma das maiores lojas maçônicas do Brasil. Murça é filho da Deus e Liberdade, desde 14.3.50, quando era Venerável o inesquecível Sebastião Sobreira. Passou por Chico Tófani, passou por João de Paula, passou por José Gomes, passou, passou por todos, velhos e novos que lutaram para nos trazer este grande legado. Companheiro em 16.3.62 e Mestre em 13.7.62 foi mudando de avental, branco, branquinho, azul claro, vermelho, pretão parecendo cartola do Vasco, branco de novo, com todos os enfeites do Grau 33, desenho bem trabalhado de pelicano. Ao grau 18, Cavaleiro rosa-cruz, com diploma do Supremo Conselho do Brasil, foi elevado em 30.12.1967. Lembro-me muito bem da festa do final de carreira, quando fomos, em 8.10.76, elevados ao 33, juntos com pequeno número de irmãos. Murça o mais velho, eu o mais novo. Ele com muitos cabelos ou todos os cabelos brancos, eu com os cabelos pretos, mas, já quase sem cabelos. Chegávamos à posição de Grandes Inspetores Gerais da Ordem. Pelo menos, ele Murça tinha todo merecimen to. Era um prêmio ao trabalho e à fraternidade desse velho guerreiro! Murça, fundador, um dos fundadores da Loja Estrela de Montes Claros. Murça, fundador da Loja Maçônica Deus, Paz e Liberdade II, de Janaúba. Murça, reativador da Loja Maçônica Aurora do Progresso, de Grão Mogol, oficina que o viu nascer. Murça, herói da Deus e Liberdade, hoje membro-honorário, sócio por motivo de honra. Honoris causa. Murça, amigo e irmão: Suporta ainda o fardo de tuas obrigações/Caminha valorosamente, segue a tua estrada/Do acervo de pedra bruta nasce o ouro puro/Do cascalho pesado emerge o diamante/Do peso que transportamos de boa vontade, procede nas lições de que necessitamos para a vida maior! Se o suor te alarga a fronte e se a lágrima te visita o coração, é que a tua lágrima te visita o coração, é que a tua carga já se faz menos densa, convertendo-se, gradativamente, em luz para a tua e nossa ascensão. Tudo isso amigo e irmão Murça, já nem sei de quando, graças ao Grande Arquiteto do Universo! *Presidente da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 23/6/2014 08:22:58 |
O HISTORIADOR HENRIQUE OLIVA BRASIL Wanderlino Arruda Foi muito gratificante para mim, tempos atrás, fazer a apresentação da HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DE MONTES CLAROS, do escritor e historiador Henrique Oliva Brasil, homem de fé e de coragem, manancial de fortaleza e boa vontade, frente a tudo que era difícil na sua vida. Henrique Oliva Brasil, amigo e companheiro de Academia Montesclarense de Letras, era para mim um exemplo de capacidade de trabalho e de ousadia, um atestado existencial de tudo que a força de caráter, o desprendimento, o dinamismo pessoal podiam realizar. Nos muitos e muitos janeiros por que passou na vida, nem os minutos nem as horas foram problemas no seu trabalho e no seu esforço de incansável homem estudioso. Cada dia de Henrique Oliva tinha um refinado objetivo, uma meta a alcançar, pouco importava a dificuldade, de nada valiam os empecilhos de qualquer espécie. De cabeça erguida, marchava sempre em frente, olhando o futuro com a segurança de um jovem, sempre seguindo esperançoso e confiante. HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DE MONTES CLAROS foi fruto de minuciosa pesquisa, de longos períodos de estudo, que só um minerador do ouro dos acontecimentos poderia conseguir fazer. Foi tarefa de muito tempo e de muito lutar, resultado e cadinho do amor de um sertanejo que desejava deixar bem marcado seu traço de vida no conhecimento e nas consciências de todos nós, também amigos desta cidade e do seu progresso. É livro que faz justiça ao nosso processo histórico, sempre dinâmico e de acordo com o esforço pioneiro de um bom punhado de gerações, normalmente voltadas com sincera afetividade para os valores humanos e humanizadores, sentimentos que engrandecem e eternizam cada um e todos os momentos. A HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DE MONTES CLAROS só não traz em seu bojo todos os acontecimentos, todas as personagens, quando isso não foi possível por falta de dados ou por falta de espaço. Segui, de perto, sua longa elaboração e sei que Henrique Oliva Brasil, com pureza e isenção, jamais poupou esforços ou qualquer tipo de sacrifício para chegar ao alvo da exatidão, ao centro da verdade. Cada levantamento foi revestido de exaustiva pesquisa, muito próxima da mais acurada exigência da moderna ciência histórica. O fato de não ser o autor graduado em História, alicerçado em diploma universitário, nunca impediu que o intelectual buscasse o que havia de melhor no estudo documental e na observação interessada, fatores valiosos para a perfeição dos resultados. Acima de tudo, o historiador teve sempre a honestidade de propósitos, uma santa vaidade de quem se compraz com o exato cumprimento de qualquer missão, por mais espinhosa que seja. Esperava que o leitor também participante da nossa História se sentisse satisfeito com a leitura ou o estudo sobre a importante e verdadeira vida de Montes Claros. Mais do que isso: espero que o leitor se faça sempre presente com incentivo e apoio aos historiadores que são os maiores apaixonados por esta cidade e por toda a região, pedaços de território ligados à nossa própria existência. Mais do que passado e presente, estou certo, o futuro e nós teremos de dar razão e fazer justiça, além de aplaudir estudiosos e escritores com o prêmio do mérito de materializar em livros nossos principais acontecimentos. A lembrança dos esforços e do trabalho de Henrique Oliva Brasil estarão sempre vivos e nossa memória. Em nossas melhores considerações e reconhecimento. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros – Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 4/6/2014 15:54:43 |
MESTRE DA VINCI Wanderlino Arruda Uma das mais notáveis inteligências que a humanidade já teve em toda sua história. Uma habilidade intelectual e manual que - juntas - nem antes nem depois, jamais foi superada. Leonardo, o mestre Da Vinci, foi realmente um artista de talento. Em todos os sentidos, tanto na qualidade como na quantidade de criações. No espaço e no tempo, de tal modo que se coloca magistralmente até em nosso século, com invenções até hoje sendo incorporadas ao nosso acervo de cultura e de utilidades. Há algum tempo, um caderno de rascunho de sua lavra foi vendido por milhões de dólares num leilão de raridades. Desenhos, projetos, receitas de inventos, tiradas filosóficas, conselho sobre artes e saber da vida, tudo com valor de hoje. Não houve campo de especulação humana por onde não passasse o seu gênio. Assim, passou pela botânica, pela hidráulica, pela arquitetura, pela estratégia militar, fez mergulhos pelo mundo submarino e revoadas pelos ares. De sua prancha saíram desenhos de helicópteros, armas de guerra, hélices de navios, coletes salva-vidas. De seus lápis e pincéis apareceram belezas de formas e de cores de nenhum modo ultrapassadas, nem antes nem depois, acredito em tempo algum. Na escrita, o livro "Breviários", repositórios de notas dos cadernos, oferece-nos trechos que podem ser aplicados tanto na escola como na vida. São observações de eterno interesse. Em qualquer avião moderno de passageiros, os coletes salva-vidas são de sua receita: "Para salvar-se de naufrágio, precisa-se duma roupa de couro que tenha as paredes do peito em dobro com a espessura de um dedo e que seja igualmente duplicada da cintura aos joelhos. Ao caíres no