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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 19 de novembro de 2024
 

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Mensagem: As dores que devemos sentir * Marcelo Eduardo Freitas Dia desses, deparei-me com meu filho no interior do seu quarto, chorando aquilo que seria a sua primeira decepção amorosa. A mãe, toda preocupada, instava a todo momento: “Vai lá e conversa com ele”. Mãe, quando vê filho ameaçado, vira “bicho”. Contudo, ainda que sentida, a recusa se fez necessária. Afinal, há dores que devemos realmente sentir para melhor compreender cada passo a ser dado na história da vida. Era preciso, assim, que meu filho chorasse! O polêmico filósofo alemão Friedrich Nietzsche afirmava que “a todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de autoconfiança e a desgraça dos derrotados”. Não sem razão, ele acreditava que o sofrimento e a dor são absolutamente normais. O homem para conquistar o que almeja, destarte, deve passar pela luta e pelo padecimento. O fracasso e a angústia são importantes para a obtenção da felicidade e do sucesso. Caro leitor, quem nunca se deparou com situações sofridas? Quem nunca sentiu a dor da perda? Quem nunca sofreu com um amor partido? Quem não derramou lágrimas no mar da vida? Quem não passou por dissabores? Quem nunca perdeu um emprego? Quem não conhece alguém com um casamento que mal começou e já terminou? Uma amizade que acabou com traição? Tudo vai deixando sinais, marcas profundas, cicatrizes no coração. Contudo, é preciso reconhecer: sempre há tempo para aprendermos! Algumas dores, assim, são necessárias para nosso engrandecimento. Certas coisas acontecem com um porquê. Você sofre hoje e amanhã é feliz. A vida, amigo, segue tal qual o mar, com dias de tempestade e dias de bonança. Dias ruins nos ensinam que os dias bons merecem ser comemorados. Precisamos, desta maneira, trabalhar as dores da alma, para que sirvam somente como aprendizado, extraindo delas a capacidade de nos fortalecermos. É preciso, por conseguinte, reaprendermos que o melhor de nós, ainda está em nós mesmos, não importam os erros. Elie Wiesel, escritor judeu, sobrevivente dos campos de concentração nazistas, que recebeu o Nobel da Paz de 1986, foi condenado a padecer no mundo tenebroso que o nacionalismo alemão criou. Sua angústia foi extremamente profunda. Reza a lenda que Wiesel só aceitou publicar a sua autobiografia depois de permanecer mais de dez anos em silêncio: “Ele não queria que o rancor contaminasse sua versão sobre o holocausto”! No livro Night - “Noite” -, publicado em 1955, Wiesel relata, não sem dor, sobre as agruras do campo de concentração, sem, no entanto, esconder a sua crise de fé. A execução de dois adultos e uma criança, numa tarde sombria de imolação, o machucaram profundamente. No momento mais dramático e dolorido do livro, Wiesel descreve a história de três judeus que foram amarrados em pé, em cima de cadeiras. Os três pescoços, colocados no mesmo momento dentro das cordas da forca. Em relato agoniante, Wiesel continua: “Vida longa à liberdade, gritaram os dois adultos. A criança continuou silenciosa. Onde está Deus? Onde está ele, alguém perguntou atrás de mim. Ao sinal do chefe do campo, as três cadeiras tombaram. Total silêncio atravessou o campo. Sobre o horizonte, o sol se punha. Então o desfile começou. Os dois adultos não estavam mais vivos. Suas línguas inchadas penduradas, tingidas de azul. Mas a terceira corda continuava se movendo; sendo tão leve, a criança continuava viva… Por mais meia hora ele continuou lá, lutando entre a vida e a morte, morrendo em lenta agonia sob nossos olhos. E nós tivemos que olhá-lo de cheio em sua face. Ele ainda estava vivo quando passei em frente dele. Sua língua continuava vermelha, seus olhos ainda não estavam vidrados. Atrás de mim, escutei o mesmo homem perguntando: Onde está Deus agora? Onde está Ele? Aqui está Ele! Ele está pendurado aqui na forca… Naquela noite a sopa tinha gosto de cadáveres”. A compreensão científica não é necessária para afirmar a existência de Deus e onde Ele habita. Se posso intuir, creio que Ele ergueu seu tabernáculo perto do oprimido, nunca com o opressor. Deus acolhe o proscrito, jamais o poderoso. É amigo do injustiçado, não do injusto. Deus estava com o menino enforcado, não com o nazista que o matava. Sempre que a minha sopa tem gosto de cadáveres, a sopa de Deus também tem. Que possamos encontrar na dor motivos para aprender e crescer! O mandamento mais simples que cada pessoa pode cumprir é agradecer! Sejamos gratos, ainda que as dores, por um instante, pareçam intransponíveis! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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