INTRODUÇÃO
Para a elaboração deste trabalho, foram vários levantamentos feitos em busca de idéias até chegar à opção por um nome : João Chaves; o último Bardo. Devido à versatilidade de sua vida e obra, torna-se difícil focalizar apenas uma área em que mais se destacou; daí a necessidade de uma vasta pesquisa no campo da música, teatro, poesia, política e leis. Apesar da falta de registros minuciosos dos fatos mais importantes, seu nome teve (na época) e sempre terá uma grande relevância no nosso meio artístico-cultural.
Por que João Chaves ? Pelos registros históricos encontrados, podemos notar a evidência de sua participação ativa no contexto cultural da nossa cidade. Para ele, foi dever imperioso defender as leis e as artes em geral. O trabalho desenvolvido no decorrer de sua existência sempre esteve muito adiante do seu tempo, fato que o leva a ser apreciado e aprovado devidamente pelas gerações futuras, em busca de conhecimentos, sem interromper a história que segue, classificando o passado - presente.
Seu trabalho não foi baseado no anacronismo; seu exercício de criar foi autêntico e intercalado de telurismo, sem contudo fugir da genialidade.
O objetivo principal do nosso trabalho é despertar naqueles que ainda não conhecem João Chaves a valorização da prata da casa, divulgando e fazendo-se tornar conhecida a vida e obra do bardo maior, João Chaves.
O trabalho irá gerar sob uma bibliografia básica: "A vida de João Chaves", pasta feita pelos alunos do Conservatório Estadual de Música "Lorenzo Fernândez", sob a orientação da professora Raquel Crusoé L.M.M e Gauto; Eterna Lembrança; História de João Chaves, de Milene Coutinho Maurício e Risos e Lágrimas, de João Chaves, além de uma pesquisa de campo para aquisição de depoimentos, recortes de jornais, documentos e fotografias.
No presente, estão inseridos fotos, documentos, recortes de jornais, acervo do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez; depoimentos de pessoas que conviveram com o poeta João Chaves, nos mais diversos setores da sua atuação, na trajetória rica em detalhes, marcada de notório saber.
Para que se torne melhor a absorção do leitor, a história e obra de João Chaves vem apresentada mostrando os mais diversos setores em que atuou, tornando mais agradável a assimilação do conteúdo.
MOMENTO HISTÓRICO
O momento histórico onde situou a história de João Chaves está demarcado no período anterior à 1ª guerra mundial, coincidindo, no cenário universal, com a passagem da "Belle Époque", quando surgiu, em nosso país, a explosão da música romântica caracterizada pela seresta.
Quando no auge do seu tempo de seresteiro João Chaves recebeu de seus contemporâneos o epíteto de Patápio , por ser tão exímio no domínio da flauta, quanto o mais famoso flautista brasileiro da época.
Portanto, situaríamos a fase áurea de sua criação literária e musical entre a passagem do séc. XIX para o séc. XX e o fim do primeiro quartel do século que se encerra.
Nesse período, o país gravitava em torno do que se fazia no Rio de Janeiro, que era a capital cultural do Brasil. A economia nacional, essencialmente agrícola, se resumia nas monoculturas do café e da cana-de-açúcar. São Paulo iniciava o processo de industrialização com a chegada dos primeiros imigrantes europeus.
O movimento cultural no Brasil se destacava com a fase musical da música popular que teve como grandes expressões Ernesto Nazaré, Chiquinha Gonzaga, Cândido das Neves, Eduardo Souto, Paraguaçu e os primeiros sambistas Donga e Sinhô.
A literatura da época viveu o seu momento de grande ebulição com a apresentação da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, no ano de 1922.
No setor social e político, a criação da obra de João Chaves ocorreu juntamente com a consolidação do regime republicano e o surgimento do movimento rebelde chamado "Tenentismo", que reivindicava uma nova ordem política, social e
econômica para o Brasil, e onde se desatacavam Eduardo Gomes, Luís Carlos Prestes, Siqueira Campos e muitos outros jovens oficiais.
BIO-BIBLIOGRAFIA 1
Nasce a 22 de maio de 18852, em Montes Claros, filho do Sr. João Antônio Gonçalves Chaves e da Sra. Júlia Prates e Chaves, o garoto João Chaves.
"Joãozinho", como era chamado pelos pais e irmãos, demonstrava muita sensibilidade e passava horas inteiras lendo e escrevendo.
Há um episódio na infância de João Chaves altamente revelador da sua extrema devoção à Nossa Senhora. Ao sair com a família para um passeio numa fazenda de propriedade de um tio seu, João Chaves com apenas três anos de idade viu-se perdido no mato, onde ele passou a noite ouvindo feras bravias. Para relatar o acontecido, aos oito anos de idade escreveu seu primeiro poema, "Triste Recordação"3 , demonstrando sua angústia quando viu-se só.
João Chaves contou que quando teve fome, uma linda mulher vestida de branco deu-lhe comida numa cuia e água num coité; essa mulher era muito parecida com a santinha que tinha em sua casa, Nossa Senhora do Rosário.
Fez o curso primário em sua terra natal e parte do curso ginasial que não pôde concluir, devido ao fechamento da antiga Escola Normal de Montes Claros, onde estudava.
Quando rapazinho, foi para Belo Horizonte, morar na casa de seu padrinho, o deputado Camilo Prates, com a finalidade de estudar. Quando lá chegou a esposa de seu padrinho mandava-o efetuar o serviço de rua, não lhe providenciando a matrícula em nenhuma escola local. Com a idade de 15 anos dedicou-se ao jornalismo. Aos 19 anos, chegam à Montes Claros os padres da Congregação Premonstratense da Bélgica. João Chaves absorve, com os jovens da sua época, os ensinamentos e a cultura desses padres. A casa deles era local de reunião dos jovens da cidade que lá iam aprender história, francês, literatura, poesia, música e teatro. João Chaves, com a sua genialidade, absorveu ensinamentos obtidos com os padres e, nesta época, fez produções consagradas como Amo-te muito, Eterna Lembrança e outras.
Desde então, passou a escrever e a compor música para serestas, para corações apaixonados. Suas músicas seresteiras, para serem cantadas em noites enluaradas, são belas. Dentre elas encontramos o Bardo, que foi composta para o seu grande amigo Silva Reis. João Chaves não só compôs músicas que falavam de amor ou de tristeza, mas também músicas que mostravam a pureza, música para a coroação da Virgem Santíssima como o Hino à Nossa Senhora, também conhecida como "Pelas Horas Matutinas", que foi oferecida à sua irmã Chiquinha, pela qual João Chaves tinha verdadeira adoração. Além de compositor, era também intérprete de grande valor, que sabia tocar como mestre todos os instrumentos de uma banda de música. Tornando-se um dos melhores flautistas de seu tempo, um autodidata, compôs páginas que nunca serão esquecidas. Em Montes Claros, foi professor particular de música, lecionando inclusive para Dulce Sarmento4 . Era uma pessoa inquieta, muito trabalhadora, e que possuía um grande senso de responsabilidade.
Em 1909, fundou o semanário "A Palavra" onde era o chefe de redação ao lado do amigo Amerino França, que o gerenciava. Era um jornal de formato pequeno, mas que continha grandes crônicas e versos de infinita beleza.
Em 1913, fundou o semanário "O Sol", cujo primeiro número saiu a 27 de agosto de 1914.
Quando residiu em Bocaiúva, fundou o jornal "A Defesa", que registrava várias de suas produções.
Achando-se não mais um jovem e maduro o suficiente para assumir as responsabilidades de um matrimônio, João Chaves, romântico e namorador, colocou em um sorteio (brogodó) o nome das donzelas bonitas e prendadas que estava a namorar no momento: Maria das Mercês e as primas, Áurea, Judith, Deolinda, Arabela e Maria das Dores(Maninha), em seguida, pediu à sua irmã caçula, Chiquinha, que realizasse o sorteio. Para a felicidade do noivo, a escolhida foi Maria das Mercês de Figueiredo, uma mulher simples e de grande fé.O Casamento foi realizado no dia 21 de junho de 1915, tendo, como parceria constante, a felicidade, que perdurou por 55 anos.
"Foi dona Mercês uma admirável companheira para João Chaves, que lhe foi na vida a alegria e o estímulo"5 .Era o protótipo da mulher do século passado. Humilde, submissa e cultivava a filosofia oriental ( a mulher nasceu para servir seu marido. Seu ideal único deve ser a obediência e a lealdade ao marido, o cuidado com ele e os filhos.).
João Chaves teve onze filhos :
Raimundo casou-se em segunda núpcias com Neusa Caldeira e teve dois filhos: Rafael e Daniel;
"Pai amoroso, porém exigente não admitia gírias e não permitia que suas filhas usassem calça comprida; era uma pessoa diferente, principalmente com sua gente e seus costumes".9
Não assistiu aos casamentos de seus filhos, dando a desculpa de que preferia ficar em casa esperando os noivos para cumprimentá-los.
Homem de caráter forte, honesto, deixou para os seus um exemplo de vida. Os seus filhos louvam o privilégio de se espelharem em seus pais, herdando deles o caráter e a integridade moral.
Os filhos foram motivo de inspiração à escrita de belos sonetos. "Chavinha"(10) foi dedicado à sua filha Maria Aparecida, portadora de um problema cardíaco, causa de sua morte, aos 27 anos.
Foi João Chaves um dos mais notáveis intelectuais de Montes Claros.
Aos 24 anos iniciou-se na advocacia com sucesso, exercendo-a por aproximadamente 50 anos.
Advogado dos mais brilhantes, grande estudioso e conhecedor profundo das leis, não era formado em escola superior. Autodidata, revelou-se um mestre na ciência jurídica.
Há vários anos atrás, era permitido o registro de leigos como advogado. João Chaves recusou o seu registro, alegando que não era justo receber diploma de
advogado, se não tinha feito curso para isto, sendo certo que atuavam na comarca alguns Advogados Provisionados, nome dado ao provinciado.Suas defesas magistrais transpuseram fronteiras. Dedicava-se às causas de corpo e alma, razão talvez porque se saía vitorioso.
"Extasiava a assistência na defesa de suas teses perante o tribunal do júri. Os seus apartes eram de uma ironia sarcástica, capazes de provocar aplausos do auditório".11
Tamanha era a paixão de João Chaves pela profissão, que a transmitiu para seus filhos que também o seguiram profissionalmente. Ulpiano José Chaves, advogou em Belo Horizonte, a serviço da Rede Ferroviária Federal. Sidney Chaves e Henrique Chaves associaram-se a seu pai que, com o seu conhecimento, enriqueceu o trabalho dos filhos, passando-lhes experiências até os últimos dias de sua vida.
Ainda muito jovem e sob a promessa de Camilo Prates de torná-lo deputado, João Chaves iniciou-se na política. Em 1917, saiu-se vitorioso nas eleições para vereador do município de Montes Claros, exercendo o mandato por apenas dois anos ( 1917 - 1919) desligando-se do cargo.
Segundo o historiador Nelson Vianna,12
"Em 20 de novembro de 1916, realiza-se a sessão na Câmara Municipal de Montes Claros para reconhecimento de poderes dos vereadores que terão de servir no período a começar em 1º de janeiro de 1917 : Dr. João José Alves, João Cattoni Pereira da Costa, Padre Augusto Prudêncio da Silva, Dr. Marciano Alves Maurício e João Chaves, diplomados pela junta apuradora do município. Coronel José Rodrigues Prates, farmacêutico Antônio Ferreira de Oliveira e João Bernardino de Figueiredo, diplomados pela junta de recursos de Belo Horizonte".
