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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 19 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Hoje, há exatos 50 anos, Montes Claros viveu uma noite de augúrios. Palavra que vem do latim augurium e significa “presságio, anúncio, indício de algo futuro”. Já corrijo. Era mais do que isto, uma noite de augúrios. Era o aviso de excepcional tempo que se avizinhava, e veio, e foi vivido, trazido por velhos valores da música, a modinha, de nós tão ancestralmente entranhada. Foi assim: o benemérito historiador Hermes de Paula, de improviso, organizou grupo de seresteiros de M. Claros e foi com eles cantar na antiga Vila Rica, berço de Minas, disputando um concurso de serestas, em que cidades de Minas exibiam suas melhores vozes e as canções mais belas. A despretensiosa Montes Claros daqueles dias, catita, fez bonito. Cantou suas modinhas e arrebatou o primeiro lugar. Não era pouca coisa. Os olhares de Minas se voltaram para a boiadeira M. Claros. A terra distante, quente, poeirenta. Às vezes, com justificada fama de brava, mas que exibiu tal beleza de coração, tal elevação de espírito. Daí para a frente, foram tempos mágicos. A seresta, com o nome de João Chaves, passou a ser o grande abre-alas de Montes Claros. Abre-alas de todas as Minas. Cantava, por nós e por todos. Convites e mais convites chegavam e a seresta abria portões de par em par para a música e o sentimento descidos das montanhas, especialmente nas noites de plenilúnio. Era saudada, acolhida com reverência. Comovia. Basta dizer que o asfalto M. Claros/Belo Horizonte, a mais antiga e aflitiva reivindicação do sertão, o asfalto só saiu porque a serenata, ouvida no Palácio da Alvorada pelo presidente marechal Costa e Silva, o fez emocionar, a ponto de decidir ali, naquela hora, em cima do joelho, autorizar a conclusão da estrada. Mas, sabem muitos, a serenata é superior ao tempo, mas não imune ao tempo, um feito do outro. A velha e bela seresta de M. Claros brilhava, desperta. Exuberou até a morte de Dr. Hermes, no início dos anos 80. Brilhou depois dele. Mas,... o tempo. Lentamente, o velho, inapagável costume de M. Claros pelas noites de luar, o apreço pela serenata, o encanto enfim das noites do sertão foi nova vez nimbado pelo tempo, que eleva, consagra, arrebata e...suprime. Aos sentidos, passou a declinar. Desliza, busca rebuço em nichos de sabedoria, onde reverso da evanescência aguardará por novos tempos de augúrio. Encantamentos. Valores do espírito não morrem, pois. Vigiam. Pacientemente, esperam que brumas e miasmas se desfaçam. Aprendem com a eterna alvorada, que é fruto e resultado da negra noite. Assim será. Nas veredas mais insuspeitas, nos corações blandiciosos, na esperança que é perene celeiro de gerações, a velha serenata de M. Claros e suas modinhas seguem vivas. Voltarão. Platão, quando espichou os olhos para o trânsito das humanidades, examinando valores e princípios que se projetam no futuro recorrente, viu e anunciou: um povo pode ser conhecido, e reconhecido, pela música que produz e ouve. Sendo assim, M. Claros não se perderá, ainda que isto às vezes pareça provável, iminente. Quando então cessar esta má quadra em que vivemos, cantaremos de novo: Ó dias de risonha primavera Ó noites de luar que eu tanto amei Ó tardes de verão, ditosa era Em que junto de ti amor gozei

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