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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Um agosto que ficou Manoel Hygino O tempo agora anda em velocidade supersônica, não mais a galope como nos meus dias infantis e adolescentes na terra natal. Tem-se, de qualquer modo, tentar acompanhá-lo e não perdê-lo de vista. Digo-o para me redimir, se possível, do pecado por não ter antes registrado a mais popular e autêntica festa de Montes Claros, com cerca de 200 anos, durante os quais as ruas em dias idos não calçadas, que levantava a poeira nesta época do ano. Como dói a saudade! Dançarinos e cantores fazem, hoje como ontem, um reboliço popular com feitio religioso. Li que, em agosto de 2018, no primeiro dia de festa, 17, choveu pela manhã no Reinado de São Benedito, como somente em 23 anos. Não pude estar lá, mas me aproveito do excelente texto de quem se identificou apenas como Lúcio. Os catopés, marujos e caboclinhos sustentaram a festa, cantando e dançando, desviando-se das poças de água em pontos do asfalto. São Benedito, do céu, protegeu. Nossa Senhora do Rosário, também festejada, amparou. E o Divino Espírito Santo exultou. É um mistério o que os catopés, marujos e caboclinhos conseguem operar nas ruas. Pessoas carrancudas, inicialmente irritadas com o bloqueio do trânsito, transformaram o cenho num sorriso iluminado. E irem às lágrimas. A comemoração que puxa os ausentes/presentes, e os faz chorar abertamente pelas ruas, é a Festa de Agosto, provavelmente mais velha do que o próprio município, que em 2032 completará 200 anos de cidade. O ritmo forte dos catopés, no seu trajeto insubstituível até a Igreja do Rosário, desperta nas almas uma emoção intergeracional, capaz de comover pessoas de todas as idades. Nascida como festa religiosa escrava, transformou-se em rotunda manifestação cultural, forte, fecunda. “Quem esticou os olhos viu. São pedreiros, ajudantes de pedreiros, mecânicos, muitos carroceiros, pintores, por vezes desocupados, gente simples. E os adventícios são seduzidos pelo que não acham explicação, pois explicado está. Gente simples que faz o que faz porque viu os pais fazerem. Viu avós fazerem. E, também, os bisavós, os avoengos todos. E agora, ensinam os filhos e netos. De alguma forma, a festa chora e celebra a impermanência, a volatilidade, para render-se a ela, conformar-se. E, assim, conservar, reter, o dançante que vai”. No trajeto até o Rosário, várias vezes, sem avisos, sem presságios, o grupo rodopiou em torno de si, acentuou o ritmo, elevou a cantoria e inclinou-se. Iniciou-se diante da evocação do mestre carroceiro morto, todos voltando-se para o estandarte. Coisa de filme. Na porta da Igrejinha do Rosário, quando o cortejo chegou a termo, o grupo repetiu o cerimonial. Espontâneo. Um fez, os outros seguiram. Tornaram a rodar em torno do estandarte. Aceleraram os tambores. Mais alto, mais forte. Assim, seguem os Catopês, Marujos e Caboclinhos. Afinal, reconhecidos e aplaudidos pela população, como o cerne de nossa ancestralidade. Se perguntarem porque fazem isto, repetidamente dirão que não sabem explicar. Mas, sabem fazer. Se deixarem, farão sempre mais, por gosto, por obrigação, por dever e instinto, por centenas de anos mais à frente.

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