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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de dezembro de 2024


Maria Luiza Silveira Teles    [email protected]
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Por Maria Luiza Silveira Teles - 29/11/2019 13:57:42
A ALEGRIA DAS PEQUENAS COISAS

Sou acordada toda manhã por uma orquestra especial: o canto dos mais diversos pássaros que visitam meu jardim e meu quintal. Ao fim da tarde, sento em minha varanda para recebê-los. É um presente que me é oferecido gratuitamente pela natureza. E, quando desço para o centro da cidade, vou observando as árvores em flor, os transeuntes caminhando, os novos prédios, a bela arquitetura que se desenha por nossa cidade. É um prazer incomparável! Parece que nasci apaixonada pela beleza das pequenas coisas. A primeira casa em que moramos, na Rua Santa Rita Durão, nos Funcionários, em Belo Horizonte, casa essa que havia sido de meu avô materno, foi o meu pequeno mundo em meus primeiros três anos de vida. Logo que fiquei de pé, comecei a explorar aquele mundo encantador e fascinante. As portas tinham maçanetas esmaltadas com delicadas pinturas e me demorava a contemplá-las. Tudo ali me marcou tão profundamente que, ainda hoje, sou capaz de descrever cada canto daquela casa. Lembro-me até da laranjeira e do pé de conde que havia no quintal. Da varanda e da escada que dava para o jardim. Tudo ali me deslumbrava! Como também me encantavam as pessoas que lá entravam, principalmente os parentes de papai que vinham daqui do Norte de Minas e lá se hospedavam. Eu me apaixonava por todos eles: minha avó, minha madrinha, minhas primas já adultas. Acho que foi naquela casa que aprendi a ser feliz, sem nada exigir da vida senão aquilo que ela me oferece gratuitamente. Percebo as pessoas tão atormentadas pelas coisas do dia-a-dia, sem se darem conta da beleza que nos cerca e nos oferece a oportunidade de sermos felizes e pacíficas. O planeta é tão lindo e, em especial, o nosso país. Mas, tem gente cujo sonho é viajar pelo mundo, sem nunca ter conhecido a beleza da Amazônia, as praias do Nordeste, o mundo encantador e europeizado do Sul. Por que desejar o que está tão longe e exigir tanto de nós para alcançar quando tudo de bom e bonito está ao alcance de nossos olhos? Não podemos evitar as tristezas da vida como a doença e as perdas. Elas fazem sofrer, mas, como tudo, também são passageiras. Acho que ser feliz é uma escolha que fazemos. Vivo as dores e alegrias com grande intensidade. Porém, elas não me fazem deixar de ser feliz e de viver em paz. Deixo a vela queimar até o fim e pronto. Procuro não olhar demais para o passado, nem cultivar as dores. Escolhi ser feliz, independente dos acontecimentos. Acho que nasci com a vocação para a felicidade, mas é claro que a idade ajuda muito. Não pretendo ensinar nada a ninguém, há muito deixei a sala de aula. Acho que cada um tem o seu caminho e encontra a sua fórmula para viver sem grandes deslizes ou sofrimento, O que percebo, entretanto, é que, depois do smartphone e das redes sociais, as pessoas vivem mais pensando na vida dos outros e deixam de saborear a delícia da convivência, dos olhos nos olhos, do abraço e dessa interação que nos ajuda a crescer em humanidade, como também, mais do que nunca, estão perdendo o precioso hábito de ler livros. A vida, porém, me ensinou algo muito importante: só tenho controle sobre minha própria vida e sobre minhas reações. Aprendi que, quanto mais gratidão por aquilo que parece banal, mais coisas boas e pessoas boas vêm até nós. Respirar plenamente, acordar de manhã, movimentar-se, enxergar, ouvir, ter o coração batendo no ritmo, um cérebro capaz de observar e raciocinar, ter um emprego, família que nos ama e se importa conosco não são coisas banais, são privilégios que não são dados a todos. Por isso, começo meu dia agradecendo por tudo, inclusive por ter condições de tomar um farto café da manhã. É um conselho que dou àqueles que desejam viver bem e em paz: agradeçam por aquilo que são e por aquilo que têm. E tornem-se mais observadores do que lhes vive e acontece no entorno. Andava triste por ter uma avalanche de pensamentos e não estar conseguindo escrever absolutamente nada. Sendo que ainda tem um fator agravante da situação: a idade nos torna perigosamente rigorosos, o que nos leva a achar que tudo que produzimos é pura besteira. Entretanto, percebi que não valia à pena aborrecer-me com isso. Desde que comecei a escrever, sempre vivi alguns vácuos criativos e fiquei muito feliz ao tomar conhecimento de que isso costuma acontecer com os mais criativos escritores. Como eu, uma pobre escrevinhadora, não os teria? Além disso, os grandes escritores também rasgavam muitas obras e as abandonava, pensando o mesmo que eu. Então, vejam: pequenos contratempos não merecem de nós nem mais um cabelo branco! O que importa mesmo é cultivar sempre a alegria e o otimismo porque, afinal de contas, tudo é passageiro demais. Vamos aproveitar a benção dessa vida e dessa maravilhosa viagem pelo planeta Terra.

Maria Luiza Silveira Teles (membro da Academia-montesclarense de Letras)


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Por Maria Luiza Silveira Teles - 12/2/2019 14:59:57
DE TRAGÉDIAS E SINOS QUE DOBRAM

Era uma vida pacata. No entorno, a paz. A paz da natureza belíssima, do murmúrio das águas, do gado pastando, das galinhas ciscando, dos gritos dos soins... Aquele verde que acalma e traz o deslumbramento da obra perfeita do Criador. Por perto, a grandeza da arte, a hospitalidade e a bondade de um povo simples e trabalhador. Aquela vida de vizinhos amigos, comadres que trocam receitas, utensílios e temperos e se encontram ao redor do fogão de lenha ou nos banquinhos em frente das casas.
De repente, porém, o monstro adormecido abre sua bocarra medonha e vai engolindo o que encontra pela frente. Na gula desmedida não perdoa gente, nem moradias, nem águas, nem bichos... A tudo destrói e no seu rastro a morte, o lamento, o choro e o ranger de dentes...
Ninguém para abater aquele monstro? Já não bastava a beleza das serras destruída? Filho do satanás da ganância e da ambição desmedidas de homens que criaram o monstro, homens sem piedade, sem misericórdia, cegos pelos próprios demônios que vivem dentro deles mesmos, apenas projetando-os fora de si. Homens vazios de Amor.
Aquela dor incomensurável sacudiu um país inteiro. Galvanizou as pessoas que, num choro convulsivo, levantaram-se a pedir justiça. Mas, será que existe realmente justiça humana no planeta Terra?
As tragédias se sucederam e as lágrimas não conseguiram secar... Os peitos arfavam diante da dor e do medo. Dormir passou a ser algo difícil. A impressão que todos tinham é que a noite e a tempestade de suas vidas eram intermináveis.
Mas, existe algo que o ser humano comum carrega dentro de si e que o faz sobreviver às guerras, às catástrofes, às desgraças de qualquer ordem: a Esperança e a Fé. Assim, re- constroem o que foi destruído. Há feridas, porém, que nunca cicatrizam, há traumas que nunca se curam... Entretanto, nada é desculpa para o Crime. A paz só pode voltar às nossas vidas quando os crimes são punidos.
Estamos tristes e mais pobres. Pelas centenas de vidas que se foram, pela natureza corrompida em sua pujança, pelos sonhos estraçalhados daqueles meninos, por uma voz importante que se calou... E, agora? É a pergunta que todos se fazem. E essa sede e essa fome?
O homem deve ter direito à Vida, vida plena. A natureza deve viver na sua exuberância, sem ameaças ou ataques. Os sonhos devem se tornar realidade. Uma voz lúcida deve poder gritar. Não temos controle sobre os fatos inexoráveis da vida. Porém, temos controle, sim, sobre certo grau de segurança e paz. Não zelar por isso é crime, é injustiça que clama aos céus.
Quando o Homem vai aprender? Por que a gente sofre pela dor do Outro? Por que nos comovemos diante da tristeza de outrem, do sofrimento dos bichinhos e da Natureza? Porque somos uma só família: a família humana. Porque Natureza e nós somos uma coisa só. Todos somos Um. Aquilo que atinge a um atinge a todos. Bobagem pensar o contrário. Pobres daqueles que vivem como se isso não fosse uma verdade gritante!
Lembremo-nos das palavras de John Donne: “Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
E eu digo mais: quando natureza, homens e bichos morrem, eu também morro com eles.

Maria Luiza Silveira Teles (membro da Academia Montes-clarense de Letras)




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Por Maria Luiza Silveira Teles - 15/10/2018 17:53:22
O MESTRE GEORGINO JÚNIOR

“Meus olhos cegos de poeira e dor,
Tudo é previsto pelos livros santos,
Que só não falam que o sonho acabou”.


A benção, Mestre! Mestre no conhecimento, na inteligência, na lhaneza, na generosidade, na arte, na poesia. Mestre de todos os montes-clarenses.
Nós te reverenciamos por tudo que representaste em nossa vida e na vida cultural de Montes Claros, cidade que tanto amaste.
Não há como expressar a nossa dor e a saudade! Tua cidade amanheceu triste e nublada, mas, com certeza, por trás das nuvens, paira a luz que de ti emana. Porque a verdade é que não foi agora que te tornaste estrela, sempre o foste.
Bem mais velha, pude acompanhar toda tua jornada. Eras ainda criança, quando comecei a escrever no recém-fundado “Diário de Montes Claros”. Logo, porém, já lia tuas belas crônicas no outro jornal, onde, mais tarde, seríamos colegas.
Nossas famílias sempre foram amigas. Teu pai foi colega do meu na Academia Militar e, ao chegarmos a Montes Claros, uma das nossas primeiras obrigações foi visitar tua casa, onde não pude distinguir-te no meio da grande meninada. Afinal de contas, eu tinha dezesseis anos e tu não mais do que uns oito.
Mas, logo, logo, começaste a brilhar nas artes, na poesia, no jornalismo. Como não conhecer e respeitar o filho do Comandante, que já se destacava extraordinariamente na Cultura?
Graças a Deus, a minha admiração não ficou apenas de longe. Tive a graça de conhecer-te de perto e tornar-me tua amiga. Sei bem que a admiração era mútua, E, muitas afinidades nos aproximavam.
Sei o quanto gostavas da solidão e de tua toca. No entanto, tu te obrigaste a sair dela quando foi para colocar-me na Presidência da Academia Montes-clarense de Letras, gesto que jamais vou esquecer.
Pelo Facebook, nos falávamos todos os dias. Sem tua verve, porém, o face e toda a cidade se tornaram de uma pobreza enorme. E teu fino humor?
Ah, Júnior, como vamos viver sem tua presença? Bem sei que tudo que fizeste é uma herança eterna. Entretanto, onde fica teu humor matinal? Talvez aí, no plano em que te encontras, provavelmente junto a muitos de teus colegas e entes queridos... Mas, e nós?
Ah, preciso contar-te o que talvez não viste: teu velório, apesar da dor, foi uma linda festa. Com lágrimas nos olhos, todos cantávamos as belíssimas músicas que fizeste junto com teu irmão, Tino Gomes, o aniversariante do dia.
Muitos se perguntavam: “Como Júnior fez isso? Partir no dia do aniversário de seu grande amigo e parceiro?” Mas, eu compreendo. A tua partida foi talvez o maior presente que poderias dar a ele. Ela dizia: “Meu irmão, a morte não existe. Não vês como continuo tão vivo dentro de ti? Vim na frente para esperar-te quando estiveres pronto para continuar a Jornada.”
Não há como as gerações futuras te esquecerem. Todas as vezes que alguém cantar o hino não-oficial de Montes Claros, haverão de se lembrar de ti.
Hoje comemoramos o dia do Professor, esse artífice de almas. Parabéns, Mestre! Tu não foste apenas professor de teus alunos da UFMG. Foste professor de toda uma cidade. Somente um imenso amor pode ser a recompensa por tanto. E, estou certa, tens o amor de toda a nossa querida comunidade, essa cidade que não foi nosso berço, mas que tão bem nos acolheu.
Obrigada, meu amigo, obrigada por tudo! Perdoa-me se minhas palavras não estão à altura de ti. É que foste um monstro sagrado e eu sou apenas uma pobre escrevinhadora.

* Maria Luiza Silveira Teles (membro da Academia Montes-clarense de Letras)



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Por Maria Luiza Silveira Teles - 6/5/2018 01:28:11
NADAMOS NO MESMO RIO

A verdade é que, nos silêncios de nós mesmos, nos bastidores de nossas almas, vamos urdindo as tranças de nossas sagas com os sonhos roçando as estrelas e os pés, tantas vezes, pisando em cardos e solos bastante incertos.
Não há nada de previsível em nossas vidas. Elas simplesmente vão fluindo como os rios em remansos, rochas, abismos e ventanias. Hoje tudo está colorido. O sol brilha radiante. Amanhã, nas trilhas tortas de nossas andanças, as tempestades e as noites negras nos pegam pelo caminho.
Não há como mudar isso. Podemos mudar a nós mesmos, as nossas atitudes, os nossos pensamentos diante dos acontecimentos que, tantas vezes, nos atropelam. Não há, porém, como mudar o curso da vida. Ela é como é: efêmera e em eterna mutação.
Todo ser humano que pensa com profundidade, se dedica à reflexão, é tomado pela angústia. Aliás, a angústia é característica das grandes inteligências, dos gênios, dos artistas. É a angústia que nos leva a criar. A vida aqui é pouco para quem pensa. Por isso existe a Arte e a necessidade da transcendência. Necessitamos explodir de alguma forma e o fazemos num poema, numa pintura, numa escultura, numa música, seja lá como for. A angústia persegue o filósofo e o poeta principalmente.
Somente os bobos são alegres sempre porque vivem na superficialidade. Mas, mesmo esses têm os seus dramas, vivem suas noites de agonia porque a dor não poupa ninguém. A dor nos iguala a todos.
A resplandecência do mundo que nos encanta, ao mesmo tempo, leva aqueles que têm a cognição intrépida a se depararem com as perguntas sem respostas, as dúvidas, as incongruências.
O desconhecido nos fascina e nos atemoriza. É difícil para o ser humano abandonar a sua zona de conforto e segurança. Durante toda a minha vida tenho percebido traços de melancolia e de angústia em todos os grandes homens que conheci no meu dia-a-dia, assim como na História da Humanidade e nos grandes pensadores. Freud e Jung, dois grandes gênios, costumavam desmaiar ao comprar uma passagem de viagem. Nietzsche e Schopenhauer sofriam muito com suas crises de angústia. O grande problema é que nós, pobres mortais, não somos mais que uma mísera partícula no Universo e, no entanto, imaginamos dominar o campo do Conhecimento quando o que sabemos de tudo é apenas uma ligeira fresta da Verdade. Conhecemos a ponta do iceberg.
Acredito sim que a Fé nos sustenta, não a fé cega e pueril de ídolos e rituais, mas a Fé que se alicerça na Lógica e na Espiritualidade verdadeira e profunda. Entretanto, quando se pensa demais, todos nós temos momentos em que titubeamos na própria fé. Por isso a grande maioria prefere fugir de pensamentos profundos e abrangentes. Têm muito medo de perder os alicerces que os mantém e os ajudam a sofrer menos.
A única verdade é que, pensadores ou não, nadamos no mesmo rio. Somos levados pela mesma correnteza. De nada vale pensar que alguns são diferentes de outros. Estamos no mesmo barco. Misturamo-nos ao próprio rio e nos assustamos com a possibilidade de nos perdermos no Oceano. Esse é o grande preço que temos a pagar por sermos animais racionais e os únicos que têm consciência de sua própria morte.
E pior do que isso é ter que viver no meio de criaturas que nem pensam, mas simplesmente se deixam levar pelo pensamento de outros.

Maria Luiza Silveira Teles (membro da Academia Montes-clarense de Letras)


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Por Maria Luiza Silveira Teles - 8/3/2018 17:39:16
Minha homenagem de hoje

Maria Luiza Silveira Teles


Hoje, Dia Internacional da Mulher, minha lembrança se foca principalmente em uma, que passou por minha vida e abriu caminhos para a Mulher em Montes Claros: minha mãe. Nunca quis aparecer, nunca foi mulher de sociedade, de buscar brilhos, mas deixou sua marca naqueles que com ela conviveram e em seus muitos alunos de ioga. Sempre ressaltava: “Consegui formar um só”: Renilson Durães.
Zezé Silveira, como era conhecida, advinda do sul de Minas, filha de famílias portuguesa e alemã, aqui veio parar, no fim da década de 50, acompanhando meu pai, Geraldo Tito Silveira. E, logo, abalou a provinciana cidade de Montes Claros com seus costumes bastante avançados para a época.
Criada na capital e acostumada a frequentar o Minas Tênis Clube, onde nadava, fazia ginástica e jogava voleibol, chegou à Praça de Esportes e, em horário masculino, mergulhou na piscina, sem tomar conhecimento, e foi, depois, jogar vôlei com os homens, enquanto seus filhos se divertiam pela Praça. Foi um enorme “ti-ti-ti” na cidade... Mulher jogando vôlei e com homens? Nadando em horário masculino? Um escândalo! Como podia ser uma “mulher direita” alguém que se atrevia a tanto? Depois, ainda mais, dirigindo jipe, caminhonete, resolvendo negócios, conversando com homens, entrando no Batalhão?
Ela, porém, jamais se preocupou com aparências ou com que outros comentavam. Vivia sua vida e jamais se preocupava com a vida dos outros a não ser quando alguém que conhecia estava em sofrimento ou precisava dela por algum motivo. Costumava dizer: “Só tenho satisfações a dar a Deus e ao pai de vocês”.
Era uma mulher forte, corajosa, de porte elegante, parecendo para muitos como orgulhosa. Entretanto, na intimidade, era de uma simplicidade incrível, embora tivesse nascido em família rica e aristocrata, escandalizava até os seus, de ares muito refinados, com sua simplicidade.
Depois dos sessenta anos, já avó de vários netos, formou-se em duas faculdades e aprendeu sânscrito, para meu grande espanto. Disse-lhe que tiraria o chapéu para ela se conseguisse aprender essa língua morta e ela me surpreendeu. Quando foi prestar exames junto à UFMG e a PUC, eu lhe disse: “Desista, mamãe, isso não importa, a senhora não vai conseguir!”, pois a danada, com sua teimosia tão peculiar, conseguiu brilhar.
Trabalhou até além um pouco dos oitenta anos como Mestra de ioga (ela me mataria se me visse escrever ioga com i, pois, em sânscrito, a palavra é escrita com y...).
Sempre falava com carinho de suas velhinhas. Eu perguntava sempre: “Quem são elas, mamãe?” e ela me respondia sempre: “Quer conhecê-las? Visite-as comigo”. Mas, eu não me animava. Certo dia, porém, ela demorou-se em Belo Horizonte por causa de uma cirurgia que complicou. Aí, eu que já morava com ela, atendia telefone, a todo o momento, com mulheres de vozes bem próprias da idade avançada a perguntar por ela. Acabei cansando-me e perguntei a uma delas: “Quem é a senhora, qual seu nome, por que tantas mulheres idosas ligam atrás dela?”. E ela me respondeu: “É porque ela traz a cesta básica para a gente todo mês e esse mês ela ainda não veio.” Aí, eu entendi tudo. Ela cumpria fielmente os preceitos de nosso Mestre Jesus: “Que sua mão esquerda não saiba o que faz a direita”. Quando ela voltou, passei a ir com ela nas visitas às “suas velhinhas” e tive o enorme prazer de conhecer criaturas fabulosas como dona Negrinha, com seus quase cem anos. Trocávamos versos...
Hoje, oito de Março de 2018, quero homenagear mamãe, essa criatura maravilhosa, que soube criar com dedicação seus seis filhos e ainda tinha tempo para o marido, suas aulas, seus estudos, seus esportes, seus Congressos, seus passeios, suas leituras, seus amigos e suas velhinhas.
Além dela, quero homenagear essas anônimas criaturas, hoje em outra dimensão, assim como ela, mulheres esquecidas por suas famílias e pela sociedade, mas que mostravam em suas rugas o quanto haviam lutado, e, com seus sorrisos, sabiam valorizar e amar quem nunca se esquecia delas.

Maria Luiza Silveira Teles (membro da academia Montes-clarense de Letras)




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Por Maria Luiza Silveira Teles - 10/12/2017 15:58:48
ENCONTRO FATAL

Hoje, mais uma vez, assisti ao extraordinário filme “Lendas da Paixão”, com Brad Pitt e Anthony Hopkins. E, como sempre, me emocionei e chorei.
Resolvi, então, perguntar-me porque choramos em cenas em que algum dos personagens morre, assim como choramos quando perdemos algum ente querido.
Diante do filme choramos por empatia, isto é, olhamos a cena como realidade, mesmo conscientes de que é ficção, e nos transportamos para as situações reais diante da probabilidade de perder alguém querido ou nos lembramos de quando isso já aconteceu.
Bem, até aí, nada de novo. Entretanto, examinando o meu interior, com extrema sinceridade e realidade, descobri que, diante da morte, choramos mais por nós mesmos. Choramos diante de nossa própria morte iminente. Choramos porque sabemos que iremos embora, sem saber quando nem como, e muitos sonhos morrerão conosco. Como dizia o grande poeta John Donne: “Não pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por você”.
Mesmo acreditando na eternidade de nossa essência, sabemos que não teremos tempo para realizar tudo que sonhamos algum dia. Um livro ficará sem ser escrito ou inacabado. Não leremos tantas das obras que guardamos para a velhice. Não terminaremos aquele quadro, aquela sinfonia ou aquele poema. Não faremos aquela visita que pretendíamos ou aquele encontro de velhos amigos. Nem tampouco escreveremos aquela mensagem para alguém que amamos.
Bobamente, as tarefas ficarão inacabadas, o lugar na mesa vazio, as roupas inutilmente dependuradas no armário e os chapéus no cabideiro.
Percebo, com tristeza, que o cenário de minha vida, como numa peça teatral, vai aos poucos se modificando até que caia o pano final.
Meus velhos amigos, um a um, estão indo embora. Meus pais se foram, meu filho, companheiros, ex-namorados, professores, colegas de trabalho, ex-alunos, pessoas proeminentes no tempo de minha juventude e maturidade.
Um dia, um meu irmão e eu fomos ao cemitério visitar o túmulo de nossos pais. Lá nos perdemos e eu, já cansada de tanto andar, sentei-me em um túmulo, enquanto meu irmão ia à Secretaria do Cemitério para saber onde ficava a dita sepultura. Esperando por ele e tentando esconder-me do sol, virei-me e dei de cara com a inscrição do túmulo: era de um ex-aluno que eu nem sabia que tinha morrido. Choquei-me e, refeita, fiz uma prece por ele.
Geralmente, nos velórios, as pessoas se abraçam com efusão, conversam bastante e contam anedotas e piadas. Tudo por quê? Para esquecerem que, breve, serão elas que estarão ali no caixão.
Choramos por nós mesmos. Porque sabemos que não podemos voltar atrás e consertar os nossos erros. Não teremos condições mais de pedir perdão àqueles que ferimos e que já se foram. Mesmo com o corpo físico já envelhecido, sem a energia, nem a elegância e a beleza da juventude, nossa alma ainda tem a mesma necessidade de amar e ser amado e de sonhar. Entretanto, em qualquer esquina da vida, inesperadamente e inexoravelmente, esbarraremos nela num encontro talvez previamente marcado. Ela que marcará o fim de uma bela viagem.
Nessa viagem fizemos relacionamentos cujo amor e cuja ligação serão eternos, mas não temos a certeza de que com eles voltaremos a nos encontrar . É como quando fazemos uma excursão com aquele bando de gente. Dentre esses alguns se tornarão nossos amigos. Lá, durante a viagem, faremos tudo juntos. Iremos juntos para a praia, jogaremos juntos partidas de baralho, iremos juntos ao cinema, ao barzinho, e teremos papos gostosos e intermináveis. Um dia, a viagem acaba e nos despedimos emocionados, jurando que nossa amizade será para sempre e que voltaremos a nos encontrar. A lembrança fica. Entretanto, muitas vezes as circunstâncias de nossas vidas nos separam e nunca nos reencontramos.
Com diz e canta Oswaldo Montenegro em sua bela canção “A Lista”: Faça uma lista de grandes amigos / Quem você mais via há dez anos atrás / Quantos você ainda vê todo dia / Quantos você já não encontra mais”. Pois é...
Como no filme, da mesma forma que o Ariston (Brad Pitt), cansei-me de enterrar meus mortos. Mas, não posso nem quero sumir como ele pelo mundo. Quero ficar aqui nessa terra que não foi meu berço, mas que me acolheu, e será, decerto, meu túmulo.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da AML)


82910
Por Maria Luiza Silveira Teles - 27/11/2017 13:20:06
O INCRÍVEL ARISTÔNIO CANELA

Os gênios são raros. A história cultural de Montes Claros tem registrado uma série de homens fenomenais no campo das Letras. Entretanto, conheci poucos que classificaria como gênios.
Os gênios são criaturas fora do comum, cujo cérebro trabalha de uma forma extraordinária como que num plano diferente daquele em que transita a média dos seres humanos. Por isso, inclusive, é difícil para eles se adaptarem a um mundo tão estranho àquilo que ele pode captar da realidade e imaginar. Sua leitura e interpretação nos escapam, pois estamos longe de alcançá-los.
Muitos pensam que o mérito de um escritor está no número de obras que produz. Isso, entretanto, não é verdadeiro. Ele pode escrever uma única obra e, no entanto, ser genial e seu nome ficar para a posteridade. A História está aí para comprovar isso. Margaret Mitchell, escritora americana, escreveu uma única obra que a imortalizou: “E o Vento levou...”.
Cyro dos Anjos é outro exemplo de escritor que produziu relativamete pouco, mas que é excepcional. Nunca a literatura brasileira haverá de esquecer “O Amanuense Belmiro”.
Estou tendo, na atualidade, a chance de conviver com um gênio, ainda pouco conhecido no meio cultural de Montes Claros. Isso porque ele não tenta aparecer. Como todo gênio, produz no silêncio, na solidão, no anonimato e sem necessidade de fazer propaganda de si, pois, fatalmente, sua genialidade há de se mostrar em sua obra.
Seu cérebro é febril e ele, uma criatura multifacetada, produz no campo da literatura, da música, do teatro. Poeta, compositor, contista, novelista, romancista e, ainda por cima, um excelente ortopedista.
Sobre o espetáculo produzido, dirigido e atuado por ele em “O Feitiço do Tempo”, espetáculo esse apresentado pela Academia Montes-clarense de Letras para mostrar a qualidade de seus membros, disse a doutora em Literatura, Ivana Rebello: “E por tal essência fui tomada (...) numa noite de um dos mais belos espetáculos que a cidade de Montes Claros conheceu. Música bem executada, teatralidade, cenário, luz e voz... E eu, amante confessa da arte, olhava para Lara, de apenas 9 anos, que assistiu a tudo inebriada. Falo do espetáculo O feitiço do Tempo, concebido e dirigido por Aristônio Canela”.

Tenho, desde muito nova, vivido num meio cultural bastante elevado e li os clássicos assim como os grandes escritores da atualidade. Varei noites de minha vida, desde a infância, lendo. Ultimamente, já não leio tanto por causa da baixa visão, mas, mesmo assim, me esforço e lanço mão de tudo que posso para não abandonar meu hobbie favorito. E sei bem, não apenas pela minha formação em Psicologia, mas por minha experiência com a literatura e como consultora editorial que fui durante muitos anos, distinguir quando me deparo com um gênio. E estou certa em afirmar que Aristônio Canela é um gênio.
Dono de uma sensibilidade e sensualidade incomuns, Aristônio derrama em sua obra, seja musical, seja literária, todo o seu talento, realismo fantástico, romantismo e sensualidade. E tem a prosa característica de sua mineiridade, ou melhor ainda, mineiridade sertaneja.
Com apenas doze anos, escreveu uma obra inesquecível, que publicaria anos depois: “O Guerreiro”.
Imaginem uma criança de doze anos escrevendo: “ Era uma vez um caminho. Desses pequenos, quase sem caminheiros. Valente, permanecia tenaz, bamboleante rasgando gerais. No seu solilóquio, apenas florinhas do campo lhes eram fiéis companheiras.”.
Ele mesmo se descreve na obra citada:
“Alma impetuosa, trigueira,
(...) Sou música,
Encanto da alegria.
(...) Do poema, sou angústia.
(...) Passageiro de chuvoso verão.
(...) Sou brisa terna.
(...) Chama viva,
Imortal.
Reverso do amor pagão,
Sou.
E sou você de cabelos brancos”.

