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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Uma vez mais, a Festa de Agosto - repetida ano a ano há quase ou mais de 200 anos pelas ruas centrais de Montes Claros - reserva surpresas. Uma voltou a ocorrer, hoje. Quando a banda da PM, implantada nos anos 50 pelo benemérito sargento Nadir, quando a banda passava pela Rua Camilo Prates, encerrando o cortejo do Reinado de São Benedito, seus membros receberam ordem de estacar, parar. O cortejo seguia. A banda parou no meio do quarteirão. Os músicos voltaram-se todos para um baixo muro de pedras, escuras. E passaram a tocar, sem aviso, a música que é o Hino da Nação Montesclarina, felizmente hino não oficial, a modinha Amo-te Muito. Poucos dispunham de informação para avaliar o momento, de emoção. Na casa de muro baixo, de pedras escuras, vindas de Grão Mogol, ali há cerca de 5 anos sua moradora resiste aos sintomas da doença da idade - o Alzheimer. Chama-se Zezé Colares, tem 89 anos, 5 filhos. É mecenas de Montes Claros. Migrou da agenda de socialite, das colunas sociais, para a benemerência cultural. A maior parte do tempo dorme, como uma bela adormecida. Serenamente, como nas histórias, estórias. Ontem, ainda ontem, foi levada para a varanda por onde passou o Reinado de Nossa Senhora, do Rosário. Nesta mesma festa, há mais de 80 anos, a menina Zezé, aos 4 anos, foi a rainha, na década de 30. Era tão difícil conseguir a vaga de Rei ou de Rainha de um dos desfiles que a escolha só podia ser feita por sorteio, entre tantos pretendentes. E um tio materno dela, solteiro, havia sido o sorteado. Então, Zezé e seu irmão Dio Colares foram os soberanos, imperadores do Divino. No começo desta tarde, a banda da PM então voltou-se para a casa de muro baixo e pedras escuras, e tocou o Amo-te Muito. Por merecidos motivos, interpretando o sentimento da cidade. Além de ter sido despertada cedo para os valores e princípios da cultura do sertão, Zezé, como foi dito, migrou da agenda social para a benemerência cultural, aí pelos anos 70. Fundou o Banzé e, com ele, levou centenas e centenas de jovens a visitar o mundo, percorrendo festivais em países da Europa e das Américas, extraindo aplausos para a alegria incomum que aquele corpo de jovens exibia por toda parte. Lembro-me bem: há 30 anos, numa cidade de altos penhascos sobre o mar da Normandia francesa, um produtor da TV despencou-se da torre de filmagem e aproximou-se de Zezé, aflito: - Senhora, por favor me explique: de onde esses seus jovens armazenam tanta alegria, impossível de ser vista, neste nível, no meu país, a França? Posteriormente, Zezé trouxe grupos de muitos países a visitar Montes Claros. E, o intercâmbio, jovens de lá e de cá, reunidos pela cultura, pela arte, pela música, pela dança, trouxe múltiplos frutos. Enquanto a banda hoje tocava o Amo-te Muito, esta história de transmigração passou como um filme, no muro baixo de pedras escuras, na tarde ensolarada dos catopês. *** Ainda o desfile de hoje. Lá estavam, uma vez mais, as sobrinhas de Dona Custodinha, o anjo da guarda de Marujos, Catopês e Caboclinhos. Anonimamente, ela segurou a festa pelas décadas de 30, 40, 50. Era a sua família, na casa modesta nos fundos da Matriz, de onde o rumor dos catopês vazava para a cidade além. O detalhe: as sobrinhas acompanharam o desfile hoje em cadeiras de rodas, no meio e entre alas dos adorados catopês da tia, há muito cantando ´quem fez foi o Rei da Glória´ diretamente no Céu. *** Ainda os Catopês, apelido de um congado muito próprio de Montes Claros: com o crescimento das festas, comerciantes mais atualizados começaram a enfeitar suas lojas com as cores de Marujos, Caboclinhos e, claro, dos Catopês. Para o ano, estudam criar uma promoção em todo o comércio, voltada para a data. Querem contribuir com a festa, aumentando as vendas no período e fortalecendo a economia e o turismo, numa data que volta a ser a preferida dos montes-clarenses ausentes. Nem Doutor Hermes, que impediu o desaparecimento da festa nos anos 60, sonhou tão alto. Entre os catopês deste ano estava o presidente do CDL.

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