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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 20 de novembro de 2024
 

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Mensagem: ESCOLA, FAMÍLIA E A RESPONSABILIDADE NA CRIAÇÃO DOS FILHOS * Marcelo Eduardo Freitas A nossa moderna sociedade, aos poucos, gradativamente, tem transferido à escola a responsabilidade na formação, educação e cuidado com crianças e jovens. Já não se cuida mais de propiciar “tão somente” instrução! A escola, assim, passou a ser um espaço de substituição à convivência familiar harmônica e formadora, cada mais reduzida em quantidade e qualidade. Pelas estradas da vida, ouvi, certa feita, o relato de uma mãe, a respeito de reunião que tivera com o marido (e pai dos filhos comuns!), já tarde da noite, a fim de tratar daquilo que seria um problema de um dos filhos do casal: - “O menino não obedece!”, disse a mãe. Depois de alguns breves minutos de conversa, sem qualquer conclusão sobre o problema, o pai disse: - “Fique tranquila, falta apenas uma semana de férias. Com a volta às aulas, quem sabe a escola dá um jeito nesse moleque...”. A breve narrativa apresentada acima, com devaneios sobre a forma com que se tem buscado a solução na criação dos filhos, nos permite fazer a seguinte indagação: a quem cabe a responsabilidade pela educação dos filhos? Aos pais ou à escola? A primeira abordagem que aqui pretendemos adotar, parte de uma premissa socioeconômica das famílias brasileiras. Pesquisas recentes evidenciam a existência de dois tipos de família: (1) o grupo de classe média e alta, que coloca os filhos em escola particular (12%); (2) o restante da população nacional, que usa a escola pública (88%). No primeiro grupo, em geral, os pais sentem-se tranquilos e confortáveis, já que seus filhos estão numa boa escola, na qual dizem confiar. Há uma crença no sentido de que o futuro dos herdeiros está praticamente garantido e em boas mãos. Já no segundo grupo, surpreendentemente, a maioria dos responsáveis também se diz contente e satisfeito com a educação oferecida pela escola pública. Mas quais são as razões? Segundo pesquisa do Inep, essa satisfação pode ser encontrada no fato de que quase 60% dos pais do ensino público não completaram nem o ensino fundamental. Além disso, 75% nunca ou raramente lê jornais ou revistas. Deste modo, quando estes pais comparam a escola da sua época com a do seu filho, tendem a associar as relativas melhorias materiais que o filho recebe atualmente com uma educação de boa qualidade, o que, de um modo geral (há exceções, admito!), nem de longe, condiz com a verdade e se trata de um fato lamentável. Basta ver o acesso às melhores universidades, aos bens de consumo, à saúde, à segurança, etc. Os melhores cálices são consumidos pelos ocupantes do primeiro grupo! Um outro aspecto, não menos relevante, é o aspecto social ou familiar. Os pais têm terceirizado praticamente toda a criação e educação dos filhos. A família perdeu seu núcleo pai-mãe-filho, tornando-se um amontoado de pessoas vivendo, não raras vezes, sob o mesmo teto ou até em tetos diferentes, tentando educar o filho com suas visões estanques de mundo, para assim encaminhá-los à escola. A escola, destarte, acaba sendo a responsável por carregar “o piano”, um peso que não deveria ser dela, ao ficar com a parte que cabe aos pais na formação do caráter, do afeto, do acolhimento, da personalidade. Nestes casos, a responsabilidade é, a toda evidência, dos pais. E não há ninguém que possa preencher este espaço. A educação deve vir de casa! Aos professores compete o reforço ao ensino, instruindo os alunos sobre direitos e deveres perante à escola e à família. Não sem razão, o educador Içami Tiba leciona que “os pais eram exigentes, os filhos obedeciam. Houve uma mudança e esses pais que hoje tem mais irmãos do que filhos, por amor, deram o que não tiveram: liberdade e prazer. Além disso, foram pais e mães capacitados para trabalhar e não para serem pais. Educacionalmente está errado. Se a criança só faz o que quer, ela não faz o dever”. O referencial família está sendo, solene e passivamente, sobreposto por outros, embora relevantes no processo de engrandecimento humano, secundários na formação e informação cognitiva, moral, sexual, religiosa ou cívica de seres em constituição. Cuido, aqui, do grupo de colegas, amigos, redes sociais, entre tantas outras formas de apartar imberbes do agrupamento familiar. Em conclusão: na relação entre pais e escolas, deve-se ter o máximo de cuidado a fim de que haja coerência entre a educação que se desenvolve no colégio e o que os pais ensinam em casa. Não sem razão, assim, o escritor e militar italiano Edmundo De Amicis afirmava que “a educação de um povo pode ser julgada, antes de mais nada, pelo comportamento que ele mostra na rua. Onde encontrares falta de educação nas ruas, encontrarás o mesmo nas casas”. Nossos lares têm sido recanto para falta de educação e distanciamento. Reflexo inexorável do que observamos nas esquinas da vida. É tempo de reconstruir o templo destruído. O barco está afundando em águas profundas. Como se vive em sociedade, não adianta pular primeiro. Ou salvamos o todo ou também naufragaremos juntos! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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