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Mensagem: LUIZ DE PAULA Silio Jader [email protected] No natal de 1960 desembarquei em Montes Claros, procedente de Salvador, para fixar residência e cuidar da saúde, então solteiro, já que meus pais tinham, para lá mudado, vindos de Salinas onde nasci. Muito bem acolhido acabei afeiçoando ao lugar e dividi minha naturalidade de forma a munir-me um pouco da caraterística dos nascidos nos “Claros Montes” ao aconchegar-me sob o símbolo do seu brasão “sub umbra alarum tuarum”. Quando deixei a cidade 5 anos depois já tinha constituído família e era pai de duas meninas autênticas filhas da terra. Tive oportunidade de interagir com notáveis personalidades locais e falo aqui de uma delas. Trata-se de Luiz de Paula, que embora nascido noutro lugar, como eu, dividiu seu coração a duas cidades e tornou-se Montesclarense autêntico. Homem de quatro costados conforme nós sertanejos gostamos de mensurar os grandes. Jamais falei, frente a frente, com Luiz de Paula para absorver diretamente o tanto que ele era capaz de ensinar mas com frequência fui interlocutor dele, à distância, quando exercia as funções de Ombudsman do Banco Real aqui em São Paulo. Ele então cliente da Agência de Montes Claros, costumava telefonar-me, o que muito me honrava, e nossa conversa a princípio sobre assunto de banco terminava todas as vezes com o motivo inicial esquecido. Nada mais agradável que falar com ele. Jorrava elegância, cordialidade, inteligência, tranquilidade e saber. Ignorava minha naturalidade de Salinas, cidade irmãzinha ali mesmo do norte de Minas, e costumava repetir que Montes Claros era privilegiada porque tinha um filho importante para defendê-la e trabalhar incansavelmente por ela, nos grandes centros de decisão. Citava-me então – pobre de mim - no Banco Real em São Paulo, Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro e outros personagens influentes em diversos lugares. Não cabia em mim de tanto orgulho. Como me comparar – eu tão pequeno – com cidadãos tão proeminentes? Tal era a espontaneidade de nossos contatos que cedo abandonei o formal tratamento de Doutor . Quando Luiz de Paula me chamava meu dia estava ganho. Conversávamos animadamente, sem sentir o tempo passar, e ao final saía mais “rico” do que entrei e com a sensação de lucro auferido. Tinha ouvido a voz da experiência e da maturidade sussurrar-me preciosas lições de vida ao pé do ouvido (via telefone). O livro que dele recebi POR CIMA DOS TELHADOS, POR BAIXO DOS ARVOREDOS, - letras maiúsculas para um livro maiúsculo - me encanta a cada releitura . Escrito ao limiar dos 90 anos dele é um repositório de fatos vividos, de combates vencidos, de vitórias conquistadas como bússola de nobres destinos para as novas gerações. Prova inequívoca de que o tempo enriquece o intelecto e fortalece a visão contrariando os muitos que jogam os idosos na “vala” comum dos inúteis. O Luiz de Paula Ferreira, já falecido, nasceu no povoado Várzea da Palma, hoje cidade, e transferiu-se para Montes Claros aos nove anos de idade. Nas primeiras páginas do seu livro, inspirado pela musa mágica dos poetas sensíveis deu a lume o poema que a seguir transcrevo: “Ao retornar ao passado pelas trilhas da lembrança a alma se faz criança revendo um mundo encantado. Cada novo passo dado a um outro passo convida e nessa marcha invertida eu vou encontrando a esmo os pedaços de mim mesmo deixados ao longo da vida.” Sem o passado, que não podemos mudar, não seríamos nada. As lembranças alimentam a nossa historia e são a argamassa que sustenta o nosso espírito. O amigo que não vi mas “conheci” continua vivo em minhas recordações mais gratas. Silio Jáder Noronha Brito é ex Ombudsman do Banco Real
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