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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Ensaio Petrônio Braz A simplicidade é o último degrau da sabedoria, como nos ensinou Khalil Gibran. Felicidade Patrocínio, diligente presidente da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, mostra essa simplicidade quando editou “Ensaio”. Mas, ensaio é uma experimentação prévia de algo a vir depois. Lendo o livro, naveguei por mares calmos e revoltos da cultura humana. Melhor seria se ela tivesse dado a seu livro o titulo “Introdução ao Estudo da Filosofia”. Obra pouco conhecida. Edição restrita de apenas cem exemplares. Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, lembra que Stendhal confessou haver escrito um de seus livros para cem leitores. Foi o que fez Felicidade Patrocínio. Quando se trata de livro, de obra literária, é sempre bom lembrar a lição de Ivana Ferrante Rebello: “Sempre que me disponho a falar de Literatura, retomo uma questão cada vez mais premente, nesses tempos de palavras tão escassas quanto inférteis, e de muitos prenúncios da morte da arte da escrita, como se nossa época não suportasse mais o verbo trabalhado e uma letra manejada por mão de mestre.” “Ensaio”, de Felicidade Patrocínio, é um livro escrito por mão de mestre. Ela é uma amante da sabedoria. Folheando o livro, antes de adentrar no seu conteúdo filosófico, fui levado transcendentalmente à “Critica da Razão Pura” do imortal Immanuel Kant, persuadindo-me a logo iniciar a leitura para conhecer, apetecer e, se possível, julgar. Lendo, comecei a caminhar com ela e a sonhar acordado. Enquanto lia chegou às minhas mãos, trazido pela autora, “Cadernos de Ediclar”, de Karla Celene Campos e, pelo correio, da lavra de Manoel Hygino dos Santos, “Nonô do Tijuco – Pioneiro em Urologia”. A “morte da arte da escrita”, de que nos fala Ivana Rebello, é a mesma cicuta que silenciou Sócrates, mas ainda não assusta, primeiro porque Sócrates não morreu e, segundo, porque a arte de escrever ainda se faz presente, com força construtiva das gerações passadas e da geração presente, que tem como exemplos marcantes as jovens acadêmicas Marina Couto Ribeiro e Nannah Andrade, sendo de ser destacado que o último Escambo de livros do Ateliê Galeria Felicidade Patrocínio foi um sucesso absoluto. Para escrever “Ensaio” Felicidade Patrocínio banhou-se de luz no rio de Heráclito, dormiu com Sócrates, com sua concepção de ideias, acordou com Platão, pois um não existiria sem o outro, e, principalmente, dissolveu-se em Aristóteles, Descartes e outros mestres. Coube a Sócrates, como bem definiu Cícero, o grande orador romano, “trazer a filosofia do céu para a terra”, afastando-se da natureza, objeto maior dos pré-socráticos. Felicidade Patrocínio, em seu “Apelo a Sócrates”, compreendendo que ele focalizou seus ensinamentos nos problemas morais, nos faz lembrar de outro filósofo, que, como ele, pregou as virtudes do espírito – Jesus Cristo. Mas ela nos leva, pelas mãos de Aisa, a mensageira homérica do Destino, à crua realidade do mundo, que veio depois deles, sendo de se destacar, pela odienta realidade, o apelo afro-brasileiro de Castro Alves à eternidade socrática: “Há dois mil anos de mandei meu grito / que embalde corre o infinito / onde estás, Senhor Deus.” O homem escravizado pelo homem em nome de Deus; seres humanos queimados em fogueiras, em nome de Deus. Um Deus que não é da humanidade, mas tão somente de seus seguidores. Miséria, fome e extermínio de irmãos. Felicidade Patrocínio questiona: O que é justiça? O que é lealdade? O que é beleza? O que é prudência? O que é coragem? Parei, ainda no primeiro Capítulo, para meditar. E, meditando, adveio a quase impossibilidade de ser definido o “homo sapiens”, como um ser de razão ou de experiências. A Autora, “reconhecendo os limites desse ser” busca recursos para perceber e penetrar em sua real essência. Em regressão, socorre-se da Mitologia Grega para encontrar o homem, ainda de quatro pés, buscando reerguer-se. Mas, a sua reflexão não desce a tanto. Ela vê Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxágoras, Parménides e outros pré-socráticos questionando o objeto de suas reflexões: o homem, razão ou experiência. Felicidade Patrocínio sobrevoa o tempo que é, na concepção de Luiz de Paula Ferreira, “um estranho pássaro que voa de asas leves, as penas da cor do vento”, e chega à metafísica de Aristóteles. Ela, procurando um saber mais elevado, caminha peripateticamente com o grande estagirita, não pelo jardim dos Capuletos de Shakespeare, mas pelo jardim do Liceu, na periferia de Atenas, e ouve dele que “todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer.” Ainda nas asas do tempo Felicidade Patrocínio nos conduz a Marx, retorna a Protágoras, vê a genialidade de Leonardo Da Vinci e nos leva a meditar entre ciência e arte.

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