Segundo ainda Nelson Vianna, aconteceu o seguinte fato histórico :
"Em 1º de janeiro de 1917, presidida pelo vereador mais idoso, Cel. José Rodrigues Prates, instala-se a Câmara Municipal de Montes Claros, com os novos vereadores eleitos, em resultado de uma composição política de acordo : Cel. José Rodrigues Prates, Dr. João José Alves, Dr. Marciano Alves Maurício, Padre Augusto Prudêncio da Silva, Capitão João Cattoni Pereira da Costa, Capitão João Bernardino de Figueiredo, Capitão Jacinto Alves da Silveira, farmacêutico Antônio Ferreira de Oliveira, Cel. Luís Maia e João Chaves. Após as formalidades regulamentares, procedeu-se à eleição para a formação da mesa, dando como resultado, para Presidente da Câmara, Dr. João José Alves, cinco votos; Capitão João Cattoni Pereira da Costa, cinco votos. Havendo empate, resolveu-se decidir pela sorte.
Por proposta do Dr. Marciano Alves Maurício, ao invés de se colocarem na urna somente duas cédulas com os nomes dos votados, se colocassem dez cédulas, sendo oito em branco e duas com os respectivos nomes dos votados. Aprovada a proposta, foi chamada uma criança, Joaquim Mendes, que por acaso passava na hora pela rua, a fim de tirar a sorte. Esta favoreceu ao Dr. João José Alves, havendo protesto imediato do vereador João Chaves, que alegava ter havido fraude. Os dois nomes escritos e deitados na urna seriam o do Dr. João Alves. Houve troca de palavras ásperas entre o Dr. João Alves, Marciano Alves Maurício e o autor do protesto. Soaram os tímpanos. Serenados os ânimos, procedeu-se à eleição para vice-presidente da Câmara, tendo sido eleito o capitão João Cattoni Pereira da Costa, por nove votos".
João Chaves, quase sempre não comparecia às reuniões da câmara; foi, por isto, desligado das funções de vereador.
No prefácio do livro Risos e Lágrimas, de João Chaves, Newtom Prates diz o seguinte :
"João Chaves foi intérprete de notável valor, que sabia tocar como mestre, todos os instrumentos de uma banda de música, tornando-se depois um dos melhores flautistas de seu tempo, compositor de páginas que nunca serão esquecidas". . .
Dirigente da banda "Lira do Brejo da Almas", revezava com o Sr. José Maria a regência, uma vez que tocava o pistão, o colega tocava o bombardino. Foi integrante da banda "Euterpe Montesclarense" como pistonista.
Com genialidade, compunha e musicava suas obras simultaneamente e com grande desenvoltura.
A respeito dessa facilidade em compor e musicar suas poesias, Cândido Canela narra o seguinte fato 13 :
"João Chaves contou a Silva Reis aquela notável passagem de Victor Hugo, "Coração Materno".
- "Olha Silva Reis, a mulher, para ter uma prova cabal de que o jovem de fato a amava loucamente, exigia que ele matasse a própria mãe, lhe arrancasse o coração e trouxesse na ponta do punhal matricida! O rapaz assim prometeu e assim o fez.
De volta, correndo por uma estrada cheia de acidentes, tropeçou e caiu. Do coração, sobre a terra, ouviu uma voz terna e meiga:
-"Machucaste meu filho ?"
O Silva Reis, com duas lágrimas nos olhos, pediu ao João Chaves que contasse aquela história em versos. Este num improviso extraordinário, contou em vibrantes versos todo o episódio que havia narrado em prosa.
Terminada a descrição, o Silva Reis, sacou um revólver e desfechou no João Chaves cinco tiros, dizendo-lhe então estas palavras:
- "Um homem como você não pode viver !"
Por milagre, nenhuma das balas atingiu o corpo de João Chaves.
Os dois seresteiros amigos inseparáveis, subiram a rua "Maria Souto", hoje Presidente Vargas, em Montes Claros, M.G. cantando em dueto a terna e saudosa modinha "Acorda minha beleza".
A família de João Chaves sempre esteve voltada para as artes e com muitos membros que marcaram este pendor.
João Chaves desde criança demonstrou o seu gosto em escrever poesias, firmando-se dia a dia na forma lírica chamada modinha, que é um apelo apaixonado, ao mesmo tempo dramático que o autor faz à sua amada.
"Algumas de suas composições tornaram-se patrimônio nacional. "Amo-te muito " é uma delas, levando o seu nome e o nome de Montes Claros a todos os quadrantes do Brasil".14
Suas músicas e poesias, hoje, são partes integrantes da história de Montes Claros.
A família Chaves mostrou o desejo de publicar um livro contando os seus versos, o que só foi possível após a sua morte; porém, um modesto esclarecimento ele deixou aos leitores:
"Faço publicar este modesto livro de versos, de pouca ou quase nenhuma valia, para atender às sugestões e insistentes pedidos de amigos e parentes . Fica-se sabendo, portanto, que não me anima nenhuma vaidade.
Preciso esclarecer, a fim de evitar equívovos, que todos os meus versos que exprimem paixão amorosa e constantes neste livro, foram por mim escritos há vários anos, quando era ainda solteiro.
Entrego ao exame e apreciação dos competentes o meu despretensioso trabalho, pedindo-lhes um julgamento benévolo ou, pelo menos, com severidade".João Chaves escreve versos denominados de "Alfinetadas", onde cita amigos como : Dr. Santos, Lincoln Prates, Dr. Alfredo Sá e outros, versos muitas vezes ricos de humor e ironia.
"Em seus versos, a imaginação fértil está paralela ao sentimento profundo, e se expressa mostrando a realidade muitas vezes brutal de situações não vividas, apenas imaginadas, como em "História de uma Exilada", "Separação de Noivos", "A filha do Czar" e "A Religiosa Prisioneira".15
Como artista versátil que era, João Chaves também foi teatrólogo.
Compôs, ensaiou e encenou dramas e operetas.
No livro Risos e Lágrimas, João Chaves nos apresenta as operetas :
No período em que residia em Bocaiúva - MG (1922 - 1932), fez grandes produções que eram apresentadas no teatro da cidade.
João Chaves possuía uma quantidade invejável de amigos.
Como boêmio, seresteiro e amante da lua, os companheiros lhe eram constantes.
Tinha como irmão o grande amigo Silva Reis, com quem fizera um trato : aquele que morresse primeiro, no sétimo dia do seu falecimento, deveria ir ao cemitério prestar uma homenagem ao amigo morto, oferecendo-lhe uma modinha.
Cantaram com João Chaves, pela primeira vez, a modinha "Adeus", mais conhecida como "Bardo", em 23 de julho de 1908, na sepultura de Manoel Silva Reis, os amigos Tonico Faria, Antônio Xavier de Mendonça (Mendoncinha), Pedro Mendonça, Augustinho Guimarães, Luiz Gregório Júnior e Elpídio José César.
João Chaves era um homem caseiro, mas gostava de ser visitado pelos amigos. Recebia todos no seu quarto, inclusive o Vice-Presidente da República, Dr. José Maria Alkimim.
Pelas cidades em que morou fez inúmeros amigos. Em Bocaiúva, deixou os companheiros : Antônio Augusto Figueiredo (Nandú), Augusto Efrain Araújo, Horácio da Silva Maia, Henrique Soares Souza, José Gomes de Matos (Zé Felão), Rodrigo A. Araújo e Maria do Carmo Figueiredo Caldeira, que cantou e interpretou algumas composições do João Chaves, no teatro, em Bocaiúva-MG.
Em Montes Claros, além daqueles que o ajudaram na modinha "Adeus", citados acima, tinha como amigos : José Maria Fernandes, Totônio Américo, Virgulino Narciso Soares, Américo França, Leonides de Andrade Câmara(Coló), Gentil Sarmento, José Augusto Prates e Donato Quintino.
Otimista, João Chaves gostava muito de cantar, tocar flauta e conversar sobre política.
Ler era o seu "hobby". Passava a noite conversando com sua esposa ou estudando. O seu quarto era como uma biblioteca.
"Suas refeições eram feitas sempre só, não gostava de companhia durante as refeições. D. Mercês, sua esposa, forrava a metade da mesa e ali colocava seus remédios e duas laranjas descascadas ( ele chupava laranja todos os dias), mas nunca descascou uma só em sua vida. Sempre recebeu tudo nas mãos. Gostava muito de manga e melancia e Dona Mercês servia-lhe as frutas da sua preferência, cortadas em um pratinho."16
Sempre que chovia, começava a cantar. Gostava muito de chuva.Tinha predileção por banho em bacia, embora tivesse comprado uma banheira e a instalado no banheiro. Contaram-lhe que alguém havia escorregado e batido a cabeça na banheira e morrido em seguida. Isto foi o bastante para que João Chaves não utilizasse a banheira.
Devoto de Nossa Senhora do Rosário, rezava o terço e fazia suas orações pela manhã, mas não freqüentava a igreja. Visitava-a uma vez ao ano, na Sexta-Feira Santa, para orar aos pés do Senhor morto.
Como boêmio, tinha satisfação em declamar suas poesias e fazer serenatas.
Com os filhos era muito exigente e nervoso, porém com os netos era alegre e carinhoso e se divertia apelidando cada um.
Quando o assunto era idade, sempre fugia, não gostava de barulho, nem de ficar só. Embora aparentasse rabugento, tinha uma coração grande e uma bondade infinita.
Em homenagem ao bardo maior da nossa terra, o saudoso Dr. Hermes de Paula, em 1967 juntou bons músicos, cantores e amantes da música nostálgica e formou um grupo de seresta ao qual deu o nome de "Grupo de Seresta João Chaves"
Neste mesmo ano, o grupo saiu vitorioso no concurso de serestas em Ouro Preto -MG, gravando em seguida seu primeiro L.P. A fama logo veio e inúmeros foram os convites para apresentações em festas, missas, casamentos, saraus em Montes Claros, outras cidades brasileiras e até mesmo no exterior, quando apresentaram em Buenos Aires - Argentina.
Em 1964, já trêmulo e muito doente, consciente do destino que o esperava, escreveu "A Morte" .17
O atestado médico firmado por Dr. José Estevam Barbosa deu como causa de morte, insuficiência cardíaca, arteriosclerose e senilidade ao último bardo, João Chaves, que veio a falecer às 18:50 hs do dia onze de maio de 1970.
"A poesia e a serenata sobrem-se de crepe, em sinal de pesar pela perda irreparável.
Está vago o posto de poeta oficial da cidade, em virtude do desaparecimento de seu titular João Chaves, o bardo das noites de luar do passado.
Quem se habilitará a substituir o menestrel inspirado, de cuja lavra copiosa basta citar apenas uma peça, a modinha "Amo-te muito", para se justificar toda uma vida voltada ao culto da arte e das fontes da sensibilidade estética ?
Quem produziu um manancial de tão belas imagens, quem é capaz de transmitir sentimentos tão sublimes, como o poeta morto, jamais morrerá. Permanecerá vivo para eternidade, transfundindo na melodia de suas modinhas chorosas e na formosura de seus versos de ouro".18
Após a missa de 7º dia do falecimento de João Chaves, a fim de prestar-lhe uma última homenagem, aproximadamente 3.000 pessoas dirigiram-se para o cemitério e emocionadas cantaram a modinha "Adeus".
"Ó Bardo que cantavas docemente
Ó Bardo que não ouço mais cantar . . ."
Em 1985, João Chaves recebeu da Faculdade de Direito de Montes Claros o merecido Título de "Professor Honoris Causa", em reconhecimento ao seu trabalho prestado à comarca desta cidade.
REFERÊNCIA RELEVANTE À
OBRA DE JOÃO CHAVES
A poesia é uma arte; e assim sendo consequentemente é necessário que exista o poeta.
A poesia nasce com o artista, e João Chaves foi um verdadeiro e principalmente um grande poeta, cuidando da forma, da rima, do ritmo, das idéias e harmonia de sons e verbos.
Exímio menestrel, João Chaves falava com desenvoltura as alegrias e tristezas dos enamorados nos belos versos de "Amo-te muito"19 e "Eterna Lembrança"20 , dentre outras.
Passeava a sua veia poética no lirismo dos seus versos, como o que veremos a seguir, numa análise literária do poema Amo-te muito feita pela escritora Dona Yvonne Silveira.