Como pode uma criança já se descrever de maneira tão incrível? Acho que posso dizer que o conheço bem, hoje já na terceira idade, e posso afirmar que ele é como se descreve nesse poema da infância. Capaz de gestos extremos de ternura e explosões de raiva.
Sua mente é fervilhante. Não descansa. Ele escreve três obras, ao mesmo tempo em que compôe novas músicas e imagina outras peças teatrais. E, no campo da Medicina, opera com maestria como me relatou um seu colega de profissão.
Sua cultura em todos os campos é também algo fora do normal. Não entendo como um médico é capaz de falar, com profundidade, sobre os filósofos e suas teorias, os grandes mestres da Psicologia, os autores expoentes da Literaturta Brasileira e Mundial e sobre Música. Mas, também, ele tem a genética de outro gênio que foi seu professor: Cândido Canela.
Assim como eu, ainda jovem, já tinha o hábito de visitar Cândido para sorver de seu talento e cultura, hoje Aristônio me visita em tardes memoráveis de conversa. E, nessas tardes, tão alegres, em que posso gozar de sua genialidade, eu me sinto bem pequena! Hoje é ele, como seu tio,o meu mestre. Posso perceber que Aristônio foi uma bela herança que o meu amigo Cândido me deixou para que minha velhice não fosse tão triste.
Anotem esse nome porque, com certeza, ele, por seu talento, marcará a história cultural de nossa terra.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Motes-clarense de Letras)






82844
Por Maria Luiza Silveira Teles - 31/10/2017 16:35:49
CHUVA NO SERTÃO


A tão esperada chuva finalmente chegou. O cheiro de terra sobe e os sentidos se ampliam e se aguçam. O calor escaldante que nos atormentava é aliviado. As esperanças se renovam e o coração do sertanejo pula de alegria.
As plantas parecem cantar ao sabor do vento, agradecidas pela vida que explode, numa linda dança que enche nossos olhos.
É preciso morar no sertão e amá-lo para se compreender o que a chuva significa para nós. Chuva é vida, vida que se renova, vida que transborda. Ela nos traz a tão desejada fonte indispensável para que a vida possa existir. Ela é a esperança de alimento farto.
Tão pouco temos cuidado da mãe-natureza, ou melhor, nós a temos agredido tanto, usufruído dela como se todos os recursos que nos oferece fossem eternos e, como resultado, eles vão fenecendo e nós também...
Como soam maravilhosos aos nossos ouvidos os trovões! Os mesmos trovões que nos assustavam na infância. Claro que não queremos temporais destrutivos, mas almejamos chuva abundante, chuva que caia forte e por bastante tempo, tempo suficiente para que os rios, regatos, lençóis freáticos, nascentes e barragens todos se encham e renasçam.
A chuva não alimenta somente os nossos corpos, mas também as nossas almas. É como uma música que extasia nossos espíritos e aviva a poesia que mora em nós. Chuva bendita! Minh’alma em epifania!
A terra ressequida, sedenta, com suas feridas abertas e expostas, clamava por ela. Que sabem disso aqueles que moram nos grandes centros? Para eles a chuva é um estorvo. Algo que atrapalha o trânsito, os passeios, o dia-a-dia. Para nós é esperança de vida!
Sempre os passarinhos vêm cantar em meu jardim e em meu quintal de manhãzinha e à tarde. Depois da chuva, passaram a festejar por todo o dia numa bela e diversificada cantoria. Provavelmente em busca do novo alimento que as plantas lhes oferecem e buscando seus amores a fim de renovar e perpetuar suas vidas. Já percebo alguns ninhos em minhas árvores.
No ar o perfume mais aguçado das flores. Promessa de mais e mais flores e frutos. As mangas e as pitangas já caem abundantes no chão molhado. E eu piso com gosto no barro para colhê-las com prazer e alegria!
Novo ciclo se inicia. A generosidade da mãe-natureza responde prontamente. Todo o sertão está em festa! E meu coração também.
Aleluia, aleluia! Será que é um delírio meu ou ouço foguetes, atabaques e bandolins?
É verdade que o sol voltou, mas isso não nos tira a esperança, ou melhor, a certeza de que o tempo de chuva chegou ao sertão.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da AML)






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Por Maria Luiza Silveira Teles - 19/10/2017 16:59:37

A PARTIDA DE UM PASTOR DE ALMAS


Não o veremos mais em sua bicicleta e batina rota. Depois de toda uma vida dedicada ao outro, ele foi chamado de volta à nossa pátria verdadeira.
Como um homem é capaz de deixar toda uma cidade de luto e órfã? Essa é a reflexão mais importante que ele nos deixa. Numa era tão materialista e voltada para o exterior, tivemos o privilégio de ter entre nós um verdadeiro discípulo de Cristo. Um homem de uma humildade incrível, que jamais parou para pensar em si, mas viveu unicamente para servir.
Quando eu estava na Santa Casa com meu pai para morrer, ele apareceu do nada e perguntou: “Onde está Geraldo?” Eu e minhas primas estávamos na ante-sala, esperando o enfermeiro dar banho em papai. Eu respondi: “É aqui mesmo, mas ele está sendo banhado”. Ele disse: “Não importa. Eu vim dar-lhe a unção dos enfermos e vou fazê-lo aqui mesmo com vocês. Vamos todos nos dar as mãos”. E, juntos, o seguimos na prece de entrega do espírito de papai ao Senhor. Mas, quem o chamou? Nunca vou saber por que quando perguntei a ele a resposta foi:" Não me lembro".
Meu pai o admirava muito. Sempre dizia: “Aquele é um padre de verdade. Ele me faz lembrar Dindinho Padre”.
Dindinho Padre era o Padre Augusto Prudêncio da Silva, primo de minha avó e quem arrebatou meu pai, quando criança, e o levou de cavalo por toda a enorme paróquia. Papai conta a sua história no livro “O Padre Velho”. Para nós da família ele é e será sempre o Dindinho Padre.
Não sei se por essa semelhança ou se realmente pelo que ele foi e pela beleza de sua vida, aprendi a amar muito o Padre Henrique, embora não seja católica, nem tenha convivido com ele.
Hoje, o vazio tomou conta de mim. Perdi uma referência. Sei que é o abalo da hora, pois tenho certeza de que O Pai Maior reservou para ele um maravilhoso lugar na outra dimensão
Estamos vivendo uma época em que a sociedade consumista e voltada apenas para o capital acabou por se tornar esquizofrênica, sendo os seus membros polarizados e apenas reativos, sem tempo nem vontade para se tornarem reflexivos.
Nesse momento de luto, devemos parar um pouco e lembrar que a vida é um sopro que se apaga num instante. Depois de viver muitos anos e chegar à velhice, compreendemos como tudo passa rápido.
Iremos todos para outro plano de mãos vazias, assim como chegamos. Só levaremos conosco a nossa essência. Estaremos diante do Pai apenas com os tesouros que acumulamos nessa vida, isto é, com nossas aprendizagens no campo da virtude.
Já viram alguém sentir falta de uma criatura fútil e cruel? Não. Por esse ninguém derrama lágrimas. Mas, hoje, choramos pela ausência do Padre Henrique. Por quê? Porque ele agiu como um verdadeiro pai. Deu comida a quem tinha fome. Água a quem tinha sede. Agasalho a quem tinha frio. Ele acolheu com seu carinho e seu carisma todos aqueles que o buscaram em momentos de aflição, necessitados de conforto.
E fez muito mais: sabendo que o ser humano não necessita apenas do pão, mas também do alimento espiritual e intelectual, ele criou verdadeiras escolas não somente para o ensino de disciplinas curriculares, mas verdadeiras escolas de amor.
Pessoas como ele, que espalham vibrações de amor e paz, ficam para sempre na memória dos membros da sociedade que ajudaram a transformar.
Padre Henrique Munáiz exemplificou amor, humildade, abnegação e entrega absoluta. Estamos devolvendo-o ao Criador, mas seu exemplo ficará conosco como um farol a guiar-nos pelas noites sombrias e pelos árduos caminhos da Vida. Ele parte para a eternidade e fica na História de Montes Claros e no coração de todos nós.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


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Por Maria Luiza Silveira Teles - 27/8/2017 15:17:02
DRAMAS EXISTENCIAIS


Viver é uma fascinante aventura. A vida é cheia de beleza, mas também é uma tragédia: isso está claro para quem quer que tenha suficiente inteligência e sensibilidade para percebê-lo.
Aliás, tive a oportunidade de ouvir um grande e renomado psiquiatra dizer: “A vida só é sempre alegre para os tolos”.
Existem pessoas que têm grande inteligência, mas não têm grande sensibilidade, assim como a recíproca. Quando, porém, o homem é dono, ao mesmo tempo, de grande inteligência e sensibilidade, pode ter momentos alegres, mas jamais deixará de ter no fundo de sua alma um traço de melancolia.
Isto, porém, não significa, absolutamente, que, independente de acontecimentos externos, o homem possa ser feliz e tenha paz, porque esses sentimentos estão dentro do ser e dependem apenas da riqueza interior.
Felicidade e paz não significam ausência de sofrimento. O sofrimento é contingência da vida. Ser feliz e ter paz, entretanto, são uma escolha e uma decisão, frutos de muito trabalho consigo mesmo e um verdadeiro autoconhecimento.
Os dramas existenciais sempre estarão presentes na vida do ser humano. O que não tira a beleza e o encantamento de viver.
O que importa é aquilo que o sofrimento nos ensina. Como nos comportamos diante das tempestades que nos atingem, os males que nos afligem, as perdas que nos ferem, as doenças que nos limitam? Aceitamos, com resignação, aquilo que não podemos mudar, crescemos em espiritualidade, fortalecemos a nossa fé, ou, pelo contrário, nos revoltamos, desesperamos, amarguramos e nos tornamos céticos?
A vida nos ensina que o sofrimento é faca de dois gumes: alguns, quanto mais sofrem, como um diamante sendo burilado, crescem em humanidade. Tornam-se mais bondosos, compassivos, tolerantes, solidários. Outros desenvolvem uma revolta surda, silenciosa, que vai minando o seu ser, gangrenando-o.
Não há como evitar o sofrimento. Por mais que sejamos privilegiados em fortuna, em saúde, em inteligência, em beleza, em afeto, em qualquer curva da estrada, ele nos espera. Sofrimento é, pois, como dissemos, contingência humana. Alguns sofrem mais, outros menos.
Assim como grandes estudiosos, penso que a fé e o ideal apresentam um novo sentido definitivo para a vida, colocando-a como um projeto eterno e infinito.
A fé, para quem a tem, destrói a mentira do caráter, que obriga o homem a se envergonhar de suas fraquezas no plano social. Com a fé, o ser humano passa a abrir o seu coração para a vida e perceber o seu sentido maior.

Maria Luiza Silveira Teles – presidente da Academia Montes-clarense de Letras




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Por Maria Luiza Silveira Teles - 15/8/2017 15:57:54
A CONVIVÊNCIA HUMANA

Maria Luiza Silveira Teles


Conviver não é nada fácil. E, no entanto, é a única maneira de nos realizarmos como seres humanos, de nos encontrarmos e sermos felizes.
Talvez seja essa a ciência e a arte mais difícil, mas a principal da vida, pois, se não convivermos, atrofiaremos a humanidade em nós.
Por que, então, é tão difícil? Porque requer desprendimento, coração aberto, humildade, altruísmo, saber ouvir e falar na hora certa e o saber sentir. É preciso, sobretudo, saber amar e somente somos capazes de amar quando já percorremos o longo e difícil caminho do autoconhecimento e nos amamos e aceitamos como somos, conscientes de nossas qualidades e defeitos.
Para aprender a viver bem com o outro necessário se faz que nos eduquemos e nos aprimoremos em todos os sentidos.
Se aprendermos a conviver, entender e respeitar nosso semelhante, tudo passará a ser mais fácil e o caminho nos trará felicidade e paz.
Esse tempo de aprendizagem, transformação e crescimento é a nossa travessia. Lembrando Fernando Pessoa, “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-lo, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
Vivemos tempos estranhos. Quanto mais o homem evolui em ciência e tecnologia mais se materializa, se torna violento, se anestesia e sente solidão.
As relações se tornam descartáveis, o sexo se banaliza completamente. Na sua busca desenfreada de prazer, o homem se vê cada vez mais vazio e solitário. Jogado em um mundo agressivo, no qual predomina a luta pela sobrevivência do corpo e a manutenção do status, ele acumula todo um lixo psicológico que pode contribuir para o seu mal-estar e complicar a convivência.
Tantas vezes duas pessoas vivem juntas e não têm absolutamente nada a dizer uma à outra: parece que um abismo as separa. Por quê? Os sentimentos não expressos, as mágoas recalcadas, pequenos ressentimentos que foram se avolumando, a direção diferente que cada uma delas toma, tudo isso vai separando-as pouco a pouco.
Enquanto as nações guerreiam, conflitos e batalhas maiores se dão dentro de nós, quando a Bondade de nosso ser divino luta contra a selvageria de nosso ser profano e primitivo.
Só exterminando os “monstros” que vivem dentro de nós poderemos deixar florescer a beleza do projeto divino que somos.
Mas, que monstros são esses? O monstro do egoísmo, da vaidade, do orgulho, do desamor, da mágoa, da inveja, da raiva. Se esses não morrerem, jamais o projeto divino poderá se cumprir.
Esses monstros haverão sempre de atropelar toda e qualquer tentativa de construir um relacionamento sadio. Somente combatendo-os, pois, estaremos prontos para uma convivência que nos fará crescer como seres humanos
A existência de uma terrível polaridade existente hoje na sociedade brasileira se deve ao fato de as pessoas se deixarem dominar por esses sentimentos negativos e não saberem conviver, pois, com a pluralidade das idéias.

* Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


82551
Por Maria Luiza Silveira Teles - 23/7/2017 15:21:24
RAQUEL MENDONÇA, A GUERREIRA DA CULTURA

Eu a conheci menina. Era minha aluna de inglês no Colégio Tiradentes. Via nela o projeto de uma estrela, pois sua inteligência e dedicação apontavam para isso.
Já na Faculdade, fazendo parte do corpo de jurados para escolha do discurso de formatura, senti uma alegria e um orgulho especiais, quando pude ouvi-la discursar. Embora ainda tímida, introvertida, não tive dúvidas de que ela seria a oradora oficial, assim como não duvidei de seu futuro brilhante.

Entretanto, aqueles que permanecem no interior, mesmo os mais excepcionais talentos, não têm grandes oportunidades de se projetarem ao nível de seu potencial. No entanto, devemos agradecer por tantos terem permanecido entre nós, pois, senão, como nossa terra poderia progredir no terreno cultural?!

Graças a Deus, Raquel não partiu de sua terra natal. Embora mulher de vastos horizontes, trazendo em si o sonho do intangível e da transcendência, Raquel rendeu-se ao amor intenso por Montes Claros. E pela cultura de sua terra ela tem dedicado sua vida, seu suor e seu talento! A qualquer hora do dia e em qualquer tempo, podemos encontrá-la na Secretaria de Cultura lutando, leoninamente, pelo patrimônio histórico, artístico e cultural de nossa cidade, incentivando e buscando oportunidades para os artistas de qualquer área. Trabalha tanto pela cidade e pelos outros que acaba por se deixar de lado!...

Quando lancei o meu livro “As Sete Pontes”, obra que caiu no vestibular de 1986, não me esqueço nunca da extraordinária e belíssima apresentação que fez de uma história tão simples. Percebi, de imediato, que Raquel era uma mulher forte, poetisa feita de epifanias, asas e sonhos!

Essa mulher tem defendido, ainda, e de maneira bravia, os direitos femininos. Tem lançado seu grito contra a cotidiana violência contra as mulheres que acontece, tantas vezes, no silêncio e na obscuridade. Esse grito seu aparece nas centenas de crônicas que ela vem publicando no Jornal de Notícias, muitas das quais com grande repercussão, consideradas extraordinárias por uns, "polêmicas", "radicais" por outros. Sabemos, porém, que pesadas são as pancadas que muitas mulheres sofrem no dia a dia, em ambiente doméstico, com muitas delas sendo levadas à invalidez ou à morte! São essas mulheres que ela defende bravamente!...

Trabalhando arduamente na Secretaria, em revistas e Jornais - pois sempre foi jornalista - e mesmo em salas de aula, Raquel tem demonstrado sua vocação para a indignação diante da barbárie que espezinha o ser humano. Não consigo compreender como, durante tantas gestões, ela nunca chegou ao cargo de Secretária Municipal da Cultura, apenas Adjunta. Seria puro mérito! Enfim, vá compreender os critérios do mundo político!...

Há nela, além de profundo compromisso com a causa cultural, aquela bendita paixão que se arrepia diante da grandeza das pequenas coisas e que impulsiona o mundo para frente. Nas pelejas agridoces do cotidiano, nos desafios entre o velho e o novo, rebentam nela os lampejos da renovação. A mulher que nasceu para brilhar prefere manter-se nos bastidores, nas coxias, mas sempre responsável por grandes feitos. Dou graças por ter o privilégio de ser amiga-irmã dessa extraordinária mulher. Mulher que pegou nas mãos as rédeas de seu destino!

No Jornal de Notícias, criou e editou a página cultural "Arte & Fatos", por quase dez anos, hoje virtual, criada e editada por sua filha, a artista plástica e Designer Ana Bárbara Mendonça. Quando ainda estava no Jornal do Norte e ali criara a página "Cultura e Cia", teve contato com Carlos Drummond de Andrade, porque ousara reescrever o seu popular poema "José", entre outros, a ele os enviou, através do Jornal Estado de Minas, onde o grande poeta brasileiro publicava crônica semanal. Drummond lhe respondeu e agradeceu com grande generosidade nas palavras!... A partir daí se comunicaram por alguns anos em preciosas missivas, que tive a feliz oportunidade de ler, sabendo que poucas - e outros tantos escritos, como poemas seus e outros inéditos... - escaparam de chuvas inesperadas na década de 80, conforme me relatou há bom tempo. E ela não se esquece do que ele lhe respondeu, quando foi convidado para a sua posse na Academia Montes-clarense de Letras (ela tinha apenas 23 anos e foi indicada pelo meu inesquecível e saudoso - notável sonetista - tio Olintho Alves da Silveira... A sua apresentação foi feita pela acadêmica e grande escritora Madeleine Velloso Rebello). Drummond felicitou-a e entendeu a sua entrada na Academia como uma “auto- afirmação da mulher brasileira”, embora fosse avesso a Academias de Letras. À própria ABL, deixara isso claro em crônica publicada pelo Estado de Minas e não estava sozinho nisso. Sabemos dos grandes que rejeitaram também a ABL. Provavelmente, talentos humildes como ele e que dispensam honrarias.

Gostaria, aqui, de lembrar alguns versos que mostram o talento excepcional dessa mulher ímpar falando de um de nossos maiores artistas, o saudoso Ray Colares:

“Raio de luz fulgurante
Mais que tudo, desafiante
Nas trevas da infinita imaginação
Tomada de cores, caminhos e conflitos
Onde a dor de existir e desistir, talvez
Fosse detalhe sem maior importância.

De genialidade desconcertante e torrencial
Varava chuvas, sombras, madrugadas
Banhado de luz, palavras e mais palavras
Nas prosas e poesias sem fim em praças e bares tantos
E tontos de tanta, tamanha inquietude, inspiração profunda!

A dor aguda de viver tão livremente
Não doía indefinidamente
E havia momentos de ser feliz como criança...”

Raquel mostra aqui não apenas o reconhecimento da sensibilidade daquele que povoou o mundo com suas cores, formas e palavras, mas a sua própria capacidade de perceber, em versos, a grandeza do imaginário que reflete a beleza e a crueldade do mundo.

Acredito que Montes Claros é, hoje, uma cidade muito voltada para a praticidade do desenvolvimento de riquezas materiais e esquecida de sua riqueza imaterial que, muitas vezes, se esconde em sala de um antigo casarão.

A Montes Claros do passado era uma comunidade voltada para o altruísmo. As pessoas todas se conheciam e reconheciam e admiravam os grandes talentos da terra que tanto nos engrandeciam. Hoje, esses talentos se perdem numa metrópole fria e descaracterizada, que ainda não encontrou sua identidade.

Por isso a minha decisão de registrar para a História esses grandes talentos que, mesmo correndo o tempo todo de câmeras e holofotes, tecem a grandeza de nosso futuro.

Assim vive Raquel, a guerreira da Cultura, guardando os tesouros do passado e tecendo a grandeza do futuro!...


* Maria Luiza Silveira Teles
* Presidente da Academia Montes-clarense de Letras






81936
Por Maria Luiza Silveira Teles - 7/11/2016 11:45:57

MAGNUS MEDEIROS, O PROFESSOR

Numa noite mágica do mês de Março, nos idos de 1961, fui a uma festa de aniversário numa linda casa da Rua Carlos Pereira. Lá, conheci um belo príncipe, com quem acabei por dançar grande parte da noite. Além de bonito, era educado, fino, culto, simpático, alegre, uma pessoa interessante e encantadora de quem me tornei amiga para o resto da vida. Ele era, então, cantor e contabilista.
Logo, no princípio de Maio, era o meu aniversário de dezoito anos e eu o convidei para a minha festa. Ele chegou com sua presença marcante, além de sua voz maviosa da qual desfrutamos por toda a noite. Seu presente para mim era um perfume que se chamava “Toque de Amor”. Pois bem, essa bendita criatura, mal sabia eu, acabaria por dar um toque de amor, de cor, de música, de vida a toda minha jornada.
A verdade, porém, é que esta pessoa dá esse toque na vida de todos os que têm o privilégio de conviver com ela. Falo do meu grande amigo Magnus Denner Medeiros.
Para quem não sabe Magnus, além de colunista social, que já escreveu para todos os jornais de Montes Claros, além de dono de uma bela voz e grande seresteiro, é também formado em Geografia pela antiga Fafil e foi professor durante toda sua vida. Foi professor, durante trinta anos, do Colégio Tiradentes, Escola Técnica, Colégio Dulce Sarmento, Colégio Imaculada e lecionou Geografia Humana na Fafil.
Ele trouxe para o magistério o seu toque de humanismo e de bondade. Assim, ele não foi apenas professor, aquele que ensina, mas educador, aquele que se preocupa com o desenvolvimento integral de seu discípulo como ser humano. Por isso, é lembrado por todos seus ex-alunos com carinho, saudade e gratidão.
Ele não ensinou apenas sobre a Economia dos Países, sua demografia, sua geografia, mas sobre os caminhos da Vida. Escutou, aconselhou, orientou, acolheu.
Educador de cabeça aberta, sem preconceitos, pôde interferir na vida de tantos jovens desorientados, tirando-os de caminhos tortos.
Como ele mesmo já me confessou, é um homem da noite, sem ter se contaminado pelos descaminhos da noite. Transita entre os egos inflados sem jamais ter perdido a humildade. Por isso, sempre conservou diante de seus discípulos uma postura ética impecável.
Magnus será sempre lembrado por muitos, além de múltiplos papéis exercidos na sociedade, como aquele tipo de educador que marca a vida de seus alunos. Outro traço dele jamais esquecido por seus alunos e colegas era a sua capacidade de disposições corretas e bem elaboradas do uso do quadro-negro e sua didática perfeita.
Agora, Magnus completa trinta e sete anos de jornalismo. Jornalista que não somente dá as notícias do mundo social, mas discute assuntos contemporâneos e reflete sobre temas importantes da vida humana. Como jornalista não abandona sua postura de educador.
Tenho orgulho de ser sua amiga, Magnus, e como educadora não posso me desiludir inteiramente da Educação, pois sei que educadores como você sempre haverão de brotar em quaisquer rincões deste nosso país.

Um provérbio hindu diz que “O coração em paz vê uma festa em todas as aldeias”. Magnus não apenas promove festas, ele vê festa em toda Montes Claros, que ele tanto ama, e no coração das pessoas que com ele convivem.
Naquele distante ano de 1961 ganhei um dos maiores presentes que alguém pode almejar: a amizade desse grande ser humano, que é o professor Magnus.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81913
Por Maria Luiza Silveira Teles - 23/10/2016 12:05:24
ESTRANHA NO NINHO


Minh’alma está encolhida dentro do peito. Doída. Solitária. Saudosa. Seu sacrário vive sendo violado. Mas, como tão bem disse Miguel Falabella, “As tempestades da alma, tão comuns na meia-idade, na verdade, são vislumbres do futuro e a bonança, que se segue a elas, sopra o vento das saudades sazonais, que chegam inexoráveis, instalam-se sem aviso prévio, tomam conta de tudo e não têm data marcada para a partida”.
Sabemos que o amor move o mundo, mas, como há muito venho dizendo em meus livros, o ser humano cada vez mais se patologiza. Vai perdendo as características de humano e se robotizando.
Os relacionamentos viraram jogos de interesse. Como se pode observar em qualquer patologia, no fundo, o ser humano sofre, mas se acostuma com esse sofrimento, se anestesia, e tem muito mais medo de amar, de se entregar, de arriscar. Prefere criar uma couraça que o proteja de qualquer sentimento.
Homens e mulheres acham muito melhor ir para a cama hoje com um, amanhã com outro, “ficar” sem nenhum compromisso, simplesmente (e eles nem sabem disso...) porque em qualquer relacionamento o indivíduo tem, necessariamente, que crescer e crescer dói.
O crescimento exige um autoconhecimento, mudanças (uma lei do universo...), andar por caminhos desconhecidos, abrir a alma para o outro e deixar desabrochar a luz que vive em todos nós. Este não é um processo fácil. É doloroso e requer força de vontade e disciplina. Então, as pessoas se perguntam: para quê? E preferem continuar com seus comportamentos rotineiros na ilusão do prazer, da caça ao poder e ao dinheiro.
Mas, muito mais rápido que possamos imaginar – só o Tempo nos ensina isto – chega o momento de maior solidão, de estar frente a frente com a nossa verdade: a morte.
Sabemos que, como diz Rubem Alves, diante da morte só existem duas possibilidades: ou a vida continua em outra dimensão ou acabamos, viramos o pó do qual viemos. De qualquer forma, um dia, que chega numa velocidade incrível, tudo que é terreno acaba.
Acredito que, nos tempos em que estamos vivendo, embora os templos vivam repletos, a segunda hipótese é a que mais conquista o ser humano, pois se diferente fora teríamos um mundo muito melhor, sem ninguém usar o outro, desrespeitar seu semelhante, passar por cima de seus sentimentos.
Não sei como alguém que vive sem ética alguma pode exigir ética do governo ou dos sacerdotes de sua religião.
Por isso minh’alma está triste, encolhida no peito. Porque para mim não dá para viver num mundo assim. Eu acredito em Deus e em suas leis. Obedeço-as, não por temor, mas porque me afino com elas. Eu sou apenas Amor. Amo meu semelhante e a natureza, com sua fauna e sua flora. Vejo em todo o universo os sinais do Criador. Acredito no respeito, na liberdade, na justiça. Sou romântica e sensível. Aí, pois, me percebo como uma estranha fora do ninho, um ser fora de moda, anacrônico.
Mas, tenho algo que me permite ainda continuar crendo e ter esperança: faço parte de várias organizações espiritualistas, onde nos tratamos, realmente, como irmãos e vamos espalhando, aqui e ali, silenciosamente, as sementes do Bem, da Paz, da Luz, do Amor. Se não fosse a convivência com esses irmãos, eu já teria soçobrado.
Ser sensível, hoje, inclusive chorar, virou doença. Se o indivíduo é assim, tocam “antidepressivos” nele. Sou especialista em Psicologia na área de Saúde e fiz a minha monografia e estágio em neuropsicopatologia. Fui a primeira pessoa no país a escrever sobre depressão para o público leigo e assisto, horrorizada, médicos me receitarem Haldol, quando tenho uma embolia pulmonar ou um AVC. Decerto porque alguém sensível como eu, poeta, deve ser considerada louca por eles e por tantos.
Nunca, porém, haverei de me esquecer das palavras de um dos maiores cientistas de nossa época, reconhecido internacionalmente psicólogo e antropólogo, reitor da Universidade da Paz, meu irmão e amigo, hoje vivendo na França: “Bendita loucura que a leva a um processo iniciático, tornando-a luz!”.
Meu coração chora não propriamente por mim, mas por todos os irmãos que vivem na ilusão, esperando que a felicidade venha de fora, procurando-a num amanhã que nunca chega, sem entender que a viagem deve ser feita para dentro, que ela lá está irmanada com a paz e a luz.
Sou filha do Universo! Não deste mundo cheio de desamor. Vim das estrelas e para lá haverei de retornar em breve. Este é o meu consolo, o meu conforto quando a minh’alma chora. Tudo é passageiro, inclusive a minha estada neste plano.
Namastê!

