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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Missão na África Manoel Hygino Pode-se pensar que são fatos e pessoas que não mais existem. Mas existem sim, inspiradas especialmente em São Francisco de Assis, que poderia ter seguido a vida rica e luxuosa dos pais. Entretanto, resolveu viver pobremente e trabalhar em benefício dos pobres, dos enjeitados, dos que não pretendiam vencer pela força e com ostentação. Francisco era igual a todos os homens e deles irmão, como de todos os seres, frutos da natureza. Minas Gerais tem tradição de mulheres que contribuíram para formação e manutenção de centros de acolhimento, desde que seus companheiros – pais, maridos – as deixaram em algum lugar e saíram em busca de ouro e pedras preciosas. Demoravam anos. Elas se tornavam donas de seus destinos, sobrevivendo do que produziam, praticando a religião cristã, em que nasceram e foram criadas. Os tempos heroicos são do passado, mas as antigas lições se transmitiram a novas gerações, ainda que séculos pudessem anular os esforços e transformar em escombros o que edificaram. Para sobreviver, houve dificuldades e desafios inimagináveis, mas a fé preservou o que plantaram e ergueram. Este o caso das Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação, entidade religiosa unicamente feminina, que completa 30 anos, após a semeadura em Bragança, no Pará, e no Norte de Minas Gerais. Não há ricos neste pequeno grupo, recrutado ou espontaneamente disponibilizado para servir aos que carecem e no que carecem. Filomena Luciene Cordeiro Reis, doutorada em história pela Universidade Federal de Uberlândia e com outros significativos títulos, professora em programas de pós-graduação, formula vários quesitos relevantes: quem são essas mulheres? Donde vieram? Por onde passaram? Como se estabeleceram no Norte de Minas Gerais? Quais eram seus objetivos? Quais suas trajetórias de vida? Esses quesitos são perfeitamente válidos e respondidos em livro recém-editado, assinalando o trigésimo ano da missão em 2018 e que tem como título o nome da própria entidade. Sintetizam-se os labores, dificuldades e inquietações das doze mulheres por muitos lugarejos de Minas, centralizadas em Grão Mogol, onde habitam uma casa de pedra, inspiradora e incentivadora de labor. Para deslocamentos nas áreas rurais, elas faziam o percurso a pé, a cavalo, em carroças ou apelando a caronas. Ensinavam sobre o consumo e produção de alimentos, de como as mulheres da roça devem conduzir-se na gestação e no parto; advertindo para os alimentos mais próprios para o período e para uso cotidiano. Na periferia das cidades em que se estabelecem, em humildes casas, instalam-se para melhor obedecer a seus misteres, confraternizando-se em iguais condições de pobreza com os moradores das localidades, dividindo incertezas e participando da formação das crianças. Elas se dizem a serviço da palavra, do pão, dispondo-se a sujar as mãos para purificar o coração. No interior mineiro, houve a grave decisão: repetir a experiência na África, em Guiné-Bissau. No dia 19 de março de 2010, desceram as primeiras missionárias ao outro continente. O período foi sofrido, não havia recursos, não podiam adoecer. Uma das irmãs observou sobre aquela gente: nada possui, nem terra, nem água, nem comida. Está sob três jugos: governo autoritário, milícias e crenças ancestrais. Trabalhar ali é difícil. A ilha de Bolama tem praias lindas, mas é um lugar em ruínas. Os portugueses tiraram peixe e levaram o que de bom existia. Tudo hoje abandonado. Os maiores desafios para as religiosas são alimentação, transporte e comunicar com os moradores, que usam o “crioulo”, dialeto criado por eles, sendo muitas as etnias. O povo é submisso e tudo é primitivo, diz a médica Mara Yanmar Narciso da Cruz, que mora em Montes Claros, sede da arquidiocese em que localiza o município de Grão Mogol, semente de tudo, no Brasil ou na África.

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