AMO - TE MUITO
No final do século XIX, surge o Simbolismo, caracterizando-se pela retomada da atitude de espírito assumida pelos românticos . Contundo, apesar de contrário ao materialismo da estética realista, os simbolistas repudiavam também o Romantismo "pelo seu emocionalismo e convencionalismo da sua linguagem metafórica", como afirma Massaud Moisés . 2l
Tal repúdio, porém, não impediu que muitos poetas confundissem o subjetivismo simbolista com o romântico e terminassem identificando-se com este último, na manifestação dos problemas pessoais, usando linguagem mais direta e descritiva, contrária à linguagem velada e ao culto da palavra dos primeiros momentos do Simbolismo. Essa linguagem, não raro cheia de artifícios, das figuras de retórica, bem ao gosto romântico, caracteriza os representantes de uma nova geração simbolista da primeira década do século XX. O discurso poético, bastante lírico, dava prioridade aos temas amorosos, e a ele aliava-se, freqüentemente, a música, revivendo serenatas dos românticos, de inspiração trovadoresca. Era uma forma de substituir a "língua - música" dos simbolistas, que libertavam a palavra da sua carga lógica e lhe punha em relevo a massa sonora. 22
È desta fase o poeta João Chaves, que se celebrizou, exatamente pela facilidade de musicar os próprios poemas, inserindo-se na designação de romântico, não só do ponto de vista formal, como do conteúdo poético da sua obra literária.
Uma leitura de Risos e Lágrimas, livro por ele preparado, mas de publicação póstuma, dá-nos a visão do contexto, direcionado para os seus amores. Há até um "Necessário Esclarecimento" no início da obra: "Preciso esclarecer, afim de evitar equívocos, que todos os meus versos que exprimem paixão amorosa, e constante neste livro, foram por mim escritos há muitos anos, quando era solteiro". Confirmam-se, assim, nossas afirmativas, com a palavra do próprio poeta.
Mas, não vamos analisar Risos e Lágrimas, coletânea quase completa, que contém os poemas musicados por ele, conhecidos como "modinhas" e as que permaneceram apenas no nível literário, dentre eles os sonetos, ao todo dezenove, das cinqüenta composições da obra. Desses sonetos, oito fazem parte das Alfinetadas, caderno em tipo manuscrito, editado pela tipografia São Norberto, de Bocaiúva - MG, onde residia João Chaves na época. São quarenta e seis sonetos, Septassílabos, de fino humor, "alfinetando", principalmente, algumas jovens de Montes Claros e Bocaiúva, nas quais o poeta via defeitos.
De Risos e Lágrimas escolhemos um único texto, a consagrada modinha "Amo - te Muito" para exemplificar a atitude dos poetas do início deste século, de que faz parte João Chaves.
O título, que é sempre um resumo metalinguístico de um texto, já nos indica o tema de mensagem: a confissão amorosa, tema fundamental da estética romântica.
Partindo dele, uma leitura que atende no extrato fônico-linguístico do poema pode evidenciar os recursos que a este nível se detectam. Inicialmente, a estrutura estrófica de três quadras, seguidas do estribilho, ambos de versos decassílabos, em que o rítmo estrutural se impõe pela homogeneidade, demonstrando a realidade da constância do amor do poeta. De construção paralelística, que é de base musical, pode-se verificar , ainda, que Amo - te Muito, mesmo antes de ser musicado pelo seu autor, tem a função de realizar, estruturalmente, o efeito rítmo, do lirismo romântico, justificada pelo sentido do poema.
O rítmo interior, do lirismo do poeta, efetua-se, neste poema, pela reiteração. tanto pela construção paralelística como pela anáfora e a comparação, que são evidenciadas nas três estrofes, seguidas do estribilho. A comparação e a anáfora são figuras que falam da função expressiva de um artista, e neste poema de João Chaves, que se tornou na mais popular das nossas modinhas, a simetria que lhe dá estabilidade orgânica, num conjunto significativo muito simples, advém do uso das suas figuras citadas, que estabelecem uma sinfonia sentimental entre emissor e receptor. A confissão amorosa realiza-se, portanto, em clima de intimidade afetiva, proporcionado pelo ambiente anafórico de reinteração do verbo na primeira pessoa, representando o sujeito do amor, e o pronome, o objeto do amor, ambos fundamentos da comparação. A rima, embora auxiliar no rítmo, não parece muito importante no poema. Ela marca o final dos versos: 2º com o 4º e o 5º com o 6º, que são o estribilho. Neste, não deixam de repudiar a musicalidade.
Com referência ao estrato das unidades de significação, verifica-se que os componentes mais destacados conduzem ao mesmo campo semântico das três estrofes, quase todos elementos da natureza: flores, sabiá, onda e praia. Os pontos de comparação detectam necessidades quase vitais dos comparantes: água (orvalho), claridade (aurora), na 1ª estrofe; liberdade, inspiração, prazer e sacrifício, na 2ª ; carícia, refúgio, na 3ª do mesmo modo que o amor é vital para o poeta.
Vê-se pois, que a configuração semântica apresentada liga-se à figura do pensamento principal do poema, a comparação, reenviando à objetividade apresentada : à confissão amorosa. Esta é feita sem inibição, ao objeto do amor - a mulher, completada com a súplica insistente para que não o esqueça, feita no estribilho :
"Ó não te esqueças que te amo assim,
Ó não te esqueças nunca mais de mim".
O estribilho, com repetição, alcança maior significado e maior ênfase de rítmo com a construção paralelística e a anáfora, como se pode verificar.
A análise do extrato fônico-lingüístico vai nos representando o mundo do poeta. Aí está um homem apaixonado, para quem o amor é necessidade vital. A emoção que transporta o poeta para o mundo do Amor é efetivamente plasmada pelo rítmo produzido pelas figuras de repetição.
No extrato dos aspectos esquematizados é que, considerando-se a subjetividade do poeta no processo da criação lírica, justifica-se o feitio particular por meio do qual foi formado o universo poético apresentado. Quais são as motivações que levaram o poeta à escolha dos recursos estético detectados ? A aceitação de estruturas métricas tradicionais, que elas predominam em toda a obra de João Chaves, é fruto da atitude dos poetas do início do século XX como dissemos anteriormente. Uma geração de simbolistas mais para românticos e ainda influenciada por um Parnasianismo menos rígido na forma e mais voltado para os temas amorosos.
Como vimos, Amo-te Muito é de forma popular, muito usada no Romantismo, por influência medieval, quando a "cantiga" associava-se intimamente à música, pois era escrita para ser cantada e instrumentada.
Assim, o poema em estudo não é uma simples armação de construção ao acaso. Escrito afim de ser musicado para melhor traduzir um estado de alma e fazer a confissão amorosa, nas noites de luar, cantando ao pé da janela da amada, objeto da confissão, foi premeditada a escolha formal, a que mais se adaptava a essa contingência.
Contudo, independente do objetivo específico de constituir-se em modinha, o poema, visto no nível literário, nada perde pela a forma popular paralelística em que é produzido. Livre da melodia, apenas tido pelos leitor, nota-se o seu próprio tom e um rítmo interior expressivo.
Amo - te Muito, pelo tom confessional de que se reveste, pela emoção que o anima é ainda por ser uma modinha, é como uma parte do próprio poeta a se projetar e a perpetuar o seu criador.
BIBLIOGRAFIA:
1 - Moisés, Massaud. O Simbolismo. Vol IV de A Literatura Brasileira. Cultrix. São Paulo.
2 - Sáfady, Naief. Folhas Caidas. A Crítica e a Poesia. Faculdade de Filosofia de Assis, São Paulo, 1960.
3 - Lotman Iuri, A Estrutura do Texto Artístico. Edit. Estampa, Lisboa, 1978.
4 - Ingarden, Roman. A Obra Literária. Fundação Calouste Gu’bekian. 2ª Edição, Lisboa, 1965.
5 - Ramos, Maria Luiza, Fenomen
ologia da Obra Literária. Forense Universitária. Rio de Janeiro, 1974.
6 - Reis, Carlos, Técnicas de Análise Textual. Almedina, Coimbra, 1976
CONCLUSÃO
Aqui se encontra a vida e obra do último Bardo.
Na tentativa de estudar quem foi João Chaves, a intenção maior foi mostrar a importância da sua presença na história de Montes Claros.
Falar de João Chaves, estudar sua obra, não é uma tarefa fácil, pois o artista, podemos vê-lo, ouví-lo, conhecer o seu trabalho, admirá-lo, mas jamais tocar a sua alma.
João Chaves teve uma atuação marcante na vida cultural e artística de Montes Claros. Cultuava a arte da oratória, a arte de compor, musicar e executar com maestria vários instrumentos de uma orquestra, destacando-se na flauta transversa onde, extravasava toda a sua sensibilidade, expressando experiências e sentimentos comuns a todos nós.
João Chaves foi um momento gratificante na vida de Montes Claros. Momento este que, eternizou-se nos seus autos, usas poesias e músicas.
Despertou nos jovens da sua época, o gosto pela música e poesia, pelas obras que compôs como autor de modinhas e belos versos que se incluem no patrimônio cultural de nossa cidade.
Como um desafio João Chaves nos fala :
"Ficarei um dia surpreso se do alto dos nossos Montes Claros não encontrares o eco do meu canto e olharei com espanto a quem não sentiu o calor da minha poesia..
Tornei-me o bardo de todas as serenatas e não desapareceria jamais de ti, pois amei-te muito.
Não sentirei o limite da minha voz pois ela se estende onde ecoar os acordes da minha alma". 23
Este trabalho proporciona o equivalente a mapas topográficos da vida do poeta, músico, teatrólogo, jurista e político, com "close-ups" de situações por ele vividas a muitos anos atrás. Esses mapas devem ser considerados como amostras, como uma bússola, uma vez que o assunto, com certeza não se esgotou.
O trabalho se encontra em aberto a aqueles conhecedores da vida e obra de João Chaves que queiram enriquecê-lo, compartilhando com todos os conhecimento de algum momento ou fato vivenciado ou não com o artista.
BIBLIOGRAFIA
GAUTO, Raquel Crusoé Loures de Macedo Meira e A Vida De João Chaves - Conservatório Estadual de Música "Lorenzo Fernândez". Montes Claros: 1985.
- A monografia encontra-se com a própria autora.
- O livro encontra-se com familiares de João Chaves..
ANEXOS
Anexo I - Depoimentos......................................................................................23
Anexo II - Obra Musical de João Chaves ..........................................................60
Anexo III - Poesias - João Chaves....................................................................114
Anexo IV - Fotografias......................................................................................137
Anexo V - Documentos.....................................................................................151
Anexo VI - Recortes de Jornais........................................................................155
Anexo VII - Outros...........................................................................................197
ANEXO l
DEPOIMENTOS
Lista de depoimentos :
Chaves, Risoleta. Montes Claros.s.d....................................................................... |
24 |
Chaves, Maria de Lourdes. Montes Claros.16/04/1985........................................... |
25 |
Braga, Athos. Montes Claros.s.d.............................................................................. |
27 |
Paula, Dr. Hermes de.Montes Claros.s.d.................................................................. |
30 |
Chaves, Maria de Castro Macedo.Montes Claros.s.d............................................. |
32 |
Mota, Carlos Gomes da.Montes Claros.19/05/1977................................................. |
33 |
Paula, Luís de.Montes Claros.s.d............................................................................. |
34 |
Canela , Cândido Simões. Montes Claros.s.d.......................................................... |
38 |
Tupynambá, Felicidade Perpétua. Montes Claros.12/04/1985................................ |
40 |
Prates, Geraldo. Montes Claros.11/04/1985........................................................... |
41 |
Paula , João de. Montes Claros.10/04/1985............................................................ |
43 |
Maurício, João Valle. Montes Claros.11/04/1985................................................... |
45 |
Mourão, José Nunes. Montes Claros.05/05/1984................................................... |
50 |
Oliveira, Lígia de Figueiredo Chaves e. Montes Claros.s.d.................................... |
51 |
Câmara Maria das Dores. Montes Claros.11/04/1985.............................................. |
53 |
Silveira, Olyntho da. Montes Claros.16/04/1985..................................................... |
54 |
Meira, Robson Crusoé Loures de Macedo. Montes Claros.s.d................................. |
56 |
Pires, Simeão Ribeiro. Montes Claros.04/1985....................................................... |
58 |
Eu me lembro meu pai de um episódio que marcou profundamente a minha vida do qual você e eu fomos os felizes protagonistas.