Maria Luiza Silveira Teles
Presidente da Academia Montes-clarense de Letras




81885
Por Maria Luiza Silveira Teles - 10/10/2016 09:02:44
LIVRO DOS 50 ANOS DA ACADEMIA MONTES-CLARENSE DE LETRAS


Quem seríamos se não tivéssemos memória? É ela que nos dá identidade. É a nossa história de vida, com todos seus acontecimentos, que faz de nós aquilo que somos. Assim também acontece com uma cultura, uma sociedade, uma civilização. A história nada mais é que o registro de tudo que a memória pôde colher.
O confrade Wanderlino Arruda, com seu espírito de pesquisador e sua experiência como escritor e jornalista, buscou nas atas de todos os cinquenta anos da Academia Montes-clarense de Letras a sua história, para que as futuras gerações tenham conhecimento da luta, da persistência e da garra dos intelectuais de nossa terra que vêm, ao longo desse tempo, tentando manter viva em Montes Claros a chama de Atena.
Com maestria, Wanderlino conseguiu alinhavar tão bem os registros feitos por outros, que a leitura deste livro tornou-se fascinante, instigadora e muito importante para todos os montes-clarenses ligados ou não às Letras. A história da AML é principalmente o desfiar de sonhos, projetos, utopias e realizações. Não importa se muitos não se tornaram realidade diante dos embates contra a muralha dos contratempos, das incompreensões e principalmente diante das dificuldades financeiras. A Academia, como instituição, é maior que erros e falhas. O que importa é que ela persiste em sua luta para manter o brilho da Beleza, do Lirismo, da Imaginação e da Cultura.
Como diz Krishnamurti, “o autoconhecimento é o começo da sabedoria”. Não há outra maneira de aprender a não ser nos conhecendo e nos transformando. E como os conhecer senão buscando a reflexão através de nossa história? Somente conhecendo nosso passado poderemos não apenas entender o que somos, mas de que raízes brotamos e o que poderemos realizar no futuro. Busco na genialidade do poeta Jorge Drexler o significado da AML dentro da sociedade montes-clarense:

“Não somos mais
que uma gota de luz,
uma estrela fugaz,
uma chispa tão somente
na idade do céu.
Não somos
o que queríamos ser,
somente um breve luzir
em um silêncio antigo
com a idade do céu”.

O que importa em toda a história da Academia Montes-clarense de Letras é a beleza do horizonte e não a dureza do percalço. Seja como for, ela tem estimulado a tantos que antes engavetavam seus escritos, a trazerem a lume obras tão importantes para nossa cidade e região.
Gostaria que os membros da própria Academia assim como os cidadãos da nossa amada Montes Claros, no decorrer da leitura desta obra, refletissem sobre as palavras de Mário Benedetti: “Não desistas por favor, tão cedo, ainda que o frio queime, ainda que o medo morda, ainda que o sol se esconda e se cale o vento. Ainda existe paz em tua alma, ainda há vida em teus sonhos”.
Esta a história da Academia: vida nos sonhos dos intelectuais de hoje e daqueles do passado. A estes intelectuais que ousaram sonhar e levaram adiante os seus sonhos o nosso “muito obrigada”.
Hoje, diríamos a todos eles: “Ave, companheiros! Nós sonhadores do presente vos saudamos”.
Ficam aqui, também, os nossos profundos agradecimentos ao ex-presidente Wanderlino Arruda, este incansável companheiro que ousou, em tão pouco tempo, levantar nossa história. Se alguma falha for encontrada, não será fruto da escrita ou da sua memória, mas do registro muitas vezes apressado e sucinto nas Atas e correspondências.

Maria Luiza Silveira Teles
Presidente da Academia Montes-clarense de Letras


81611
Por Maria Luiza Silveira Teles - 31/5/2016 13:27:06
Aos meus caros leitores, que tanto têm me incentivado com suas mensagens alentadoras, devo desculpar-me por uma ausência forçada em vista de uma terrível tendinite no braço direito, que, por ordens médicas, deverá guardar um repouso de um mês, sem computador ou smartphone. Assim, devo suspender minhas crônicas por este período. Muita grata por tudo.


81577
Por Maria Luiza Silveira Teles - 17/5/2016 17:12:09
ESTA SOU EU...


Eu sou riso, sou pranto, sou sensível, romântica. Sou Clarice Lispector, Florbela Espanca, Rosamund Pilcher, Vargas Llosa, Saramago, Gabriel Garcia Marquez, Pablo Neruda, Guimarães Rosa, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Ivan Lins, Guilherme Arantes, Tadeu Franco, Chico Buarque. Sou, também, Schubert, Chopin, Vivaldi.
Sou mais noite que dia. Adoro o sol lá fora e eu cá dentro; amo a chuva e seu tamborilar na janela.
Sou mais quiabo com angu do que comida sofisticada.
Sou sincera, franca, simples. Amo chapéus!
Sou mais Salvador que Rio de Janeiro. Sou sertão e sou metrópole. Amo flores, passarinhos e o silêncio.
Gosto de estar só, mas gosto, também, de estar com os amigos. Gosto de surpresas, mas amo planejamentos... Gosto de ler e escrever. Gosto da Martha Medeiros, amava e ainda amo Arthur da Távola.
Adoro casas antigas bem conservadas. Sou mais outono que primavera... Amo viver e não temo a morte.
Sou assim um pouco menina e mulher madura... Sou o Universo e tento ser um pouco de Deus. Amo gente, bichos e plantas. Sou sensual e assexuada, às vezes. Sou muito mulher e um pouquinho homem. Sou fruta suculenta e mais doce do que sal.
Adoro minha companhia e por isso não sinto solidão.
Sofro e choro como qualquer ser humano, mas isto não me impede de amar a vida. Sou uma eterna aprendiz no Caminho. Sou um pouco ingênua e idiota. Prefiro sempre pensar que o outro é bom.
Cultivo o meu jardim, mas, ao mesmo tempo, gosto de ver as plantas crescerem selvagemente em sua pujança. Assim, o jardim parece mais uma floresta. E chama os passarinhos e as borboletas.
Sou inteligente, mas, às vezes, tão burra! Gosto de estar sempre aprendendo, principalmente com as pessoas.
Com a idade já avançada, claudico muitas vezes na memória. Engraçado, não de números, mas principalmente de nomes. Até mesmo nomes de coisas. Que importa, porém? Estou viva! Adoro respirar, caminhar, deslumbrar-me com a beleza, a natureza e as pessoas.
Tenho procurado amar sempre e ser honesta comigo mesma e com os outros. Porém, tenho minhas falhas como qualquer ser humano.
Tento escrever. Entretanto, às vezes, vivo um vazio criativo e nada me vem à cabeça.
Amo poesia! Delicio-me com ela! Coisa incomum, não é verdade? Acho que sou um pouco equilibrada e louca. Voo em torno de meu eixo. Tenho sonhos, ideais e projetos. Acho que, muitas vezes, sou utópica. Não tenho pudores, mas sou também recatada. Amo a liberdade, mas respeito os limites.
Ah, sou cinéfila. Adoro histórias bonitas e que me ensinam sobre a vida e a alma humana. E, cada vez mais, cresce em mim a certeza de que tudo se repete. Tanto em nossa vida pessoal como na História.
Minha casa é pequena e simples, mas nela sou feliz.
Ah, sou observadora. Mais de gente do que de coisas. Não me preocupo com o cotidiano dos outros e nem me importo com seu juízo. Entretanto, estou sempre de mão estendida e coração aberto.
Não sou especial. Sou gente como toda gente. Posso ser esquecida quando chegar a morte. Mas, sou grata pela vida! E, até certo ponto, acho que cumpri o meu papel.
Bem, esta sou eu. Provavelmente, nada de surpresas para aqueles que me conhecem...

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


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Por Maria Luiza Silveira Teles - 10/5/2016 17:16:20
AS BONECAS TILDAS

Vocês conhecem as bonecas tildas? Elas não têm boca e têm asas. Sabem por quê? Porque elas falam com o coração e quem fala com o coração são os anjos. Bonita alegoria, não?!
Elas são perfeitas para um teste psicológico não apenas com crianças, mas também com adultos.
Nós somos tão barulhentos! Nosso mundo é cheio de ruídos. Tagarelamos demais. E, no entanto, o silêncio fala tudo. Fala através de um sorriso, de olhos brilhantes e amorosos, gestos de afago, mão estendida, abraços, generosidade, lágrimas sinceras.
Vivemos em uma sociedade em que os alaridos histéricos do mundo exterior, muitas vezes, abafam os espaços internos. Esses barulhos ensurdecedores costumam emudecer os silêncios da natureza, dos olhares, das estrelas, da respiração, dos gestos de ternura. E, o pior, nos ensurdecem às falas de nossa essência, levando-nos a perder o contato conosco, com a natureza.
Somente no silêncio vamos conseguir a relação com o nosso ser mais profundo; é este silêncio que abre as possibilidades da paz interior. É na calmaria e no remanso do silêncio que vamos encontrar aquela fonte inesgotável onde estão e se revelam as energias e potencialidades múltiplas.
É preciso que nos treinemos para ouvir os doces sopros do silêncio, para as escutas mais leves e sutis, pela abertura do coração e da mente em estados de calmaria e serenidade.
O silêncio nos remete ao vazio e este vazio é o objetivo de toda meditação. Quando tudo se cala dentro de nós, Deus se manifesta. Como diz um amigo, o Professor e Doutor Miguel Almir de Araújo, “com sua espessura macia, o silêncio nos mergulha nos oceanos de nossos desvãos mais enigmáticos e vastos”.
O silêncio vivifica e fertiliza. Somente no estado de intenso silêncio, somos capazes de ouvir os mistérios do sagrado e comunicarmo-nos com a beleza do cosmos. Tudo de mais profundo só se revela no silêncio. É no silêncio que se revelam os valores mais nobres da vida: a fraternidade, a solidariedade, a justiça, a humildade, a beleza, a alegria, o amor verdadeiro...
O nosso grande poeta, Tiago de Mello, proclama: ”a couraça das palavras protege nossos silêncios e esconde aquilo que somos”. A melhor maneira de compreender seja lá o que for não é falando e nem ouvindo as palavras, mas auscultando o silêncio.
Lembro aqui, mais uma vez, palavras de nosso amigo, Miguel Almir Araújo: “as janelas do silêncio abrem as portas da escuta, levam à casa da sabedoria. Os silvos do silêncio sibilam canções sagradas nos ermos de meu templo”. Existe uma profunda sabedoria no silêncio.
Arturo Paoli, escritor italiano, escreveu um livro extraordinário sobre a importância do silêncio: “O SILÊNCIO – plenitude da palavra”. O título já diz tudo e remete-nos à sua riqueza.
Vejamos alguns de seus pensamentos preciosos.
Logo no início, ele diz: “O mundo em que vivemos é um mundo contaminado pelos ruídos; se o silêncio é um elemento necessário à espiritualidade, devemos concluir que esta humanidade não é feita para viver espiritualmente”.
É verdade que todo o nosso dia-a-dia é invadido pelos ruídos da televisão, dos carros, das palavras desnecessárias, das pretensas músicas dos rádios e assim por diante.
Entretanto, podemos criar o nosso espaço de silêncio. Se não podemos ter um lugar especial, junto à natureza, acordemos cedo e aquietemos a nossa mente por alguns minutos, esperando que o nosso eu interior nos sussurre o nosso avesso e Deus se comunique, iluminando o nosso dia e a nossa vida. Este é um hábito bastante saudável.
Paoli continua: “A pessoa se constrói no silêncio. (...) Ele é uma disposição interior para ouvir a palavra de Deus: é o símbolo da disponibilidade total. (...) A relação que desfaz todos os nós, que cria uma lembrança gratificante, é silenciosa. (...) O silêncio é ar fresco depois da caminhada no deserto árido, é a harmonia reencontrada, na qual a pessoa se livra daquele mercado ruidoso no qual estamos mergulhados durante o dia”.
O livro é tão lindo, recheado de verdades tão profundas que, se nos deixarmos levar por isto, acabaremos por reescrevê-lo aqui.
Outro livro que nos fala do silêncio, como dos questionamentos da vida moderna, ajudando-nos bastante em nosso processo de crescimento é “Cartas entre amigos”, do Padre Fábio de Melo e o Professor Miguel Challita.
O nosso amado e santo João Paulo II dizia: “Só no silêncio o ser humano consegue escutar no íntimo da consciência a voz de Deus, que verdadeiramente lhe faz livre”.
Pois é, esta a sabedoria a que as bonecas tildas nos remetem. Falar com o coração. Ah, que mundo melhor teríamos se todos falassem com o coração! Se não escondessem através da palavra os seus verdadeiros sentimentos, emoções, pensamentos e intenções...

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81543
Por Maria Luiza Silveira Teles - 3/5/2016 20:45:59
A VIDA É COMO AS CEREJEIRAS

Quando estamos lendo um bom livro, com uma história envolvente e que nos provoca emoções indescritíveis, não queremos que ele chegue ao fim. Quando vemos um belo filme, também sentimos o mesmo. Uma linda noite de amor, daquela que sentimos que somos apenas os dois no mundo e que o mundo lá de fora nem existe... Ah, como gostaríamos que o tempo parasse e que ela jamais terminasse! Não é verdade?
No meu tempo de jovem, lembro-me bem de uma música linda que dançávamos juntinhos, de rosto colado! Sua letra dizia assim: “relógio não marque as horas, porque vou enlouquecer, ela se vai para sempre quando amanhecer outra vez. Relógio detém teu caminho porque a minha vida se extingue. Segura o tempo em tuas mãos, faça desta noite perpétua para que nunca amanheça”. Como gostaríamos de deter o tempo! Mas, isto é algo impossível!
Os japoneses apreciam tanto as flores das cerejeiras não apenas porque elas são belíssimas, mas porque são efêmeras como a própria vida e sempre voltam na outra primavera. Isto é o melhor: apreciar a vida enquanto ela existe e saber que ela só termina aqui, mas que muitas e muitas primaveras haverão de fazê-la florescer em outras paragens.
As crianças e os jovens vivem como se cada momento fosse eterno. Porém, quando chegamos a certa altura da vida, a consciência de que o fim se aproxima torna-se aguda em nós. Por isso, vivemos a buscar o passado como se apenas ele fosse belo e gostoso. Mas, não. A vida, em qualquer tempo, é sempre bela! Todo ciclo termina e novo ciclo se inicia. Aí está sua maior beleza.
O bom, o bom mesmo seria que, em qualquer ocasião, nos lembrássemos de que esta é a oportunidade que temos de conviver com os que amamos, de realizar nossos sonhos, de fazer o Bem, de construir algo, de adquirir conhecimento, de aprender a amar, de deixar nossos rastros no Caminho.
Tão efêmera é a vida e tantas vezes a desperdiçamos com lamúrias, com atos impensados de consequências tristes, com mergulhos em prazeres que nos deixam vazios.
Seria bom que não nos esquecêssemos de que todas as nossas dores e alegrias e toda a beleza e iniquidade da vida e do ser humano têm como palco um ponto infinitesimal de poeira cósmica no Universo. E, ainda, que um universo tão vasto e belo é o da nossa interioridade que temos por obrigação desenvolver e expandir, pois os talentos e dons foi a Vida que nos deu de presente. Devemos ter abertura para a poesia do existir para que, com a morte, possamos repetir as palavras do poeta Tagore: “Terra minha, cheguei à tua praia como estranho; vivi em tua casa como hóspede e agora me despeço como amigo”. Limpos e puros para entrarmos na casa do Pai e sermos recebidos pelos anjos.
Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)



81506
Por Maria Luiza Silveira Teles - 24/4/2016 14:00:45
O AMOR

O amor é a própria essência do universo. É a força coesiva, que liga os átomos e faz girar os astros em suas devidas órbitas. O amor é vida, é união, é fé, esperança, mudança, movimento, recomeço, ressurreição. É a força maior que governa a vida. E, se ele é a essência da vida, é, também, a nossa própria natureza.
Entretanto, você pode se perguntar: “Mas, se é assim, por que tantos homens só demonstram desamor”? É verdade. O desamor, no entanto, não é senão uma desvirtuação, uma falha, uma doença da alma.
Quando notamos a ausência de amor na personalidade de uma pessoa, podemos estar certos de que alguma coisa, algum fato, algum trauma, provocou essa triste doença a que chamamos desamor.
Embora seja de nossa natureza amar, por muitos motivos podemos não amar corretamente. Sentimento de posse, carência, egoísmo não são amor, ou melhor, são formas tortas, doentias, patológicas de se amar.
A definição dada por São Paulo é, sem dúvida, a mais perfeita e clara:
“Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. (...) O amor é paciente, é benigno, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece (...). Não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade.” O amor, pois, antes de tudo, deseja o bem do amado.
Quando amamos apenas algumas pessoas, não expandimos ainda a nossa espiritualidade, pois o verdadeiro amor com-partilha com todos. O verdadeiro amor inclui a humanidade e toda a criação. Não podemos, entretanto, amar de verdade a alguém se não amamos a nós mesmos. Por isso, na aprendizagem do amor, o autoconhecimento e a autoestima são fundamentais.
Em primeiro lugar, devemos nos apreciar, nos aceitar, nos admirar, conhecer nossas qualidades e defeitos, gostar de nossa própria companhia, sermos benignos e compassivos conosco mesmos. Só então seremos capazes de amar verdadeiramente. Por isso toda a nossa vida é um exercício e uma aprendizagem de amor.
NÓS SOMOS AMOR
Você pode, novamente, se perguntar: “Mas, se o amor é de nossa natureza, por que devemos aprender?” Você deve se lembrar de que todas as nossas capacidades, que nos caracterizam como “humanos” nascem conosco em “potencialidade”. E o que está em potencial deverá se desenvolver e como se desenvolver senão através da aprendizagem e do exercício? É como a semente que deverá romper a dureza da terra para desabrochar e se realizar como planta que é. A maior e mais dura camada que devemos romper para desabrochar e realizar a mossa natureza amorosa é a dura casca do egoísmo, do orgulho, da soberba, da autossuficiência.
Nós só nos realizamos no encontro, no com-partilhar, no consentir. Por isso, ninguém pode verdadeiramente amar, se entregar de verdade, se realizar, sem com-viver.
O amor na sua plenitude é o próprio Deus. E nós humanos, conforme palavras do próprio Cristo, somos aprendizes de deuses.
Leon Denis, um filósofo e escritor francês, dizia: “Amar é o segredo da felicidade. Com uma só palavra o amor resolve todos os problemas, todas as obscuridades. O amor salvará o mundo; seu calor fará derreter os gelos da dúvida, do egoísmo, do ódio; enternecerá os corações mais duros. Mais refratários.” E, ainda: “Abri o vosso ser interno, abri as janelas da alma aos eflúvios da vida e, de súbito, essa prisão encher-se-á de claridade, de melodias, um mundo todo de luz penetrará em vós”.
ABRA AS JANELAS DA ALMA

O amor é capaz de curar, de libertar, de aumentar a nossa imunidade orgânica. E não falamos apenas de uma cura física, mas de cura espiritual, que implica a libertação da mágoa, da culpa, da raiva, do egoísmo, do orgulho, da vaidade, do desespero, da falta de fé, do ressentimento, da revolta.
Quando amamos de verdade o nosso semelhante, nós nos purificamos e nos tornamos tão puros como recém-saídos do sopro do Criador.

Não conheço a autoria do texto que se segue, mas, sem dúvida, ele é verdadeiro.
“A inteligência sem amor te faz prepotente.
A humildade sem amor te faz hipócrita.
A pobreza sem amor te faz orgulhoso.
A justiça sem amor te faz implacável.
A autoridade sem amor te faz tirano.
O trabalho sem amor te faz escravo.
A docilidade sem amor te faz servil.
O êxito sem amor te faz arrogante.
A política sem amor te faz egoísta.
A riqueza sem amor te faz avaro.
A oração sem amor te faz falso.
A lei sem amor te faz perverso.
A beleza sem amor te faz fútil.
A fé sem amor te faz fanático.
A cruz sem amor se converte em tortura.
A vida sem amor não tem sentido”.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81498
Por Maria Luiza Silveira Teles - 19/4/2016 17:28:47
ESPIRITUALIDADE E VIDA

Você já parou para pensar se está satisfeito com sua vida? Era isso mesmo que você queria? Correr atrás do sucesso desesperadamente, viver com estresse e morrer de infarto ou úlcera rompida?... O dinheiro e o sucesso não são maus em si, mas quando sua busca passa a nos ocupar inteiramente, nos cansar e não nos dar mais tempo para nada, eles passam a ser um estopim.
A vida é como uma lufada de vento que logo passa.
E sempre é tempo de darmos outro rumo às nossas vidas! Vamos aprender a nos dar uma folga e respirar fundo, alongar-nos e parar para ler um bom livro, escutar uma boa música, conversar com os amigos, ver as plantas com carinho, aspirarmos ao seu perfume, ouvirmos o canto dos pássaros e, se possível, banharmo-nos em uma cachoeira, dar um mergulho no mar, ouvir o canto de um riacho ou de um carro de boi.
Tudo isso nos faz um bem enorme e nos aproxima de nós mesmos e do Criador. Ele nos toca na borboleta que pousa em nosso ombro, nos fala no silvo do vento...
Isto não é para férias não! É para todos os dias. Tornemos a nossa vida simples, deixemos de nos importar com os comentários dos outros, tiremos as máscaras, abandonemos o personagem "importante", que confundimos com o que somos, e aprendamos a viver de acordo com a natureza. Nesta nova vida, com certeza, vamos encontrar a paz e a felicidade. Sejamos como o rio que corre tranquilo sem se importar com mais nada senão seguir o seu curso.
Você pode ter uma vida cheia de alegria quando procura desenvolver a espiritualidade.
Agora, veja bem: não se pode confundir espiritualidade com religião, embora toda religião reconheça a existência do espírito e busque infundir no coração dos homens a preocupação com a espiritualidade. Existem pessoas que se dizem religiosas e não têm nenhuma espiritualidade. No entanto, um homem sem religião definida, sem ser praticante de qualquer tipo de ritual, pode ser de profunda espiritualidade.
O ser humano se cansou de uma visão do mundo cartesiana, mecanicista e determinista, que nunca lhe trouxe felicidade alguma. Assim, em fins do século XX, esta visão do mundo passou a mudar. O materialismo foi dando lugar a uma ânsia profunda de transcendentalidade. E, depois que a Física Quântica provou que tudo que existe é energia e que a energia é eterna (ela se transforma, mas jamais deixa de existir), passamos a compreender que somos, realmente, algo além da matéria.
É a energia eterna que vive em nós e pode, inclusive, ser registrada pelas mais modernas máquinas inventadas pela tecnologia, é esta energia que dá vida ao nosso corpo. Quando ela nos abandona, deixamos de existir nesse plano, nessa dimensão. Esta energia, porém, a que chamamos de espírito ou alma, vive por toda a eternidade. A crença viva no espírito passou a ser a postura revolucionária das novas gerações, com uma nova visão de mundo e novos paradigmas.
O lado direito do cérebro, centro da intuição, da sensibilidade, da criatividade, da imaginação, passou a se desenvolver, com maior ímpeto, nos jovens. E, com o resgate de uma sabedoria milenar, fruto de uma simbiose entre o Cristianismo, filosofias orientais, o humanismo e a psicologia transpessoal, assistimos a uma nova era: a Era do Espírito.
Não podemos nos esquecer, no entanto, que Sócrates, Platão e tantos outros, antes de Cristo, já acreditavam na existência do espírito.
O leitor haverá de notar que as nossas palavras estão bastante marcadas pela filosofia cristã, porque acreditamos que Cristo foi o único ser perfeito que pisou no planeta Terra, a encarnação verdadeira do Amor, em seu sentido mais amplo e profundo.
Assim, estou falando sobre espiritualidade sob a ótica cristã, mas sem esquecer, jamais, que grandes espiritualistas e místicos, como o Dalai Lama, podem estar fora do Cristianismo. Enfim, que fique bem claro que a espiritualidade significa a preocupação com a busca da perfeição do espírito, a luta por se tornar melhor e mais feliz. Espiritualidade é Vida.
Entendemos que somente indivíduos mansos, pacíficos, humildes, podem construir um mundo melhor, assim como alcançar o equilíbrio e a harmonia interior.
Espiritualidade é, acima de tudo, vida em plenitude. E vida em plenitude é o amor incondicional, o espírito de justiça, o acolhimento, o perdão, a alegria e a realização. Primeiro temos que perdoar a nós mesmos e, depois, a todos que, algum dia, por um motivo qualquer, tenham nos magoado. Somente livre de qualquer mágoa, livre e leve, a pessoa poderá viver sadiamente a sua espiritualidade. Espiritualidade é vida plena.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81480
Por Maria Luiza Silveira Teles - 14/4/2016 16:10:32
CONVIVÊNCIA


Conviver não é nada fácil. E, no entanto, é a única maneira de nos realizarmos como seres humanos, de nos encontrarmos e sermos felizes.
Talvez seja essa a ciência e a arte mais difícil, mas a principal da vida, pois se não convivermos atrofiaremos.
Por que, então, é tão difícil? Porque requer desprendimento, coração aberto, humildade, altruísmo, saber ouvir e falar na hora certa e o saber sentir. É preciso, sobretudo, saber amar e somente somos capazes de amar quando já percorremos o longo e difícil caminho do autoconhecimento e nos amamos e nos aceitamos como somos, conscientes de nossas qualidades e defeitos.
Para aprender a viver bem com o outro necessário se faz, pois, que nos eduquemos e nos aprimoremos em todos os sentidos.
Se aprendermos a conviver, entender e respeitar nosso semelhante, tudo passará a ser mais fácil e o caminho nos trará felicidade e paz.
Esse tempo de aprendizagem, transformação e crescimento é a nossa travessia. Lembrando Fernando Pessoa, “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-lo, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
Vivemos tempos estranhos. Quanto mais o homem evolui em ciência e tecnologia mais se materializa, mais se torna violento, mais se anestesia.
As relações se tornam descartáveis, o sexo se banaliza completamente. Na sua busca desenfreada de prazer, o homem se vê cada vez mais vazio e solitário.
Tantas vezes duas pessoas vivem juntas e não têm absolutamente nada a dizer uma à outra: parece que um abismo as separa. Por quê? Os sentimentos não expressos, as mágoas recalcadas, pequenos ressentimentos que foram se avolumando, a direção diferente que cada uma delas toma, tudo isso vai separando-as pouco a pouco.
Enquanto as nações guerreiam, conflitos e batalhas maiores se dão dentro de nós, quando a Bondade de nosso ser divino luta contra a selvageria de nosso ser profano e primitivo.
Só lutando contra os “monstros” que vivem dentro de nós e derrotando-os, poderemos deixar florescer a beleza do projeto divino que somos.
Mas, que monstros são esses? O monstro do egoísmo, da vaidade, do orgulho, do desamor, da mágoa, da inveja, da raiva. Se esses não morrerem, jamais o projeto divino poderá se cumprir.
Jesus afirmou: “Vós sois deuses”. O que ele quis dizer com isto? Que em todos nós existem características do Pai e que essas só poderão se desenvolver na dependência de vários fatores, dentre os quais o maior é a lei que ele nos deu: ”Amai o teu próximo como a ti mesmo”.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81442
Por Maria Luiza Silveira Teles - 5/4/2016 11:02:16
A TAÇA DA BELEZA