mar, sopra para dentro e deixa-te ao sabor das ondas. Na boca deverás ter um canudo que ligue com a roupa, por onde deverás receber ar, quando a espuma te impedir de respirar". Sobre pintores que se queixam da vida: "Há uma classe de pintores preguiçosos que querem viver só sob o ouro e o azul; alegam ingenuamente que não trabalham bem porque são mal pagos. Gente reles! Não sabem fazer nada que preste, mas dizem: esta está bem paga, mas esta outra é medíocre e aquela é devido à casualidade; mostram assim que têm obras para todos os preços. Assim, pois, pintor, tem cuidado que o afã do lucro não prevaleça sobre a honra da arte: a conservação desta honra é mais importante que o prestígio das riquezas". A respeito das cores na pintura: "As cores, de longe, são ignoradas e imperceptíveis. Para desenhar o realce é mister que o olho do modelo esteja na mesma altura do olho do artista. Isso fará com que a cabeça fique natural, pois os transeuntes com quem cruzas na rua, todos têm os olhos à altura dos teus e se os fizesses mais altos ou mais baixos, teu retrato não seria nada parecido. As roupas devem desenhar-se do natural. Os velhos devem parecer preguiçosos e de lentos movimentos, as pernas vergadas nos joelhos e os pés aleijados, a espinha curvada, a cabeça para a frente e os braços pouco estendidos. As mulheres em atitudes modestas, as pernas fechadas, os braços juntos, a cabeça baixa e inclinada. As velhas devem ser representadas atrevidas, com movimentos vivos e raivosos, com fúrias infernais: os movimentos dos braços mais vivos do que os das pernas". Uma definição de paz: "Dizem que o castor, quando perseguido, por saber que seus testículos possuem virtudes médicas, não podendo mais fugir, para, depois de fazer as pazes com os caçadores, corta os testículos com seus dentes agudos e os deixa com seus inimigos". Uma definição de avareza: "Avareza é a do sapo que come terra, mas nunca tanto quanto deseja, com medo que acabe". E sobre a arte, centro de sua vida: "A pintura sobrepuja todas as obras humanas pela sutil especulação que lhe pertence. Se vós, historiadores, poetas, observadores, não tivésseis visto com os olhos, nada poderíeis referir em vossos escritos, que são nascidos da pintura". Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros - Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 27/5/2014 19:13:07 |
UNIMONTES - FACULDADE DE DIREITO Wanderlino Arruda Normalmente, chegávamos à casa do professor José Oliveira Fonseca, na Rua Carlos Pereira, às cinco da manhã. Todos os dias, de segunda a sábado, lá estávamos para a aula de análise sintática e de outras questões mais objetivas da língua portuguesa. Não éramos muitos, mas, éramos bastante curiosos e interessados, principalmente o Mauro Lafetá, o Corbiniano Aquino, o Afrânio Nogueira, o Adil Oliveira e eu. Eles, candidatos ao vestibular de Direito em Pouso Alegre ou Niterói; eu, estudante do curso de Letras, aproveitando a maestria do professor Fonseca, o melhor que passou pela matéria em Montes Claros. Era um tempo excelente, alegre, pleno de maduro entusiasmo, sonhos de pessoas que, a certa altura da vida, sabem o que fazer e com que se ocupar. O Afrânio acabava de deixar as aulas de primeiro estágio do Madureza e já cursava, à noite, as últimas unidades para enfrentar o segundo grau, num esforço tremendo de ano e meio entre a escola primária e a universidade. O Mauro, com toda aquela pose que Deus lhe deu, sério, compenetrado, sonhador, quase já exigia que o tratássemos de Doutor. Era tudo uma beleza, embora o professor nunca nos tenha dado um cafezinho para espantar o sono do levantar tão cedo... Foi por aí, madrugadas em transformação de aurora, manhãs de gostoso friozinho para pouco agasalho, que o professor e nós fizemos as primeiras propostas para a fundação da Faculdade de Direito. Entre uma análise e outra, entre um verso e um substantivo, uma nova observação sobre o futuro da segunda faculdade de Montes Claros. Quem estaria disposto a colaborar? Com quais advogados poderíamos contar para a formação do corpo docente? Quem poderia ser o primeiro diretor? Onde funcionar? Onde buscar apoio financeiro? Eram perguntas e mais perguntas, tão constantes e tão assíduas como os próprios formuladores. Não durou muito tempo a temporada de sonhos e cogitações e, em menos de um mês, já estávamos, na rua, buscando apoio, tendo-o encontrado no deputado Lezinho, tio do Mauro e homem próximo ao Governo, e no Inspetor Zezinho Fonseca, que ficou mais entusiasmado do que nós próprios. A luta tomara corpo, criava-se do espírito de séria decisão. O Mauro cada vez mais encantado e, antecipadamente, vitorioso. Iniciamos as primeiras consultas aos principais advogados, através de uma comissão - Mauro, Afrânio e eu - num desdobramento de trabalho feito antes por Francolino Santos e Corby. Ninguém pode imaginar nem prever as reações humanas e profissionais diante de um desafio. Quem poderia calcular onde estaria o interesse pessoal, o desprendimento, o entusiasmo ou, ao contrário, o medo de futura concorrência? Quem poderia acreditara naqueles sonhadores, querendo fazer as coisas de baixo para cima, invertendo toda a lógica aceitável? Realmente, diante da proposta, futuros mestres mostraram-se ora alegres, ora tristes, na maioria das vezes terrivelmente irônicos. "Quem" era mesmo que queria fundar uma faculdade de Direito em Montes Claros? Que saberiam aqueles três sobre espírito universitário? Loucos, era o que pensavam que éramos... Por que não iam estudar por correspondência como fizeram tantos outros, passeando de vez em quando? Seria mais fácil do que criar uma esco la... Dois fatores tornaram-se importantíssimos em nossa luta: O JMC ficou contra, afirmando a não necessidade de formação de novos bacharéis, o mundo já estava muito cheio de advogados; apareceram interessados em nosso trabalho o professor João Luiz de Almeida e os deputados Francelino Pereira e Cícero Dumont. Doutor João cedeu-nos as instalações do Instituto para funcionamento da escola e se dispôs a ser o primeiro diretor; Francelino levou as ideias e os planos ao governador Magalhães Pinto; Cícero organizou os estatutos da Fundação. Ninguém poderia segurar mais. O contra e o a favor estimularam ainda mais nossa frente de batalha. A reação da imprensa provocou um desafio, a ajuda dos amigos poderosos deu o tempero que faltava. Hoje uma história feliz, com a Fadir completando praticamente meio século! Tenho bem guardadas as gravações do dia definitivo da fundação, reunião realizada na Rua S. Francisco, na Delegacia de Ensino, sala de trabalho de José Monteiro Fonseca! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros – Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 19/5/2014 10:50:45 |