Esse fato histórico teve o seu desenrolar, lá pelos anos de 1970. Naquela época, eu morava ainda em Montes Claros, mais precisamente no Bairro dos Funcionários.
Uma noite, você sentiu uma grande vontade de me ouvir tocar piano e pediu à sua Mercês para telefonar para mim, pedindo que tocasse para você. Eu, sentindo uma grande frustração, respondi que isso seria impossível, pois você estava acamado e não poderia ir até à minha casa. Você no entanto, encontrou logo a solução. "Ela coloca o fone bem pertinho do teclado e eu fico de cá ouvindo". Imediatamente, assim o fiz :
Toquei todas aquelas músicas que você gostava, especialmente as suas próprias composições. Naquele momento, meu pai, houve um terno e amoroso colóquio musical que foi vivido só por nós dois! Fiquei sabendo mais tarde que você ficou muito emocionado e feliz !
Naquele dia, meu pai, você me agradeceu.
Hoje, porém, eu agradeço a Deus por ter podido lhe proporcionar aqueles momentos de felicidade. E agradeço a você também, meu pai por me ter transmitido um bom quinhão da sua exuberante musicalidade ! Aquela foi a última vez que você me ouviu tocar . . . Poucos dias depois você foi chamado para os braços do Pai Eterno ! . . .
Na certidão de casamento de João Chaves, pela idade que consta, teria nascido em 1885, na certidão de nascimento consta que nasceu em 1887. O registro de nascimento foi declarado por ele mesmo depois do casamento. Ele afirmava ter nascido em 1887. Contava que fizeram os seu registro em 1885 porque ele tinha que votar.
O centenário está sendo comemorado de acordo com a certidão de casamento.
João Chaves foi para Belo Horizonte, quando rapazinho, morar na casa de seu padrinho, o Dep. Camilo Prates, com a finalidade de estudar. Quando lá chegou, a esposa de seu padrinho mandava-lhe efetuar os serviços de rua, não providenciando a sua matrícula em nenhuma escola local.
Mais tarde morou em Montes Claros, em Diamantina e em Rezende no Estado do Rio de Janeiro.
Era casado com Maria das Mercês Figueiredo Chaves, que era bisneta do Padre José Vitório de Souza, que foi assassinado por uma bala de ouro em São José do Gorutuba.
João Chaves residiu então em Brasília de Minas e depois em Bocaiúva, exercendo a advocacia até 1933.
Em Montes Claros, foi Professor particular de música. Lecionando inclusive para Dulce Sarmento.
TEMPERAMENTO: era uma pessoa inquieta, muito trabalhadora, possuía um grande senso de responsabilidade.
Gostava muito de ler, principalmente os livros de Direito, deixando pilhas em cima da cama, dormindo com eles, e às vezes muito tarde até.
No exercício da profissão de advogado, quando ele tomava uma causa, se entregava de corpo e alma, com muito entusiasmo. Acho que grande parte de seu sucesso se deve a isto.
Era muito emotivo, mas autoritário. Era um homem muito firme em suas atitudes, impunha respeito.
Sua honestidade era de mais alto grau.
EM RELAÇÃO À SUA FAMÍLIA:
Conversava pouco com os familiares, mas socialmente ele se dava às pessoas. Era uma pessoa que tinha muita vitalidade, otimismo, e alegria de viver.
Era uma pessoa desprendida dos bens materiais. Gostava sim de aproveitar das alegrias que o dinheiro pudesse proporcionar.
Após os 70 anos de idade, encontrei-o dizendo a um amigo que a velhice era muito triste e que já não achava graça em nada.
Nos traços de sua personalidade, ou como filha, admirava sua honestidade e sua capacidade de trabalho.
Amava muito os filhos e tinha verdadeira loucura com os netos.
Montes Claros, 16 de abril de 1985
Maria de Lourdes Chaves (Lola)
JOÃO CHAVES
(Pequeno estudo bio-bibliográfico)
João Chaves, advogado, jornalista, poeta e músico, nasceu em Montes Claros, a 22 de maio de 1885 e faleceu na mesma cidade em 11 de maio de 1970. Era filho do Prof. João Antônio Gonçalves Chaves e dona Júlia Prates e Chaves.
Fez o curso primário em sua terra natal, e parte do curso normal, que não pôde concluir devido ao fechamento da antiga Escola Normal de Montes Claros, onde estudava.
Como jornalista, colaborou permanentemente em todos os jornais que então se publicava em Montes Claros, e fundou, nesta cidade, um semanário "A Palavra", de vida efêmera, ao qual publicou, além de crônicas e artigos de fundo, suas principais produções poéticas.
Fundou ainda, anos depois, na cidade de Bocaiúva, para onde transferira sua residência, outro jornal " A Defesa", que também registra várias de suas produções.
Àquela época, e até 1931, quando foi regulamentada a profissão de advogado, a mesma era inteiramente livre e qualquer cidadão, ainda que não formado em direito.
Exerceu-a, pois, o jornalista e poeta João Chaves, por largos anos, não só aqui como em Curvelo, Lassance, Bocaiúva e outras cidades, revelando-se profundo conhecedor do direito, notadamente do direito penal, ramo em que se especializou e onde produziu defesas magistrais em que pôde demonstrar não só grande cultura jurídica, como ainda, o brilho de sua inteligência privilegiada. Regulamentada a profissão, e não podendo mais exercê-la pessoalmente, passou a trabalhar com vários advogados, como o Dr. Tardieu Pereira e a Dra. Maria de Lourdes Pimenta.
João Chaves destaca-se, sobretudo, como poeta, músico e compositor.
Ainda hoje são lembradas e cantadas em serestas e reuniões familiares, várias "modinhas" de sua lavra, por ele mesmo musicadas, como "Amo-te muito", "Eterna Lembrança", "Volta, Maria", "O Bardo", e outros.
A poesia "O Bardo" encerra um episódio emocionante e sentimental, que Hermes de Paula registra, em seu magnífico "Caderno de Modinhas" assim ocorrido:
Um dos grandes companheiros de boêmio de João Chaves era o telegrafista Manoel da Silva Reis, cujo falecimento ocorreu em julho de 1908. Profundamente chocado por este acontecimento, João Chaves escreveu em sua homenagem essa poesia, que foi cantada por ele e seu grupo de seresteiros, à beira do túmulo de seu companheiro, no sétimo dia do falecimento deste.
Há outro episódio na vida de João Chaves, altamente revelador de sua extrema sensibilidade.
Existiu, por muitos anos, na Praça Dr. Chaves, em frente à antiga residência do deputado Camilo Prates e onde foi depois redação da "Gazeta do Norte" e, mais tarde, residência do Sr. José Barbosa Neto, uma palmeira, que era o enlevo de todos quantos passavam por aquele local. Em 1848, já velha e apodrecida, esta árvore ameaçava cair sobre essa residência, levando o Sr Barbosa Neto a solicitar ao então Prefeito Municipal, que a mandasse derrubar, o que foi feito em fevereiro desse ano.
Extravasando todo o seu pesar pela derrubada dessa árvore, João Chaves dedicou-lhe uma poesia. "Palmeira Antiga", que a "Gazeta do Norte" publicou, e que foi reproduzida por Nelson Viana em seu livro "Efemérides Montes Clarenses", pág.104.
Muitas das produções poético-musicais de João Chaves estão registradas nos livros "Caderno de Modinhas", de Hermes de Paula, e "As Mais Belas Modinhas", de Milene Antonieta Coutinho Maurício. E a família do peta, em justa e merecida homenagem, acaba de editar o livro de sua autoria "Risos e Lágrimas", consagrando, definitivamente, o nome de seu autor.
Athos Braga
Em 1904 deu início em Montes Claros de uma revolução nos costumes dos jovens. È que para aqui vieram os padres da Congregação Premonstratense, da Bélgica; os padres brancos, como eram chamados, porque vestiam batinas claras. Apóstolos na extensão total do termo - educadores, tolerantes, braços abertos para todos.
A casa dos padres brancos tornou-se o ponto de reunião dos rapazes da cidade, onde se aprendiam história, literatura, francês, música, poesia, teatro e jornalismo.
Padre Bento, Padre Carlos e Padre Maurício eram os mais afeiçoados aos jovens.
Criaram o Clube São Lourenço, teatro, que teve intensa atividade; em 1906 fizeram 30 apresentações mais duas por mês, em uma cidade de 5.000 habitantes.
Fundaram um jornal - A Verdade
Deram início a prática do futebol. Incentivaram os folguedos de Carnaval.
Era um ambiente extraordinariamente agradável a casa paroquial. Os rapazes antes boêmios e motivados, encontram um local sadio de encontro e cultura.
Ali, ao anoitecer, se reuniam João Chaves, Amerino França, Pedro Mendonça, José Maria Fernandes, Armenegildo Chaves, Milton Prates, Gomes Faria, Augustino Guimarães, Hermes Fris, Gentil Sarmento, Tonico Mendonça, etc.
Nesse ambiente, o jovem João Chaves sofreu uma influência profunda, compunha música, fazia poesias, escrevia para o jornal, para o teatro, cantava . . .
Nessa ocasião é que ele produziu suas melhores composições e as modinhas românticas, tão em moda na época e agora como nostalgia aparecendo "Amo - te muito, o Bardo, Eterna Lembrança, Volta Maria, etc; todas com letra e música de João Chaves.
Compôs numerosas músicas sacras, ainda hoje cantadas em nossas igrejas. Inúmeras cançonetas infantis, artigos em jornais, muita poesia.
Foi um excelente advogado e político até 1919, quando declarou publicamente que não mais faria parte da política local.
Todos os rapazes que viviam em Montes Claros na 1ª década do século aproveitaram da presença dos padres brancos, mas João Chaves, mercê de sua inteligência, recebia os maiores benefícios
Dr. Hermes de Paula
Conheci o Sr. João Chaves, aos setenta anos de idade, mais ou menos, (ele "desconversava" quando se falava de idade).
Era um cidadão íntegro, exigente e sério. Homem de pouca conversa, mas gostava de ser visitado pelos amigos, os quais eram recebidos no quarto, onde ele ficava todo o dia, só saindo para as refeições. E por falar em refeições, ele tinha hábitos alimentares interessantes para uma pessoa de sua idade : gostava de comer bem ( comida condimentada e gordurosa) e "fora de hora". Era comum a gente chegar em sua casa às dez horas da noite e encontrá-lo saboreando um delicioso lombo ou uma fumegante macarronada, ou um gostoso frango assado.
Outro traço marcante de sua personalidade era o amor pela musica e poesia. Ficava horas a cantarolar com a sua voz já abatida pela debilidade dos anos, as apaixonadas poesias de sua autoria.
Como advogado, não houve nenhum até hoje que a superasse no conhecimento do direito que aprendeu sozinho, à custa do próprio esforço. Foi mestre incansável para inúmeros advogados de nossa cidade, os quais podem confirmar esta minha afirmativa.
Foi amoroso, estava sempre solidário com os filhos que lhe prestaram obediência e respeito até o último instante.
Deixou em todos uma grande saudade e o exemplo de coragem e do amor ao trabalho.
Guardo em mim uma grande admiração e respeito por ele.
Maria de Castro Macedo Chaves
Conheci João Chaves como profissional de advocacia, apesar de não ser ele diplomado por qualquer faculdade.
Estudou Direito na escola da vida, amais eficiente de todas para quem tem vontade de aprender e dispõe de acuidade intelectual.