Minha alma se alimenta principalmente de Beleza e Amor. Sem esses elementos eu secaria como uma planta qualquer. Assim, para manter-me viva, busco sempre a beleza, não somente na Natureza, mas também nas artes.
Uma bela música, um poema, um bom romance, um belo quadro, uma escultura, preciso todos os dias desses bens preciosos que enriquecem e alargam meu mundo interior.
Graças a Deus, tenho tido a oportunidade de alimentar minha alma com belezas incríveis! Não me canso de fartar-me! Não consigo admitir que alguém passe pela vida sem ler Göethe, Olavo Bilac, Fernando Pessoa (com seus heterônimos), Quintana, Manoel Bandeira, Cora Coralina, Manoel de Barros, Rumi, Neruda e tantos e tantos poetas incríveis! Sem ler Somesert Maughan, Clarice Lispector, Herman Hesse, Tolstoi, Dostoievsky, Guimarães Rosa, Garcia Marquez, Isabel Allende, Cyro dos Anjos, Érico Veríssimo, Josué Montello, Lia Luft, Khalil Gibran, Richard Bach, Saint Exupéry, Hemingway, Saramago... Sem contemplar os quadros de Frida Kahlo, Renoir, Lorenzo Bernini, Leonardo da Vinci, Van Gogh, Picasso, etc. Sem conhecer as esculturas de Rodin e tantos outros. Sem mergulhar na filosofia de Sócrates, Platão, Aristóteles, Dostojevski, Schopenhauer, Nietzsche, Sartre, Osho, Tagore,...
Tenho viajado por todos os museus do mundo, visitado as mais incríveis cidades, que guardam tesouros espetaculares, conhecido todas as belíssimas igrejas, os castelos, os grandes rios, os mares e todo seu mundo interior, grutas espetaculares, lagos, entrado nos mais diversos cantos deste planeta de meu Deus; assistido aos mais lindos concertos, a espetáculos de dança que nos tiram o fôlego, ao Cirque de Soleil, enfim, tenho bebido de todas as culturas e preenchido todos os vãos de minha alma. Como? Pela internet, esta extraordinária ferramenta que nos permite viajar sem sair de casa, trazendo ao nosso lar todo o mundo conhecido. Este instrumento que, se tem seu lado ruim, pode também nos levar a todo o conhecimento, a todo o cadinho cultural da humanidade, enfim, a gozar de todos os privilégios que estavam, antes, ao alcance apenas dos endinheirados.
Não estamos muito longe deste incrível mundo de beleza. Montes Claros é um verdadeiro celeiro de grandes talentos, em todas as áreas, e seria tão bom que essa beleza pudesse ser compartilhada por nossa gente de todo o país ou quiçá do mundo. Por que não o é? Falta de incentivo do governo ou patrocínio dos empresários? Não sei dizer. Só sei que não é justo que tanto talento se feche num pequeno mundo!...
Acho que nós, os artistas, os sensíveis, não podemos ser pessoas normais, pois não nos enquadramos na mediocridade desse mundo que só pensa em poder e dinheiro! Nós queremos as estrelas! Nós queremos gritar ao mundo o nosso anseio pela liberdade de criar, de falar, de cantar... Somos pessoas diferentes que enfeitamos a vida com a riqueza de nossa imaginação e de nossos sonhos.
Como aquele que só se preocupa com as veleidades do cotidiano pode compreender esse universo tão particular e único de cada alma?
Falando dos talentos de nossa terra, não tenho como citar nomes, pois são tantos e eu poderia cometer injustiças de esquecimento!
A população montes-clarense precisa prestigiar mais os nossos artistas! Se eles não conseguem levar a um público mais amplo a sua arte, pelo menos os que residem aqui e anseiam por um pouco de beleza possam se alimentar dela.
O grande Artur da Távola dizia que “quem tem riqueza interior não padece de solidão”. Está aí uma boa receita. Quer ser mais feliz? Não quer sentir solidão nesse mundo tão feito de aparências e falsidades? Abrace a arte. Leia bons livros, escute boas músicas e bons cantores, vá ao teatro, aos concertos, assista bons filmes, vá a “vernissages” e verá como sua vida se tornará mais plena. Não se contente com a aridez do cotidiano!
Vamos aproveitar que temos a felicidade de viver nesse celeiro de arte e gozar desse privilégio! Vamos beber desta taça de beleza!
Outro privilégio de que podemos gozar aqui é conversar com pessoas que têm anseios como nós, que vivem no Olimpo como nós. Além de nos enriquecermos mais, não nos sentimos tão sós e diferentes.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81413
Por Maria Luiza Silveira Teles - 24/3/2016 18:12:19
O OUTONO


Onde a chuva fina e passageira de Outono que sempre renova as esperanças? Esperança de vida. ..
O Outono me encanta! Parece-me um tempo de esperas... Um misterioso tempo grávido de sonhos de renovação, pois nada se transforma e se renova sem antes se despir das velhas roupagens.
Além de sua beleza, ele me faz lembrar aquela música de minha juventude: “Folhas mortas”. Quem, com mais de sessenta anos, morando em Montes Claros, não se lembra dessa música, que embalou tantas danças, de rostos colados, ao som do “Les chéries”?
Ah, o Outono, de Vivaldi, que retrata com o talento, que me falta, toda a beleza dessa estação!...É uma estação que, sem dúvida, convida à poesia.
Tudo parece morto e triste aos olhos de quem não conhece de verdade, isto é, com o coração e não apenas com a mente, os mistérios da Natureza... Ledo engano! O Outono tem suas nuances de Vida e Alegria! Basta que saibamos ver e sentir!
A Natureza com seus ciclos é sempre um convite à Vida. Vida de encantos e desencantos, dores e alegrias, caminhos e descaminhos, planícies, abismos e desertos... Vida cheia de arte, flores, espinhos... Mas, que sempre vale a pena!
A aurora está chegando mais tarde, assim como o crepúsculo mais cedo. De minha cama, posso observar o sol que, cheio de beleza e cores, anuncia o novo dia. A nova oportunidade. Um novo começo. Ah, que tristeza resiste ao sagrado desse momento? Todas as lágrimas se secam e o coração cheio de gratidão pelo dom extraordinário desse espetáculo gratuito que Deus nos oferece a cada dia, o coração pula dentro do peito convidando ao recomeço.

Não é necessário se ocupar de filosofias para reconhecer que a Vida sempre parece nos sorrir.
Bendito Outono com sua mensagem de esperança! Bendito Outono, fase de gestação de novas vidas! Ouço-lhe a música e os silêncios e me rendo diante do Mistério do Sagrado. Será o Outono uma presença profética?...
Neste ano, o outono ainda não trouxe as últimas chuvas a Montes Claros. Ardemos sob um sol inclemente! Mas, a esperança resiste. Esperança sempre de um novo tempo. As nuvens começam a se formar e as madrugadas já trazem um sopro de alívio. É o sopro de uma nova vida que se renova. Assim, como sempre a morte traz a esperança da Ressurreição.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81361
Por Maria Luiza Silveira Teles - 10/3/2016 01:16:34
AS FACES DA VIDA


Alguém pode negar a beleza da vida? Acho que ninguém. Mesmo aqueles que sofrem duras privações e, muitas vezes, se entregam ao desespero, podem parar um instante e contemplar o esplendor de uma aurora e de um crepúsculo; podem colher flores, amar e receber amor do seu próximo.
Mas, quem pode negar, também, que ela é tecida de sonhos mortos, de dores, saudades, perdas e tristezas profundas?
O mais bonito na natureza humana, entretanto, que talvez seja a maior prova de que somos feitos à imagem e semelhança do Criador, é o poder de superação que existe em todos nós. Tanto a dor como a alegria podem se transformar em poesia, artes plásticas, música, doação e entrega ao próximo, o que vai enfeitar a vida de todos os demais e mostrar a face da Beleza, que é a face do próprio Deus.
Se soubermos confiar na Misericórdia Divina cada golpe nos fará crescer e nos tornará mais fortes.
Perder um filho é perder um pouco de si mesmo. Perder os pais também é perder pedaços de si. Eles, porém, serão eternos, não apenas na nossa saudade, mas naquilo deles que ficou em nós.
Quanto mais envelheço, mais me acho parecida com meus pais. E me surpreendo, a todo o momento, dizendo: "Papai dizia isso ou mamãe dizia aquilo"... Só a esta altura da vida, vamos compreender a sabedoria de nossos pais, que, tantas vezes, contestamos, na soberba de nossa juventude...
Frederick Perls, grande psicólogo gestaltista, dizia que toda vela deve se consumir até o fim. Ele se referia às emoções, que não devem ser reprimidas, mas vividas até se consumirem. Só assim poderemos prosseguir na belíssima jornada da vida, com equilíbrio, mais amor por nós mesmos e pelo nosso próximo. Por exemplo, dor que não é vivida plenamente, mas reprimida, pode se transformar em dores no corpo físico.
É, pois, uma tolice de nossa parte pedir a alguém que chora que pare de chorar; a alguém que sofre que se distraia e esqueça a sua dor. Vamos deixar a vela se consumir para que sejamos mais sadios, úteis e amorosos.
Tenho por costume deixar a vela se consumir. Eu sempre renasço das cinzas: mais iluminada e mais cheia de amor.
A vida é uma benção: não nos esqueçamos jamais disso! E tudo passa: essa é a única certeza que temos...

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81341
Por Maria Luiza Silveira Teles - 5/3/2016 09:42:31
AMOR IMPOSSÍVEL

Hoje encontrei a foto da Rua Gorki, onde você me disse que passearíamos um dia. Bateu-me uma enorme nostalgia, pois nunca mais vou ver você e nem passear ao seu lado na Rua Gorki, nem em lugar algum.

Existem amores que nunca nos abandonam na saudade. Ficam como protótipos do amor verdadeiro, talvez porque nunca se realizam. Nossos corações e nossos corpos arderam em fogo, mas nunca sua mão tocou a minha. Sonhamos com um futuro que jamais existirá. Fizemos mil planos que jamais haverão de se concretizar.

Hoje, se ouço uma bela música, choro pensando em você. Se vejo um belo quadro, lembro-me do quanto você o apreciaria! Tudo de bom traz no bornal a sua lembrança... Ah, quanto eu o amaria! Mas, assim, não quis a vida! Ou não quisemos nós? Conhecê-lo foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Sua alma tão límpida... Seu coração de anjo... Sua face tão nobre!

Depois de você, como posso amar algum outro homem? Nenhum nunca conseguirá ser tão belo e maravilhoso! Nenhum será tão amigo, nem tão romântico, nem tão espiritualizado!

Se leio um belo texto penso logo em lê-lo para você... Se os caminhos são belos, lembro como você os amaria! Se a chuva tamborila leve na vidraça, você chega junto com ela. Se é o sol, você brilha com ele. Em tudo está o seu espírito! Ah, as praias que nunca verei, os caminhos pelos quais nunca caminharei, as músicas que nunca escutarei, os livros extraordinários que nunca lerei... Os poemas que nunca farei... Tudo é você!

Todos os amores que tive na vida eram pálidas imitações do amor que, um dia, arrebataria minh’alma. Mas, você nem nunca saberá desse amor. Nunca tomará conhecimento de minhas lágrimas, de minha saudade, de minha solidão! Você: o homem que eu busquei, talvez por muitas vidas, escapou-me como água a escorrer pelos dedos.

Você dizia que era um anjo que me trouxe à terra para, depois, encarnar e podermos nos encontrar e amar, vestidos de humanos. Mas, não era verdade! Era apenas um sonho e eu acordei e fiquei condenada a chorar para sempre com a lembrança eterna de um amor que nunca se realizou.

Maria Luiza Silveira Teles
(presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81242
Por Maria Luiza Silveira Teles - 7/2/2016 16:16:22
AINDA SE MORRE DE AMOR...


Ela era apenas uma menina quando ele a conheceu, uma menina que desabrochava para a vida de mulher. Bastou um único olhar para apaixonar-se. Este amor iria durar toda uma vida, mas um amor calado, sem esperanças, sufocado no peito.
Em seu coração, ele a chamava de “princesa”. E como poderia uma princesa olhar para um simples empregado de seus pais?
Ela era doce, gentil, educada. Parecia-lhe uma flor. Tratava-o sempre muito bem, como a qualquer um... Nem de longe poderia desconfiar daquele amor, pois ele era sempre respeitoso e, quando lhe falava, abaixava os olhos, talvez para que não pudesse ler neles aquele sentimento avassalador.
Para que sua dor fosse maior, mas, ao mesmo tempo, para sua felicidade e orgulho, o pai da garota encarregou-o de olhar por ela, sempre à distância, para que ela não desconfiasse. Isto porque ela tinha saúde frágil e, muitas vezes, desmaiava na igreja, no cinema, com ele sempre ali a amparando. Quando ela voltava dos desmaios era sempre o olhar dele, aquele olhar temeroso e cheio de carinho, com o qual ela se deparava primeiro.
Além do problema da saúde, ela começava a chamar a atenção dos rapazes e o pai o encarregara de não deixar nenhum se aproximar dela.
Morou algum tempo em casa dela e aprendeu com os pais e com ela própria uma ética que nortearia toda sua vida. Sempre justo, honesto, verdadeiro, gentil. Estes seriam os mesmos valores que, um dia, ele passaria para seus filhos.
Tinha um enorme e grosso caderno, ao qual ninguém nunca teve acesso, no qual ele ia escrevendo seus versos para a princesa.
Um dia, porém, - sempre chega este dia – a vida os separou. Ele continuou vivendo uma vida pela metade, pois ela lhe faltava. E ela se lembraria, muitas vezes, dele como um irmão que ficara pelo caminho...
Ele se casou com outra e constituiu uma bela família, mas sempre com a lembrança doída daquele amor que seria eterno. Separou-se da mulher, pois é sempre difícil viver com uma e ter outra no coração... Seu caderno continuava registrando suas dores, sua saudade, o abismo de sua alma e os desertos difíceis por onde teve que andar...
Ele precisava encontrá-la! Mas, pensava, era uma loucura! Ela teria sua vida, deveria estar casada e com filhos. Além disso, com a inteligência que já naqueles tempos demonstrava, deveria ser alguém muito importante.
Ninguém pode prever as voltas que este mundo dá. Pois não é que, já na terceira idade, sentindo que a vida o abandonava, ele conseguiu encontrá-la?! Ela continuava com aquele jeito simples e doce de menina! Descobriu que, realmente, ela era muito importante, mas quem o diria com aquela humildade?! Abraçou-o feliz e aquela chama virou uma labareda que tomou conta de seu ser. A viagem para encontrá-la foi muito dura e difícil para ele, mas valeu poder estar com ela! Não a perderia mais!
Mês após mês, ele sempre lhe telefonava. Agora, já não tinha mais vergonha de lhe falar daquele amor que o consumira por uma vida! Afinal, ela estava só e ele também e as distâncias sociais que, antes, os separaram eram insignificantes nos dias de hoje...
Pediu-lhe cartas e ela lhe escreveu. Pediu uma foto e ela enviou-a. Pediu que fosse visitá-lo e ela concordou. Marcou a viagem e ele preparou tudo, com enorme zelo, para recebê-la como uma princesa, o que ela verdadeiramente era e fora sempre para ele.
O destino, porém, foi impiedoso e, nos dias do embarque, problemas familiares a impediram de viajar... Como ele sofreu! As forças o abandonavam... Ela seria a única luz que poderia devolver-lhe a vida! Mas ela não foi...
Continuaram, porém, a falar-se pelo telefone. Foram quatro anos, sem forças, com a moléstia o devastando, apesar da pouca idade. E não morria a esperança, como ele próprio dizia, de entregar-lhe aquele beijo guardado há tanto tempo!
Ele precisava de uma cirurgia urgente no coração e ela animou-o muito para fazê-la, mas ele não quis. Disse-lhe que preferia morrer em sua cama a fazê-lo numa sala de cirurgia. Ela retrucava: “mas não é para morrer, é para viver mais!”. Ele, porém, não acreditava que sobreviveria...
O telefone não tocou mais e o coração dela oprimiu-se. Uma angústia não a abandonava. Teve vontade de ligar, mas teve medo, medo daquilo que seu coração já tinha lhe avisado...
Depois de três meses, tomou coragem e ligou. A filha atendeu. O coração dela disparou. Disse que queria falar com o pai e um longo silêncio se seguiu... Quando a moça conseguiu falar, disse-lhe: “não tivemos como avisar à senhora...”- “avisar-me de que?” – pergunta besta quando já sabia a resposta... “Parece que ele tinha o telefone da senhora na cabeça, pois não o encontramos em nenhuma agenda...”. E a frase-punhal veio certeira: “Ele faleceu há três meses”.
Como podia ser? Levara com ele aquele imenso amor? Aquele beijo nunca dado? E, agora, mais do que nunca, ela se sentia só. Vida cruel! E agora? Repetia bobamente... Alguém se importa? Não, ninguém! Cada um tem sua história e que importa ao mundo a morte de alguém que morreu de amor?...


Maria Luiza Silveira Teles


81214
Por Maria Luiza Silveira Teles - 31/1/2016 18:14:44
PAZ E FELICIDADE


Para mim não há nenhum choque entre a idéia de Deus e a própria Ciência. Entretanto, a Ciência tem a sua postura acadêmica de preocupar-se unicamente com o que é tangível e concreto. Aí, porém, ela se contradiz, pois poderíamos dar vários exemplos de objetos científicos que não são concretos: até onde a eletricidade é tangível em sua forma pura? E as ondas do som e da luz?...
Praticamente todos os grandes pensadores, mais cedo ou mais tarde, chegaram a Deus. E muitos , quando o fizeram, passaram a ser desconsiderados pela Ciência, como é o caso de Jung, cuja segunda parte de sua obra, a Psicologia Profunda, é menosprezada pela Psicologia oficial (se é que existe uma...).
Ninguém pode, em termos puramente racionais, discutir a existência ou inexistência de Deus, embora a Física Quântica cada vez mais nos aproxima de uma conclusão positiva. São palavras de uma física notória, cujo nome me escapa: “Como poderia haver tantas coincidências, todo o Universo obedecer a leis perfeitas e coerentes, se não houvesse uma Inteligência Suprema a controlar tudo?”.
O que nos importa aqui, porém, não é entrar neste tipo de discussão, nem convencer ninguém do que quer que seja. Não podemos, entretanto, deixar de pontuar nossa posição: pensamos que a felicidade a paz estão na sintonia absoluta com Deus. Isto não significa, no entanto, que a pessoa tem, necessariamente, que ser religiosa. Uma pessoa bondosa, de pensamentos positivos, que ama o ser humano, respeita e ama a Natureza, está em sintonia com Deus, mesmo que não imagine tal coisa.
Pode-se fazer mil terapias e até ser uma pessoa religiosa, mas isto, não é passaporte para a felicidade. As boas coisas que a vida nos traz são percebidas como boas porque as comparamos com as que consideramos más.
É uma atitude sábia aceitar como parte de nossa aprendizagem as dores que precisamos suportar. Nenhum caminho é desprovido de pedras; nem sempre o céu está sem nuvens. A felicidade dependerá da habilidade de cada um em saber aproveitar cada uma das pedras encontradas para com elas construir o alicerce que será a base de sua capacidade de crescer em força e autoestima.
Aceitar o que a vida nos traz é sabedoria. No entanto, a sensação de plenitude, de realização absoluta, de paz permanente, para mim, só poderá ser encontrada em Deus.
Se é impossível definir Deus, podemos, entretanto, sentir-Lhe a Presença. É necessário, porém, que estejamos abertos para isso. Quem só vive mergulhado nos problemas materiais, no torvelinho do dia-a-dia, sem parar para contemplar o Universo, em sua beleza e mistérios, não consegue acreditar em Deus ou O imagina como uma realidade distante e dificilmente deixa que Deus de fato o toque.
Ele está presente em nós. Quando fazemos esse mergulho na quietude, nós O encontramos. Nós e o Universo somos unos. E todos são unos com o Criador.
A fé inabalável, a confiança firme no amor divino, em Sua presença e misericórdia criam em nós uma harmonia interior, que fato exterior algum pode abalar.
Segundo Elisabeth Leseur, “a alma que se eleva, eleva o mundo”. Portanto, quando amamos, crescemos, nos transformamos para melhor, estamos a melhorar o mundo e a conquistar a paz.
Uma coisa é certa: quem não encontra sua realização em algo é sempre amargo e pessimista, antipático, prepotente, presunçoso ou, então, ao inverso, possui sentimentos de inferioridade e uma aura de derrotismo. Mas, pode essa pessoa ter paz ou alcançar a felicidade?
As pessoas autenticamente religiosas, que enchem seus corações de amor, fé e esperança, conseguem harmonia e paz e enfrentam com mais equilíbrio as situações difíceis da vida.
Se tua alma está nostálgica, integra-te na harmonia do universo e a alegria povoará teu mundo interior. Ao teu lado a Natureza canta hinos de louvor à criação. Aqui e ali, a vida é uma perene canção de amor. Tudo fala de renovação, evolução, alegria e paz. A dor só poderá destruir-te se lhe deres guarida. Se estiveres protegido pela fé, pela esperança e pelo amor, ela não será senão um pequeno espinho que incomoda, mas não chega a penetrar na carne.
Se tiveres olhos para contemplar a beleza, poderás esquecer-te do que é feio. Se tiveres ouvidos prontos a ouvir os hinos de amor que cantam teus irmãos, num testemunho veemente da misericórdia Divina, decerto passarão despercebidas as palavras de rancor, ciúme, inveja ou ofensa.
Se puderes assistir, de coração aberto, a continuação do milagre da vida, às estações que vão e voltam, ao sol que se esconde e, depois, ainda brilha, às plantas que secam e, amanhã, ainda dão frutos; se puderes observar a criança, o jovem, o velho, o casal enamorado; sentir o eterno fluxo e refluxo da vida, poderás encontrar a Deus e ver que há motivos para se viver e ser feliz.



Maria Luiza Silveira Teles
(presidente da Academia Montes-clarense de Letras)





81171
Por Maria Luiza Silveira Teles - 24/1/2016 16:58:14
A PARTIDA

A vida é feita de chegadas e partidas. Não há como evitar isto. Geralmente, a chegada é saudada com alegria e a partida com lágrimas.
Entretanto, há uma partida definitiva: aquela em que somos levados à outra dimensão, abandonando o corpo material, os afetos e tudo aquilo que achávamos que nos pertencia.
Nunca consegui entender porque as pessoas conversam tanto nos velórios. Na verdade, somente a família do morto chora em silêncio, mergulhada na dor da perda e da ausência.
As pessoas tagarelam e contam piadas. Botam a conversa em dia. É um encontro de confraternização.
Será esse comportamento uma maneira de exorcizar a morte? De não pensar que, um dia, lá estarão os amigos a nos velar e levar à tumba fria?
Sei lá! Ou será a vida moderna, na sua ferocidade, na sua velocidade para tudo, inclusive para os compromissos, que, de repente, faz da morte um intervalo para o encontro daqueles a quem queremos tão bem e com quem não podemos conviver na medida do nosso querer?
Seja como for, aqui e em outros cantos do planeta, o velório é quase uma festa, com "comes e bebes". Seria uma festa comemorando a Vida e não a morte? Por que o quê é a morte senão o fim de um ciclo? Talvez todos, em seu íntimo, e talvez inconscientemente, brindem à vida daquele que se foi. Do dever cumprido, da lembrança do que foi e do que deixou.
Porque ninguém passa pela vida em brancas nuvens, impunemente. A vida tem um preço e todos nós pagamos por ela. Ou com alegria e belas obras, ou com tristeza, mas trabalho e dor.
Não estou absolvendo a todos os seres humanos. Mas, a mim não cabe julgar ninguém. Cada um tem sua própria consciência, que é o inferno, o céu ou o purgatório, no encontro com a Morte. Esse é um momento de extrema solidão ao qual ninguém pode fugir. Nós e nossa consciência. Um encontro difícil e doloroso. Sei disso porque, embora cá ainda esteja pela Graça Divina, já passei por este momento, quando todos esperavam que eu morresse.
Finalizando tais elucubrações, acredito que é isso: nos velórios comemoramos a Vida, o Amor, a esperança do reencontro, as belezas e as dores da Viagem. Só pode ser!
Falando neste assunto do nosso dia-a-dia, quero homenagear, hoje, o nosso amigo e colega Raphael Reys, escritor e historiador, espiritualista convicto, que fez a sua Grande Viagem e foi enterrado ainda há pouco.
Raphael era um grande amante de Montes Claros e registrou em sua escritura momentos importantes e inesquecíveis de nossa história. Tanto conversamos sobre o fenômeno da morte que, para ambos, não era senão uma passagem para outra dimensão. Tanto filosofamos em inúmeros velórios!
Hoje foi a sua vez. Não pude ir ao seu velório. Melhor assim! Prefiro lembrar de meu amigo como ele sempre foi: um amante da Vida. E é a sua vida que celebramos agora,
Que Deus o tenha e que dê à sua família o conforto necessário neste momento difícil da separação.

Maria Luiza Silveira Teles (presidente da Academia Montes-clarense de Letras)


81077
Por Maria Luiza Silveira Teles - 11/1/2016 08:45:44
CONFISSÃO

Um cronista deve estar a par do que acontece no mundo, em seu país e em sua cidade. Afinal de contas, o cotidiano é a sua temática principal.
Entretanto, ando cansada de noticiários! Cansada de coisas ruins, de violência, de hipocrisia, de corrupção, de jogos de interesses, de disputa de egos, de desamor, de guerras, das fogueiras de vaidade, de tanta futilidade.
Ando faminta de Beleza, Poesia, Amor! Ando querendo pés no chão, frutos na árvore, cheiro de mato. Quero recuperar a pureza da infância, suas loucas fantasias, seus sonhos, risadas e brincadeiras.
Quero de volta as utopias da juventude, as paixões amorosas, a coragem de mergulhar no novo e desconhecido, a vontade de transformar o mundo.
Não suporto mais a miséria de tantos, os preconceitos, a injustiça, o radicalismo, seja do quê for.
Resolvi, neste fim-de-semana, descansar completamente. Isto significou isolar-me um pouco, pensar e esquecer tudo isto. Resolvi deixar de lado qualquer obrigação, a internet, redes sociais, etc.
Vi, então, filmes extraordinários que me levaram à reflexão e à beleza por que minha alma tanto ansiava. Pude embarcar em belas histórias. Assisti a película “My way, o mito além da música”, que conta a história do artista francês, Claude François, autor da música que leva o mesmo nome e que sempre amei e com a qual me deliciei, tantas vezes, na voz de Frank Sinatra. Nunca soube que seu autor era o francês Claude. A história de sua vida é bastante parecida com a de tantos, que lutam pelo sucesso e se deixam perder por ele.
Revi, também, o filme “O Despertar”, com Robert de Niro e Robert Williams em um desempenho fantástico. E, hoje, resolvi dar risada com a “Escolinha do Professor Raimundo”, uma releitura da antiga que era com o inesquecível Chico Anysio.
Depois, assisti o “The Voice Kids”, uma série de talentos infantis e juvenis. Lavei a alma... Abandonei por dois dias toda a realidade deste mundo cruel que anda me enojando.
Mas, aí, acabei por descobrir que me perdi pelo caminho. Gostaria de ter me dedicado, inteiramente, e com maior profundidade, ao estudo fascinante da mente humana e desenvolvido, além da Literatura, os meus anseios pela música, pelo canto e pela dança.
Estudei piano, na infância, por três anos, mas acabei por largar pela exigência da obrigação. Não me esqueço de minha professora, Dona Onda, em Barbacena, e, nem tampouco, de Dulce Sarmento, minha mestra de Canto na Escola Normal.
Quis aprender balé, mas meus pais não deixaram porque, naquela época, não era um “meio decente para moça de família”.
Assim, alguns sonhos foram morrendo pelo caminho. Sei que podem dizer que não é tarde para realizá-los. Tenho um amigo, o professor Juvenal Durães, que, depois dos oitenta anos, dedicou-se a aprender música e italiano. É uma lição de vida! Eu, entretanto, não tenho este ânimo, nem esta força de vontade.
Bem, depois deste descanso e destas reflexões todas, sinto-me renovada porque sei que ainda há motivos para se acreditar na beleza da vida e na bondade de poucos, mas que merecem meu respeito.