PRIMEIRA FACULDADE, NOSSAS FAFIL Wanderlino Arruda Creio que o grande laboratório de ideias a usina dos sonhos tenha sido mesmo as salas de aulas da Universidade Federal de Minas Gerais, onde moças montes-clarenses terminavam diferentes cursos, tão distantes uns dos outros que iam da História à Pedagogia, das Letras à Matemática, da Geografia às Ciências Sociais. Diplomadas, portadoras de muito saber e incentivo de antigos professores da capital, Isabel Rebelo de Paula, as irmãs Baby e Mary Figueiredo, Sônia Quadros Lopes, Florinda Ramos Marques, Dalva Santiago de Paula, ansiosamente, se uniram a outros idealistas, e o resultado foi o nascimento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas - Fafil - aqui em Montes Claros. Verdade é que não houve oposição ao seu trabalho e até não faltou crédito ou aquele sempre necessário voto de confiança. Todo mundo acreditou nelas, com o Colégio Imaculada Conceição cedendo espaço físico e moral, a Fundação Educacional Luiz de Paula fornecendo recursos e entusiasmo , professores como Jorge Ponciano Ribeiro, Maria Ribeiro Pires, Geraldo Majela de Castro, todos dando logo a sua melhor quota de serviços. Foi uma beleza o começo, um sucesso o primeiro cursinho de Montes Claros. Lembro-me bem, da primeira aula de francês que tivemos com a professora Baby Figueiredo, com texto solto, impresso fora de livro, uma novidade! Lembro-me de Adélia Miranda elaborando, como secretária, os primeiros relatórios, apertando os primeiros alunos retardatários para não atrasarem no pagamento das mensalidades ou início das aulas. Era uma experiência interessantíssima com passagens de se emocionar! Era tanta sabedoria nova, um conhecimento tão organizado, uma perspectiva de aprendizagem tão grande, que problemas apareciam a toda hora, todos querendo aproveitar de tudo, sorver de vez todo um alimento que por não existir antes, estava sendo negado a quem muito o desejava. Acontecia então o troca-troca de salas, uma espécie de mineração de assuntos, um descobrir quem era o melhor professor um abeberar de toda uma nova filosofia de vida. Não posso contar tudo sobre as aulas de nossos cursos, nos primeiros dias do semestre, porque os acontecimentos vinham aos borbotões, quase sufocando a curiosidade, até confundindo as cabeças. Era como se fosse um vasto ciclo de conferências de palestras, um eterno comício. Hamilton Lopes, calouro, ensaiava os primeiros passos da política estudantil, João Valle Maurício, José Nunes Mourão, Hélio Vale Moreira, Mauro Machado Borges, alunos mais vividos, mostravam uma compenetração pouco natural de estudantes. Yvonne Silveira, esta num a santa vaidade de literata, se desmanchava em sorrisos e sutilezas numa alegria quase infantil. Tudo foi uma longa festa intelectual, uma corrida de muita sede à fonte, todos considerando um grande privilégio, uma oportunidade a mais de vencer na vida, em campos profissionais já longamente seguidos. Pela primeira vez, vimos professorinhas ensinando para pessoas de muito mais idade, alguns até já velhos, todo um elenco de construtores em tempos presentes e também do futuro! Agora, visto de longe, cinquenta e dois anos depois, mais do que uma ousadia, parece quase uma loucura. Mas que maravilhosa loucura! Que o diga Isabel Rebelo de Paula, nossa primeira diretora. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros Academias Montesclarense de Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 13/5/2014 08:25:42 |
FERNANDO PESSOA Wanderlino Arruda Se é difícil falar de uma pessoa, penetrar no seu íntimo, senti-la e transmitir seus sentimentos, imagine quando essa personalidade é dividida e subdividida, como aconteceu com o poeta português Fernando Pessoa, que tinha, no mínimo, cinco heterônimos, cada qual com sua biografia, seu mundo, seu estilo. Ele mesmo, Fernando, uma caudal de vibrações humanas e poéticas, uma sensibilidade tão à flora da pele e das ideias, que muitos chegaram a dizer nas raias da exuberância sobrenatural. Foi quem marcou a mais forte presença na poesia portuguesa e europeia no último século, já que ele começou mesmo a escrever e a publicar em português a partir de 1912, numa espécie de reencontro com suas origens lusitanas. Pessoa influenciou muito dos seus contemporâneos e continua até hoje arrastando uma falange de adeptos cada vez maior. Para o crítico Oscar Lopes, Fernando Pessoa é a mais importante personalidade da tendência pós-simbolista portuguesa. Para João Gaspar Simões, Pessoa tornou-se o mais imitado dos nossos poetas modernos, porque exprimira penetrantemente certas contradições inerentes à sua camada numa altura em que elas estavam latentes, quando ainda se fingia acreditar em certas sinceridades ou sentimentos poeticamente expressos, em certos ideais ou emoções teoricamente caritativas ou cívicas que, no fundo, se havia esvaziado de qualquer conteúdo concreto, quotidiano ou intimamente pessoal. Na sua poesia, tudo isso se ironiza e problematiza com uma justeza inexcedível de tom lírico, porque Pessoa opõe-se à metafísica sentimentalista romântica, que abstrai a sensibilidade da razão "o que em mim sente está pensando". "É preciso fingir para conhecer-se". Fernando Pessoa fez uma distribuição de sua obra por vários heterônimos e tem dado por isso ensejo a numerosas discussões sobre sua unidade ou pluralidade, ou sinceridade, já que foi um ser altamente contraditório. Na verdade, cada poeta de sua divisão criadora corresponde a um conjunto de posições polêmicas determinadas. Cada um com vida própria, cultura peculiar, sentimentos e problemas individuais, opondo-se ou identificando-se como seres humanos portugueses ou universais. Como não é possível dizer tudo em um só fôlego e espaço de jornal, eis algumas pinceladas sobre os principais e mais conhecidos: ALBERTO CAEIRO - reage em verso prosaicamente livre contra o transcendentalismo saudosista, mostrando que o "único sentido oculto das coisas / É elas não terem sentido oculto nenhum"; é contra o farisaísmo, então concorrentemente jacobino e devoto da poesia compassiva e sentimental. Caeiro apareceu em Fernando Pessoa com trinta e tantos poemas que ele escreveu de pé, numa espécie de êxtase, cuja natureza o próprio Pessoa afirmou não saber definir se mediunidade ou simples inspiração. Saiu daí "O Guardador de Rebanhos". RICARDO REIS - exprime contra as concepções meramente abstratas de sobrevivência post-mortem ou de progresso humano e em estilo que se pode designar com neo-arcádico, embora apresentando uma densidade de significado muito mais próxima do modelo horaciano; a antiga sabedoria epicurista egocêntrica de dores e prazeres prováveis. Ricardo Reis é desde o princípio um alto poeta formal, de alto refinamento artístico. Sentia-se apto a trabalhar a forma métrica ao verso à maneira dos que perpetuam na poesia como lavrantes amorosos, requintados e astutos das formas e do virtuosismo estético. Ricardo Reis proporcionou a Pessoa a primeira sensação de plena harmonia consigo mesmo e com a literatura. ÁLVARO DE CAMPOS - prega nas odes em verso livre entusiástico, a sabedoria futurista da sem-razão, da energia bruta, da vida jogada por aposta. Álvaro de Campos era uma mentalidade trabalhada pela civilização e pelo progresso. Engenheiro, ultrapassa de longe nas ambições até o próprio Pessoa. É em verdade o mais simulado dos heterônimos e entre todos, o mais mistificadoramente concebido. Pretendeu formar uma nova escola e o conseguiu. Desculpe-me você se o assunto foi por demais erudito, tratando-se de apresentação crítica literária. Um dia, quem sabe, voltarei falando mais do homem do que do artista. Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 6/5/2014 09:38:23 |