João Chaves era dotada de inteligência fulgurante, quase excepcional. O prestígio de seu nome como advogado não tinha fronteiras em todo o Norte de Minas.
Relacionar todos os episódios demonstrativos de sua alentada cultura jurídica, ocorridas em todas as Comarcas pois atuou como advogado, seria difícil e até impossível nesta oportunidade, carente do tempo.
Dele entretanto, resumindo, afirma com inteiro conhecimento de causa e dentro do mais puro sentimento de justiça, o seguinte que reputo suficiente à definição de sua extraordinária personalidade . - jamais atuou no foro de Montes Claros qualquer profissional de advocacia que a ela pudesse embrear-se como conhecedor de Direito e portador de senso jurídica.
Espero que os meus ilustres colegas atualmente militantes no foro local receber com a devida compreensão esta manifestação, absolutamente fiel à realidade por mim bastante conhecida e inteiramente sincera.
Montes Claros, 19 de Maio de 1977.
Carlos Gomes da Mota
DISCURSO PROFERIDO PELO SR. LUIS DE PAULA ,NO LANÇAMENTO DO LIVRO:
"RISOS E LÁGRIMAS
Academia de Letras presta hoje merecida homenagem a João Chaves, ao ensejo do lançamento de seu livro de poemas, RISOS E LÁGRIMAS, editado por sua família.
Todos nós conhecemos João Chaves. Foi um dos mais notáveis intelectuais de Montes Claros, de todos os tempos. E um dos Montesclarenses mais admirados e mais queridos pela gente de sua terra. Não por força de fortuna material, que não possuía, nem pelo exercício de altos cargos ou posições, que jamais quis ocupar. Mas porque a Providência lhe concedera invulgares qualidades humanas, dotes naturais raros, entre os quais o de ser inspirado poeta e musicista.
Dele disse o jornalista Newton Prates, na apresentação do livro RISOS E LÁGRIMAS :
"Foi intérprete de notável valor, que sabia tocar como mestre todos os instrumentos de uma banda de música, tornando-se depois um dos melhores flautistas de seu tempo, compositor de páginas que nunca serão esquecidas, poeta de reconhecido merecimento, jornalista combativo e de mérito, cronista leve, orador vibrante".
É este o testemunho de Newton Prates, seu conterrâneo e amigo desde a infância.
Profissionalmente João Chaves era advogado. Como Carlos Catão Prates,
Honor Sarmento, Camilo Prates, Antônio Augusto Spyer e outros brilhantes advogados de seu tempo, ou que o precederam no foro local. João Chaves não era formado. Possuía apenas o diploma de nossa antiga escola Normal. Não usava o anel de rubi, mas era doutor e mestre da ciência do Direito, admirado, respeitado e ouvido por seus pares, e igualmente um conhecedor profundo da ciência do comportamento humano. Sua vitoriosa carreira jurídica granjeou-lhe merecido renome. Nos últimos anos de sua vida profissional, associou-se aos filhos, também advogados, Dr. Sidney Chaves e Dr. Henrique Chaves e trabalhou na profissão que tanto amava e tanto ilustrou até os últimos dias de sua vida.
Como bom e precavido advogado, logo na abertura de seu livro, antes mesmo do prefácio, faz esta advertência :
"Preciso esclarecer, a fim de evitar equívocos, que todos os meus versos que exprimem paixão amorosa e constantes neste livro, foram
por mim escritos há muitos anos, quando era ainda solteiro".
È que João Chaves era enamorado da vida e em sua mocidade amou intensamente, como se pode sentir em seus poemas. E teve a ventura de casar-se com aquela de quem mais gostou, com a mais prendada, a mais simpática, a mais meiga, D. Mercês Figueiredo Chaves, que se tornou a sua companheira de uma vida inteira e que o sobrevive, tendo lhe dado 7 filhos, três dos quais advogados como ele.
O livro RISOS E LAGRIMAS e, todo ele , uma seqüência de inspiradas poesias, que vão do epigrama leve ao cântico de igreja. Pois João Chaves era por demais versátil e rico de criatividade e tinha, ainda, o dom de compor a um só tempo letra e musica. Como fez em ETERNA LEMBRANÇA, AMO-TE MUITO, SEPARAÇÃO
DE NOIVOS, O PRÍNCIPE E A CAMPONESA, COROAÇÃO DE MARIA, HINO A NOSSA SENHORA e tantas e tantas outras excelentes criações, inclusive O BARDO, que compôs a pedido e em memória de seu amigo seresteiro Silva Reis.
Algumas de suas composições tornaram-se patrimônio artístico nacional. AMO-TE MUITO e uma delas, que hoje leva o nome de João Chaves e de Montes Claros a todos os quadrantes do Brasil. AMO - TE muito e estrela de primeira grandeza na constelação do Cancioneiro Nacional. E passou a ser também expressão de sentimento coletivo, tanto na dor quanto na alegria. E fato ainda recente, ocorrido quando faleceu tragicamente o ex-presidente Kubitscheck. Estava o corpo na Catedral de Brasília, recebendo as ultimas homenagens da Igreja e do povo, ao som de cânticos litúrgicos, quando uma voz isolada começa de manso, quase murmurando, a cantar o AMO - TE MUITO. Pouco a pouco, foram-se calando todas as outras vozes para que o poema sonoro de João Chaves, acompanhado, depois, pelo coro de todos os presentes, pudesse expressar toda a dolorosa emoção daquele momento.
AMO - TE MUITO e canção de adeus, de reencontro, e modinha de seresta, e cantiga de ninar, e cântico festivo de solenidades nupciais.
Meia dúzia de canções destacam-se em primeiro plano na musica romântica popular brasileira. AMO - TE MUITO e O BARDO, de João Chaves. GONDOLEIRO DO AMOR e QUEM SABE ?, de Castro Alves e Carlos Gomes. E A TI, FLOR DO CÉU, do Magistrado Teodomiro Alves Pereira, com musica do mestre de musica Modesto Augusto Ferreira. E ACORDA MINHA BELEZA, do poeta luso - brasileiro Gonçalves Crespo..
Vejam em que nobre companhia encontra - se o nosso querido João Chaves. Castro Alves, Carlos Gomes, Gonçalves Crespo. Companhia latamente honrosa, sem duvida, não só para João Chaves, mas também para eles. Porque entre todas, a canção mais bonita e AMO - TE MUITO de João Chaves. Essa mesma que hoje ouvimos na voz de sua filha Lola Chaves.
João Chaves vivera eternamente em sua poesia e em suas musicas. Ele cantou
e glorificou o amor com nobreza, com lirismo, com ardorosa paixão. E o que fez no mais alto nível da arte e da beleza. Homens como João Chaves não morrem. Nos outros passaremos. Mas ele ha de viver, na voz dos que amam, na voz do povo, enquanto houver amor sobre a terra.
Luis de Paula
João Chaves já foi meu ídolo. Sempre eu ouvi falar dele, de suas poesias e suas músicas.
Ainda jovem de 15 anos já o admirava, vez que meus pais e meus avós falavam dele com grande admiração. Foi aí que se criou na minha mente de jovem o seu retrato, e, consequentemente, transformado em ídolo. Até então nunca tinha visto a pessoa de João Chaves.
Ele entretanto, já era pessoa da admiração de minha família, pois foi pessoa convidada para o casamento dos seus pais em 1903.
Contava minha avó que João Chaves era querido de todas as moças de Montes Claros e de todo o seu povo; e, a propósito narrou-se um fato deveras extraordinário ( após confirmado por ele), que é o seguinte : O autor de " Amo-te muito" ( João Chaves ) tinha por companheiro outro gênio da música e da poesia, um moço de nome Silva reis.
E continua minha avó :
"Quando foi no amanhecer do dia do casamento da minha filha Luísa, João Chaves e Silva Reis conversavam no portão, sem que eu percebesse o teor da conversa. Naquele momento eu ouvi cinco tiros de revólver, partidos de Silva reis, contra João Chaves. Até hoje não sei qual tenha sido a razão" .
O fato narrado por minha avó e as razões daquele incidente, o próprio João Chaves me contou ;
"Eu dizia para Silva Reis quando falava-mos de amor e de namoradas:
- Olha, Silva Reis, ou li uma história de amor em que um moço era loucamente apaixonado por uma jovem, ela entretanto impôs uma condição para corresponder ao seu amor : matar a sua própria mãe e trazer-lhe o coração. E assim o fez o moço apaixonado, trazendo em vertiginosa carreira, o coração da própria mãe espetado na ponta de um punhal. Em meio a caminhada o moço tropeça e cai no chão. O coração de sua mãe cai bem longe, mas de dentro dele ouviram-se as seguintes palavras : "Machucaste-te meu filho". . .
Após a descrição de João Chaves, Silva Reis, profundamente emocionado diz:
"João Chaves : conta isso em versos e nós dois cantaremos este episódio ao violão’.
E João Chaves de improviso, contou o episódio, em lindos versos.
E, os dois cantaram. Ao terminar Silva Reis disse a João Chaves de revólver em punho :"João, um homem como você não deve viver neste mundo. Você deve ir cantar para os anjos."
E nesse instante disparara cinco tiros em João Chaves. Nenhum projétil atingiu o seu corpo e os dois poetas, músicos e amigos, subiram a rua Maria Sete (hoje Presidente Vargas), cantando em dueto a linda modinha "Elvira, escute" .
Após muitos anos João Chaves esteve no meu pensamento. Eu o via quase sempre sem o conhecê-lo. Um dia, eu já nos meus 22 anos, às quase 7 horas da noite, encontrava-me no bar do Joaquim da Pretinha. Àquele instante surge, gesticulando com os braços e conversando com alguém, um homem muito simpático e atraente. Vi logo, buscando subsídios do passado, que aquele homem mas era desconhecido. Para confirmar perguntei ao Joaquim da Pretinha :
- Aquele é João Chaves?
" E Joaquim respondeu :
- Em carne e osso.
Vi então que os ídolos se criam na mente dos jovens e não é necessário conviver com eles para tê-los sempre na mente e no coração.
Cândido Simões Canela
- João Chaves deixou bom exemplo e grandes realizações que o permificam entre nós. Nasceu e viveu para servir e praticar o bem, não morreu para sempre, porque deixa impregnado sua criação e sua consciência de muitos ele consideram, a imensa para sempre, porque deixa impregnado no coração e na consciência de quantos um ele consideram, a imensa de sua poesia, da sua música de seu trabalho.
Quem teve a oportunidade de conhecer João Chaves, pode notar sua conduta equilibrada, cordial e ponderada, escondida na sua fisionomia séria e fechada. Homem totalmente voltado para o trabalho, sempre se dedicou com carinho a vida pública.
Na profissão de advocacia, embora não diplomado, deixou a marca de sua inteligência, de sua capacidade profissional. A modéstia e a moderação foram duas virtudes que nortearam sua vida pública e familiar. Era um daqueles homens que se destacaram entre os demais, não pela preocupação de brilhar, mas pelo desejo de servir a sua terra.
Vê-lo no seu escritório, sua casa ou seu passeio cotidiano pelas ruas, era encontrar o homem simples, autêntico, sem as exteriorizações que as vezes iludem.
Este sim deixou o exemplo que tributamos ao grande filho de Montes Claros, João Chaves, ao ensejo do Centenário de seu nascimento.
Montes Claros, 12 de abril de 1985
Felicidade Perpétua Tupynambá
Conheci João Chaves há mais de 50 anos. No período da revolução de 30 já me relacionava com ele.
João Chaves não achava dificuldade em nada que fazia, a não ser questões ligadas à sua profissão. Era sempre calmo, ponderado. Certa vez, devido a um incidente na audiência no fórum da comarca, tornou-se inimigo de um advogado aqui militante. Pouco tempo depois, quando subia a rua Dr. Veloso, no cruzamento com a rua D. Pedro II, sentiu-se mal justamente no momento em que por ali passava o referido advogado com quem tivera altercação. Este notando que havia algo de anormal, socorreu João Chaves levando-o para casa, logo em seguida, dito advogado me procurou para narrar o acontecimento. Fui imediatamente à casa de João Chaves e ele já estava sendo atendido pelo médico; dias depois João Chaves já refeito, procurou o advogado, a quem agradeceu seu gesto, e , a partir deste momento tornaram-se grandes amigos.