Maria Luiza Silveira Teles (Presidente eleita da Academia Montes-clarense de Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


81058
Por Maria Luiza Silveira Teles - 5/1/2016 14:11:44
A vida como ela é

A gente vai vivendo momentos de alegria e momentos de profunda tristeza. Tudo é ensinamento e com todas as experiências vamos crescendo.
Ás vezes, a dor é tão terrível que pensamos não suportar. Mas, dentro de nós, existe uma força que normalmente desconhecemos e nos acode nestes instantes…
Só Deus sabe a dor de perder pai, mãe, filho, amigos… No momento, muitas vezes, ficamos como que anestesiados. Isto é a Misericórdia de Deus agindo. Talvez, se ficássemos inteiramente lúcidos, provavelmente enlouqueceríamos como alguns..
Mas, os dias vão passando e a vida nos empurra porque ela é um impulso muito forte. A dor vai, pouco a pouco, diminuindo… Costumo dizer que é o unguento que o Pai Maior vai colocando na ferida. E, de repente, percebemos que a saudade é muita, mas ela já não dói.
E começamos a dizer que as obrigações do dia-a-dia nos levam para diante. O tempo passa e, subitamente, percebemos que a alegria voltou. Este é o processo natural. Deus nos deu provações para que aprendamos, provavelmente, a ser humildes, complacentes, compassivos; a nos tornarmos o próprio Amor.
Entretanto, Ele nos quer felizes, vivendo a vida em plenitude. Continuar cultivando a tristeza e parar no Tempo é doença. Precisamos estar atentos a isso.
Depois de qualquer perda, seja de que tipo for, costumamos ter um período de “luto”. Mas, quando o luto dura muito já é questão patológica.
Se perdemos por um lado, sempre ganhamos por outro. Tornamo-nos mais amantes da vida e crescemos espiritualmente.
As perdas, na verdade, não são perdas, mas ganhos em espiritualidade e vida. Se a gente, ao invés de mergulhar na dor, procurar ver os sinais que Deus nos manda, logo tudo passará. Porque a característica principal de tudo que vive é a impermanência. Tudo passa e tudo tem fim.
Olhemos o sol, a noite estrelada, o carinho da família e dos amigos, o canto dos pássaros, a música das cascatas, a beleza das flores, o renascimento de tudo que morre, como no caso de muitas plantas, e veremos que Deus sempre está conosco e nos cobre com seu manto de Amor.
Alguém pode negar a beleza da vida? Acho que ninguém. Mesmo aqueles que sofrem duras privações e, muitas vezes, se entregam ao desespero, podem parar um instante e contemplar o esplendor de um crepúsculo; podem colher flores e amar e receber amor do seu próximo.
Talvez alguns digam: “Como contemplar a beleza de algo se a vida se mostra tão feia com a doença, a miséria, a injustiça, a fome?” É verdade. Não é fácil. Não quero dizer que é simples ver a beleza de estômago vazio. Mas, ter fé e esperança ainda é o melhor caminho em qualquer situação. Isto não é comodismo! Claro que devemos lutar para a melhoria da condição de todos. Quem pode negar, também, que a vida é tecida de sonhos mortos, de dores, saudades, perdas e tristezas profundas? Revoltar-se e desesperar-se, entretanto, só provoca doenças no corpo e na mente.
O mais bonito na natureza humana e que talvez seja a maior prova de que somos feitos à imagem e semelhança do Criador é o poder de superação que existe em todos nós. Tanto a dor como a alegria podem se transformar em poesia, artes plásticas, música, doação e entrega ao próximo, o que vai enfeitar a vida dos demais e mostrar a face da Beleza, que é a face do próprio Deus.
Se soubermos confiar na Misericórdia Divina cada golpe nos fará crescer e nos tornará mais fortes.
Perder um filho é perder um pouco de si mesmo. Perder os pais também é perder pedaços de si. Eles, porém, serão eternos, não apenas na nossa saudade, mas naquilo deles que ficou em nós.
Quanto mais envelheço, mais me acho parecida com meus pais. E me surpreendo, a todo instante, dizendo: "Papai dizia isso ou mamãe dizia aquilo"... Só à esta altura da vida, vamos compreender a sabedoria de nossos pais, que, tantas vezes, contestamos, na soberba de nossa juventude...
Frederick Perls, grande psicólogo gestaltista, dizia que toda vela deve se consumir até o fim. Ele se referia às emoções, que não devem ser reprimidas, mas vividas até se consumirem. Só assim poderemos prosseguir na belíssima jornada da vida, com equilíbrio, mais amor por nós mesmos e pelo nosso próximo. A dor que não é vivida plenamente, mas reprimida, pode se transformar em dores no corpo físico.
É, pois, uma tolice de nossa parte pedir a alguém que chora para parar de chorar; a alguém que sofre que se distraia e esqueça a sua dor. Vamos deixar a vela se consumir para que sejamos mais sadios, úteis e amorosos.
Hoje estou profundamente triste. E não venham me animar! Vou deixar a vela se consumir. Eu sempre renasço das cinzas: mais iluminada e mais cheia de amor.
A vida é uma benção: não nos esqueçamos jamais disso! E tudo passa: esta é a única certeza que temos.

Maria Luiza Silveira Teles
(presidente eleita da Academia Montesclarense de Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros


81037
Por Maria Luiza Silveira Teles - 29/12/2015 14:50:50
A NOVA CRONISTA

Mara Narciso é uma cronista que me encanta e espanta. Espanta por quê? Porque ela é uma médica e, pelo que sei, uma boa médica. Um bom médico, geralmente, se dedica quase que exclusivamente a estudar sua especialidade. Isto requer muito tempo, muitos livros e muitas idas a Congressos. Então, não lhe sobra muito tempo para dedicar-se a outros tipos de estudos. Não é verdade? Tenho conhecido poucos médicos com boa cultura geral, conhecedores de literatura, bons autores, boa poesia, boa música, clássicos, óperas, etc. Tal não é o caso de nossa cronista. Percebemos, claramente, que ela é uma devoradora de boa literatura e possuidora de vasta cultura geral.
Ela me encanta exatamente por isto. Como é uma pessoa que lê bastante, as palavras fluem em sua escrita com uma facilidade incrível. E suas crônicas são recheadas de imagens simbólicas e percebe-se, ainda, que é uma criatura bastante reflexiva, que sabe, com profunda filosofia, penetrar nos assuntos mais corriqueiros, analisando-os e criticando-os. É de um talento indiscutível! Ainda mostra certa mordacidade ao tratar da banalidade e da futilidade de muitos dos valores vigentes em nossa sociedade contemporânea.
É fecunda, bastante fecunda! Um poder de criatividade e fertilidade incríveis! Sou obrigada a confessar que, muitas vezes, causa-me inveja. Não inveja destruidora, mas aquela que é fruto de uma profunda admiração. Por quê? Porque muitas vezes desespero-me com a página em branco e a mente vazia. Isto, porém, não parece acontecer com nossa amiga Mara.
Suas crônicas são sempre atuais. Ela se preocupa com a realidade circundante. Está sempre inserida nela, sem deixar-se contaminar pelo mal que dela exala, como o lírio que nasce na lama, emergindo com toda pureza e encantando por sua beleza.
Sempre admirei sua escrita, mas confesso que pensava que ela fosse uma pessoa estranha e fechada. Ao conhecê-la, porém, deparei-me com outra realidade: ela é encantadora e dona de uma profunda riqueza interior. Apenas tímida. Este tipo de pessoa que me encanta e com quem gosto de me relacionar. E, ainda, tem mais uma qualidade importantíssima para todos nós: é uma boa conhecedora de nossa história.
Montes Claros, ao longo do tempo, pode se orgulhar de ter produzido ótimos cronistas. Se formos falar do passado teremos uma lista infindável. Mas, no presente, além de Mara, temos muitos outros que enriquecem o nosso dia-a-dia: Itamaury Teles, Jorge Silveira, Wanderlino Arruda, Raquel Mendonça, Felicidade Patrocínio, Georgino Júmior, Dário Cotrim, Alberto Sena, Petrônio Braz, Ucho Ribeiro, Avay Miranda, José Ponciano Neto, Waldir Sena Batista, Virgínia de Paula, Paulo Narciso, Paulo Braga, Marcelo Eduardo Freitas, Maria Ribeiro Pires, Manoel Hygino, Luiz de Paula, José Prates, Ivana Rebello, João Carlos Sobreira, Carmem Netto e outros tantos, cujos nomes me fogem no momento.
Todos os cronistas citados não se enquadram apenas na crônica e são todos portadores de uma excelente bagagem cultural. Mas, voltando à Mara Narciso, para mim ela é uma nova revelação se compararmos as idades da maioria das pessoas citadas atrás. É natural, quando se é intelectual, que, ao longo da vida, desenvolvamos mais conhecimentos, sabedoria e desenvoltura com o uso da palavra. Entretanto, Mara ainda não viveu tanto, mas já espanta por seus conhecimentos, fluidez, leveza e profundidade em sua crônica. É mais uma intelectual de que Montes Claros pode se orgulhar.
Maria Luiza Silveira Teles (Presidente eleita da Academia Montes-clarense de Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


81001
Por Maria Luiza Silveira Teles - 15/12/2015 17:15:40
FESTAS DE FIM DE ANO

Vivemos tempos de festas, tempos de reencontro com amigos, que moram fora, e de encontro com a família. Embora, nada seja tão agradável quanto antes, quando nossos pais eram vivos, não podemos negar que mesmo as lembranças são boas companheiras e por elas devemos agradecer.
São tempos de contemplação do Divino e de reflexões.
Quando um ano termina e outro começa, nossos corações se enchem de esperanças. Esperança de um mundo novo e de uma vida nova.
Entretanto, a verdade é que nada pode se modificar se não modificarmos a nós mesmos. Aliás, a única mudança que podemos realizar é a mudança de nosso interior.
É preciso crescer e, para isso, temos que enfrentar nosso lado obscuro e trabalhar seriamente na sua transformação. Somente assim estaremos vibrando numa sintonia mais alta. Quando agimos dessa forma o Universo responde com acontecimentos positivos.
De nada vale nos queixarmos dessa sociedade materialista, violenta, fútil, vazia, amoral, injusta, corrupta, consumista, se nós não nos tornamos pessoas mais espiritualizadas, pacíficas, justas, bondosas e incorruptíveis.
Estudando a História, podemos perceber que todas as civilizações que perderam a viga-mestra de seu sustentáculo, os valores considerados eternos, os mesmos discutidos por Sócrates, Platão, Confúcio, Cristo e tantos outros, caminharam inexoravelmente para o seu fim.
Acredito que o mesmo acontece com a nossa civilização. Ela está seriamente doente e o término de qualquer doença grave costuma ser a morte.
Portanto, é tempo de agradecer e pedir a coragem de nos vermos como somos realmente e começarmos a nossa mudança interior.
Acostumei-me sempre a dizer que existe em nosso planeta o Movimento Silencioso do Bem. O mal é barulhento e enraizou-se em nossa sociedade promovendo a deterioração da mesma. Mas, silenciosamente, ainda há aqueles que promovem o Bem através de ações amorosas.
Estes são a esperança da construção de um mundo novo, de uma sociedade realmente fraterna. Não falo em religiões, mas no Bem. Porque, infelizmente, existe um número enorme de pessoas que, em nome de suas religiões, promovem a discriminação e a violência.
O próprio Papa atual, que governa uma das maiores religiões do planeta, vem falando repetidamente das doenças graves de que sofre a maioria de seus representantes, inclusive aqueles de uma hierarquia superior.
De nada vale a pessoa bater no peito, frequentar os templos, ouvir as pregações, estudar a Bíblia, o Alcorão, o Torá, o Vedas, o Bhagavad Gita ou outro qualquer se não se transforma.
Acho que já é do conhecimento de todos a famosa frase com a qual o Dalai Lama respondeu à pergunta de Leonardo Boff num encontro dos dois. A pergunta foi: “Sua Santidade sabe dizer-me qual a melhor religião?”. Ele esperava que o Dalai dissesse: “O Budismo”, mas ele respondeu: “Aquela que te faz melhor”. É disso que estou falando.
Acho que esta é a hora de nos ajoelharmos, humildemente, diante da Divindade e pedirmos: “Oh, Senhor, me faz uma pessoa melhor para que eu possa ajudar a transformar o mundo e termos, no próximo ano, um ano pleno de novas realizações do Bem”.
Acho que devemos nos lembrar que até pra fazermos alguma crítica aos outros, ao governo ou à qualquer entidade ou instituição, devemos, em primeiro lugar, termos um comportamento exemplar e estarmos trabalhando seriamente em nossa melhoria interior.

Maria Luiza Silveira Teles
( Presidente eleita da Academia Montes-clarense de Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


80961
Por Maria Luiza Silveira Teles - 5/12/2015 12:17:13
LEMBRANÇAS DE CÂNDIDO

As ideias pululam na mente. Principalmente, à noite. Acontece que sou danada de preguiçosa! Levantar no meio da madrugada nem pensar... Acho que só mantendo um caderno ou caderneta perto do travesseiro.
Entretanto, uma lembrança tem insistido em me trazer uma enorme saudade. Fico vendo o meu querido amigo, Cândido Canela, sentado em sua varanda ou em seu pequeno escritório... A lembrança é tão forte que, algumas vezes, penso estar delirando.
Desde criança, ouvia papai falar em Cândido, seu grande amigo, e “o maior poeta dos sertões de Minas Gerais”, no dizer de papai. Tinha, pois, desde então, muita admiração por aquela grande figura, mas era alguém muito distante de mim como todos os grandes autores que eu lia!...
Já em Montes Claros, era, então, professora do Colégio Tiradentes, quando fui convidada por Ubirajara Toledo para ser entrevistada em um programa chamado “Tribunal da Opinião Pública”, na ZYD7. Isto porque eu estava criando um escarcéu na cidade com minhas aulas para alunos e pais sobre sexualidade. Pois bem, não é que Cândido ouviu minha entrevista e descobriu, com grande “alegria”, conforme suas palavras, que eu era filha de um velho amigo seu? Escreveu, então, para meus pais uma carta que ainda guardo com muito carinho. Papai e mamãe mostraram-me a carta extremamente orgulhosos da filha. E eu quis conhecer o seu autor.
Assim, fui visitá-lo, pela primeira vez, acompanhada de meus pais. Identifiquei-me tanto com Cândido que acabamos por nos tornar bons amigos e passei a ser “figurinha” batida em sua casa.
Dona Laurinda, sempre acompanhando nossas conversas e preparando o café com biscoitos, era a companheira adorável. Do quê falávamos? Geralmente de livros, autores e fatos. Infelizmente, porém, não guardo, de maneira especial, nenhuma conversa em particular, apenas que ele insistia em dizer que eu era da “esquerda festiva”. O que realmente me marcou em Cândido foi sua simplicidade e humildade. Como todos os grandes homens de verdade, assim a vida tem me ensinado. Encantava-me o carinho e a simplicidade com que me recebia e, mais ainda, sua sinceridade em falar de sua neurose, que o fazia fugir de reuniões. Ele adorava visitas, mas jamais as retribuía. Também para quê? Tinha visitas praticamente todos os dias. Papai e tio Olyntho mesmo eram visitas praticamente diárias
Não era um homem de grandes chamas de otimismo. Mas era um homem reto, digno, de caráter impoluto. Apesar de sua alegria em nos receber, eu podia notar que, pensativo demais e filósofo, ele não deixava de apresentar uma certa melancolia. Não sei dizer se isto era uma característica de sua personalidade ou própria da idade, pois, na velhice, acabamos por nos tornar saudosistas...
Quando Cândido faleceu, eu não estava na cidade. E um grande vazio passou a tomar conta de mim. Criei o hábito de parar em frente à sua casa e recordar, com lágrimas nos olhos, sua figura e nossas prosas. Um dia, porém, não encontrei mais sua linda e simples casinha. Nada de Cândido, nada do quintal, do papagaio que cantava o Hino Nacional, dos passarinhos e nem de seu jardim. Somente escombros
Jamais compreendi como o poder público não fez da casa de nosso grande poeta um museu como tantos que existem espalhados por pequenas cidades deste imenso país, cultuando a memória de seus grandes escritores. Aliás, Montes Claros se caracteriza por ser uma cidade sem memória.
E me ponho a pensar: onde um intelectual da estirpe de um Cândido nos dias de hoje? Não estou fazendo pouco dos verdadeiros, mas o único que conheci de sua dimensão, não somente na intelectualidade, mas na humildade, foi Haroldo Lívio que, há um ano, nos deixou.
Montes Claros, cidade que produziu um Cândido Canela, um Cyro dos Anjos, Darcy Ribeiro, Nelson Vianna, Hermes de Paula e tantos outros grandes, hoje se tornou “a cidade dos escritores”, isto é, uma cidade onde basta ter dinheiro e publicar qualquer coisa para o indivíduo ser chamado de escritor, Ninguém pensa mais em qualidade, mas em quantidade. Graças a Deus que ainda temos alguns de quem podemos realmente nos orgulhar! São pérolas que a peneira do Tempo haverá de garimpar. Citar nomes seria indelicado, pois outros poderiam se melindrar. Mas, sem dúvida, ainda temos gente de muito valor no campo das Letras! Mas, um Cândido? Onde?
Fui, morando aqui, por dez anos, consultora editorial da Vozes, uma das maiores editoras do país e do mundo, e consegui publicar apenas um livro, na área religiosa, de Terezinha Corrêa, que reside em Montes Claros, mas é carioca.
O livro de Terezinha, depois de meu estudo e aprovação, teve que passar pelo crivo de um editor da área e por um Conselho Editorial, obtendo total aprovação. Pena que ela não escreveu mais! E eu larguei a consultoria, pois dava muito trabalho e parca renda.
Sei, também, que livros regionais de muito valor para a História de Montes Claros e outras circundantes não interessam para grandes editoras que preferem assuntos universais.
Bem, finalizando, uma coisa que sempre m trazia de volta a memória de Cândido era tia Yvonne, também sua amiga, recitando o “Nega Fulo”. Quem mais haverá de recitar esta poesia de Cândido com a ênfase de Yvonne de Oliveira Silveira?
Ah, a poeira do tempo, que a tudo leva e a tudo transforma!...

Maria Luiza Silveira Teles (membro da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


80861
Por Maria Luiza Silveira Teles - 16/11/2015 11:55:12
PIEDADE! PIEDADE!

Por que pedir piedade para mim, minha família, minha cidade, meu país, quando toda a humanidade sangra, quando corre o risco de desaparecer do planeta como consequência triste do ódio, do
fanatismo, da intolerância, do preconceito e da ganância humana?
Estas são as patologias da mente e da alma, que corroem os indivíduos, tornando-os infelizes e levando-os a querer destruir a felicidade dos outros. A humanidade está doente, o planeta
também.
Alguém disse que o Rio Doce está na UTI, mas a verdade é que todos estamos na UTI.
O desaparecimento da humanidade e dos valores que ela construiu no decorrer de tantos séculos, a Arte, a Literatura, a Filosofia, tudo está na iminência de ser extinto se não houver uma mudança
de rumos.
A lama que corre desde Mariana, que destruiu Bento Rodrigues e toda a vida no Vale do Rio Doce, seus afluentes e entorno, chegando, breve, ao oceano, acabando com toda a biodiversidade, esta mesma lama corre, também, em nossas artérias, em nossas
veias, em nossos capilares. É a lama de nossa sordidez, de nossa maldade, de nossa pequenez, da mediocridade, da maledicência, da estupidez, de todos os nossos pecados!
Existe, porém, uma luz no fim do túnel! Existe um caminho certo: aquele que o doce e meigo Nazareno nos ensinou há mais de dois mil anos atrás, assim como todos os outros grandes mestres. Esta luz é o Caminho do Amor!
Enquanto não entendermos que nós humanos e toda expressão de vida sobre o planeta somos algo único, entrelaçado, a seiva da Vida irá, pouco a pouco, se esgotando, se esvaindo...
O lema francês da Liberdade, Igualdade e Fraternidade não pode ser apenas uma utopia ou uma bela expressão de retórica da qual alguns partidos políticos se arvoram em donos. Ela deve se tornar
uma realidade em todo o globo. Fora disto não há nenhuma outra esperança!
Dizem que não há como falar em Deus neste momento histórico, quando Deus é usado como desculpa para a barbárie, para o ódio, para a “Guerra Santa”, repetindo as velhas Cruzadas.
Mas, Deus é a única saída. Não o Deus antropomórfico, mas a Fonte de toda a Vida, o que move todas as partículas do átomo e as une para o milagre da Criação. O Deus que é Amor, no sentido
mais exato do termo “agregação”, pois sem esta força motriz que leva à união dos átomos não há vida. Deus que é Energia, energia que se manifesta em Luz, Som, Movimento, Equilíbrio, Harmonia, DNA. Deus que é Vida. Isto está além de qualquer religião. Era nisto que John Lennon pensava quando criou a letra de “Imagine”. Um mundo sem fronteiras, sem religião, pois já seria um mundo pacificado pelo Amor, portanto um mundo onde
existiria a plena e verdadeira manifestação de Deus.Não precisamos de fronteiras, de hinos, de bandeiras, de rituais, de dogmas, de discriminação de qualquer ordem. Precisamos unicamente de exercitar o Amor! Isto é viver a própria essência de Deus.
Um dia, quando o filósofo Nietsche disse que Deus estava morto, ele quis afirmar que Deus não era mais necessário se a Ciência já podia explicar o fenômeno da Vida. Hoje, porém, quando a Astronomia e a Física Quântica conseguem nos dar uma idéia
mais próxima do que é Deus, podemos afirmar que, como nunca, Deus está vivo e precisamos d’Ele, pois é a única força motriz criadora dos universos. Ele é o Amor!
Ontem, pude assistir a uma entrevista de um escritor francês, cujo nome me foge neste momento, que dizia não acreditar em Deus, mas que tendia a fazê-lo quando, estudando Astronomia, percebia
a perfeita ordem do Universo.
Não foi à toa que um pianista inspirado, no meio do horror, que se instalou na Cidade-Luz, representante dos mais caros valores do mundo ocidental, levou o seu piano para praça pública e tocou, com extrema sensibilidade, a música “Imagine”.
Ali estava o grito de esperança, de saída para o mundo caduco, louco e agonizante: a alvorada de um novo mundo onde o estandarte do Amor haverá de tremular para todo o sempre.
Aquele era o sinal de Deus para o Renascimento de uma nova Humanidade.

Maria Luiza Silveira Teles (membro da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


80784
Por Maria Luiza Silveira Teles - 3/11/2015 08:21:39
LEMBRANÇAS DE UMA PROFESSORINHA DO INTERIOR

O Colégio Tiradentes completou, no ano passado, o seu jubileu de ouro e comemorou em alto estilo estes seus cinquenta anos com festividades que duraram uma semana.
Aquela semana me remeteu a um passado muito feliz, quando o então comandante do décimo Batalhão, Coronel Georgino Jorge de Souza, fundou-o em Montes Claros, sendo sua sede no prédio da Rua Camilo Prates, onde funcionou, num passado mais remoto, a cadeia pública e o fórum.
Depois que o Coronel Georgino deixou a direção por sua própria vontade, entrou para a diretoria o Padre Agostinho João Beckhauser. que foi um excelente diretor. Rigoroso, porém amado por todos, Ali eu lecionava inglês.
O corpo docente era formado, quase em sua totalidade, por jovens, como eu, na flor de seus vinte anos, todos fazendo faculdade: Eustáquio Machado, Regina Peres, Lázaro Francisco Sena, Takaki, Padre Janjão, Padre Alencar, Lúcia Teixeira de Souza, Lídia Teixeira de Souza, João Walter Godoy Maia, Antônio Moreira Neto, Castro, Dalva Rocha, Padre Murta, Wilhem Krupp (esses dois já mais velhos...), e, talvez, outros tantos que me fogem à memória no momento.
Na secretaria, o saudoso sargento Agnaldo e seu ajudante, o cabo Toninho. Era para lá que nos dirigíamos, ao chegar, para um ligeiro bate-papo a fim de sabermos as novidades, pegar as cadernetas e assinar o ponto.
Apesar de bem jovem, já era professora há algum tempo e introduzi metodologia nova, trabalhando em grupos e ensinando músicas para meus alunos. Isto deixava o Padre Agostinho “cabreiro”, estranhando
aquela maneira diferente de dar aula e, a princípio, ficou algum tempo a vigiar-me. Quando reparou, porém, que eu tinha manejo de classe, conseguia manter a disciplina e a garotada estava aprendendo, por fim, sossegou e saiu da porta de minha sala de aula.
Foi um tempo maravilhoso e lembro-me dele, dos colegas e dos alunos com imensa saudade. Era gostoso trabalhar ali.
Eu morava bem perto, na Rua Dom João Pimenta, quase esquina com o colégio. Era praticamente atravessar a rua e lá estava.
Jamais me esqueço de alunos brilhantes que tive ali. Recordo-me, inclusive, de seus nomes: Geraldo Corrêa Machado Filho, Ernesto Machado, Armênio Graça, João Ricardo Colares (este faleceu, na
ocasião, em um triste acidente de fim de semana, abatendo todo o colégio...), João Duarte (hoje, físico nuclear na Alemanha), Marta Verônica Vasconcelos, Raquel Veloso Mendonça, Fátima Turano, Fátima Rabelo, Fátima Pinto e tantos outros.
A morte do aluno tão querido e admirado, João Ricardo, com apenas onze anos, foi a nota mais triste da minha juventude. Demorei a recuperar-me do golpe. Como fazia faculdade nesta época, era uma correria danada, pois, além do Tiradentes, dava aula no Instituto Norte Mineiro de Educação, Colégio Imaculada e no Yázigi de então, do qual era também diretora. Dava aulas de Inglês ainda para médicos e engenheiros da Rede Ferroviária Federal. Foram quatro anos de muita luta e muito estudo, mas, se pudesse voltar atrás, faria tudo de novo.
Hoje, quando vejo os professores reclamarem tanto da profissão, sem dúvida mal remunerada e não-respeitada, apiedo-me deles, pois a mim o magistério me deu muitas alegrias e sempre o exerci com satisfação e realização.
Não sei se pela idade ou pelos tempos que eram bem diferentes de hoje, a vida me parecia bem mais leve. Como professores, não tínhamos problemas de disciplina, pois os alunos eram respeitosos e a figura do mestre era quase que venerada. O aluno estava na escola para aprender.
Bem, todo este passado voltou lembrando-me da belíssima semana do jubileu do Colégio Tiradentes em Montes Claros, uma instituição que, ainda hoje, talvez por sua rígida disciplina e seu ensino de excelente qualidade, consegue formar alunos bem preparados e profissionais de sucesso.

