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Mensagem: Acerto de conta Manoel Hygino Sem contar novidade, a recente afirmativa do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, a jornalistas estrangeiros, foi clara, incisiva e incontestável. Na noite de quarta-feira, 24 de abril deste fluente ano de 2024, o chefe da nação lusa declarou peremptoriamente a correspondentes estrangeiros em Lisboa que “Portugal assumia total responsabilidade” pelos erros do passado e que os crimes incluem massacres, e tiveram “custos”. “Devemos arcar com os custos”, concluiu o raciocínio. É alto de eminentemente sério, partindo de um chefe de Governo, mas não é a primeira vez que Rabelo de Sousa se manifesta sobre um tema tão candente, tão velho e, simultaneamente, tão atual. Em abril de 2023, ele já dissera que o país deveria desculpar-se e assumir sua responsabilidade pelo comércio transatlântico de escravizados. Por sinal, na época, ele foi o primeiro líder de uma nação do sul da Europa a sugerir tal atitude. E avançou mais na exposição de seu ponto de vista: “pedir desculpas às vezes é a coisa mais fácil de fazer. Você pede desculpas, vira as costas e o trabalho está feito”, declarou então. Desta vez, foi mais longe e profundamente: mencionou o dever de uma reparação, repetindo que “pedir desculpas é a parte mais fácil”. Afirmou de modo indiscutível: “Há ações que não foram punidas. E os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso”. Vê-se que o presidente assume, neste ano que se aproxima da metade, um grande papel perante sua pátria, perante o Brasil e de relevância supranacional. Os periódicos que cuidaram do assunto encontraram subsídios fartos, e obviamente o Brasil poderá muito explorá-lo. Por mais de quatro séculos, milhões de africanos foram sequestrados, transportados à força em navios por comerciantes principalmente europeus e vendidos como escravos. Aqueles que sobreviveram à viagem acabavam trabalhando em plantações nas Américas, em especial no Brasil e no Caribe. Portugal teve um papel importante nesse sistema, já que traficou quase seis milhões de africanos, mais do que qualquer outra nação europeia. Até agora, porém, falhou em confrontar seu passado. A própria declaração de Rebelo no ano passado foi marcada por uma ponderação contraditória que romantiza o modelo escravocrata. Na ocasião, o presidente português disse que a colonização do Brasil também teve fatores positivos, como a difusão da língua e da cultura portuguesa. “Mas, do lado ruim, a exploração dos povos indígenas, o sacrifício dos interesses do Brasil e dos brasileiros”, disse.
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