Boêmio, João Chaves apreciava passar o tempo em companhia de amigos. Era sempre disposto a atender os amigos, e tinha verdadeira paixão pelos filhos.
Poeta de rara sensibilidade, seus versos sempre cercados de alegria e tristeza, tanto que o seu livro, recentemente publicado, tem o título "RISOS E LÁGRIMAS" . Escreveu vários poemas narrando fatos às vezes criados por ele mesmo, e são famosos os hinos religiosos que compôs, não só a letra mas também a música, pois era um músico de fina sensibilidade. São bastante conhecidos os hinos que compõe para as coroações de Nossa Senhora nos mês de maio, muitos deles cantados com sucesso em quase todas as cidades do estado.
Advogado dos mais brilhantes, defendia uma causa com verdadeira paixão. Não era formado em Direito, mas era o conselheiro de grande parte dos advogados desta cidade. Cabe aqui mais um esclarecimento : há vários anos atrás, quando era permitido o registro de leigos como advogados, João Chaves recusou o seu registro alegando que não era justo receber diploma de advogado se não tinha feito curso para isso, sendo certo que atuavam na comarca alguns Advogados Provisionados, nome dado ao licenciado.
Ler e trabalhar era o seu lema. Embora tendo escritório instalado, era em casa que ele mais fazia os trabalhos de advocacia que lhe eram confiados.
Filho de João Antônio Gonçalves Chaves e Júlia Prates e Chaves, teve seu casamento com Mercês de Figueiredo Chaves os seguintes filhos : Ulpiano, Maria Aparecida, Maria do Rosário, Maria da Conceição, José Sidney, Henrique Chaves, Raimundo Chaves, Maria de Lourdes, Lígia e Risoleta.
Montes Claros, 11 de abril de 1985.
Geraldo Prates
João Chaves - Poeta - jornalista - compositor - instrumentista - advogado
Lembro-me de João Chaves quando ele atingia a sua maturidade, lá pelos idos de 1915.
A morte do Silva Reis(1908) e a ausência do José Maria Fernandes resultara em um golpe fatal na vida boêmia a que, até então, vinha levando. Na convivência desses dois azes da Música e da Poesia ele. João Chaves, já havia produzido o que, realmente iria ficar. . . e que foi "Amo-te muito". Era tempo de se cuidar da vida!. . .
Surge, assim, o J. Chaves jornalista. De parceria com Amerino França fundou a "A PALAVRA", uma experiência.
Em 1914 funda o Jornal "O Sal", já com maior tiragem, boa prosa e muita poesia. Nesse jornal, em 1915, João Chaves lançou um concurso inédito até então, nestas paragens e que resultou em grande sucesso social e também jornalístico: " A MAIS BELA MONTESCLARENSE".
Conclui-me de Jubilo com o seu resultado porque a escolha recaíra na professora Cota Narciso.(Maria das Dôres Narciso), minha mestra no Grupo Escolar Gonçalves Chaves. Essa distinta moça foi a esposa do dentista Regino Caldeira.
Por esse tempo o João Chaves contraiu noivado com Firminha Teixeira de tradicional família Montesclarense, mas as núpcias são aconteceram e ele, João Chaves, somente veio a contrair matrimônio muitos anos depois, quando residia na vizinha cidade de Bocaiúva-MG.
Em 1918 ocorreu em M. Claros, um fato que se tornou histórico e que veio exercer influência decisiva no destino de João Chaves.
Foi o seguinte:
- Havia em Moc, dois partidos políticos, o partido de "BAIXO", chefiado pelo deputado Camilo Prates, tio de João Chaves, e o partido de . . ."CIMA", chefiado pelo Dr. João Alves. Houve eleição municipal. O vitorioso foi o partido de "CIMA" .
Houve regozijo, cerveja, banda de música, passeata e queima de "fogos". A coisa ia muito bem, mas somente até o momento em que alguém achou que a passeata deveria visitar os derrotados!. . . e foram!!
Houve insultos, palavrões, gritos, estampidos vários e o resultado imediato foram : 5 mortos. Outro resultado : O Deputado Camilo Prates transferiu sua residência em caráter definitivo para B. Horizonte, acompanhado de toda a família, muitos parentes e amigos.
João Chaves não acompanhou o tio nessa mudança, mas elegeu Bocaiúva como sua cidade natal e por lá residiu durante um período superior a vinte anos.
Em Bocaiúva ele se casou e exerceu a profissão de advogado.
João Chaves publicou um livro de versos sob o título de ‘RISOS E LÁGRIMAS" - Seu estro lembra Castro Alves e Tobias Barreto.
Montes Claros, 10 de abril de 1985
João de Paula
Sinto-me honrado em prestar este depoimento sobre João Chaves. Estaremos aqui falando portanto, do passado e do presente.
João Chaves estará comemorando no mês de maio o centenário de seu nascimento, disse que estará, mas é a alma romântica de Montes Claros que estará comemorando, muito justamente, o aniversário deste grande poeta e homem de letras que nasceu nesta terra.
Sou conterrâneo de João Chaves, verdade que muito mais moço, mas já bem vivido com 62 anos, e amante eterno da poesia e da musicalidade, por tanto muito cedo aprendi a admirar e a respeitar todos aqueles amantes da música, da poesia, e principalmente da música romântica e triste, toda prosa à alma do sertão.
Uma cidade torna-se grande e ganha notoriedade, em razão da grandeza, do valor da singularidade de seus filhos.
Posso dizer, sem nenhum favoritismo, sem nenhum propósito de agradar, que João Chaves foi a maior figura nascida na terra, que nós costumamos chamar "CORAÇÃO ROBUSTO DO NORTE DE MINAS". Toda terra tem seus filhos notáveis, seus filhos queridos, que marcam nas suas vidas pontos altos e significativos nos vários setores de atividades.
Ao procedermos estas comemorações do centenário de João Chaves, a própria cidade se veste de glória e se enche de ternura e orgulho, podemos mesmo dizer que na ocorrência das festividades do 22 de maio, dia do nascimento de João Chaves, Montes Claros estaria festejando a sua alma cantora e sensível.
João Chaves é um Montesclarense da mais tradicional estirpe, ligado por procedência direta a família Chaves, quase que fundadores desta cidade. Família numerosa muito dedicada, voltada com muito primor para as artes e com vultos que marcaram a sua glória.
João Chaves desde cedo já começava a escrever poesias, no seu livro Risos e Lágrimas, tem poesias que fez ainda criança, uma delas dedicada à sua irmã. Toda grandeza de João Chaves foi se afirmando justamente na forma romântica da chamada modinha, que é um chamamento de amor, muito apaixonado, que o seresteiro ou cantor de modinha, faz à sua amada que está adormecida.
Montes Claros cidade distante, uma ilha dentro do sertão, nesta época de 1800 à 1860, marcou, desde o seu princípio, quando aqui se implantou a Escola Normal, uma fase cultural e portanto passagem obrigatória da região. O velho Arraial das Formigas, Vila das Formigas e depois Vila dos Montes Claros. Mais tarde foi se firmando um quartel de cultura, uma cidade ilhada, como disse, dentro do sertão, e assim apareceram os sertanejos, cantores e poetas com ligação, principalmente com Diamantina e com a Vila do Príncipe do Serro Frio.
João Chaves era além de poeta, um estudioso, um autodidata, um jornalista e principalmente grande advogado, embora não tenha formado em faculdade.
Foi um advogado muito respeitado e foi mestre dos advogados que eram formados.
Ele tinha um irmão que era jornalista, muito famoso de Minas Gerais. Se chamava Monzeca, o nome verdadeiro era Hermenegildo. Este foi para Belo Horizonte e era redator primeiro do Estado de Minas, diretor da Imprensa Oficial e o articulador da primeira página do Minas Gerais, um dos mais notáveis. O nome de Monzeca é uma bandeira, até hoje, dentro do Jornal dos "Associados".
João Chaves era também grande orador, vibrante e que recitava suas próprias poesias. Dentro da lei sabia argumentar com defesas estupendas. Outra das qualidades era a musicalidade e a sua sensibilidade para música. Sabia tocar todos os instrumentos de uma banda, principalmente o mais bonito, mais romântico, a flauta. Era flautista famoso, por isso fazia poesias e as enchia de musicalidade.
Tinha gosto pelo saber e pela intelectualidade. Viveu durante algum tempo fora de Montes Claros, em algumas cidades como Bocaiúva, Diamantina, onde fez bons amigos, inclusive um grande, Silva Reis, para quem escreveu uma poesia "Adeus" ou "Despedida", que é conhecida como "Bardo" , é aquela que será cantada no cemitério ao completar 7 dias de morte de Silva Reis, grande companheiro de serenata. Dos seus companheiros um outro principal era Monzeca, grande compositor e poeta. Muitos outros que aqui conviveram com ele, tiveram maiores e melhores oportunidades com o nosso poeta. Cândido Canela, o seresteiro Augustinho Guimarães e muita gente de Montes Claros e Bocaiúva.
Eu convivi com ele embora fôssemos de correntes políticas contrárias. Família Alves Maurício tinha uma posição política e as Prates e Chaves outra. Quando voltei para Montes Claros, no final de 46 já formado em medicina, consegui manter um melhor relacionamento com todas estas famílias e fora dos embates e comícios políticos eu me relacionava bastante bem com todas essas pessoas de outros grupos, onde João Chaves era um elemento de destaque, sempre foi assim cheio de vontade, um temperamento furtivo e irrequieto e até, segundo os mais chegados, cheio de seus próprios sistemas de condução da sua vida, um pouco intransigente, mas ao mesmo tempo romântico.
Amante da noite, um homem capaz de passar a noite inteira a olhar a lua. Sempre nas suas poesias falava daqueles amores desesperados tendo como exemplo "Eterna Lembrança", onde ele vem dizer da grande paixão por uma determinada moça que estaria indiferente ao seu amor, onde canta: ". . .Quero ser o mais feliz dos entes, quero ser teu eternamente quero . . .". Hoje mais tarde nesta poesia desencantado na esperança de ser amado, ele diz assim quase que a chorar, de sua tristeza, ele se compara a uma folha de outono, que desceu nas águas e sepultou no caudal dos rios.
È bonito ser, é bom ser poeta, porque nós poderemos dizer na poesia como na de Cecília Meireles tudo que sentimos: " . . . Eu canto porque o instante existe e a minha alma está completa, não sou alegre nem sou triste, sou poeta . . ."
Poeta é aquele que como João Chaves vive a vida intensamente, mas sente ao mesmo tempo que a vida é efêmera. A vida é a felicidade que escapa para nunca mais voltar. Portanto é importante buscar ser feliz no momento, sentir a felicidade do momento, a grandeza do momento, lógico que a maioria dos momentos são felizes, mas nós devemos buscar a felicidade, e ao senti-la devemos bebe-la até a última gota, porque ela é efêmera.
Vinícius de Morais diz na sua grande produção, "Orféu do Carnaval", ". . .A felicidade é como uma pluma que o vento levando pelo ar, voa tão livre e tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar . . .",e diz mais: ". . . Tristeza não tem fim, felicidade sim. . .".
Portanto João Chaves, foi tudo isso, foi feliz cantando a grandeza de sua poesia, foi feliz depois de morto e continua sendo feliz por ser respeitado e querido por seus conterrâneos. A poesia de João Chaves que foi mais divulgada e conhecida é realmente uma majestade, "Amo-te muito" onde ele define assim como se querer bem a alguém. Ele já morreu bem velho, mas contam que foi um eterno apaixonado também pelas moças e teve muitas e muitas namoradas, parecem elas entender sua inquietude romântica e dizem mesmo que sendo assim cada vez mais conhecido para definir sua vida, ele teria feito um sorteio, como chamamos brogodó. Colocou o nome de várias namoradas em vários papéis dobrando dentro de um chapéu e pediu que sua irmã escolhesse um. No dito papel veio o nome de Mercês, e foi esta com quem se casou. Sua santa companheira e que o acompanhou sempre com muita bondade e muito amor e com muita tolerância, principalmente muita paciência, porque não é fácil viver ao lado de um poeta.