Maria Luiza Silveira Teles (membro da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


80740
Por Maria Luiza Silveira Teles - 24/10/2015 12:07:43
A HORA DA TRISTEZA

Deveria haver um esconderijo para a Tristeza e a Saudade, não acham? Tem dia que a única vontade que temos é colocar a cabeça no travesseiro e nos esquecermos de tudo, não é verdade? Às vezes, caímos, tropeçamos e o desejo é de ficar ali no chão porque o cansaço é demais...
Não costumo ficar olhando para trás e nem me lamentando. Mas, putz..., quantas vezes, sem a gente pedir, a Tristeza e a Saudade nos batem à porta?!
Se a gente pudesse saltar estes dias... Não escrever... principalmente crônica porque a tristeza fica bem no poema, mas não na crônica. Tristeza e saudade dão poemas fenomenais. Mas, em crônica?! Crônica é para a gente falar de beleza, de alegria, de Deus e Sua Criação, dar um “pitaco” no que os outros andam fazendo (principalmente os políticos...), comentar o dia-a-dia... Mas a danada da Tristeza insiste em entrar no peito e na crônica... o que fazer, então?
Dizer da dor que nos oprime o peito, de lágrimas inoportunas a correr pela face, do passado que insiste em voltar, dos erros que teimam em nos atormentar, da injustiça da qual nos consideramos vítimas? Abrir assim o coração e lavar “roupa suja” em público não fica nada bem! Vamos e convenhamos...
Mas, o que faço? Como afastar-me de mim mesma na hora de escrever? Bem, no final das contas, acho até que o leitor pode gostar. Porque ele vê e sente na pele que o escritor é humano, é gente com carne, sangue, suor, lágrimas, falhas, pecados. Ele vê o nosso avesso. Quem não tem avesso? Quem é sempre bom, sempre alegre, sempre perfeito? Sempre saudável? Não conheço gente assim. Todos nós somos cheios de contradições! E não me peçam coerência, porque todos somos incoerentes... Tudo depende do sol, ou da lua, sei lá!
Onde o riso, onde o canto, onde o azul e o calor? Dentro de mim, hoje, só existem a tristeza e a saudade. Saudade de mim mesma em tempos que já se foram. Saudade de seres amados, capazes de nos escutar e de nos apertar a mão num gesto solidário.
Já repararam que a tristeza perturba? Ninguém gosta de ficar perto de gente que está triste, como se tristeza fosse doença contagiosa. A verdade é que ninguém gosta de lembrar que pode, a qualquer momento, ser vítima do sofrimento.
Como não ficar triste quando perdemos tantos entes queridos e importantes em menos de um mês? Nesta semana foi o grande professor, a grande pessoa humana, o “expert” das letras e da gramática, Antônio Augusto Souto, marido de minha amiga, Eunice, e pai de minha médica, Layce.
Eu o conheci quando eu tinha apenas dezessete anos, no extinto Instituto Norte Mineiro de Educação, onde era professora de Inglês. Ele era o aluno mais velho da classe e o mais inteligente, estudioso e brilhante. Muito sério e compenetrado, sempre atento. Previa para ele um futuro promissor.
Chegando de viagem, tive a triste notícia!
Montes Claros, a terra que amo, está mais pobre... Embora as gerações mais novas não saibam aquilatar uma perda como esta! Como não ficar triste? Como não deixar esta tristeza impregnar aquilo que escrevo?
Nada a fazer! O tempo cura tudo. Já aprendi. Mas, às vezes, temos que dar vazão à tristeza... Senão ela vira doença do corpo...
Esta é, pois, a hora da tristeza.

Maria Luiza Silveira Teles
(membro da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


80588
Por Maria Luiza Silveira Teles - 25/9/2015 17:31:25
TRISTE ADEUS...


Ela atravessou comigo todos os caminhos. Bebemos juntas todos os cálices de dor. Tivemos uma juventude de risos e flores. Tudo que conto sobre minha vida, ela sempre está presente. Foi a amiga mais companheira. Mais que amiga, uma irmã.
Todo caminho tem um fim. Toda noite é seguida de aurora. Toda partida tem uma chegada. E toda chegada implica uma despedida. Todos os momentos de alegria e de dor terminam um dia.
Tudo na vida é como as mandalas que os budistas desenham na areia. E, depois de feitas, tão lindas, eles as desmancham para se lembrarem que tudo um dia termina...
Agora, ela partiu. E eu fiquei assim: mais pobre, mais só, mais triste. Mas, aliviada e feliz porque seu sofrimento acabou.
Lila, minha irmã, mãe de leite de meus dois filhos, companheira de tantos natais e tantos carnavais, fã como eu das músicas de Roberto Carlos, Miltinho, Altemar Dutra e de tantos boleros que embalaram nossas vidas!... Tudo lembranças, felicidade que o vento e o tempo levaram de mim... Cinzas, apenas cinzas...
A boate da Praça de Esportes, o Clube Montes Claros, a piscina do Max-Mim, os réveillons, no Automóvel Clube, as fogueiras de São Pedro, no Pentáurea, as nossas horas-dançantes, os nossos namorados, depois noivos e maridos, os passeios com nossos filhos-crianças, tudo hoje só vive nas lembranças e na saudade...
Nós, em Ouro Branco, em eternas conversas, que atravessavam as madrugadas e preparando festas de aniversário das crianças... em Congonhas, São João Del Rei, tantos passeios...–
Aliás, fico a lembrar-me da música “Lembranças”, de Benil Santos e Raul Sampaio, que, tantas vezes, ouvimos nosso querido amigo, Magnus Medeiros, cantar: ”Lembro um sorriso, lembro a saudade... Para o meu mal, lembro, afinal, um triste adeus. Onde está teu sorriso?... Eu devia sorrir, eu devia, para meu padecer ocultar, mas, diante de tanta lembrança, me ponho a chorar”.
O sorriso era o que mais a caracterizava. Seus belos dentes e seu lindo cabelo. Até diante da dor, ela sempre sorria. E é esta a mais doce lembrança que eu quero guardar. Queria tanto poder descrever toda a sua riqueza interior e a beleza de nossas vidas, mas as palavras me faltam e a saudade me sufoca!...
Um dia, com certeza, haveremos de nos re-encontrar e vamos rir de tudo até desta minha saudade e deste lamento besta!...
E você haverá de repetir: “Ah, Lu, que tolice! Pensou, acaso, que eu te deixaria?”. E onde quer que esteja, eu sei, que nossa amizade será eterna como o Amor d’Aquele que nos criou e nos colocou juntas no mesmo caminho!...
Até mais, minha irmã!

Maria Luiza Silveira Teles
(membro da Academia Montesclarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)



80537
Por Maria Luiza Silveira Teles - 16/9/2015 08:06:40
ESTAMOS FAMINTOS DE SOLIDARIEDADE

Sempre pensei e ensinei em minhas aulas que para se lidar com o ser humano é preciso gostar de gente. Gente como a gente, que sonha, que cai, levanta, erra, aprende, chora, ri, adoece, sofre e morre.
Acho, então, que para lidar com alguém fragilizado necessitamos, além do saber, de sermos carinhosos, tendo cuidado, respeito, acolhimento e amor para com o outro.
Não consigo admitir que se trate um doente, um deficiente, um idoso, um indivíduo traumatizado, qualquer um que tenha sofrido uma perda, de maneira inadequada, isto é, sem delicadeza, sem carinho, sem respeito.
Todos nós necessitamos sempre de delicadezas. Ainda mais alguém que sofre.
Entretanto, tenho percebido que médicos e técnicos de enfermagem, com honrosas exceções, não conhecem a Psicologia das Relações Humanas. Provavelmente, nem tiveram esta disciplina em seus cursos! Ou se tiveram ela foi muito mal-ensinada ou não-assimilada.
Fui, no domingo, visitar uma amiga mui querida, que vive seus últimos dias na Terra, sofrendo de câncer generalizado. Só quem passa por isto sabe do atroz sofrimento que significa. Entretanto, a grande maioria das pessoas nem tem coragem de enfrentar ou assistir a tal situação. Por quê? Porque temem que, em um malfadado dia, sejam elas que estejam num leito como aquele. E digo isto, não como cronista ou escritora, mas como especialista em Psicologia. Muitos temem a doença e a própria morte.
Minha amiga, com câncer em todos os órgãos internos, no esqueleto, no cérebro, com escaras pelo corpo, sem posição na cama, sentindo dores horríveis, gemia e pedia socorro. Eu me vi em lágrimas, sentindo-me inteiramente impotente, só podendo acarinhá-la e pedindo a Deus alívio para ela.
Há horas havíamos chamado os técnicos para trocarem sua fralda.
Quando entraram, cheios de prepotência, arrogância e completo despreparo, gritaram com a paciente. Eu interpelei-os de imediato: “O que é isto? Não vêem o sofrimento dela?”. A moça me respondeu com grosseria: “O problema dela é psiquiátrico”. Fiquei pasma! Pasma com tamanha ignorância e falta de sensibilidade! E quando voltei a me dirigir a ela, dizendo que era “jornalista” e que ia relatar o fato em jornal, ela olhou-me, com desprezo, e disse: “Pode escrever! Que me importa?”.
Isto, infelizmente, entretanto, é causado pelos cursos rápidos e sem qualificação que pretendem formar tais profissionais, que deveriam, inclusive, passar por testes psicológicos, pois nem todos têm condições para tal trabalho, como esta referida criatura o demonstrou.
Mas, pior ainda, são os médicos que, sem condições e sem preparo psicológico, consideram “chatos” os pacientes que reclamam de algo. Paciente tem que ficar calado. Até que eles mesmos sejam os pacientes. Quando estes técnicos ouvem os comentários dos médicos, já se acham capazes de diagnosticar e colocar rótulos naqueles que sofrem.
Já relatei, em uma antiga crônica, o caso de um médico, em Belo Horizonte, que, depois de passar por uma cirurgia e sofrer dores terríveis, mudou completamente a maneira de tratar seus pacientes. Passou a ser mais solidário, carinhoso e receitar analgésicos mais fortes para as dores.
Acho que a vida humana merece respeito. Não podemos nos considerar civilizados se nem sabemos conviver dignamente com o nosso semelhante.
É uma tristeza que a falta de solidariedade impere em nossa sociedade materialista, consumista e gananciosa. Mas, o dia do ajuste chega para todos nós. Ninguém pode fugir da dor, da doença e da morte. Sabem de alguma fórmula? Talvez o saibam os arrogantes e poços de vaidade. Se souberem, por favor, me comuniquem!

Maria Luiza Silveira Teles
(membro da Academia Amontes-clarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


80481
Por Maria Luiza Silveira Teles - 1/9/2015 11:22:50
O PASSEIO DE KARLA CELENE E EDICLAR PELA HISTÓRIA DE BREJO DAS ALMAS

Karla Celene Campos lançará, em Brejo das Almas, no próximo sábado, a sua obra-prima. Acho que, sem medo de errar, com toda a experiência de uma vida de leitura e outros tantos anos como consultora editorial de uma das maiores editoras do mundo, posso afirmar que, no momento, Karla se consagra como a maior escritora do norte de Minas.
Seu livro, “Cadernos de Ediclar – Memórias de Brejo das Almas” é um romance memorialista em que ela mistura experiências de sua própria vida, da vida da família Silveira e outras pioneiras de Francisco Sá, com a história da cidade e os versos do poeta popular e repentista Ediclar, o Boca, que registrava, cotidianamente, tudo que acontecia naquela pequena cidade, perdida no sertão de Minas.
Embora pareça que o romance seja uma história local, na verdade, ele é universalista. É a história de qualquer lugarejo em qualquer lugar do planeta.
Dizer que Karla é a encarnação da sensibilidade, da poesia, do encanto, da alegria, da explosão da vida já é redundância e lugar-comum. Ela é uma artista completa que lida, com maestria, em vários campos da arte. Seu nome deveria ser Vida, pois ninguém encarna melhor do que ela todo o deslumbramento da Obra Divina! E, como, mestra em Literatura, ela bebe e sofre influência dos melhores autores.
O Tempo é o grande mistério com que se depara a escritora. Ele, como a Esfinge, a contempla, a encanta e a desafia. Como ela diz: “O tempo machuca, mas também cura. Atordoa, mas ensina. Fere, fragiliza, mas fortalece. Rouba, toma, tira, leva, mas consola. Traz o fim, mas também ensaia passos em direção a recomeços.”.
O Tempo, ah, o Tempo!... Ele a torce, a revira, a inspira, a leva a voos galáxios e interplanetários. O Mistério nos leva a filosofar, mas acaba por nos devorar...
A autora tem uma escrita poética, pois bem sabe de ventos e vivências, de explosões cromáticas, de sonhos e visões. Sua vida é um arco-íris e uma montanha-russa. E neles embarcamos com momentos de lágrimas e risos e as mais diversas emoções. Não conseguimos ler sua obra sem rir e chorar...
Na dança louca da vida e dos ventos de Brejo das Almas, Karla nos leva a um passeio cheio de emoções em que, com ela, ensaiamos os passos.
No Brejo, o vento uiva faminto e enlouquece de saudade e solidão... ”Com a fecundidade da romã, os dias estão sempre fecundando outros dias.”.
A História nos faz mergulhar na areia movediça da saudade e encharca a alma nesse pântano invasor.
Clio, a musa da história, e o tempo se ajuntam apressados num eterno caminhar e Karla e Ediclar a tudo registram com precisão. E nós vamos a passear pelos ventos e pela História, como ela diz, nos ermos dos pântanos e nos silêncios do além.
Karla-menina já dançava na escola de Samba, fundada por Ediclar. E, com a mesma alegria e elegância, dança hoje na memória, escrevendo uma belíssima história de cunho universal. Uma história que requereu anos de pesquisa e reflexão. E ela sabe que as lembranças são como “a fumaça que se lança de dentro da xícara e se dissolve no ar.” É preciso que alguém as registre para que não se percam e permaneçam como raízes que nos levam à robustez e pujança da vida.
Ela e Ediclar nos levam a meditar: “Quem sabe na eternidade está a razão de viver?”. Os dentes impiedosos do tempo cravam mordidas dolorosas em todos nós, levando-nos a beleza da juventude, os entes queridos, os momentos de alegria e de dor e até as coisas que se desfazem como pó.
Entretanto, Karla deixa bem claro que sempre vale a pena viver e que é indispensável que alguém se encarregue de não se deixarem perder as lembranças de um povo na poeira do tempo.
Assim, juntamente com a poesia popular de Ediclar, cheia de beleza, nostalgia e filosofia, Karla deixa para a posteridade a história de Brejo das
Almas que, como dizia o poeta, nunca sai de dentro de nós, mesmo que lá já não estejamos mais...
Tendo lá as minhas raízes paternas, a vida de luta de meus ancestrais, a obra me sensibilizou de maneira particular. Tenho muito a agradecer à esta autora tão especial e talentosa, orgulho de Montes Claros e Francisco Sá.


80455
Por Maria Luiza Silveira Teles - 25/8/2015 14:59:35
QUANDO A CHUVA CHEGAR...

Montes Claros, em pleno Inverno oficial, arde de modo terrível, sob um sol inclemente. E eu, como todo bom sertanejo, fico a sonhar com a chuva.
Ah, quando a chuva chegar!... Quando a chuva chegar, meu jardim e meu quintal haverão de mostrar todo o seu esplendor. As árvores estarão cheias de flores e frutos, Além de receber, na alvorada e no poente, as visitas encantadoras, que me presenteiam com uma bela sinfonia, haverei de colher as mangas, as pitangas, as goiabas, as amoras, os mamões... E as flores, em abundância, vão me trazer mais borboletas e beija-flores.
Ah, quando a chuva chegar!... A vida haverá de renascer e meu coração, povoado de alegria e gratidão, também viverá um novo tempo!
Vou voar até plagas longínquas levada por minha imaginação!... E as almas dos entes queridos haverão de sentar-se comigo à varanda... E recordaremos, ouvindo o tamborilar da chuva no telhado, tempos passados, em que ela não era tão rara como foram os deliciosos dias de um frio ligeiro deste Inverno!
Ah, quando a chuva chegar, provavelmente, os montes-clarenses haverão de sorrir na esperança de novos tempos de fatura!... E os casarões antigos haverão de nos espiar os amores... E estas dezenas de prédios nus, levantados à custa da derrubada infeliz de nossas românticas e belas casas, haverão de roer a inveja de um quintal e um jardim!... E não terão pássaros a cantar e nem receberão a visita eufórica e multifacetada das borboletas e beija-flores!...
Quando a chuva chegar, as praças ficarão mais bonitas e os namorados e os velhos, nos intervalos dos chuviscos, haverão de sentar-se em seus bancos. E os beijos e a conversa haverão de fluir num “tête à tête” gostoso. Pena que a Praça de Matriz não tem mais rosas!
Quando voltar a chuva, os corações haverão de abrandar-se e teremos mais amabilidades e gentilezas... Quem sabe até menos crimes e tragédias?!...
Os poetas mergulharão em suas cismas e delas belos poemas irão surgir. As poucas árvores da cidade estarão verdes e cheias de flores, tornando-a menos inóspita!... Até os cemitérios, onde as almas dos mortos confabulam, estarão mais belos e floridos!
Ah, quando a chuva chegar, haveremos de lembrar dos velhos tempos em que ela jamais nos atrapalhava para sairmos para os clubes ou para as festas! E nem tampouco para, em bandos, cantarmos pelas ruas da cidade!
Como me lembro do tempo em que saíamos dos carnavais do Clube Montes Claros, nas madrugadas, felizes, debaixo da chuva, que amenizava nosso cansaço e lavava nossos suores! A verdade é que ela, depois de um baile de carnaval, nos lavava a alma, pois que os amores recém-nascidos e os toques de doçura e de desejo nos davam uma leve sensação de pecado, num tempo em que tudo era proibido...
Ah, quando a chuva chegar, decerto a inspiração haverá de voltar e acabar, quem sabe de vez, com este vácuo criativo, que tanto me incomoda!...
Maria Luiza Silveira Teles
(membro da Academia Montes-clarense de Letras e do Instituto Histórico de Montes Claros)


80421
Por Maria Luiza Silveira Teles - 16/8/2015 19:06:59
MANIFESTAÇÃO POLÍTICA

Desde os dezoito anos, escrevo para a Imprensa Montes-clarense. Hoje, estou com setenta e dois. Fui, também, professora de várias gerações. Acredito, pois, que é muito tempo, contribuindo para a formação de opinião da população de nossa terra.
Neste grave momento político pelo qual o país passa, acredito que não posso ficar “em cima do muro”. Sou obrigada a deixar bem clara a minha posição.
Não pertenço a nenhum partido. Mas sou uma criatura política como qualquer ser humano. Isto faz parte de nossa natureza.
No passado, fui simpatizante do PT, ao qual cheguei quase a filiar-me, para desgosto de meu pai. Achava que, finalmente, tínhamos um partido ético. Inclusive, fui convidada, por duas vezes, a ser candidata a vereadora. Entretanto, quando recusei foi porque percebi dentro de meu grupo uma terrível traição. Assim, afastei-me do partido, sem chegar a filiar-me. Mas, ainda acreditava nele, tanto que, na primeira vez, votei no senhor Luiz Inácio Lula da Silva. Inclusive, fiz na Câmara, a pedido de meu amigo, Lipa Xavier, um discurso em prol do candidato.
Com o tempo, porém, desiludi-me completamente. Percebi que havia, por detrás do governo, atitudes não-éticas. Era, simplesmente, um projeto de poder, a qualquer preço, e uma chance de enriquecimento de determinados afiliados.
Já fui de esquerda. Em meu curso de graduação e pós-graduação, tive a oportunidade de estudar Marx, Engels, Gramsci. Era professora de Sociologia, na antiga Fafil, portanto, natural que, entusiasmada com aquelas doutrinas, não tivesse outra posição.
Entretanto, o tempo passa e a gente amadurece. Não sou, absolutamente, velha. Velho é aquilo que não serve mais para nada. Estou em plena atividade, com a cabeça ótima e aprofundada nos estudos daquilo que me interessa. Tenho, ainda, o mesmo entusiasmo da juventude, mas, agora, com equilíbrio. Sou defensora da Justiça, da Verdade, da Retidão de caráter, da Fraternidade, da Liberdade de ser e se expressar, No entanto, sei reconhecer aqueles que, por paixão, continuam firmemente agarrados em suas crenças ultrapassadas. Penso que perderam o bonde da História e o seu velho e desgastado discurso não pode nos levar senão à anarquia.
Estou muito triste com o panorama político e econômico de nosso país e já não vejo no Socialismo a verdadeira solução. E nem no Capitalismo explorador. Acredito que deveríamos encontrar um caminho intermediário que promovesse o desenvolvimento sem injustiça social.
Corrupção, mentiras e falcatruas são o sinônimo do governo do PT.
Ninguém pode me chamar de “burguesa”. Sou uma simples professora aposentada. Burgueses são aqueles tipo Chico Buarque, que vive em Paris, tomando champanhe e comendo caviar. Odeio ditaduras, sejam de esquerda, sejam de direita. Todas são cruéis e, jamais, posso aceitar a crueldade. Não estou, pois, fazendo apologia de intervenção militar. O povo brasileiro está se tornando consciente e sabe que a Democracia é o melhor regime e haverá de encontrar no voto a mudança que o País requer.
A manifestação pacífica de hoje demonstra bem o desejo do povo brasileiro: Justiça, Verdade, Estabilidade, Paz, punição para os corruptos e oportunidades de se trabalhar e viver com dignidade.
Este PT nunca mais! A não ser que se faça nele uma limpeza geral.


(Da Academia Montes-clarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


80386
Por Maria Luiza Silveira Teles - 9/8/2015 13:09:15

PASSEIO FANTÁSTICO


Era madrugada. Como que envolta por uma capa, que me fazia invisível, passei a caminhar pelas ruas vazias da cidade, a tudo contemplando e recordando de como as coisas eram no passado. Passei pelo Mangueira, pela Montanhesa, Mangueirinha, Clube Montes Claros, Intermezzo e todos aqueles lugares que marcaram minha juventude. Não pude conter as lágrimas.
Ao me aproximar da Cristal, entretanto, comecei a ouvir um vozerio estranho. Continuei descendo e, quando cheguei à Praça da Matriz, fiquei estarrecida diante do que se descortinava à minha frente: um aglomerado de pessoas que já haviam transposto o além-túmulo.
Todas estavam bastante alegres como se ali acontecesse uma festa. Aliás, pude perceber Ducho tocando o seu bandolim e Nivaldo Maciel cantando com sua belíssima voz. Junto deles estavam João Chaves, Raimundo Chaves, João Leopoldo, Adélia Miranda, Josefina de Paula, Dilma Silveira e tantos outros, que acompanhavam, em coro, o canto de saudade. Parecia que se agrupavam por afinidades, pois percebia diversos grupinhos, numa conversa descontraída e animada a lembrar suas vidas, os fatos ocorridos e marcantes, assim como a discutir os fatos presentes.
Passei pelo grupo de Pedro Santos, Mário Ribeiro, Dr. Mauricim, Simeão Ribeiro, Dr. Plínio Ribeiro, Dr. Jardim, Dr.Alpheu de Quadros, Dr. João Alves, Hermes de Paula, Deputado Esteves Rodrigues discutindo a política atual. Parei para ouvir e percebi que eles não estavam nada satisfeitos. Comentavam que, hoje em ida, os políticos não pensam no bem-comum e que o único objetivo é auferir vantagens pessoais. Dr. Plínio, chamando o Cel. Antônio dos Anjos e Filomeno Ribeiro, pontuou: “Vocês não pensam, amigos, desta forma?”. Cel. Antônio dos Anjos, com a feição tristonha e sisuda, ponderou: “Bem, nós amávamos a nossa terra e trabalhávamos por ela. Hoje, no entanto, este tipo de mentalidade egoística e mercenária parece ter se tornado o tônus da política brasileira. Ninguém faz nada por amor. Todos são movidos por interesses. Assim, nossa terra vai crescendo, ou melhor dizendo, vai inchando aleatória e desproporcionalmente e se descaracterizando. As pessoas não mais se relacionam por afinidades, não se visitam, não conversam sobre os interesses da cidade como nós costumávamos fazer. O único lugar em que percebo amigos se ajuntarem para conversar sobre política, mulheres e futebol é no chamado Café Galo. Passo, às vezes, por lá, e ouço até ponderações de pessoas muito inteligentes que poderiam ser melhor aproveitadas para o bem da cidade. Aliás, vejam ali o recém-chegado Haroldo Lívio, grande intelectual no grupinho de Geraldo Brejeiro, que era conhecido por Cel.Tito, Olyntho Silveira, Cândido Canela, Reivaldo Canela, Corby, Zé Capeta ou José Macedo, Pe. Aderbal Murta, Ãngelo Soares Neto, Ruth Tupinambá, Joaquim Cesário Macedo, Raimundo Neto, Major Oscar Vale Moreira, Luiz Carlos Novais, o Peré, Amélia Prates Souto, Nelson Viana, Yvonne de Oliveira Silveira, Newton Prates, Niquinho Rapadura e outros. Com certeza, devem estar falando sobre literatura e lamentando tanta bobagem que tem sido publicada, nos dias de hoje, em nossa terra. Já perceberam como todos, agora, se consideram escritores? E a qualidade? É melhor esquecermos isto. Vamos deixar pra lá!”.
No grupo dos intelectuais, achegou-se Niquinho de Açúcar, mostrando um novo soneto que acabara de fazer. Ouvi Ruth, minha grande amiga, perguntando: “Niquinho, como você vai fazer para publicar este soneto se estamos num mundo não-material?”. Niquinho respondeu: “Ora, Ruth, eu vou a um Centro Espírita e dito para qualquer médium, que também seja poeta”. Ruth ponderou: “E isto é possível?”. Niquinho disse: “Ora, experimenta! Você ainda pode ajudar bastante na História de Montes Claros!”. “Como assim?”. Niquinho falou: “Procure Wanderlino Arruda e lhe dite o que quiser.”. Ruth alegou: “Interessante, lá no meu prédio, vivia Laury Rego Cunha, uma mulher extraordinária, educada, elegante, que, algumas vezes, me falava sobre isto, mas eu, embora a respeitando muito, nunca acreditei.” Niquinho acrescentou: “Pois não é que a propalada “morte” nos ensina muito?! Veja bem: quem de nós está morto? Todos estamos aqui bem vivos”. Ruth ficou a pensar.
E eu continuei meu passeio, encantada de poder auferir do privilégio de ver aquela gente e poder ouvi-la. Percebi noutro canto o bispo Dom José, Dom João Pimenta, Dom Aristides, Dom Geraldo Magela de Castro. Todos muito bem e alegres, mas fazendo críticas à Igreja. Bem, isto não era do meu interesse e deixei-os ali. Percebi que vinham chegando Pe. Tadeu, Pe. Janjão, Paulo Emílio Pimenta, Pe. Agostinho, Pe. Dudu, Pe. Marcus e outros. Tive grande satisfação de poder revê-los e abracei a cada um. Todos sentiram uma onda de amor, que não sabiam explicar... Bem, eu fui me afastando e me aproximando de outros grupos.
Vi, já na Rua Cel. Celestino, hoje chamada de Corredor Cultural, Raimundo Colares, Konstantin, Godofredo Guedes e me aproximei. Claro, eles só poderiam estar conversando sobre Artes. Quanto a isto pareciam satisfeitos com o que vinha sendo feito na terrinha.
Ah, bem perto, os três irmãos portugueses, tão importantes para Montes Claros e que deixaram aqui uma bela descendência: Arthur, Antônio e José Ramos. Com eles o impoluto e empreendedor Nathércio França e o velho Zacalex. Provavelmente, conversavam sobre o Comércio e a Economia. Não quis nem ouvir, pois sei que a situação anda preta...
Ora, lá estavam, num outro grupo, Dr. Geraldo Machado, Dr. José Souto, Aderbal Andrade, Dílson Godinho, Crisantino Borém, Doutor Santos, Nelson Villas-Boas, todos fazendo críticas duras aos médicos de hoje, com algumas ressalvas.
Ainda vi um grupo de educadores como Dr. João Luiz de Almeida, Heloisa Sarmento, Dalva Dias, Antônio Jorge, Dulce Sarmento, Bernadete Costa, Dona Taúde, Sônia Quadros e outros tantos. Também faziam duras críticas à Educação.
Não é que os casarões estavam cheios de espíritos? Aquilo era uma verdadeira festa, embora não visse comida e nem bebida. Mas, a conversa ia animada pela madrugada afora.
Encontrei, também, um grupo de feministas como minha própria mãe, Zezé Silveira, a fazer demonstração de yoga para Dona Fernanda Ramos, Suzana Quadros, Dona Tiburtina, dona Josefina Mendonça e mais algumas.
Com a chegada do lusco-fusco da alvorada, tudo aquilo parecia ir se desvanecendo...
Ia voltando para casa feliz e em paz, subindo a Dr. Veloso. Encontrei, então, o que penso ser um anjo, pois tinha uma luz que iluminava toda a rua. Perguntei-lhe: “Quem é você?”. Respondeu-me: “Sou o Anjo da Morte.”. Fiquei espantadíssima, pois o imaginava feio e com uma foice. Apenas pensei e ele, parecendo captar meu pensamento sorriu e disse: ”Isto é o imaginário popular”. “Mas, você não mata as pessoas?”, perguntei. Ele disse: “Meu trabalho é ajudá-las na passagem, apenas ajuda-las. Preciso ir, pois tenho muito trabalho por aqui. Vá em paz com Jesus!”.
Bem, eu já sabia que a morte não é senão uma passagem para outra vida. Provavelmente, aqueles espíritos tiveram permissão para voltar à velha e querida cidade e se encontrarem para aquelas confabulações e, quem sabe, corrilhos e planos para Montes Claros...
Pela manhãzinha, acordei sem saber se aquilo fora apenas um belo sonho...
Mas, que fora um passeio fantástico não tenho dúvida alguma!