E A VIDA CONTINUA Wanderlino Arruda Viver é consagrar-se inteiramente à vida, acompanhá-la em cada tempo. Viver é uma busca eterna de aprendizagem, uma aventura interminável, um sustentar sozinho o mundo inteiro, acertando-se ou contradizendo-se, sempre em busca da própria afirmação. Existir é estar, é ser, é compartilhar com os outros no aqui e no agora, uma participação do que há de melhor no interior de cada um na alma das outras pessoas. Viver é comunicar-se, é o interessar-se pela vida, o sentir mundo, o reviver o histórico, o sonhar o futuro. Não há vida isolada, pois, cada pessoa, como o real e o irreal das narrativas, estará integrada em vários contextos, personagem menor ou maior com seus dramas pessoais, suas alegrias, suas vitórias ou derrotas, tudo, tudo influenciando os acontecimentos. Cada indivíduo, de certo modo, é o centro do mundo, partindo dele tudo que irá determinar as outras vidas que lhe dizem respeito. Filosofando sobre o complexo ato de estar na vida, de ser num minuto ou num espaço maior da eternidade, é preciso dizer que o essencial é a forma que cada um liberta sua personalidade, influenciando, marcando presença, doando de si mesmo para crescimento da compreensão, do amor, da liberdade, da justiça. O importante é a integridade, o respeito, a paz. Melhor do que cada tema em particular é o resultado da realização da pessoa como indivíduo e como coletividade. Do estar consciente, vem a conciliação e concretização da parte boa dos sentimentos das emoções, mesmo que sejam desagradáveis. As insatisfações apenas arrastam as angústias e as injustiças, o contraditório. Se o mundo se tornou confuso, a pessoa terá de tomar pessoalmente as decisões, fazer suas próprias escolhas, arriscando errar ou acertar, porque nunca há paz total. Se é inevitável vivermos sob tensões, aprendamos a viver. É preciso comparar o amor com o teatro, um teatro sem plateia, onde todas participam e o cenário pode aumentar ou diminuir a intensidade das emoções. Pode até acontecer que em alguns casos, a plateia não consiga entender o tema de uma peça, mesmo que esta seja eterna e universal. E quando não se entende, vem a distorção, a discordância, podendo vir até o ódio. É o caso de pensar na liberdade, na democracia, que é a ausência de arbítrio, a não-violência, a presença da igualdade. É o caso de pensar que a sociedade esteja carente de justiça, ou farta de violência. Melhor, porém, é acreditar com otimismo no futuro. As ideias expostas, leitor, não são minhas, embora, pudessem ser, como também podiam ser de alguém que apreciasse a plenitude da vida, o realizar e o sonhar, o estar no mundo sem ser do mundo. As ideias foram de uma moça maravilhosa, plena de vida, interessada na paz e na justiça, uma moça que falava de emoções e de igualdade, uma jovem que lia de três a quatro livros por mês, que tinha preferências precisas sobre teatro, música, sobre poesia, que amava a pintura com toda sua alma. Estas ideias, leitor, foram de uma moça que acreditava na cultura, que lutava por uma instrução melhor para todas as pessoas, lendo, escrevendo, divulgando exemplos, amando a vida, ilimitada na criatividade. Foram e são afirmativas de quem gostaria de muito lutar para refazer o mundo, transformando-o para melhor, mais otimista, mais humano, um mundo ideal para dar e receber felicidade. Que estas imagens vivenciais sejam exemplo de que nem tudo está perdido, que a vida continua, e só o bem permanece, só o pensamento positivo constrói o amor que lava a multidão de pecados. Este raciocínio tão perfeito e tão lógico, leitor, foi expendido por uma jovem encantadora que, infelizmente, não se encontra mais entre nós no plano físico, pois, há bastante tempo criatura da eternidade: Cláudia Maria Athayde Soares. Academias Montesclarense de Letras e Maçônica do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 30/4/2014 09:00:23 |
FÁCIL ACABAR COM UMA IDEIA Wanderlino Arruda Claro que existem mil maneiras de acabar com uma ideia, sepultá-la, dispô-la em justo e eterno esquecimento, principalmente se essa ideia não for do interesse ou do agrado de quem tenha, no momento, o poder de decisão. Praticamente, todo presidente de reunião ou assembleia sabe disso, todo dirigente tem até uma fórmula de solução para cada caso, quando isso lhe é de seu desejo. Assim, matar uma ideia nunca é difícil, não dá trabalho, basta um pouquinho de má vontade. O que é difícil é criar, construir, elaborar, fazer alguma coisa de útil, beneficamente social, favorável a todos os interessados, ajustável à famosa prova quádrupla que o Rotary gosta tanto de divulgar em todo o mundo, em todas as línguas: "É a verdade? É justo para todos os interessados? Criará boa vontade e melhores amizades? Será benéfico para todos?" Matar uma ideia é realmente fácil, nem precisa muita inteligência ou muitos argumentos para isso. Até os menos dotados de raciocínio conseguem. Qualquer um desses falsos líderes de qualquer campo de atividade consegue, principalmente nos chamados grupos de trabalho, nas famosas comissões, nos comitês. Com os novos ricos, então, é que tudo fica aplainado para uma derrota, já que eles, querendo tudo poder, acabam não podendo nada e mergulhando em fracasso. Os políticos que superestimam seu poder de fogo, que se julgam grandes, que tudo fazem para aparecer, esses coitados, dão até pena, principalmente os que se vendem por empregos ou representações. Uns que trocam de partido todo dia, que vivem como baratas tontas à procura de migalhas de prestígio ou de dinheiro, espécie de procuradores de partes, esses são verdadeiros sepultadores de ideias, vendilhões do templo de qualquer era. Quem deseja acabar com uma ideia não precisa fazer muito esforço, não precisa suar camisa, pode ser até um grande perdedor, um fracasso na vida em qualquer situação. Quem precisa sustentar ideias alheias quando as suas nunca chegam ao alvo vitorioso? Melhor que todos fracassem, que todos percam, que a ilusão seja geral, porque assim ninguém supera ninguém, fica tudo do mesmo nível. Afinal há o mundo dos que vencem e o mundo dos que só perdem, que nunca encontram uma vitória. Há o mundo dos que acreditam e há o mundo dos que invejam, que ambicionam, dos que sempre são dependentes de outrem pelo poder ou pelo dinheiro, esse o mundo dos vendidos, dos alugados mesmo que seja por pouco tempo. Um pobre mundo de pobres sonhos... "Isso não me anima nem um pouco". "É complicado demais". "Isso não está de acordo com as coisas que a gente faz aqui". "Não é possível, e pronto". "Todo mundo vai dizer que somos uns idiotas", (e às vezes são mesmo!). "Este é um assunto p ara outra reunião". "Isso não se adapta à nossa filosofia". "Em time que está ganhando não se mexe". "Eu já vi essa história antes". "Não vem que não tem". "Não vai funcionar". "Ninguém vai entender sobre o que você está falando". "Esse é outro lado da história". "Eu tenho uma ideia melhor". "Vamos formar um grupo de trabalho". "Vamos formar um grupo de trabalho", é a melhor forma, às vezes, de desaparecer com uma ideia, principalmente quando esse grupo é uma comissão de inquérito para fiscalização de gente de muita ambição. De todas as formas para acabar com uma ideia a mais decisiva é a formação do grupo de trabalho, de certos tipos de blocos. Nomear uma comissão é tiro e queda! Não há sugestão que fique de pé, que tenha andamento, quando o presidente de uma comissão for o próprio autor da ideia. Os coordenadores de reuniões sabem disso: quando alguém fala muito, dá muito palpite, quer resolver de vez todos os problemas da vida e do mundo, não precisa muita coisa para provocar silêncio, basta uma nomeação de presidência para dirigir outras pessoas. Quase sempre morre o grupo e sucumbe o ideal. Afinal, construir é que é difícil! Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 23/4/2014 09:40:13 |