Ele amou a cidade de Montes Claros que ele próprio enalteceu, muitas vezes amou seus companheiros de noite, amou seus instrumentos flauta e bandolim. Como diz Jorge Amado :
" Ele foi um pastor da noite".
Uma característica muito importante era ser muito católico e muito cedo começou a fazer versos para as crianças cantarem coroando a Nossa Senhora.
Por tudo isso, nós chegamos à conclusão, sem querer prolongar mais, que esta comemoração do centenário de João Chaves é bom como acontecimento e é educativo, e também é bom para que a juventude sinta que a arte é eterna, ela tem suas variáveis que vai desde este romantismo choroso, triste, melancólico até a agitação vibrante de um Rock in Rio, tudo é música, tudo é encanto, tudo é vibração da alma.
Eu tenho assim a felicidade de dizer que dentro das minhas limitações culturais e poéticas, vejo na figura do João Chaves um grande marco, uma grande afirmativa de qualidades poéticas e creio que sua figura marcará para sempre a história da terra dos Montes Claros.
Montes Claros, 11 de abril de 1985
João Chaves foi dos mais notáveis intelectuais de Montes Claros, em todos os tempos: jurista, poeta sensível, seresteiro, trovador, advogado, tribuno ardoroso e vibrante.
Advogado, sem cursos acadêmicos, autodidata, portanto, revelou-se mestre da ciência jurídica.
Extasiava a assistência na defesa de suas teses perante o Tribunal do Júri. Os seus apartes eram de uma ironia sarcástica, capazes de provocar aplausos no auditório.
João Chaves era enfim um eterno enamorado da vida e dela partiu deixando inolvidável saudade. Deixou também um passado de glórias que o imortalizou.
Montes Claros, 05 de maio de 1984.
José Nunes Mourão
João Chaves em seu lar era uma pessoa muito exigente, não admitia gírias e não permitia que suas filhas usassem calça comprida, era uma pessoa diferente, principalmente com sua gente e seus costumes. Seu tom de voz era sempre baixo, não gostava de barulho. Trocava sempre a noite pelo dia. Passava a noite conversando com sua esposa, ou então ficava estudando, trabalhando. Seu quarto, era seu (quartel general), ali ele resolvia qualquer problema, recebia todo mundo, até mesmo o Vice-Presidente da República, Dr. José Maria de Alkimim, foi recebido por ele naquele quarto humilde e pequeno. Sua casa era uma verdadeira biblioteca.
Ele descansava e dormia na parte da manhã, a casa ficava em silêncio, até as crianças que freqüentavam a casa já sabiam deste costume dele e falavam baixinho e andavam nas pontas dos pés, para não fazer barulho. Era sempre de manhã, quando acordava, que ele tirava um tempo para sua oração. Disse sua filha que quando ela rezava, parecia entrar em "alfa", tamanha era sua concentração na oração.
Nos últimos anos da sua vida ele ficou um pouco trêmulo, não conseguindo mais escrever, quem fazia isto para ele era sua esposa, que se tornou sua secretária. Quando ele queria escrever alguma música, quem fazia para ele era sua filha Risoleta, que também entende de música, ele ditava para ela.
Suas refeições sempre só, não gostava de companhia durante as refeições. D. Mercês, sua esposa, forrava a metade da mesa e ali colocava seus remédios, duas laranjas descascadas ( ele chupava laranjas todos os dias); mas nunca descascou uma laranja em sua vida, sempre recebeu tudo nas mãos. gostava muito de manga e melancia, e dª Mercês servia-lhe sempre as frutas da sua preferência, cortadas em um pratinho.
Viveram casados 55 anos, uma vida sem problemas, sem discussões, pois Dª Mercês foi uma companheira prefeita, amiga, compreensiva, mansa de coração, e soube sempre admirá-lo tal como ele era. Foi paciente e o estimulou muito.
Gostava muito de chuva, sempre que chovia, ele começa a cantar.
Muito severo, mas tinha um grande e generoso coração. Dª Mercês chamava-o de "Joãozinho"; e falava que quem o via tão enérgico e duro, às vezes, pensaria que era um homem ruim, mas ela que o conhecia bem, sabia o quanto era bom e caridoso, a ponto de ceder sua comida para um pobre que pedia na sua porta.
Gostava que Dª Mercês jogasse no quintal (na porta da sala de jantar) comida, para os passarinhos virem comer.
Não entendia nada de cozinha, mas todas as noites encomendava a comida do dia seguinte e as descrevia nos mínimos detalhes, como se fosse um grande conhecedor de culinária. João Chaves nunca sequer entrou na cozinha de sua casa. É bom dizer que os únicos cômodos que ele costumava entrar, era a sala de visitas, seu quarto e a sala de jantar. Vivia a maior parte da sua vida no seu quarto, que era pequeno, onde Dª Mercês dormia numa cama de solteiro ao lado da sua cama. Ele tinha o hábito de chamá-la e quando ela chegava não tinha nada para falar. Tinha o prazer de tê-la por perto.
Era um devoto fervor de Nossa Senhora, para quem escreveu as belas páginas do seu livro. Era um homem de grande fé, católico, mas não freqüentava a Igreja, só ia a Igreja na Sexta Feira Santa, visitar o Senhor Morto.
Não assistiu aos casamentos de seus filhos, não gostava, dando sempre uma desculpa, ele ficava em casa esperando os noivos para cumprimentá-los.
João Chaves bebia, fumava e jogava, deixou todos estes vícios, no dia 21 de abril, fato que atribuía à alma de Tiradentes, pelo qual ele sempre rezou.
Nunca conheceu o mar, mas o descrevia muito bem, como se já o estivesse visto, podemos constatar isto nas suas poesias: Amo-te muito é uma delas.
Assim era João Chaves, personalidade marcante, caráter forte, honesto nas suas ações, simples na sua maneira de viver, deixou para seus filhos um grande exemplo de vida.Falar de João Chaves é difícil, vê-se o homem mas a alma é intocável, melhor e mais belo é ouvir e sentir a mensagem que nos deixou.
Silenciosamente, inspirado no amor, num prolongado instante de paixão pela poesia nos diz em desafio;
"Ficarei um dia surpreso se do alto dos nossos Montes Claros não encontrares o eco do meu canto e olharei com espanto a quem não sentir o calor da minha poesia.
Tornei-me o bardo de todas as serenatas, e não desapareceria jamais de ti, pois amei-te muito.
Não sentirei o limite da minha voz pois ela se estende onde ecoar os acordes da minha alma".
Montes Claros, 11 de Abril de 1.985
Maria das Dores Câmara
Quando menino, morava, praticamente, com o padre Augusto, então vigário de Brejo das Almas. E foi ele quem primeiro nos falou de João Chaves, seu parente que, jovem ainda, a seu convite, passava temporadas com ele naquele distrito de Montes Claros. E já gozava da fama de bom músico. Ignoro se ele revelara à sua família este fato, que ele próprio me confirmaria.
Aqui em Montes Claros, teve por companheiro de boêmia José Maria Fernandes, de quem fala em seu livro UM CASO ANTES DE NOVENTA, Antônio José Augusto Teixeira(Niquinho Teixeira), que o considerava o mais inteligente colega na antiga Escola Normal daqui. Posteriormente, após a chegada do primeiro telegrafista à cidade, Silva Reis completava-se a trinca de seresteiros mais famosos da terra fugueiros. Música como João Chaves, José Maria foi o autor da música SERENATA DE VIRGENS, com versos do grande poeta Mendes de Oliveira, residente na Capital. Música famosa pelo romantismo que encarnava, preferida por todos, apesar de ser de difícil execução, dividida em três partes. Aqui, quem a cantava com perfeição era Augustinho Guimarães e João Chaves, além do autor. Formado, José Maria fora nomeado professor de Escola Primária Estadual do distrito de Brejo das Almas, representado na Câmara Municipal de M. Claros por meu pai, Jacinto Alves da Silveira. Ali, numa das temporadas de João Chaves no distrito, ele e Zé Maria comandavam as serenatas. Ambos executavam nem só o violão como flauta e outros instrumentos musicais. Ambos estimulavam o padre Augusto para fundar uma banda de música no distrito, comprometendo-se a dirigi-la. Daí o surgimento da banda "Lyra do Brejo das Almas", fundada às custas do padre Augusto. José Maria se revezava com João Chaves na regência. João Chaves era o pistonista da banda. E que pistonista ! Era dono de um sopro inigualável. Zé Maria tocava bombardino.
Ao tempo, o alistamento eleitoral era feito aqui, vindo os eleitores a cavalo, em dois dias. A banda Lyra, já famosa, também vinha, e aqui duelava com a Euterpe, comilista e a Lyra, honoratista. Brejo das Almas fora o primeiro distrito de Montes Claros, nem só em renda, como eleitoralmente falando. Da banda Lyra saíram os três maestros : João Chaves, muito jovem, José Maria e Clemente Colares. Este negro retinto, era natural de Grão Mogol e o tabelião do distrito.
João Chaves, retornando definitivamente para cá, foi também pistonista na Euterpe e posteriormente, se transferiu par Bocaiúva, onde se casou e residiu por vários anos.
Transferindo-me para aqui, conheci meia intimamente João Chaves, já como famoso advogado, assistente da advogada Lourdes Pimenta, pois não era bacharel, mas um dos mais respeitados juristas da Região. Encontrávamos à noite, na Farmácia "São José, do Juca de Chiquico, quando, então, ele me falava da minha terra, do padre Augusto, do Zé Maria(meu professor na escola primária), e na banda Lyra.
Ao lançarmos aqui o livro BREJO DAS ALMAS, eu e a Yvonne fomos honrados com uma das melhores apreciações dela, escrita por João Chaves. Hoje, como presidente da Academia Montesclarense de Letras, a Yvonne foi parte da Comissão de preparativos das festas do Centenário de João Chaves.
Montes Claros, 16 de abril de 1985
Olyntho da Silveira
" O CANTAR ETERNO"
"A JOÃO CHAVES NO SEU 100º ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO"
" O poeta é imortal na arte que o edifica. A música".
Ninguém mais do que você, poderia afirmar em nossos dias, para a posteridade, o que pensamos a seu respeito, segundo a profética e brilhante oração, de Silva Reis, seu saudoso amigo e companheiro, em um daqueles encontros de cultores de poesia e da música ao seu tempo.
Um homem como você, João Chaves, não deve viver neste mundo. Você deve ir cantar para os anjos.
Disse bem o seu colega Reis; pois, felizes os que passam por esta vida material, abrindo as portas da inteligência aplicada, na transmissão de idéias sadias; que marcam a civilização de um povo, com os instrumentos de sua cultura; descortinando os méritos dos imortais, a servir de inspiração perpétua, na linguagem poética e musical; que nos sublima a alma, e nos leva ao que transmitiu de coração o poeta e músico "João Chaves".
Ao nos deixar saudoso, o espelho de uma vida cristã exemplar partiu para o além, conformado com os desígnios de Deus; confortado pela sua família, e outras pessoas que lhe foram gratas -Confiante ao ingresso ao Reino Celestial, onde sua alma, então como outro anjo do Senhor, canta, e nós ouvimos pela boca das criancinhas, os louvores de suas composições, neste e outros meses de Maio, das festividades inocentes, das Coroações simbólicas da Virgem Maria, rainha dos Anjos e Santos, que, em sua mística interior, produziu para as gerações futuras.