Maria Luiza Silveira Teles
(membro da Academia Montes-clarense de Letras)
(membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros)


80275
Por Maria Luiza Silveira Teles - 16/7/2015 11:08:07
O MESTRE WANDERLINO ARRUDA

Ando desconfiada que o mestre Wanderlino esteja escrevendo suas memórias. E com toda razão! Ele nos deve isto! É uma memória tão rica, que se confunde com a própria História de Montes Claros; tem, pois, de ser contada para jamais ser esquecida.
Sou amiga do professor Wanderlino Arruda há cinqüenta anos. Nossa convivência tem sido bastante enriquecedora.
Lembro-me, com saudade, dos velhos tempos em que saíamos juntos da antiga Fafil, em turma, e ele sempre a brincar com a minha tia Yvonne de quem o tio Olyntho tinha muitos ciúmes.
Nunca perdeu o seu jeito moleque de menino que se deslumbra com a vida e se diverte com tudo. Brincalhão como ele só, possui uma eletricidade que o move a mil por hora.
Já com oitenta anos, continua cheio de energia e empreendedor como ele só. Faz mil coisas ao mesmo tempo. Não desperdiça um único instante. Sempre criando e agindo, principalmente pelo bem de Montes Claros.
Alguém imagina que ele não descanse, não tenha lazer e não se divirta? Ora, mestre Wanderlino está em eterno lazer, porque o trabalho, a convivência com o outro, ensinar, aprender, dar de si, liderar, criar, agitar a vida cultural da cidade, tudo isto para ele já é lazer e divertimento, pois tudo faz com prazer. Para ele não há o peso do dever e sim a alegria de viver.
Tantas vezes em minha vida precisei dele para um conselho, um desabafo, uma ajuda nos trabalhos intelectuais e ele sempre a me receber com o mesmo carinho e a mesma prestimosidade. E isso não é só comigo que sou amiga, é com qualquer um. Mas, eu lhe devo muito e disto nunca poderei esquecer. Ele tem me feito crescer em todos os sentidos! E não acreditem no que ele fala e escreve a meu respeito. Ele é míope com relação a mim, pois me olha com o sentimento de um irmão.
Agora, não sou eu apenas que falo; isto é uma unanimidade: ele é uma das maiores autoridades culturais não apenas do norte de Minas, mas, quiçá de alhures. É dono de uma memória privilegiada e passeia com desenvoltura por todos os recantos do Saber: História, Geografia, Latim, Grego, Lingüística, Literatura, Bíblia, Esperanto, Espiritismo, Filosofia, Semântica, Direito, etc. E, como maçom, rotariano e elista, traz ainda um grande acervo da cultura milenar de outras culturas.
Sua biblioteca é uma das mais ricas que conheço. Basta uma vistoria por ela para saber o quanto essa criatura tem lido e estudado nesta vida.
Meu pai, que foi uma verdadeira enciclopédia, admirava-o muito e sempre repetia: “Ah, se eu tivesse a memória de Wanderlino”. Existe até uma conversa que ele toma um medicamento especial para a memória. Tanto que basta se chegar a uma farmácia local e pedir “o remédio de Wanderlino”.
Acho que é bobagem falar de seu extenso e rico currículo, pois todo o mundo intelectual de Montes Claros bem o conhece. O homem fez tudo quanto é curso e ocupou quase todos os cargos de importância no município. Foi professor universitário, alto funcionário do Banco do Brasil, vereador, secretário do município, Governador do Rotary, criador do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, da Academia Maçônica de Letras, é eterno jornalista, tendo escrito para todos os jornais que existem e já existiram em nossa terra, é escritor, cronista e poeta. Poema seu já apareceu até em filme francês! Possui vários sites na internet e não para de aprender informática. Adora novidades e tecnologia.
Ainda por cima, como se não bastasse tanto, é pai de sete filhos, avô de uma dezena de netos e até bisavô. Esposo eternamente enamorado de uns belos olhos verdes!
Mas, para mim, tem um significado especial: é meu amigo e meu professor de estudos bíblicos.
Sua escrita é deliciosa e tem uma enorme facilidade para contar casos e causos. Escreveu uma dezena de livros e eu me deliciei especialmente com “Jornal de Domingo”, “Emoções” e “O dia em que Chiquinho sumiu”.
Conforme dizia o nosso inesquecível Haroldo Lívio: Wanderlino Arruda “é um cidadão feliz com a família, com os amigos e toda a humanidade que bate palmas à sua passagem, por reconhecer em sua pessoa um dos valores mais elevados de nossa comunidade montes-clarense”.
De todos os seus poemas, alguns têm minha preferência. Cito alguns como “Teus olhos”:
A poesia dos teus olhos
é a poesia mais linda...
e mais colorida.
Tem métrica, tem rima,
tem a sonoridade da música
mais suave da vida.
Teus olhos encantam e vibram
como início de sonho.
Teus olhos dizem doçura,
um mel mais do que doce,...
e mais perfumado.
A poesia que brilha em teus olhos
tem luzes intensas,
é alegria espargindo sorrisos,...
coloridamente felizes.
Teus olhos encantam,
teus olhos seduzem,
teus olhos fascinam.
São dádivas do Amor!

A sua oração, em forma de poesia, que eu mais aprecio é o seu “Pai Nosso”:

A ti, Senhor, que és
pleno de luz e de amor,
e estás nos céus e em toda parte,
onde teu nome é sempre bendito e santificado.
de constante e eterna bondade.
A ti, Senhor, apresentamos nosso pedido:
dá-nos o teu reino
de alegria, de compreensão;
a tua vontade e não a nossa seja feita,
aqui, onde estamos, aí onde estás e estaremos um dia;
o pão da saúde, da disposição ao trabalho,
do entender e ser entendido,
do amar e ser amado,
dá-nos hoje, dá-nos sempre, Senhor.
Ainda caminhantes no erro,
dá-nos o teu perdão e o ensinamento
de como devemos perdoar.
À criança que existe ainda em cada um
dá, Senhor, a tua proteção.
Liberta-nos do mal,
ampara-nos no caminho do bem,
pois teu, Senhor, somente teu,
é o poder, o reino e a glória
para sempre,
para todo o sempre.

E que o mestre Wanderlino fique conosco para todo o sempre! E que venham suas memórias para nossa alegria!



80248
Por Maria Luiza Silveira Teles - 9/7/2015 16:32:29
VIDA SEM REDE?

Na calada da noite, os sons do tic-tac do relógio, do motor da geladeira, do apito longínquo do trem, do canto do galo na madrugada, tudo isso sempre me deu uma enorme sensação de segurança, pois me remetia à infância e à adolescência, ao meu quarto de solteira e ao aconchego do lar paterno.
Mas, a vida seguiu adiante e, hoje, já não há o som da geladeira, apitos de trem, tic-tac de relógios, nem a casa de meus pais. Somente o galo insiste em cantar de madrugada, lembrando-me que o curso da Natureza segue inexorável.
Meus pais já não estão mais aqui. Seus braços fortes e ternos já não podem me abraçar e me confortar nos momentos de dor.
Muitos daqueles que foram meus companheiros também atravessaram, antes de mim, o portal da eternidade.
E, agora, madura e conhecedora da vida, diante da grandeza do Universo,do poderio dos fenômenos da Natureza, percebo que não somos senão “formigas” ou grãos de areia, soltos no Cosmos, sem nenhuma segurança.
Estamos bem agora e, de súbito, um mal-estar nos tira a vida; saímos de casa e, ao atravessar a rua, um motorista descuidado, bêbado ou drogado, nos apressa a morte ou nos coloca numa cadeira de rodas...
Qualquer fenômeno furioso da mãe-natureza nos tira o chão, nos leva a casa...
Dinheiro, poder, saúde, nada garante a vida, a segurança, a estabilidade. Tudo é ilusão... Vanitas vanitatis... A verdade brutal é que nada nos oferece garantia de qualquer coisa.
Ou acreditamos em Deus que, por mais que pensemos, estudemos e filosofemos, jamais chegaremos a compreender, ou não acreditamos em nada e a vida é coisa besta, sem sentido algum.
Embora o limitado não possa abarcar o ilimitado, eu ainda prefiro a primeira opção.
Quando nasci, mergulhei na vida, em choro louco, sem nenhuma compreensão de nada. E, ao morrer, com alguma sabedoria, haverei tranquila e sorridente, de jogar-me no seio de um Deus, que é para mim o Absoluto, a infinitude, a eternidade, a Energia Amorosa que a tudo cria e move, e que me absorverá e abraçará.
Nascer, viver e morrer é saltar sem rede de segurança. Mas, vale a pena! Que dói, dói!... Mas, o Senhor é a nossa verdadeira rede.


80121
Por Maria Luiza Silveira Teles - 19/6/2015 12:24:01
A ENCÍCLICA VERDE

Em sua Encíclica, divulgada na manhã de ontem, o Papa Francisco toca em uma ferida atual da Humanidade. As preocupações do Papa, que é, provavelmente, um dos papas mais brilhantes, amorosos e compassivos da minha época, são com a ecologia integral. O centro de suas pontuações é a ecologia humana, o clima, a preservação e prevenção, a proteção à criação e questões como a fome no mundo, a pobreza, globalização e escassez.
Suas reflexões buscam inspiração nas meditações de São Francisco de Assis, o santo dos pobres e patrono dos animais e meio ambiente. São Francisco de Assis é chamado por ele de "exemplo por excelência de cuidado e de uma ecologia integral e que mostrou uma atenção especial aos pobres e abandonados".
Ele diz, com muita propriedade, que a Terra é nossa casa e que devemos preservá-la. Ela tem sido maltratada e saqueada. Lembra que: “Esta nossa “casa” está sendo arruinada e isso prejudica a todos, especialmente os mais pobres. Portanto, o meu apelo é à responsabilidade, com base na tarefa que Deus deu ao ser humano na criação “cultivar e preservar” o “jardim” em que Ele o colocou.”.
A pobreza e a degradação ambiental são dois lados da mesma moeda. Esta é a certeza que permeia a encíclica "verde" do papa Francisco. O papa incorpora os dados mais consistentes com referência às mudanças climáticas, à questão da água, à erosão da biodiversidade, à deteriorização da qualidade da vida humana e à degradação da vida social, denuncia a alta taxa de iniquidade planetária, afetando todos os âmbitos da vida, sendo que as principais vítimas são os pobres.
Sua encíclica me fez lembrar palavras de Carl Sagan sobre nosso planeta, um ponto apenas na imensidão do universo, um “pixel” revelado, que parece estar apoiado em um raio do sol.
Neste minúsculo ponto, nossa casa, estão todos os seres que amamos, que conhecemos e viveram todos aqueles de que temos notícias. Aí se desenrola toda a história da espécie humana. Tanta luta e crueldades têm sido cometidas, muitas vezes, por uma fração deste minúsculo ponto.
Não há nenhum outro lugar conhecido do universo para onde possamos migrar e de onde possamos esperar socorro.
Para Sagan isto nos deve ensinar a cuidar da única casa que temos e nos dá a responsabilidade de viver mais gentilmente, amorosamente, para preservarmos este pálido ponto azul, nosso único lar.
Para mim, sem dúvida, o grande astrônomo e o nosso Francisco falam uma mesma língua e mostram a mesma preocupação. Ambos estão a clamar uma ação rápida para salvar o planeta.
Li em algum meio de comunicação um dado importante da Encíclica: “Fundamental é seu discurso com os dados mais seguros das ciências da vida e da Terra. Lê os dados afetivamente (com a inteligência sensível ou cordial), pois discerne que, por trás deles, se escondem dramas humanos e muito sofrimento também por parte da mãe Terra.”. Ainda: “É o que diz o grande cantor e poeta indígena argentino, Atahualpa Yupanqui: “o ser humano é Terra que caminha, que sente, que pensa e que ama.”.
Devemos reconhecer o quanto temos degradado o ambiente e destruído biomas inteiros. Por nossa ação, o alimento rareia, o calor aumenta, a água potável se torna difícil de encontrar, o ar que respiramos é saturado de dióxido de carbono e outros gases maléficos, e uma série de consequências se dá em nossas vidas.
Não somos seres separados da Natureza. Fazemos parte dela e formamos uma família: a família humana. Enquanto não aprendermos esta verdade e respeitarmos o todo em que estamos inseridos, não haverá futuro para nossos filhos e netos.
O ser humano, ao nascer, tem direito a um lar, a uma família, à educação, à saúde e à moradia. Enquanto os países mais ricos estiverem poluindo o meio ambiente e retendo toda a riqueza, a miséria continuará assolando o nosso planeta.
Todos merecem nosso respeito e amor. Sempre achei que deve haver um caminho intermediário entre o capitalismo e o socialismo para que uma civilização fraterna se instale.
Parabéns ao Papa Francisco que, de uma maneira séria e amorosa, levanta questões fundamentais para o futuro da humanidade.
Maria Luiza Silveira Teles
Membro da Academia Montes-clarense de Letras
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros


80084
Por Maria Luiza Silveira Teles - 12/6/2015 15:00:24
A SIMPLICIDADE DA VIDA

Engraçado, mas as pessoas vivem correndo atrás da felicidade como o cachorro corre atrás de seu próprio rabo.
Isto porque, na verdade, a felicidade não está em nosso exterior, mas dentro de nós.
Deixei um apartamento para viver em minha própria casa. Todos pensam que um apartamento é mais seguro, nos dias de hoje. Entretanto, pergunto: qual a verdadeira segurança que a vida nos proporciona? Ela é tão frágil! Podemos perdê-la a qualquer instante. Acho que não devemos nos preocupar tanto com esta questão. O importante é viver plenamente cada dia como se fosse o último e ser feliz.
Eu me julgo uma pessoa feliz. Encontro em minha casa e dentro de mim tudo de que preciso para isso. Tenho o privilégio de jardim e quintal, coisa rara hoje em dia.
Acordo com o canto dos passarinhos. Vejo cada flor que nasce em meu jardim e posso colher fruta em meu quintal.
Logo que me mudei para cá, um ninho de passarinhos me acolheu lindamente na árvore de meu jardim. Sinto o perfume da murta e da dama-da-noite. Aspiro o ar com delícia!
Á tarde, sento em minha varanda e fico contemplando a beleza da natureza. É uma paz completa!
Tenho livros, música e amigos, O que mais poderia desejar? Escrevo minhas crônicas, meus poemas e meus livros. Tenho um encontro marcado com Deus todos os dias. Faço de minha vida uma prece constante. E, assim, os dias correm, tudo morre e renasce e eu sigo tranqüila, grata e feliz.
Voltei há pouco de uma viagem em que pude encontrar irmãos, sobrinhos, tio e primos, que se espalharam por todo canto desse país e do planeta. A todos abracei com imensa alegria. Foi uma verdadeira festa! Passeei por belíssimos lugares e vivi com intensidade cada dia dessa curta e deliciosa viagem. Por acaso é diferente a vida? Curta, curta demais, mas deliciosa. Dores, perdas, aflições, quem não as tem? E poderia ser tão maravilhosa se não conhecêssemos o seu avesso?...
Para quê e por que tanto estresse? E a pressa em que as pessoas vivem?... Pressa para chegar onde?
Um dia, em Belo Horizonte, fui assaltada por três bandidos, com a arma em meu estômago. Tratei-os com lhaneza e amorosamente, como irmãos. Sabem o que fizeram? Entreolharam-se, guardaram a arma e levaram-me apenas o dinheiro. Não tive medo. Acho que o medo e o pensamento negativo atraem apenas o que é ruim. É preciso que nos libertemos de qualquer emoção negativa. São elas que nos criam o inferno.
O paraíso está dentro de nós, sem dúvida. E eu o encontrei. Simples assim como a própria vida.


80045
Por Maria Luiza Silveira Teles - 3/6/2015 17:13:55
AMOR VERDADEIRO

Quem fala aqui é a alma de uma mulher. Uma alma que deve ter caminhado todos os caminhos por séculos afora. Uma alma que, depois de perscrutar todo o universo humano, o microcosmo e o macrocosmo, tem muitas dúvidas, mas algumas certezas: Deus existe, Ele é Amor, Somos Um com Deus. Portanto, somos Amor.
Como cheguei a essas certezas? Principalmente pelo caminho do coração, pela intuição, amando sempre e percebendo que, dentro de mim, existe uma energia poderosa que me faz capaz não só de maravilhar-me com a beleza do Universo, mas de compreender cada criatura que sofre, que chora, que sangra, que dança, que se alegra, que explode... De abraçar e acolher com carinho infinito cada um que busca a Verdade e se sente muitas vezes só em sua busca, com as lágrimas embebendo-lhe a alma, cada ser que diante da Criação e do seu poder de Criatura não sente orgulho, mas a enorme responsabilidade de participar do Amor Divino.
Alguém, um dia em uma palestra, perguntou-me como consigo conciliar minha formação acadêmica com tamanha fé. Porém, nunca vi contradição entre Ciência e Fé, pois o que é a Ciência senão uma das facetas do amor misericordioso de Deus? A ânsia do conhecimento que domina a alma humana nada mais é do que a manifestação divina, levando-nos a buscá-Lo criteriosamente.
No entanto, depois de descobrir mil leis e mergulhar no átomo e no espaço, o Homem faz a viagem de volta a si mesmo para, então, ter a certeza de que, dentro de si, estão todas as verdades, porque aí está Deus. Aí está o Amor, esta força poderosa que nos constrói melhores e projeta no semelhante e na Natureza energias restauradoras e renovadoras. Por isso, apesar do sofrimento por esta longa estrada que me trouxe até aqui, ainda estou inteira e o meu sentimento ainda é puro, pois nunca foi conspurcado pela maldade do mundo.
Talvez se perguntem: "Mas como? Nossas almas estão cheias de dobras!" Confesso-lhes, porém, que nunca permiti que respingos de lama me atingissem porque sempre respeitei demais ao Deus que vive em mim e ao Deus que vive no outro.
De coração aberto, com a certeza de quem vive e crê, posso dizer: eu amo! Amo o meu semelhante porque, acima de tudo, amo a Deus e a mim mesma. Também somos deuses, como disse o Cristo e, assim como Ele jamais pode deixar de estar conosco, também o Amor, que é uma centelha do Criador, nos acompanha sempre.
Tão pobre é qualquer língua para falar da grandeza de tal sentimento, mas como somos o espelho de nós mesmos podem sentir esta fogueira que me abrasa o ser, esta luz que estará sempre em nossos caminhos. O Amor é a voz de Deus e a sua essência é, pois, a nossa essência. E ninguém pode perder a sua essência... Em espírito todos somos ilimitados pelo tempo e espaço: em espírito somos apenas Amor. E todo amor verdadeiro deve basear-se no espírito.
Não podemos negar a nossa transcendentalidade e esta autotranscendência da existência humana só se realiza no outro em quem encontramos o Amor. O homem é um ser de encontros. Só no encontro ele pode se realizar em toda plenitude. E o que é o encontro senão o entrelaçamento de duas realidades que se enriquecem mutuamente? Uma mudança de mentalidade e coração que exige coragem: isto é o necessário para que nos aproximemos de Deus e sejamos capazes de nos abrir para o Amor. Se o ser humano não olha para dentro continuará olhando para fora, onde só vai encontrar a ilusão do que é efêmero, temporário e irreal.
Acredito que chegou o tempo de despertar, do encontro do Criador dentro de nós, quando desabrochará o nosso ser inteiramente amoroso. Ser totalmente amoroso significa estar inteiramente presente, ser plenamente consciente, receptivo, honesto, transparente. Diz Neale Donald Walch que “a vida é eterna, o amor é imortal e a morte é apenas um horizonte”. Ainda mais: “Só quando houver uma mudança no coração humano haverá uma mudança na condição humana.”
Consciência, responsabilidade e honestidade são os instrumentos para se viver bondosamente, amorosamente.


79933
Por Maria Luiza Silveira Teles - 16/5/2015 09:43:01
O Crescimento de Montes Claros


Nenhuma cidade necessita ser fria, indiferente, cinza, puro concreto. As cidades precisam ter poesia e individualidade. E o que acontece com Montes Claros? É sem esse toque que ela se torna, dia-a-dia. Cresce, mas cresce sem beleza e poesia.
Não é que não existam por aqui belos movimentos artísticos. Temos poetas, artistas plásticos, cantores, músicos, artesãos, teatrólogos e podemos, sempre, assistir a belos shows, vernissages, concertos, amostras de cinema, fotografias e poesia.
Entretanto, quero referir-me à parte arquitetônica e urbanística. Falta-lhe cor, cuidado com a limpeza, pouca vegetação urbana. Enfim, embora uma grande metrópole, nossa terra não tem beleza.
A arte precisa alcançar as ruas. Necessitamos de movimentos que a levem para o espaço público. Afinal de contas, a cidade é nossa casa e quem não quer sua casa bonita, perfeitamente higienizada e decorada?
Onde estão os grafiteiros para levar sua arte para as ruas? É preciso que se distinga, entretanto, o vandalismo do verdadeiro movimento da arte grafiteira, que colore e embeleza a cidade.
Onde estão os artesãos para enfeitar nossa urbe com os “yearn bombing”? E as construtoras que, além de colocarem abaixo casas tão lindas, que bem caracterizavam os anos 40, 50, 60, não sabem senão colocar mais cinza ou um único padrão de construção na cidade?
Faço aqui um clamor aos arquitetos-artistas para que renovem suas técnicas, permitam desabrochar sua criatividade e deixem-na voar para que cada nova construção, mesmo em movimento vertical, seja uma inovação, uma obra de arte que vá embelezar a nossa cidade.
Onde estão os ambientalistas para não permitir que a fúria capitalista degrade o nosso meio-ambiente?
Fico triste ao ver, por exemplo, o nosso belo Parque Municipal, originariamente um recanto poético, lugar de reflexão e lazer, completamente abandonado.
O mato cresce, os bandidos e drogados lá se refugiam, os brinquedos originais, onde minha filha-criança brincava, hoje estão totalmente quebrados.
Quando teremos um prefeito que não apenas administre, faça política, angarie votos futuros, mas também pense na higiene e na beleza da cidade?
A cidade não pode crescer assim, desordenamente, sem um planejamento sério de urbanização e acessibilidade.
É preciso fazer novas praças e preservar as que já existem. Não basta colocar ali uma fonte luminosa, mas cuidar da limpeza e da beleza dos canteiros. Como era bom contemplar as rosas da Praça Dr. Chaves! Onde elas foram parar?
Na administração do prefeito Dr. Athos Avelino, a Câmara aprovou uma praça com o nome de meu pai e onde existiria um busto seu. Entretanto, outras administrações vieram e eu jamais vi a tal praça...
E os lugares bonitos e saudáveis para o lazer e a prática de esportes do povo?
Assisto a cidade crescer e, talvez, em pouco tempo, eu já não esteja mais aqui, e não vejo poesia nenhuma nela...
E o povo? Onde está o povo? Onde estão os artistas? Com certeza, escondidos em “buracos”, onde também estão os verdadeiros educadores...
É uma lástima...

Maria Luiza Silveira Teles
Membro da Academia Montesclarense de Letras e do
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros


79793
Por Maria Luiza Silveira Teles - 21/4/2015 17:29:56
MINHA TIA YVONNE



Ainda estou sob o impacto do acontecimento. Não consegui digeri-lo. Não importa a idade que a pessoa amada tenha ao partir; a partida é sempre dolorosa. A saudade é eterna e não tem ninguém que possa substituir aquela criatura em nosso coração e em nossa vida.
Não consigo imaginar as reuniões da Academia sem a minha tia dirigindo-as. Nem consigo pensar em qualquer evento cultural sem a sua doce e elegante presença
Lembro-me de Fernando Pessoa que, em um de seus poemas, dizia:
(...) como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas,
Entre o vestígio e a bruma.