MAR DE AVENTURAS Wanderlino Arruda Antes de mais nada, confesso que nasci muito longe do mar, algumas centenas de bons quilômetros de distância, separado por céus e terras, pela Serra Geral, pelo Rio Pardo e por muitos outros acidentes geográficos. Quem conhece sabe que a mineiríssima cidade de São João do Paraíso está cravada num recolhido sertão entre a Bahia de Condeúba e este Setentrião, longe, muito longe do mar, sem nenhuma condição de ter filho com vocação para marinheiro. A única coisa parecida com mar que nós tínhamos por lá, e nos bons tempos de fartura, era o manso e tranquilo verde canavial, lindo e extenso, adorável vale de maravilhas, parecia feito para as peraltices do menino ou para as saudades do futuro adolescente sentimental. O mar só me veio aos dezenove anos. Ou melhor, só fui a ele depois de muitos anos de vida bem vivida em Salinas, Mato Verde, Taiobeiras e, principalmente, em Montes Claros. Não era um mar tão lindo como o de Maceió, o mais lindo do mundo: falo do mar da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, que já em cinquenta e quatro, vivia cheio de manchas de óleo, subproduto pouco simpático da presença constantes de navios e barcos petroleiros. O de Copacabana era verde-azul, bonito, violento, transparente, rolado em branquíssimas espumas, mas distante para o convívio de um mineiro interiorano e retraído. O mar de Niterói, das barcas da Cantareira, do aerobarco, era um mar de vai-e-vem de início e fim de dia útil, promessa e lembrança de trabalho. Mar da Bahia, mar de Todos os Santos, de Itaparica, aonde fui, há muitos anos, com Olímpia, visitar um velho professor e de onde partimos, recentemente, com a turma toda, embarcados de carro e tudo num ferryboat, para um bom período de férias entre a praia e as dunas baianas. Mar de Santa Catarina é em Camboriú ou Florianópolis, mar dos passeios de barco pelas velhas ilhotas, cenário de vetustas fortalezas, de construções do militarismo colonial, onde as paredes portuguesas de pedras brasileiras ainda estão de pé, metro e meio de largura, cobertas de musgos e espinhos, testemunhando o tempo e o contratempo de nossa história. Mar de Torres, no Rio Grande do Sul, revolto e atuante a esbater-se nas pedras e nos turistas. Mar de Ilhéus, de Valença e de Olivença, mar sujo de Santos e São Vicente, poluído e proibido. Mar de Vila V elha, de Vitória, de Anchieta, da moderna Nova Almeida, todos no Espírito Santo, povoados de mineiros, de uma mineirada de nunca acabar. Mar de Fortaleza, verdes mares da terra cearense, mares de Alencar e de Iracema. Mar de Natal, de João Pessoa, mar de Boa Viagem em Recife. Mar de Olinda, transbordante de belezas de sonhos. Mas, de que mar e em que mar foi mesmo a minha aventura que quero dividir com o leitor? No mar doce do Amazonas, onde vi o encontro das águas do Rio Negro lado a lado com as do Rio Solimões, correndo coloridas, sem se misturar? Foi em Leixões, berço idolatrado da raça lusitana? Foi nos arredores de Lisboa, em Sintra, na Boca do Inferno, onde se afirma, morreu Fernando Pessoa, o Super-Camões? Foi em São Luís, de viagem para Alcântara, quando o barco revolto e balançando como bêbado quase se vê presa fácil dos ventos e das águas? Não sei, não sei... Acho que foi o mar da vida, nem sempre azul, nem sempre verde-esperança, poucas vezes sereno, na maior parte do tempo, agitado. Navegante há quase oitenta, muita água passou por baixo do barco e muito vento soprou de lado e por cima. Como dizia muito bem o sempre lembrado Guimarães Rosa, viver é perigoso. A vida em si já é um grande perigo, um grande mar, um enorme mar de aventuras... Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros - Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 8/4/2014 08:14:45 |
NELSON VIANNA Wanderlino Arruda Escolhi, como patrono da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, um notável homem de letras da nossa região, um regionalista e sério pesquisador de costumes, literato de fôlego, um sentimental homem do sertão, sempre vestido com roupagens de sério trato: Nelson Washington Vianna, o curvelano montes-clarense. Escolhi-o como desejo de marcar de modo definido minha admiração pela obra diretamente ligada às gentes do grande sertão do Norte, ao agricultor, ao caboclo, ao vaqueiro, ao frequentador de feiras, ao fazendeiro, ao contador de causos, ao tocador de viola, ao solitário das madrugadas e das bocas de noites e aos que, cansados das tarefas do dia, sentavam-se ou se sentam nos calca¬nhares para ouvir ou falar com a maior sabedoria do mundo. Nel¬son Vianna, com a sinceridade do cientista, contou muito da esperteza do interiorano de Minas, homo rusticus ou homo urbanus, sempre com a alma aberta à criação de tipos, caracteres e personalidades de rara beleza para nossa literatura. Ele despertou um sentido novo de humor, uma figuração de inteligência e perspicácia, um savoir-vivre e um savoir-faire difíceis de se encontrar em outra literatura. Perscrutador impenitente, incansável olheiro da fraqueza humana, quase libidinoso no modo de ver e interpretar, Nelson Vianna foi imaculadamente o grande repórter de uma vasta reportagem do homem sertanejo desse lado de cá do mundo mineiro, que vem de Curvelo até os Montes Claros. Ele sempre viveu acompanhando vertentes e serrarias, capões de mato e serrados, veredas e gerais, cenários de vida e de literatura tão gratos aos nossos corações. E pena que eu não tenha conhecido tão bem Nelson Vianna como o conheceu Cândido Canela, Olyntho da Silveira, Vianna de Góes, como o estudou Haroldo Lívio. Homem distante, severo, de poucos amigos, não dava muita oportunidade aos mais novos para conversas e troca de ideias. Lembro-me de ter conversado com Nelson Vianna apenas uma vez, no vestíbulo da casa de Osmani Barbosa. Estava eu naquela ocasião interessado em fazer uma pesquisa sobre a literatura do Grande Sertão, exatamente no pedaço de terra que fica entre o centro de Minas, a Serra das Araras e o Carinhanha. Precisava de dados comparativos de dois estilos que dissessem diretamente sobre o elemento humano, fruto telúrico da paisagem sofrida, ponto de ligação entre a natureza e a vida do passado e do presente. Propus, então, a ele uma entrevista - do homem e do literato - para que eu pudesse, depois, compará-lo com Guimarães Rosa, o outro lado do trato com o comportamento sertanejo. Nelson Vianna espantou-se, olhou-me de frente, franziu o semblante, parece até que tremeu- e, considerou minha atitude uma audácia: fazer comparação dele com Guimarães Rosa não tinha propósito, não havia paralelos; Guimarães, o grande escritor, ele um joão-ninguém. É isso o que pensava. Não, não era po ssível, era um absurdo, não me daria entrevista alguma. Insisti, mostrei que a diferença de estilos não desmanchava a beleza nem a precisão descritivas da relação humana e humanística do tema e que, embora divergentes, eram um só. De nada adiantou, foi irredutível, iria pensar, poderia ser ou não ser... mais para o não ser. O encontro de frente e direto na casa de Osmani Barbosa com Nelson Vianna foi o último, como também estava sendo o primei¬ro. Mudou-se o escritor, logo em seguida, para Belo Horizonte. Quando o vi de novo, foi andando lá pelo quarteirão montes-clarense das Ruas Tupis e Rio de Janeiro, mas aparentemente distraído e, senhor ou não da vida, nunca me reconheceu. E até parece que a Montes Claros nunca mais voltou. Coisas que só o Haroldo Lívio deve entender... Presidente da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 1/4/2014 08:13:58 |
