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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Wander Piroli em três tempos Tempo 2: Ele formou uma legião de seguidores Alberto Sena Quando Piroli foi trabalhar no jornal Estado de Minas, egresso do jornal Binômio, ele já havia publicado o primeiro livro, “A Mãe e o Filho da Mãe”, de quando boêmio, frequentador da boêmia na Lagoinha, ele ficava na rua até altas horas e a mãe, como toda mãe, preocupava. Ele era uma cara com muito senso de família, dizia sentir culpa por ficar até tarde na rua, mas a boemia não saía dele, até que saiu um dia sem ter saído de fato. Como gostava de sorver uma pinguinha! Ele gostava tanto de beber cachaça que mantinha debaixo da mesa, na redação do Estado de Minas e do Jornal de Shopping, um garrafão cheio. É claro, do garrafão todos se serviam. Piroli tinha sobre a mesa uma xícara de louça, com a qual se servia de cachaça ao longo do dia como se fosse café. E só dava uma trégua na bebida quando as crises de enxaqueca vinham. Ele tinha de ficar em ambiente escuro, dizia. E era verdade. Mas é importante testemunhar, nunca vi Piroli embriagado. Estava sempre com o semblante sóbrio, alegre. “Quanto mais eu bebo mais sinto-me bem”, dizia. Teve uma vez em que nos encontramos cedo ali na confluência da Rua Espírito Santo com Avenida Álvares Cabral, onde havia uma lanchonete. Eu tomara café em casa e ele me chamou para lhe fazer companhia. Piroli pediu meio copo duplo de cachaça; pediu para espremer uma laranja e mandou preparar quatro ovos quentes. Ele bebeu quase tudo de um só gole e mandou os quatro ovos em seguida. Fumava que era uma chaminé. Acendia um cigarro no toco do outro. Quatro maços por dia. Às vezes eram cigarros de fumo de rolo. Vejo-o, agora, picando o fumo para fazer cigarro. Mãos de dedos grossos, mas ágeis. Só não se sentia feliz totalmente porque costumava dar giro de 360° em volta de si mesmo e era quando deparava com a crueza e a crueldade da realidade. Disse-me uma vez, “não sou exemplo para ninguém”, mas era. O fascínio intelectual dele era o mais importante, não a extravagância. Penso, aqui, agora, com as minhas mangas de camisa, que ele se sentia com poder para fazer o que quisesse devido ao seu porte físico avantajado. Ninguém conseguia acompanhá-lo. Mas ele, consigo mesmo, vivia muitos momentos de felicidade. Podia-se notar isso nos seus olhos verdes. E um desses momentos era quando jogava sinuca com os amigos. Podia não ser exemplo no tocante a extravagancia na bebida e no cigarro, mas, intelectual e politicamente, ele sem querer querendo formou uma legião de seguidores. Uma coisa, muitos não entendiam: “Por que Piroli era editor de Polícia e não de Cultura ou Política?” Sendo um intelectual, escritor, jornalista formado na redação do jornal Binômio, para essas pessoas era um espanto. Mas, nós sabíamos, ele estava no lugar certo. A Editoria de Polícia era como um rio de correnteza no qual pescava almas humanas e fazia contos expondo sua literatura e sua maneira ética, crítica, de fazer cobertura de polícia em tempo politicamente nublado. Piroli amava a liberdade. Evidentemente, a Polícia Federal e o Dops tinham o nome dele em lista. Dele e dos demais da editoria. Foi a Editoria de Polícia chefiada por Piroli que deu ao EM um dos mais importantes prêmios de reportagem de sua história, o Prêmio Esso, em 1977, com o “Caso Jorge Defensor (Tito Guimarães, Alberto Sena, Francisco Stelling e Geraldo Elísio estes dois últimos só na cobertura da repercussão na Assembleia Legislativa) um operário torturado pela polícia até ficar paralítico da cintura para baixo. Caso de repercussão nacional e internacional. Piroli transformou a cobertura do setor de polícia. Antes dele havia repórter considerado “de polícia” ou “da polícia”. Ele nos tinha como “repórteres cobrindo o setor de polícia”. Não tínhamos compromisso com a polícia, a não ser cobrir os acontecimentos no âmbito das delegacias. E muitas das vezes nosso carro de reportagem chegava aos locais de ocorrências antes da polícia. O carisma de Piroli reunia em volta da mesa dele, antes de iniciar a jornada do dia, escritores como Oswaldo França Júnior, Luiz Vilela, Garcia de Paiva e outros, além de toda a redação que a ele ia pedir bênção. (Aguardem o Tempo 3, final, amanhã).

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