Pois é, entre o vestígio e a bruma caem, uma a uma, as folhas da árvore de minha existência. Como não lamentar?
Claro que sei que esta é a ordem natural das coisas e tudo que nasce um dia há de morrer. O pó volta ao pó, mas aquela chama que habitava aquele corpo material, essa chama é eterna. E a tristeza há de passar. “Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe?...” Assim diz o poeta Caio de Abreu.
Um dia essa tristeza vai passar, mas jamais a saudade...
Pois bem, o quanto minha tia era importante para mim todos sabem. Mas, mais importante do que ela foi e significa para mim, está o que ela significa para Montes Claros e Francisco Sá.
Eu era apenas uma menina, com cerca de cinco para seis anos, quando fomos, pela primeira vez, passar férias em Brejo das Almas e lá eu e meus irmãos adorávamos brincar no quintal da casa de tia Yvonne e
Tio Olyntho. E, enquanto brincávamos, lembro-me muito bem, tia Yvonne dava aula em sua sala. Quantos ela não terá alfabetizado por aqueles recantos?
E aqui, em Montes Claros? Educadora de várias gerações, agitadora cultural, escritora, poetisa, mãe, não biológica, mas pelo amor, avó e bisavó. Mulher determinada, guerreira, companheira extraordinária de um único amor.
As duas cidades ainda estão de luto, mas ela permanece e continuará viva na História de ambas e não apenas na memória de cada um de nós.
Ela foi, talvez, uma das mais brilhantes estrelas a brilhar no céu destas cidades. Um dos maiores expoentes culturais.
Eu, que gozava de sua intimidade e de seu afeto, sei que ela desejava muito ser conhecida e reconhecida por sua terra natal. Pois foi e é. Seu sonho se realizou e que, agora, no além, ela possa estar em paz, sabendo que não guardou os seus talentos, mas os desenvolveu e distribuiu, generosamente, para todos que dela se aproximassem.
Maria Luiza Silveira Teles


79761
Por Maria Luiza Silveira Teles - 16/4/2015 02:48:12
BENDICÕES EM TEMPOS DE DESAMOR

Estamos vivendo momentos difíceis não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Tempos de dificuldades e conflitos de toda ordem. Tempos de inversão de valores, individualismo, materialismo e ausência dos princípios eternos que o Criador cravou em nossa consciência. Tempos de violência, desrespeito à vida humana e à mãe-natureza. Busca desenfreada do dinheiro, do poder, do sucesso, não importando os meios se ilícitos ou não pelos quais sejam alcançados.
Para nós, cristãos, estamos ainda vivendo o tempo Pascal, tempo de renovação, de reconciliação, de renascimento, de reforma interior, de novas esperanças e liberdade. Entretanto, ainda ontem, centenas de cristãos, crianças, homens e mulheres, foram degolados numa cidade do Iraque por um grupo terrorista de muçulmanos radicais.
Às vezes nos parece que algo está terminando. Aliás, é preciso sempre que o velho morra para que o novo possa nascer. Os mais simples estão a dizer: “O mundo está acabando”. Bem sabemos que tudo e todos nascem e morrem. Morrem as civilizações, morrem as estrelas, morremos nós. Prefiro crer que um velho mundo está morrendo para que um novo possa nascer. Mas, um novo mundo de um Novo Homem; um homem mais justo, mais amoroso, mais solidário, mais fraterno.
A vida e o tempo me ensinaram, todavia, que minhas esperanças podem ser frustradas. Talvez venha o Caos absoluto. Não sei...
Sei apenas que, depois dos setenta anos, estamos sempre a enterrar os nossos entes queridos e muitos dos nossos sonhos. Parece que, agora, nós, os mais velhos, vivemos em velórios a nos despedir dos amigos, familiares e pessoas importantes para toda a nossa geração, não apenas a nível local, mas a nível de país e de mundo.
Não temos como nos isolar ou ter uma vida exclusivamente pessoal estando imersos nesta aldeia global em que nos colocaram os velozes meios de comunicação. Assim, os acontecimentos nos atingem a todos e não apenas a alguns. Os sentimentos, também, são de todos os que ainda têm a capacidade de se sensibilizar.
E, antes que chegue a minha vez de sair do “palco” desta vida, preciso, num mundo de tantas maldições, fazer a minha lista de bendições.
Bendizer a todos e a tudo que me ajudou, na jornada terrestre, a ser o que sou. Só que precisaria, talvez, de escrever um livro, a fim de não cometer injustiças.
Começaria, é claro, por bendizer a Deus Nosso Senhor e meus pais que me concederam a vida. Aos irmãos, escola de sociabilidade e amor. Aos amigos, anjos encarnados e lição permanente de vida. Aos mestres, escritores, poetas, médicos, artistas, músicos, jornalistas, servidores de toda ordem, crianças, mestras da verdade e da pureza, minha filha, lição permanente de convivência, minha neta, anjo de minha vida, aos alunos, aprendizagem e carinho constantes.
Então, bendito seja Deus, Senhor dos Universos!
Benditos sejam meus pais, porto de minha vida!
Benditos os que têm me curado!
Benditos os que saciam minha sede e fome de saber e beleza!
Benditos os amigos, que me acolhem e ensinam!
Benditos sejam o oxigênio, a água, as flores, as árvores, os lagos, o mar, as estrelas, as noites, os dias, o sol, a chuva, os animais, a dor e alegria!
Bendito seja este universo que carrego, dentro de mim, de amor, experiências, idéias, sonhos, sentimentos!
Benditos sejam os que se doam!
Benditos os que bendizem!
Benditos os que semeiam boas sementes!
Benditos os que espalham alegria!
Benditos os que têm compaixão!
Benditos os que só sabem amar!
Bendita seja a Vida, Escola Maior!
Bendito seja o perdão, mel dos corações!
Bendita seja a cidade de Montes Claros, que me acolheu!
Bendita seja Francisco Sá, a cidade que me fez sua filha!
Bendita seja Belo Horizonte, cidade em que nasci!
Bendito seja, hoje e por toda a eternidade, o Amor que a tudo cria e que sempre será a Vitória!
Amém!


79576
Por Maria Luiza Silveira Teles - 12/3/2015 19:24:07
SIMPLESMENTE TERESA...



Na véspera do Dia Internacional da Mulher, uma grande mulher foi chamada por Deus. Seu nome era Teresa. Teresa de quê? Não importa. Vocês não a conheciam, isto é, quem tem internet e computador, provavelmente, jamais ouviu falar dela.
Era uma criatura anônima, menos para os que a queriam bem. Uma criatura extraordinária! Amada por minha família e por todos de seu bairro, que a conheciam por Dona Xinó.
Criou sozinha quatro filhos e fez deles homens honrados e decentes. Ganhando apenas um salário mínimo sustentou-os e à sua casa. Sempre disponível para todos que dela precisassem. À sua mesa havia uma fartura como se tivesse o poder de multiplicar o pão, não só para os seus, mas para todos os necessitados que a ela recorriam.
Sempre no dia 12 de Outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, de quem ela era devota, e, também, dia das Crianças, fazia paneladas de comida e as distribuía para todas a criançada do bairro, dando a cada uma alguma pequena lembrança Era uma verdadeira festa no imenso terreno de sua casa. Antes, porém, do lauto almoço, havia o terço e a ladainha, louvando Nossa Senhora, cuja imagem ela tinha num pequeno altar ao lado da entrada da casa.
Humilde, generosa, amorosa, seguia fielmente o exemplo do Mestre Jesus. Lutou toda a vida contra a doença de Chagas, que afetou seu coração. Contra todas as previsões médicas, ela viveu quase sessenta e cinco anos.
A doença jamais a impediu de trabalhar duramente. Mantinha, no fundo de seu quintal, uma plantação de milho e feijão da qual ela mesma cuidava. Pegava na enxada, sem medo, mesmo tendo os médicos proibido-a de qualquer trabalho que demandasse esforço, pois seu coração estava cada vez mais fraco. Quantas vezes eu a peguei trabalhando e a repreendi. Ela respondia: “Se eu parar de trabalhar, eu morro, Dona Luiza”.
Por fim, o assassinato de um filho, por um neto seu envolvido com drogas, foi dor demais para seu fraco coração e ela se deixou tomar pela tristeza, complicando a situação de saúde, vivendo mais internada do que no próprio lar.
Desde então, nunca mais houve na sua casa a famosa festa de Nossa Senhora Aparecida. Da última vez que fui passar com ela esta data, rezamos apenas o terço e a ladainha.
Era analfabeta, mas, quando abria a boca, parecia inspirada, pois falava da Bíblia, de Jesus e dos valores que deveriam nortear nossas vidas, com um incrível conhecimento e sabedoria. Para nos consolar e confortar nos momentos difíceis era única, com tamanha tranqüilidade, como se ela mesma não conhecesse o sofrimento.
Trabalhou para meus pais durante anos e, ao aposentar por invalidez, meu pai lhe deu um terreno com um pequeno barracão, que ela foi aumentando com o decorrer dos anos e o tamanho da família. Aos poucos, como uma antiga família chinesa, os filhos e os netos foram se agregando em torno dela, que era uma verdadeira “matriarca” da família, distribuindo as tarefas por filhos e noras e passando a ser a conselheira de todos.
Curava seus filhos, netos e vizinhos com seus chás e suas orações. Uma mulher realmente especial!
Venerava meus pais, principalmente papai. Estranhando aquele sentimento de tão profundo amor e respeito, resolvi perguntar-lhe, um dia, o motivo disso e ela me contou uma bela e comovente história a respeito de como se conheceram, a situação em que vivia e a gratidão que sentia, acima de tudo, por ele. Mais um motivo para eu admirá-la, pois a gratidão, penso, é um dos mais nobres sentimentos do ser humano.
O mundo não tomou conhecimento de sua existência, mas deixou rastros profundos na vida de muitos, inclusive na minha. Hoje, deve repousar no Seio do Pai, pois, com certeza, foi uma das melhores criaturas que conheci em toda minha vida.

Maria Luiza Silveira Teles


79538
Por Maria Luiza Silveira Teles - 4/3/2015 20:48:17
COMO NÃO TER SAUDADE?...


As pessoas acima de setenta anos que se dizem não-saudosistas ou são mentirosas ou não têm boas lembranças.
Quando cheguei a Montes Claros, em 1960, deixei a capital, cidade em que nasci e onde fui criada, com grande pesar. O sonho de meu pai era voltar para a terra de seus antepassados e onde viveu sua juventude. Entramos todos, minha mãe e os irmãos, em choque com ele. Mas, naquele tempo, o pai era o chefe da família e a palavra final era dada sempre por ele. Mal sabia eu que aqui viveria anos maravilhosos e amaria tanto esta terra!
Naquele tempo, Montes Claros ainda era uma cidade pequena em que todos se conheciam. Saíamos à rua sem grandes preocupações. Nada de mal poderia nos acontecer. Bastava dizer de quem éramos filhos e todos conheciam nossos pais, nossa família, e tinham mil histórias para contar.
Ah, quanta saudade do Clube Montes Claros! Neste carnaval passado, ao assistir as Escolas de Samba, lembrei-me dos carnavais de lá. Tudo era tão inocente e romântico! Dançávamos em duplas ou fazendo “trenzinhos” numa alegria tão pura! Claro que sempre tínhamos um par preferido e nossos corações batiam a mil quando ele nos dava a mão e nos lançava olhares convidativos. Estávamos, porém, sob a eterna vigilância de um irmão ou um primo.
E o Automóvel Clube?! A hora dançante da “juventude dourada”, sempre organizada, aos domingos, pelo saudoso Lazinho... Ah, quantas lembranças maravilhosas! Era época da “jovem guarda” e dançávamos o iê-iê-iê. Lá se apresentou, nesse tempo, o cantor Erasmo Carlos. Como esquecer a deliciosa Banda dos “Lès Cheries” e a voz suave e bela do Lúcio Alves?...
Ah, e os tempos de Faculdade, como aluna, e, depois, como professora, lá no velho casarão da então rua Cel. Celestino, hoje “Corredor Cultural Pe. Dudu”!... Era um tempo de sonhos! Mergulhávamos nos estudos com delícia e tínhamos professores talentosos, que nos alargavam horizontes! Como esquecer as aulas de Baby, Pe. Tadeu, Pe. Jorge, professor Krupp, Glacira Mendes e tantos outros que, com esforço e estudo, conseguiam ser verdadeiros educadores, não apenas nos transmitindo conhecimentos, mas uma postura ética bem rara nos dias atuais.
E nós saindo das aulas e passando no barzinho de Seu Augusto, o Café Galo, para tomarmos um copo de café com leite?!... Cantando pela praça, cheia de rosas, a canção de Vandré: “Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais, braços dados ou não (...). Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer (...)...
Jovens sonhadores esperando fazer história e construir um Brasil mais igual, justo e progressista...
Claro que a dor e as perdas não poupam ninguém, mas, apesar disso, posso afirmar que aqui fiz grandes amizades que perduram por toda a vida e tenho vivido a fase mais produtiva de minha vida.
Como não ter saudade? Como não me emocionar quando ouço as velhas canções de Roberto Carlos, a trilha musical de minha vida e de meus amores, hoje todos mortos?
Ah, Montes Claros, como te amo e como sinto falta de suas antigas casas com arquitetura dos anos cinqüenta ou sessenta! As deliciosas varandas, onde namorávamos ou nos reuníamos em turma simplesmente pra “jogar conversa fora”... Hoje, tombam uma a uma e tu cresces em direção ao alto com características de grande metrópole.
Eu sei que essa é a ordem natural das coisas, mas pergunto: como não ter saudade?...
Saio às ruas e raramente vejo uma cara amiga... É uma multidão de desconhecidos apressados sempre falando ao telefone ou teclando mensagens...
Amigos, só os encontro em reuniões espaciais. E, dia a dia, enterrando pessoas queridas... Como não ter saudade?...

Maria Luiza Silveira Teles


79469
Por Maria Luiza Silveira Teles - 17/2/2015 12:09:38
LEMBRANÇAS DE UMA GRANDE AMIZADE

Ouço os sinos da Matriz chamando, provavelmente, para a Missa das nove e, de repente, já não estou mais aqui. Meu pensamento voa e, de novo, estou saindo da chácara em que morávamos, no atual bairro Santa Rita, para encontrar minha inseparável amiga, Lila Teixeira (hoje Schoffel), na Ovídio de Abreu.
De lá nos dirigíamos para a Missa das nove, na Matriz. Andar para nós aquela distância, naquele tempo, não era senão um “pulinho” apenas.
Íamos sempre de roupa nova, em cima do salto, com meia fina, duas alegres adolescentes, cheias de graça, encantadas com a festa da Vida. À nossa frente, o futuro era apenas um sonho colorido, um caminho atapetado de flores e esperanças.
Assistíamos a Missa com toda piedade, mas nossos corações estavam aos pulos, esperando o momento mais desejado do dia, quando a Missa terminaria e nós iríamos em direção à Praça de Esportes, onde, na “boate”, a hora dançante do domingo nos esperava.
Lá, das dez às treze horas, ou, algumas vezes, até às catorze, dançávamos contentes. Jamais levamos “chá de cadeira”. Éramos disputadas e o romantismo predominava: olhos nos olhos, mãos a tremer de emoção, ligeiramente abraçadas aos nossos pares.
Podíamos chegar a casa um pouco mais tarde, pois domingo era dia de “ajantarado”, isto é, um almoço farto e variado, em que se comia na parte da tarde.
Às dezesseis horas, tínhamos a infalível matinê e, à noite, o “footing” na Praça Coronel.
Tempos de inocência e pura alegria!...
Poderíamos imaginar que, na descida da ladeira da vida, estaríamos ainda juntas, mas sós?!
Não nos casamos muito cedo para aquela época, pois moça, depois dos vinte anos, já estava no “barricão”.
Eu ainda me casei na década dos vinte com aquele que, hoje sei, era o verdadeiro amor de minha vida. Isso depois de inumeráveis paixões que ainda me confundiriam mesmo no futuro.
Ela, embora muito cortejada, sempre esperando por seu “príncipe alto, louro, de olhos azuis”.
Um dia, ele chegou lá das “estranjas” e eu e meu marido fomos padrinhos dessa tão esperada união.
Mas, a vida nem sempre piedosa e justa, depois de muita festa, nos bateu na cara com a dura realidade de perdermos, ambas, os nossos companheiros.
E, hoje, sem pai e mãe, sem marido, que sempre foram meus refúgios, meus amigos mais queridos, meus portos seguros, onde poderia sempre aportar com tranqüilidade, mesmo depois das loucuras da juventude, vivido o luto, ainda vejo a vida como uma bela aventura e um grande aprendizado.
Jamais eu e ela perdemos a paixão pela vida e o encantamento de, pelo caminho, observar as belezas, bênçãos de Deus.
Mesmo agora quando a doença terrível toma conta de seu organismo, com a sombra da morte ameaçando-a, ela sorri e ainda brinca.
Hoje, quando ao alvorecer, um raio de luz bate em mim, agradeço sempre ao Senhor pelo dom supremo da vida.
Dores e alegrias, encontros e desencontros, chegadas e partidas sempre os teremos. Mas, nada disso faz a vida menos bela...
Agora que nossos filhos já são adultos, quase na maturidade, temos a alegria dos netos, que nos trazem de volta o encantamento da infância de nossos filhos.
Como alguém pode abominar a Vida, quando ela nos presenteia, a cada dia, com tanta beleza e tantas graças?...
Tudo passa... Momentos de alegria e aqueles de dor. O tempo vai nos esculpindo de formas diferentes, mesmo guardando traços da juventude, e nos dá, hoje, o maior dos presentes: a Sabedoria.
A única tristeza real, na velhice, é não encontrarmos mais pela nossa querida cidade os traços concretos, palpáveis, de nossa juventude, pois o passado vai sendo dilapidado pela ganância impetuosa do homem que fez Montes Claros perder as suas mais belas características.

Maria Luiza Silveira Teles


79404
Por Maria Luiza Silveira Teles - 4/2/2015 14:54:31

“TONINHO REBELLO – O HOMEM E O POLÍTICO”

Prometi guardar segredo, mas não posso me conter diante de tamanho entusiasmo!...
No próximo dia vinte e cinco, será lançada, em Montes Claros, uma obra extraordinária que, certamente, ficará para sempre gravada em nossa História. Um livro escrito a quatro mãos, unindo o talento literário de uma jovem mulher fabulosa ao de um antigo jornalista político conhecido por todos. Estou falando de Ivana Ferrante Rebello e Jorge Silveira.
O título do livro é “Toninho Rebello – O Homem e o Político”.
Até que enfim, alguém resolve deixar o registro na História de nossa cidade do mais extraordinário administrador público que tivemos.
Todos nós, da velha geração, sabemos bem quem foi Toninho Rebello. Entretanto, talvez não aconteça o mesmo com as mais novas. E, numa era em que a política anda tão desacreditada e a ética tão esquecida, nada melhor que mergulhar na personalidade fascinante de um homem tão raro como foi Toninho Rebello.
Acredito, também, que a parceria dos autores foi um casamento perfeito para retratar essa extraordinária personalidade.
Os mais velhos, aqueles da geração de sessenta, vão amar relembrar os dourados tempos das gestões de nosso inesquecível prefeito. E as novas gerações talvez possam aprender que se pode fazer política com justiça, integridade moral, honestidade, amor e respeito pela coisa pública.
Repetindo as palavras do prefaciador, o também jornalista e escritor, Itamaury Teles: “Ao final deste admirável livro, o leitor, com certeza, me dará razão...”.
Encontramos, na descrição de ambos, um homem inteligente, simples, humilde, embora rico, que nutria grande amor por sua terra natal e por sua família.
Eu mesma me lembro dele em frente à Caixa Econômica Federal da Rua Doutor Santos, com a camisa para fora da calça e rodeado de amigos e admiradores. Sempre gentil e atencioso para com todos.
Não estava aqui por ocasião de seu falecimento, pois jazia eu em um leito do Hospital Madre Teresa, na capital, mas bem posso imaginar a comoção que tomou conta da cidade. Recebi a notícia com tristeza e surpresa, sentimentos estes que sua sobrinha, a autora, mostra que compartilhava com toda a população.
Os autores foram muito felizes na descrição do Homem e do Político, Antônio Lafetá Rebello. Ivana, com seu estilo mais literário e poético, nos leva à comoção profunda, e Jorge, pelo “vício” do jornalismo, com um estilo mais objetivo, analítico e preciso, nos faz admirar ainda mais a retidão deste homem de tamanha grandeza.
O autor confessa: “Com ele aprendi o caminho dos verdadeiros homens públicos, marcado pela retidão, competência, honestidade e humildade. Mas o traço mais marcante de Toninho era a bondade. Ele era um homem bom de coração, solidário, que desconhecia o ódio.”.
Já a autora termina seu relato com essas belíssimas e emocionantes palavras: “Na minha mente, está muito vívida sua imagem: olhos tristes, mãos no bolso, fiscalizando alguma obra. Difícil imaginá-lo como anjo, mas certamente estará nalgum lugar bonito do céu, rodeado de José Gomes, Marão, Hermes de Paula, Dr. Santos, vovô Jayme e outros homens de bem, ouvindo João Chaves cantar e contando histórias de Montes Claros.”.
Nesse ponto, fechei o livro e não pude conter as lágrimas. Talvez minha alma se curvasse diante de um ser humano tão extraordinário. Ou, parafraseando o autor, porque ele foi o homem e o político com que sonhamos. Aquele tipo de homem e político que poderá construir um mundo mais justo, solidário e fraterno.
Ao fechar o livro, no final, fiquei silente, com uma secreta “inveja” dos dois autores que puderam gozar da convivência desse homem.
Livro perfeito e agradável, em todos os sentidos, que veio tarde, mas em tempo para se fazer justiça a quem tanto mereceu.
Se ele foi vilipendiado, algum dia, é porque os homens de alma pequena não têm condições de reconhecer a grandeza de outrem a quem não conseguem se comparar.
No relato de ambos os autores são lembrados outros grandes nomes de tantos que ajudaram nossa terra e nossa gente.

Maria Luiza Silveira Teles



79384
Por Maria Luiza Silveira Teles - 30/1/2015 13:56:10
TESTAMENTO

Depois que tudo terminara, movido pela curiosidade e pela saudade, ele pegou na agenda que ela deixara. Leu-a, cheio de tristeza, sem compreender o porquê de uma vida plena de dor e superação. Na primeira página estava escrito: “Estou fraco e aquebrantado: tenho rugido por causa do desassossego do meu coração” Salmos, 38:8.
Na última, ela escrevera: Sou peregrina da Vida. Andei todos os caminhos e conheci todas as mortes. Sofri todas as dores, chorei todas as lágrimas, ri todos os risos. Bebi a água de todas as fontes, banhei-me em todos os rios e mares. Provei todo o fel e todo o vinho. Bati à porta de mil corações e explorei a terra de todos os homens. Busquei a Verdade em todos os livros, vasculhei terras e céus, galguei montes e desci abismos, recebi a mensagem de todos os seres.
Agora, nada que é humano me é estranho: sei bem da fome, do medo, da dor, da saudade, da miséria, do sonho, da morte, da vida... Sei bem de noites tristes, em que os fantasmas povoam o ser; de corpos dilacerados, de vidas esquecidas, de crianças estupradas, de esperanças murchas, de vincos no rosto, de fel na alma. Sei bem o que é amar e odiar. Sei de todas as paixões que fervem no peito de quem nasceu e, um dia, inexoravelmente, haverá de morrer... Não me falem que desconheço outros universos, galáxias e seres extraterrestres: nada me é desconhecido. E não me perguntem por que sou triste e alegre, homem e mulher, poeta e peregrina... Não me perguntem nada, porque nada sei. Sei apenas que tenho os olhos secos de quem esgotou todas as lágrimas; pés sangrando de quem caminhou todos os caminhos; lábios cerrados de quem já gritou todo o amor, toda a busca, toda a revolta... Ouvidos moucos de quem escutou todas as mentiras. Mãos inertes de quem já fez todos os gestos. Coração cansado de quem se entregou sempre e encontrou apenas couraças e máscaras de pobres criaturas com medo da vida. E não foi uma vida, eu juro que não: foram tantos amores, tantas as dores e as horas de espera e solidão... Foram tantos os sonhos, pesadelos, caminhos de pedras e espinhos... Foram mil vidas, eu sei, nascendo e morrendo, a cada dia, a cada noite, a cada nova estação. Pisada, moída, triturada pelas mós dos moinhos de ventos das minhas ilusões. Mas, eu grito! Alguém me escuta? Quem é? Estão no fundo do poço ou são estrelas no céu? Venham comigo! Bebam de minha taça. Comam de meu pão. Morem sob meu teto. A noite é densa e eterna e a dor me fere e rasga a carne... A carne e as entranhas. Ela grita no silêncio das noites, molha o rosto, a roupa e suja a cama. Geme nas cordas do violino, do violão, no teclado do piano, no sopro do saxofone... Vira cor e forma nas mãos de quem não tem outra maneira de expressa-la; e é verso, lágrima, revolta, prece, na caneta que desliza pelo papel, sem saber o que pede o coração. Gritar: eu, também, tenho que gritar! Gritar por este mundo que agoniza. Doem-me os seus estertores e esgares, as faces de horror e desespero... Os olhos vidrados contemplando um amanhã em que não acreditam... Sou uma pessoa frágil como cristal, sensível, amorosa, perceptiva, cuja noite da alma se prolonga. Rezar é quase que meu exercício diário. Eu sei que Deus me escuta (às vezes tenho dúvidas, sou obrigada a confessar...). Mas Ele fala comigo de diversas maneiras. É Ele quem me mantém viva. Mas, de qualquer forma, tenho que gritar para sacudir os homens que dormem. Embora sinta um grande desânimo... Ele já veio. Andou por todos os caminhos poeirentos e cheios de abrolhos. Sangrou os pés, o corpo, a alma e foi crucificado. Que posso eu esperar? Que tenho ainda a fazer? Ele falou de Amor, Bondade, Justiça, Perdão, Reconciliação, Complacência. Mais de dois mil anos... Silêncio...tudo silencia. E eu morro para esse mundo...

Ele fecha a agenda...

Maria Luiza Silveira Teles


79233
Por Maria Luiza Silveira Teles - 2/1/2015 16:32:16
A MORTE NÃO PODE ESPERAR...

Mais uma despedida... Sabemos que nossa vida no planeta é provisória. Viemos aqui, provavelmente, para aprender. Principalmente, aprender a amar. Acredito que o homem tem duas asas: a asa do conhecimento e a asa do amor, que implica, também, a ética. Entretanto, poucos de nós desenvolvem, com equilíbrio, essas duas asas. Meu amigo, Haroldo Lívio, que partiu no primeiro dia do novo ano, era um homem que soube desenvolver ambas.
Haroldo, meu companheiro de Academia e do Instituto Histórico, era, talvez, um dos maiores intelectuais de nossos tempos, por esses rincões.
E sua simplicidade, sua humildade, era do tamanho de sua grandeza intelectual e moral.
Estar perto dele, usufruir de seu rico cabedal de conhecimentos era sempre uma fonte de enriquecimento. Ah, meu amigo, como vou sentir sua falta!...
Em qualquer acontecimento social ele estava sempre acompanhado de sua bela esposa, Maria do Carmo, ou Duca para os íntimos. Eram companheiros formidáveis, sempre cheios de alegria e bom-humor! Era, também, como sei, um excelente pai de família. Portanto, além de intelectual respeitado, um homem reto, de princípios morais sólidos.
Deixa para a posteridade um rico acervo cultural e um exemplo de integridade, honestidade, bondade, cavalheirismo.
Constatar o quanto era querido bastava ver quantos o cercavam no Café Galo e, hoje, a multidão que lotou o seu velório e seu enterro. A despedia foi para todos que o amavam um momento único de grande emoção.
Foi-se o homem, fica a sua herança e as marcas profundas que deixou na cidade de Montes Claros e, quiçá, em todo o norte de Minas. Feliz da criatura, como ele, que pode apresentar-se, sem mácula, diante do Pai-Criador.
Há muito, desde a morte de seu irmão, Fernando, que estava prometendo a mim mesma visitá-lo. Mas, por uma série de motivos, principalmente de saúde, fui adiando a visita. E eis que ele se vai sem que eu pudesse, mais uma vez, dar-lhe um abraço e batermos aquele papo tão gostoso. A morte não pode esperar. Ele estava de malas prontas e mal sabia eu!... Perdão, meu amigo!
As cadeiras ocupadas por ele, em ambas as instituições citadas acima, serão ocupadas por outros. Eu, porém, hesitaria muito antes de fazê-lo, pois o peso de seu nome implica em grande responsabilidade.
Para mim, amigo, você foi único e, portanto, insubstituível.
Espero, de todos meu coração, podermos nos encontrar na eternidade, assim como com tantos outros entes queridos!
Adeus, amigo! Obrigada por ter feito parte de minha vida! Você pode ter a certeza de ter marcado profundamente a vida de muitos com quem conviveu. Você foi um privilégio! E a lacuna que deixa é, verdadeiramente, dolorosa.

Maria Luiza Silveira Teles




Selecione o Cronista abaixo:
Avay Miranda
Iara Tribuzi
Iara Tribuzzi
Ivana Ferrante Rebello
José Ponciano Neto
Manoel Hygino
Afonso Cláudio
Alberto Sena
Augusto Vieira
Avay Miranda
Carmen Netto
Dário Cotrim
Dário Teixeira Cotrim
Davidson Caldeira
Edes Barbosa
Efemérides - Nelson Vianna
Enoque Alves
Flavio Pinto
Genival Tourinho
Gustavo Mameluque
Haroldo Lívio
Haroldo Santos
Haroldo Tourinho Filho
Hoje em Dia
Iara Tribuzzi
Isaías
Isaias Caldeira
Isaías Caldeira Brant
Isaías Caldeira Veloso
Isaías veloso
Ivana Rebello
João Carlos Sobreira
Jorge Silveira
José Ponciano Neto
José Prates
Luiz Cunha Ortiga
Luiz de Paula
Manoel Hygino
Marcelo Eduardo Freitas
Marden Carvalho
Maria Luiza Silveira Teles
Maria Ribeiro Pires
Mário Genival Tourinho
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