ZAMENHOF E O ESPERANTO Wanderlino Arruda Eis uma vida interessante, que um dia o mundo inteiro ainda conhecerá: a vida de Lázaro Luiz Zamenhof, um médico polonês, judeu, nascido na segunda metade do Século XIX, na cidadezinha de Bialistok, onde se falavam normalmente quatro línguas. Criador da língua internacional ESPERANTO, que a cada dia tem aumentado o número de falantes, chegará a época em que Zamenhof fará parte dos estudos de jovens e velhos, e a admiração pelo seu nome e por sua vida lhe dará páginas inteiras nas enciclopédias. Não se trata de sonho esta minha afirmativa. Na verdade, qualquer caminho que a humanidade escolher, passará, no futuro, pelo Esperanto, a única língua que permitirá o entendimento normal e fraterno entre todos os povos. Queiram ou não queiram os donos do mundo, sejam eles americanos, russos ou chineses ¬como o foram a seu tempo os gregos, os romanos, os ingleses, ou como quiseram os alemães e italianos - nenhuma nação conseguirá impor o seu idioma nacionalista. Nenhuma pát ria aceitará a dominação cultural de outra pátria. Não existe imposição neste senti¬do. Os árabes dominaram a Península Ibérica durante oito séculos e só deixaram lá duas frases! Por outro lado, o Esperanto não é língua de ninguém, de nenhuma nação, mas de todas ao mesmo tempo. Não defende o Esperanto nenhuma cultura nacional, não tem chauvinismos, não tem gírias de grupos ou de classes sociais. O Esperanto é uma língua neutra, desvinculada de ideologias raciais. Facilmente aprendido pelo falante de qualquer outro idioma, será sempre uma língua auxiliar e jamais ocupando o lugar das falas de qualquer país ou região. Com tendência a ser amado e admirado, o Esperanto é a mais fraterna de todas as formas de comunicação, nivelando e igualando falantes, fazendo desaparecer dominações, nunca deixando margens para ninguém ser humilhado. Um esperantista ale¬mão ou americano terá a mesma categoria social de um esperantista brasileiro, angolano ou japonês. O esperanto será sempre uma segunda língua para um chinês, um espanhol ou um romeno. E uma segunda língua nunca tem dono, será sempre uma escolha, uma opção. É o Esperanto a língua mais fácil de s er aprendida no mundo. Não tem segredos, não tem exceções, não tem gramática complicada nem excesso de regras. A gramática do Esperanto é de uma simplicidade que encanta: tem apenas dezesseis itens, fruto da mais absoluta lógica e inteligência linguística. Enquanto o francês dispõe de 3.600 formas verbais, o Esperanto precisa de apenas doze. Enquanto o português utiliza de inúmeras formas de plural para substantivos, adjetivos e verbos, o Esperanto tem apenas uma para substantivos e adjetivos. As preposições do Esperanto são perfeitas, definidas. As palavras que indicam tempo, lugar, quantidade, causa, razão, modo, qualidade têm sempre as terminações fixas para cada caso assim também como as que denotam coletivos, indivíduos, conjuntos, graus, parcelas. Aprende-se contar em Esperanto em apenas dez minutos. O conteúdo gramatical pode ser do¬minado em poucas horas. Já houve na história quem o tenha aprendido em horas: o genial Tolstoi, por exemplo, que chegou a traduzir do Esp eranto para o russo com menos de meio dia de es¬tudo. Não creio que exista outra experiência intelectual melhor ao que a aprendizagem do Esperanto. Tem o sabor da história, a sensação da matemática, a curiosidade da lógica, a luminosidade da geografia, o mistério das artes. O Esperanto é tão perfeito, que criado por Zamenhof há cem anos, estudado e dissecado por linguistas do mundo inteiro em noventa e oito congressos internacionais, não teve até hoje uma única modificação em sua estrutura. É ainda a mesma língua do sábio polonês de Bialistok, com a mesma perfeita estilística. E sem sotaques! Presidente da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas |
Por Wanderlino Arruda - 27/3/2014 08:13:37 |
INESQUECÍVEL ADÉLIA MIRANDA Wanderlino Arruda Como em fins de 1988, vejo ainda e sempre Adélia Miranda, doce e querida amiga, como a tenho visto desde os dias em que, quase menino, cheguei a Montes Claros. Ela, também garota, novinha, estudante não me lembro se do Colégio ou do Instituto, era colega de Mary, filha de Dona Tonica, proprietária da pensão onde fiquei morando. Adélia fazia parte de um lindo grupo de Tiana Osório, Belvinda e Lola Chaves, amigas da Mary, tudo gente fina, do melhor trato, um resumo social do melhor que havia. Não demorou muito e todas se viram ligadas a mim, acredito mais pelo inglês que eu sabia e lhes era útil do que propriamente pela minha alegria de viver e pelo meu espírito brincalhão que as fazia rir o tempo todo. Elas grã-finas, elegantes, bem postas na vida. Eu, pobre estudante e balconista de duas mudas de roupa, um só par de sapatos, provinciano, salvando-me apenas pela garra de trabalho e estudos e pela confiança no destino que poucos jovens do mundo poderiam ter. Mentalmente, escrevendo esta crônica, vejo Adélia ainda em nossa sala de estudos da casa de Mary, janela para a Rua Afonso Pena, esquina com a Padre Marcos, aquele bequinho que saía do Colégio. Fugindo das horas movimentadas do almoço e do jantar, o ambiente fazia silêncio para as almas jovens, interessadas e estudiosas. Pouco se falava de namoros, de cinemas, de footing, mas muito de gramática, de história, de geografia, de latim, territórios em que eu, mesmo nos primeiros dias, já circulava com a maior desenvoltura, inclusive com experiência de redação. Tempo gostoso e bom, quando eu me sentia importante, bem visto, cortejado por uma admiração que podia ser notada facilmente nos olhos de cada uma. Afinal, como podia aquele garoto de São João do Paraíso saber tanta coisa que a escola não lhes ensinara? Adélia, então, chegava a fazer-me confidências do quanto os nossos encontros eram agradáveis e proveitosos. Ninguém faltava. Ninguém atrasava. Era satisfação que transitava em todas as direções! Muitos anos depois, já longe das escolas secundárias, separados pelo trabalho e pela própria dinâmica da vida, vejo-me, de novo, junto a Adélia nos primeiros dias de Faculdade de Filosofia, quase no mesmo espaço geográfico da pensão da mãe de Mary, uma vez que a FAFIL se instalou exatamente no prédio do Colégio das irmãs. Lá estava Adélia, secretária de todas as horas, doçura de amizade, consideração sem igual, sempre presente em alma jovem e sincera, raro privilégio da vida. Adélia da mesma simpatia, sabor de mel no convívio ameno e prazeroso, suave em todos os momentos! "Quem não gosta de Adélia, de quem gostará?", eterna pergunta que a beleza de sua própria voz apresenta nos cantos das serestas tão vivas de Montes Claros! Doce Adélia, muitos e muitos anos de FAFIL, tão amada em todo o tempo! Estimada, admirada, querida de todos, linda presença de uma eficiência sem igual. Adélia, a própria FAFIL! Se não existisse, teria de ser inventada! De todos esses anos de FAFIL, também com Belvinda, com Lola, com tantos e notáveis companheiros e companheiras de estudo e de trabalho, jamais será esquecida a figura quase santa de Adélia Miranda, grande secretária! Para o quase meio século de bons serviços, muitos tributos ainda serão cobrados em favor da importância do trabalho de muitos dirigentes, de centenas de professores, de funcionários estimadíssimos, até de um punhado de bons alunos. Nenhuma figura, entretanto, em nenhuma época, será tão importante como a de nossa doce Adélia, grande Adélia Miranda, amada e protegida de Deus e de todos os deuses da amizade e do amor! Há algum tempo no Mundo Maior, acredito muito e muito admirada, tenho certeza de que todos os ambientes que a circundam são e serão sempre luminosos e cheios de sonoridades. Tão lindos como as suas melodias na seresta de Montes Claros e da nossa Minas Gerais! * Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 20/3/2014 09:00:20 |
