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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 18 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Há de gemer por ele o gaturamo Petrônio Braz Há já uns poucos anos, faleceu sozinho e pobre, excluído dos Quadros da OAB, em um quarto qualquer, de uma casa qualquer, de uma rua qualquer, em Belo Horizonte, o causídico Charles Emerson Bispo. Faleceu sem a assistência de um amigo, de um parente, de uma mulher. Separado da esposa e dos filhos, vivia só. Nos dias finais de sua vida, desprovido de afetos pessoais, amargurado, não se maldizia do destino, embora vivesse recolhido dentro de uma roldana de magoas e dissabores. Em seu fadário, a melancolia entremeada de amarguras como feridas abertas eram suas companheiras. A vida não lhe foi amena. No silêncio das noites, no idear da imaginação dos tempos vividos, nos últimos anos de sua vida esteve acorrentado como Prometeu à montanha de suas desilusões. Faleceu sozinho, absolutamente só. Apenas um amigo distante, residente em Montes Claros, ao ter conhecimento do doloroso desenlace, chorou por ele: Antônio Gonçalves de Oliveira, o Lieta. Chorou com emoção, com verdadeiro sentimento de perda. Em um cemitério qualquer, em Belo Horizonte, dorme ele o sono da eternidade. Piedosas e anônimas beatas haverão de orar por ele, ao pé da cruz abandonada que identifica a presença de seu sepultado corpo. Ele não estará só. Esta realidade da cruz abandonada fez-me lembrar a poema “A Cruz da Estrada” de Castro Alves. O profissional do Direito, Charles Emerson Bispo, teve os seus dias de glória. Brilhou por alguns anos na tribuna da defesa do Tribunal do Júri, em algumas Comarcas do Norte de Minas e em Belo Horizonte. Tendo Décio Fulgêncio na Tribuna de Acusação, ele atuou na Tribuna da Defesa, em júri no Fórum Lafayete, em Belo Horizonte. Orador brilhante, culto e destemido. Enveredando-se pelo Direito Eleitoral, foi advogado do PDS de Minas Gerais, em Belo Horizonte, nos anos 80, o maior Partido Político do Ocidente naquela época. Advogado com poderes para requisitar avião para conduzi-lo a qualquer cidade de Minas Gerais, onde os interesses do Partido estivessem em jogo. A seu convite, estive com ele em Capelinha, naqueles tempos idos, para suspender a posse de um Prefeito por decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Com o testemunho do professor Ivo das Chagas, posso atestar ter sido ele, no seu devido tempo, um dos maiores advogados mineiros. O bacharel de invejável cultura, leitor assíduo dos clássicos, diplomado pela UFMG, deixou-se suplantar pelo homem. E o homem comum que nele existia foi capaz de destruir o advogado. Coisas da vida. Os desacertos, os despropósitos de seu final de vida não são tão fortes que possam apagar o seu efetivo valor cultural, que prevalece vivo em nossas mentes. Nesta hora de lembranças, prefiro esquecer-me do homem que jogou pelo ralo sua vida, para recordar-me do profissional, enquanto foi um advogado. Lembro-me do jovem graduado pela Faculdade de Direito da UFMG, que chegou a São Francisco com os arroubos da juventude, e fez carreira. Recordo-me do advogado que brilhou em Pirapora, Januária, Manga, Brasília de Minas, São Romão e Belo Horizonte, esquecendo-me do homem que ele foi e que dele nunca se afastou; que o destruiu, depois. No silêncio de sua sepultura ele descansa sem a presença de amigos e parentes, dormindo em seu leito de desventuras, que a vida dentre as selvas do asfalto lhe compôs. Ali, nas palavras de Castro Alves, “há de gemer por ele o gaturamo”..

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