Você mereceu as nossas homenagens em todos os prismas de atividade
humana. Bom pai de família, soube educar os filhos - amou sua querida esposa, e a todos que o cercaram em busca da amizade e do saber. Grande conselheiro, auto jurista por excelência; que à classe da qual faz parte, como colega de seus filhos, advogados, prestou relevantes serviços em nossa justiça - professor emérito, especialmente em música, deu-nos outros maestros como a saudosa Dulce Sarmento - compôs para Silva Reis, o Bardo - e para nós outros, um variado repertório; que da vida, aos encontros festivos, não está apenas na região; mas, ultrapassa as fronteiras do nosso sertão.
Não foi sem razão, que deram seu nome à Seresta de Montes Claros, por indicação do historiador Dr. Hermes de Paula, também de saudosa memória; porque, aos 8 anos de idade, você já era poeta, escrevendo - "Minha Mãe".
Você incentivou o nosso teatro, fundou a "Palavra" de parceria com Amerino França; bem como, em 1914, sozinho, o "Sal", de maior tiragem em 1915, pelo qual realizou o 1º Concurso da mais bela montesclarense.
Como homem público, militou em nossa vida política, deixando-a de certo, para cuidar da nossa cultura.
Sou sempre grato aos que fazem o bem à coletividade; minhas relações com você, foram pequenas; porém sólidas, através dos seus filhos, aos quais estimo. Conhecendo a árvore boa, pelos frutos que dá, não poderia ficar alheio à tão justa e meritória homenagem.
Canta João Chaves! Canta; e toca sua venerada flauta, no Reino de Deus - que nós ouviremos, constantemente, pelos seresteiros que vão seguindo o seu caminho eterno.
Robson Crusoé Loures de Macedo Meira
NO CENTENÁRIO DE JOÃO CHAVES
"Oh! Bardo que não ouço mais cantar"
Extremamente justas são comemorações de seu centenário de nascimento (1855 - 1955).
João Chaves foi, sem nenhuma concessão de generosidade, um filho ilustre da gleba montesclarense.
A vivacidade da sua inteligência ocupou espaços marcantes em diversas áreas.
Como advogado provisionado, por uma natural inclinação do espírito, num saber de estudos auto didáticos, contínuos e intensos, foi marcante a sua atenção profissional.
Era contado dentre os melhores na abrangência numerosa de todos os formados pelas Faculdades de Direito.
Inúmeras foram as causas patrocinadas por ele no Foro de Montes Claros, Bocaiúva e várias cidades.
Espírito arejado, figurou em diversas épocas como integrante de escritórios advocatícios, com outros profissionais titulados, renomados, sempre trabalhando de "igual para igual".
João Chaves também ocupou outros espaços culturais. Foi jornalista combativo, patrocinando a publicação do jornal "O Sol", em que se revela como redator, diretor e contista leve e atraente.
O espaço político também por ele ocupado, dando desempenho com brilhantismo a vereança na Câmara Municipal de Montes Claros.
Mas, nos insondáveis domínios da poesia, das serestas sertanejas, dos que cantavam enebriados dentro das noites estreladas . . . quem foi mesmo João Chaves ?
Ele mesmo nos responde, de modo lacônico, certamente zeloso no abrir o cofre de suas memórias, levantando apenas um véu, no prefácio de seu livro "Risos e Lágrimas".
É uma auto defesa, ou talvez . . . um "hábeas-corpus" no relacionar as suas produções artísticas com suas inspiradoras nos períodos ardentes . . . de uma "amor febril" . . . da sua mocidade.
Mas, a sua defesa deve ser ouvida, pela, na verdade, não foi uma vida de boêmia incorrigível.
Ele mesmo assim confessa : " Os meus versos que exprimem, neste livro, paixões amorosas e constantes, foram por mim escritos há muitos anos, quando era ainda solteiro".
Ele ainda ressalva, para a memória dos tempos " a fim de evitar equívocos" . . .
Por ter sido bem casado, em lar feliz de vários filhos, todos ilustres, vamos acreditar nele, mesmo Por quê, não há da sua saudosa lembrança pelos seus contemporâneos . . . no "público e notório" . . .acusações em contrário.
No topo das justas comemorações de seu Centenário, vamos cantar, nas doces e suaves recordações do "Amo-te Muito" e de outras páginas imortais de sua autoria, estas estrofes inesquecíveis, que ele dedicou ao seu amigo Silva Reis :
"Oh ! Bardo que cantava para as estrelas
Oh ! Bardo que não ouço mais cantar".
Montes Claros, Abril de 1985
Simeão Ribeiro Pires
ANEXO II
"OBRA MUSICAL DE JOÃO CHAVES "
1 - Músicas de Coroação :
A - Hino à Nossa Senhora - Música : João Chaves
Letra: João Chaves..............................................62
B - Coroação de Maria - Música : João Chaves
Letra : João Chaves....................................................65
2 - Músicas para Serestas:
A - Amo-te muito - Música e letra : João Chaves..........................................68
B - Bardo - Música e letra : João Chaves.....................................................72
C - Eterna Lembrança - Música e letra : João Chaves.................................76
D - Ave Ferida - Música : João Chaves
Letra : Hermenegildo Chaves............................................79
E - Minh’alma sem teus carinhos - Música : João Chaves
Letra : Hermenegildo Chaves....................81
F - Segredo - Música : Antônio de Cardoso Faria
Letra : João Chaves................................................................83
G - Paixão dos outros - Música e letra : João Chaves................................85
H - Declaração de amor - Música : autor desconhecido
Letra : João Chaves.................................................87
I - Volta Maria - Música e letra : João Chaves............................................89
J - Meu sonho do Passado - Música : João Chaves
Letra : autor desconhecido................................91
K - Perdão - Música e letra : João Chaves.................................................93
- Diversos :
A - Separação dos noivos - Música : autor desconhecido
Letra : João Chaves..........................................95
B - O príncipe e a camponesa - Música : autor desconhecido
Letra : João Chaves......................................98
C - A cigana e a brasileira - Música e Letra : João Chaves......................101
D - A filha do Czar - Música e Letra : João Chaves..................................103
E - A religiosa prisioneira - Música e Letra : João Chaves.......................106
F - Inocência - Música : Joaquina Prates e Chaves
Letra : João Chaves...........................................................108
G - Teus olhos - Música : Maria de Lourdes Chaves
Letra : João Chaves.........................................................110
H - História de uma exilada : Música e Letra : João Chaves....................112
" A HISTÓRIA DE AMO - TE MUITO "
No início da 1ª década deste século, o poeta e compositor João Chaves, compôs e escreveu a modinha "Amo - te muito". Presume-se que tenha sido escrita para revelar ou confessar o seu grande amor por alguma donzela da época.
Escrita sob a luz de vela, letra e música foram feitas ao mesmo tempo e executada logo em seguida, acompanhada por seus companheiros ao violão e flauta para a musa inspiradora
Tendo a lua como testemunha foi tocada por muitas vezes em serenatas, saraus e por outros rapazes também enamorados e apaixonados.
Nos saraus na casa dos padres premonstratenses europeus, apreciadores da boa música, "Amo-te muito" era melodia obrigatória no repertório.
Durante a II guerra mundial, talvez para amenizar as dolorosas notícias, foi tocada num programa da B.B.C. de Londres e ouvida em todo mundo.
Foi fundo musical do filme "Jardim de guerra" e "Rebelião em Vila Rica" e tocada em alguns casos especiais da rede globo, onde num deles a atriz e cantora Zezé Mota a interpretou na íntegra.
Já foi gravada pelos grupos de serestas : - João Chaves e Minas Gerais. Pela cantora Nara Leão e recentemente pelo colunista e cantor Almir Sater que também a interpreta na novela "O Rei do Gado".
"Amo-te muito" é estrela de primeira grandeza na constelação do cancioneiro nacional. Passou a ser também expressão de sentido coletivo, tanto na dor quanto na alegria. Está ainda na memória de muitos o fato ocorrido quando faleceu o ex-presidente Kubitschek. Encontrava-se o corpo na catedral de Brasília recebendo as derradeiras homenagens da igreja e do povo, ao som de cânticos litúrgicos, quando uma voz isolada, começou de manso, quase murmurando, a solfejar a canção Amo-te muito. Pouco a pouco foram se calando todas as outras vozes, para que o poema sonoro de João Chaves, acompanhado depois pelo coro e todos os presentes pudesse expressar toda a dolorosa emoção daquele momento."24
Amo-te muito é como as flores. Enfeitam a vida como enfeitam a morte, pois é canção do adeus, do reencontro. È modinha de seresta, é cantiga de ninar, é cântico festivo de solenidades nupciais".25
"A HISTÓRIA DE ADEUS" ("BARDO")
"Foi na nossa querida Montes Claros, em 23 de julho de 1908. Muito doente o telegrafista diamantinense Manoel Silva reis pedira a João Chaves, seu companheiro inseparável de serenatas em noites de luar, que compusesse os versos e a música de uma modinha para cantar junto a sua sepultura no sétimo dia depois de sua morte.
Nasceu assim " O Bardo" que a princípio se chamava "Adeus" e que o Brasil inteiro ainda hoje canta comovido.
Na noite daquele dia em companhia de Augustinho Guimarães, Pedro Mendonça, Tonico Faria, Luís Gregório, Alpídio César, Tonico Mendonça - seresteiros da velha guarda - João Chaves cantou pela primeira vez a sua famosa modinha "O Bardo" ao lado do túmulo de Silva Reis, no antigo cemitério de Montes Claros.
São sentidas estrofes de grande beleza, de música dolente e triste, puro e simples que penetra em todos os corações"26
ANEXO III
POESIAS - JOÃO CHAVES
ANEXO IV
FOTOGRAFIAS
.
ANEXO V
DOCUMENTOS
ANEXO VI
LISTA DE RECORTES DE JORNAIS
"Homenagem da Gazeta do Norte aos seus distintos colaboradores"........158
"Entre João Chaves e Silva Reis"- Experidião Santa Cruz -
(Cândido Canela).........................................................................................161
"Não apoiado" - João Chaves......................................................................162
"O Lenço" - João Chaves........................................................................................163
"Pedro, tu és a pedra . . ." - João Chaves.....................................................164
"General Kuropaltine" - João Chaves...........................................................165
"Recordando" - João Chaves........................................................................166
"Com João Chaves morre o último seresteiro de Montes Claros"................167
"João Chaves o último bardo".......................................................................168
Haroldo Lívio
"Lembrando João Chaves" - C.L...................................................................170
"João Chaves, 99 anos" - Reivaldo Canela..................................................171
"Decreto nº 764 da prefeitura de Montes Claros, criando a comissão organizadora das festividades comemorativas do centenário de João Chaves." ................................................................................................172
"Regulamento do Concurso de Monografia sobre o Jurista, poeta e musicista João Chaves." ......................................................................................172
"Programa de homenagem a João Chaves começa dia 1º ".......................173
Programa homenageará centenário de João Chaves".................................174
"Rádio Nacional vai mostrar João Chaves em programa especial".
"Irmãos, em prosa e verso"..........................................................................176
José Aparecido de Oliveira
"João Chaves movimentará a cidade"..........................................................179
"João Chaves comanda o espetáculo"/ "Projeto Centenário João Chaves"...................................................................................................................181
" Apoteose" - Sylvia A. Machado..................................................................182
" O Jornal e o Poeta" - João Valle Maurício..................................................183
"Centenário João Chaves"............................................................................184
João Valle Maurício
"Seresta de Diamantina canta em homenagem ao poeta João Chaves"......187
" O inesquecível João Chaves".....................................................................188
Wanderlino Arruda
"Elogio a João Chaves".................................................................................189
Maria Luiza Silveira Teles
" O Centenário do Bardo"..............................................................................191
Luis de Paula Ferreira
" Elos homenageou João Chaves"................................................................192
" O Bardo".................................................................................................193
Maria Câmara
" No Centenário de João Chaves"............................................................193
Simeão Ribeiro Pires
"João Chaves : ‘Professor Honoris Causa’................................................194
José Nunes Mourão
"O Centenário de João Chaves".................................................................196
Brasiliano Braz
ANEXO VII
OUTROS