Academia Maçônica Inova com Participação Feminina Wanderlino Arruda A Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas foi instalada na noite de quarta-feira, em evento realizado na Loja Maçônica Filhos de Hiram, em Montes Claros, com uma novidade: receberá mulheres como Sócias Honorárias. O presidente Wanderlino Arruda anunciou a filiação de Ivone Oliveira Silveira, presidente da Academia de Letras de Montes Claros que neste ano comemora 100 anos, além de Amelina Chaves, viúva do maçom Almir Chaves e também da Academia de Letras de Montes Claros. Será a primeira vez que mulheres participarão de uma Academia Maçônica de Letras. Desde o ano de 2009 que a Maçonaria discutia a criação da Academia de Letras em Montes Claros, nos moldes da existente em Sete Lagoas e Juiz de Fora. A Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas tem como diferencial sua jurisdição regional, pois envolve 75 lojas de 86 municípios, vinculadas ao Conselho de Veneráveis do Norte de Minas (Convenorte). O presidente do Conselho, Silvio Cesa Carvalho salienta que a principal função da Academia Maçônica de Letras é fomentar a atividade cultural dentro da instituição. Além da posse de 40 maçons como sócios efetivos, a Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas tem sócios honorários, como o ex-reitor da Universidade Estadual de Montes Claros, José Geraldo de Freitas Drumond e o empresário Luiz de Paula Ferreira, ambos egressos da Loja Deus e Liberdade, Thier Penalva, considerado um dos maiores pesquisadores sobre a Maçonaria, Cesario Termando Rocha, Célio Brito, Dário Cotrim, José Jarbas Oliveira Silva e Waldir Senna Batista. Entre os beneméritos, os Grão-Mestres Euripedes Barbosa Nunes, de Goiás e Amintas Araujo Xavier, além de Jorge Lasmar, da Academia Maçônica de Letras de Minas Gerais. O sócio correspondente é Joenildo Chaves, montes-clarense desembargador em Mato Grosso do Sul. Todos associados até agora são maçons, ativos ou mesmo afastados. A exceção agora será a filiação de mulheres; A filiação de Ivone Silveira e Amelina Chaves deverá ocorrer na próxima sessão magna da Academia Maçônica, que poderá ser no lançamento do primeiro livro, com os currículos e história dos quarenta patronos, além dos associados efetivos, honorários, beneméritos e correspondentes. A inserção feminina na Academia Maçônica recebeu o apoio dos Grão-Mestres presentes a solenidade, Eurípedes Barbosa Nunes e Amintas Araújo Xavier. A escritora Ivone Silveira, que neste ano completa 100 anos de idade, parabenizou a Maçonaria pela criação da Academia de Letras e convidou os novos acadêmicos a trabalharem em parceria com a Academia Montesclarense de Letras, sob sua presidência há 29 anos. |
Por Wanderlino Arruda - 17/3/2014 14:07:10 |
2014, Centenário de Yvonne Silveira Wanderlino Arruda Yvonne e Olyntho Silveira realizaram, lá pela meia idade, uma mais do que querida adoção. Receberam, com muita alegria, Ireni, Ireni Mota Carlos, que lhes deu dois netos: Maria Luíza e Pedro Vinícius. O nascimento de Maria Luíza Oliveira Silveira foi elegantemente comemorado com um soneto de Olyntho, um dos mais bonitos que ele escreveu. De Maria Luíza, curso superior de Enfermagem, casada com Leandro Pimenta Peres, nasceu o bisneto Vinícius Silveira Peres, que já anda como rapaz, dá recados e faz as honras da casa quando chega uma visita. Moram todos numa linda casa da Rua Basílio de Paula, que liga a Vila Brasília ao Bairro Todos os Santos. Para a época de antanho do casamento, em Brejo das Almas, Olyntho e Yvonne se uniram já bem coroas (76 anos de vida em comum), ele com 23, ela com 18. E só se casaram depois de quatro anos de namoro, porque Olyntho não lhe dava sossego, passando dia e noite de bicicleta em frente à casa de D. Cândida e Niquinho Oliveira, s eu pai. Por falar em Niquinho, é bom dizer que ele, na verdade, tinha um nome de literato e de orador e dois apelidos como farmacêutico, um no Brejo, outro em Montes Claros: o normal era Niquinho Oliveira. O outro, que lhe foi posto por Joaquim Sarmento, um dos seus melhores amigos, era Niquinho Açúcar, só usado pelos mais íntimos. E por que Ninquinho Açúcar? Havia, na Camilo Prates, da Padre Augusto até a Praça Doutor Carlos, dois Niquinhos farmacêuticos: Niquinho Teixeira e Niquinho Oliveira. O Oliveira, louro e brancão, como disse antes, de olhos verdes; o Teixeira, um tanto quanto amorenado. Para distinguir melhor, Joaquim Sarmento apelidou-os de Niquinho Açúcar e Niquinho Rapadura, ficando assim bem mais clara a identificação. Quando não era ainda normais as viagens para outros países, Dona Yvonne fez duas aventuras na Europa. A primeira em 1981, lembro-me muito tendo de memória os comentário do seu companheiro de turismo, Lazinho Pimenta. A segunda em 1991, com um turma de amigas, um mês inteiro percorrendo Portugal, depois de participar como representante brasileira em uma Convenção do Elos, no Faro, quando D. Fernanda Ramos era presidente internacional. Sem dúvida, fizeram muito sucesso, bela apresentação do elismo brasileiro, principalmente do nosso Elos Clube de Montes Claros, que sempre esteve na vanguarda. Desejo lembrar também aqui da admissão de Dona Yvonne na Academia Montesclarense de Letras, juntamente com Simeão Ribeiro Pires, Olyntho Silveira, Cândido Canela e Sílvia dos Anjos, primeira turma convocada para se unir aos fundadores Alfredo Marques Vianna de Góes, João Valle Maurício, Joaquim Cesário dos Santos Macedo, Francisco José Pereira, Orlando Ferreira Lima, Heloísa Neto de Castro, Antônio Augusto Veloso, Maria Ribeiro Pires, Dulce Sarmento, José Raimundo Neto, Hélio Oscar Valle Moreira, Avay Miranda e Geraldo Avelar. A curiosidade é que os criadores da Academia não queriam ter patronos, privilégio que ficaria para eles mesmos, quando morressem. Foi Yvonne Silveira que os convenceu a adotar a prática normal. Neste grandioso 2014, ano de seu centenário, estaremos em constantes festas, preparando e comemorando juntamente com ela todas as glórias que Deus lhe permitiu. Ana Valda Vasconcelos, representando o Elos Clube, Maristela Cardoso planejando pelos artistas, e eu, como presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, estamos nos reunindo com muitas instituições para realizarmos importantes reuniões festivas. Elos Clube, Academias de Letras, Instituto Histórico e Geográfico, Rotary, Conservatório, Fundação Marina, Ateliê Felicidade Patrocínio, Associação dos Artistas Plásticos, Automóvel Clube, Câmara Municipal e Assembleia Legislativa. As duas maiores manifestações deverão ser da Reitoria da Unimontes e da Secretaria de Cultura. O Reitor João dos Reis Canela já está preparando sua festa para o mês de maio. Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino Arruda - 10/3/2014 16:31:39 |
Yvonne Silveira e o Largo de Cima Wanderlino Arruda Yvonne de Oliveira Silveira é de Montes Claros e veio ao mundo em 30 de dezembro de 1914, numa casona de esquina das Ruas Padre Augusto/Doutor Santos, onde agora reina o Banco Itaú. Tempo bom de infância de Cândido Canela, Mário Veloso, Waldir Bessone, Raul Peres, Ciro dos Anjos, Felicidade Tupinambá, tempo de suas amigas Walkiria Teixeira, Zuleica, Luíza Froes, Dora dos Anjos, Idoleta e Maria Maciel. Tempo de seu futuro namorado, noivo e marido Olyntho Silveira. Dona Yvonne tem duas origens interessantes: da família Peres, de tradição montes-clarense e do sangue alemão do seu pai Antônio Ferreira de Oliveira, lourão de olhos verdes, sobrenome brasileiro, porque traduzido. Teve sete irmãos: Wilson, Lívio, Zilda, José Laércio, João Hamilton, Paulo Nilson e Nilza. Muitos tios: Alexina, Francisco, Levy, Iracy, Raul, Rubens, Zelândia e Zélia. Francisco era o famoso Cica Peres. Raul, é o doutor Raul Peres, agora chegando aos 104. Foi criada pertinho do Largo de Cima, conhecedora perfeita da Praça Doutor Carlos, ouvinte de todo o barulho de fereiros e de animais amarrados em moirões e palmeiras. Tudo uma alegria para a menina que vivia entre canteiros de flores e hortas de alface, brincadeiras de quintal e jogos de rua, estórias dos mais velhos no escurecer da boquinha da noite, assentados na calçada. O tempo corria lento, marcado pela posição do sol e pelo sino do relógio da torre do mercado, um batido musical para cada meia hora e tantas e tantas pancadas coerentes com o número do mostrador; meio-dia e meia-noite, claro com doze lidas sonoridades. O que não era poeira do chão, era boniteza colorida das dos pequis, dos cachos de banana, dos sacos de laranja, dos bacuparis e das pitangas, das carnes cheirosamente penduradas e pingando gordura. Tudo, tudo entre a realidade e os sonhos. Agora Dona Yvonne – assim eu a sempre tratei mesmo como colega de faculdade - vive seu centenário e faz a vida se transformar em obra de arte. Sempre parecendo que saiu do banho, cabelo arrumado, perfume de mãos que oferecem flores, seu olhar é de quem ama mais do que tudo a existência. Em Yvonne Silveira, nada mais condizente que as palavras de Emmanuel construídas no sonho e concretizadas no amor: “Duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus: uma chama-se AMOR, a outra, SABEDORIA. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo-a para o Alto”. O Curso de Letras, o primeiro em nível superior em Montes Claros, teve início no Colégio Imaculada Conceição, em 1963, teve matrícula de 52 e formatura de somente sete: Yvonne, Saturnino, Hugo, Adilson, Lola, Irmã Guiomar e Wanderlino. Quando o terminamos em 1967, para sermos professores universitários em nossa própria escola, Yvonne e eu tivemos de seguir para a pós-graduação na Universidade Católica de Minas Gerais, ela na especialização em Teoria da Literatura, eu em Linguística Geral, isso além de termos de prestar exames de suficiência, ela na Universidade Federal em Belo Horizonte, eu na Federal de Juiz de Fora, porque o registro da Fafil iria demandar ainda algum tempo. Já com muita prática no ensino de Português e de Literatura, fomos na área os primeiros a preparar futuros alunos e candidatos ao vestibular. Daí, da cátedra e da titularidade de professores, vivemos entre importantes gerações de estudantes que, hoje, marcam o jornalismo, a vida social, a bat alha política e cultural em várias partes deste Brasil. Fico encantado quando um aluno de Yvonne marca lembranças de suas aulas, principalmente por recordar cada minuto do entusiasmo dela, principalmente das muitas palavras de incentivo à leitura e à escrita. Como a sua estreia no magistério foi aos doze anos, ela teve no mínimo oitenta e oito de oportunidades para despertar vocações, quase um século de benfazeja prestação de serviços à cultura. Vale muito comemorarmos seu centenário o ano inteiro! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |
Por Wanderlino arruda - 3/3/2014 17:23:43 |
VOLTA DAS FÉRIAS Wanderlino Arruda Ninguém sabe explicar como e porque o tempo de férias, gasto sem fazer nada, passa tão depressa e de modo tão imperceptível. Os dias e semanas voam encantados, bailando sobre nossa alegria pelos momentos que sobram da tribulação do sempre e do constante. Humberto de Campos, em uma de suas inesquecíveis crônicas de fim de vida, lá pelos idos de trinta, dizia que o tempo de alegria tinha a velocidade das borboletas, a agilidade multicolorida de asas que vão aqui e acolá, saltitantes, a zombar da tristeza e da dor, que rastejam como lentas e lerdas lagartas. A alegria é como o perfume, plena de presença, mas, sempre fugaz, passageira, marcando um fluxo de bem-estar. Alegria é como o azul ou qualquer outra cor, que só aparecem com a luz, o tênue espaço de claridade. Teço estas considerações sobre o tempo e sobre a alegria, para dizer que não vi passar os dias e as horas de ausência dos e-mails, do Facebook, das muitas páginas virtuais, quando não sei como nem de que ocupei todas as minhas horas de folga em longa viagem ao Uruguai e à Argentina, que ganhei de presente, porque este ano marca o início dos meus bons oitenta anos. Quase não mais Brasília - nas tarefas de organizar cursos e dar aulas para colegas mais novos, quase não viagens para falar do Rotary International, da Fundação Rotaria e até mesmo de literatura, tantos e tantos outros assuntos. Juntados às demais tarefas nas academias e no Instituto Histórico e Geográfico, é justo e normal o acúmulo de cansaço e disposição para o descanso. Janeiro, ressaca das festas do Natal, início e fim de pequenas tarefas, transforma-se em mais um motivo de acomodação. Fevereiro chega e acabam-se as desculpas, esvaem-se os sonhos de folga e haja mãos no serviço, que o trabalho não espera por ninguém. É claro que com tudo isso, não precisava ficar ausente do viver normal de todos estes muitos anos de luta diária. Desculpas não valem. Nenhum motivo pode ou deve obrigar a ausência deste convívio tão doce de cada manhã de domingo e dos dias normais de semana. É como um som de piscina a revigorar o corpo e a alma, tonificando a amizade de quem lê e quem escreve, mesmo quando quem escreve não escreve lá tão grandes coisas... Aqui estou, depois da Primavera e em pleno Verão, tempo-início de novas jornadas, ano do centenário de Yvonne Silveira, com programação que Ana Valda e eu estamos a elaborar e a incentivar. Tempo histórico, marco de muitas lutas de velhos e de novos bons companheiros. Tempo e saudades dos mais antigos, ainda diletantes, apesar dos sessenta anos de jornalismo, sessenta de bancos, de magistério e de Rotary, pois, em tudo desde 1954, recém-saído do Grêmio "João Luiz de Almeida" e do Tiro de Guerra, desenvolvimento na política estudantil, contatos com o mundo social de que era o tempero do Rotary Montes Claros, no velho hotel São Luiz, presidência de Luiz de Paula , animação de João Souto. Que este início de ano tenha sempre o sabor de todas as idas e vindas das letras de forma dos jornais e dos livros. Que este ano, quando espero lançar pelo menos dois livros, deixar perfeita e prestigiada a Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas, fundar a Academia Montes-clarense de Artes e publicar no mínimo mil e duzentas páginas de história através do nosso Instituto. Espero que o 2014 seja riquíssimo em produção de cultura e em despertamento de muitos e muitos ideais. Acima de tudo demonstrar que idade - mesmo quando avançada - não pode ser motivo de acomodação ou de descanso. O centenário da intelectual Yvonne de Oliveira Silveira vai dizer do quanto Montes Claros é a cidade da arte e da cultura. Que Deus nos proteja e garanta a muita saúde! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros |